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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Objetivos Comuns

O grande desafio da governança global reside na pluralidade de agentes e ações que não necessariamente convergem para os mesmos fins no contexto em que se inserem. Segundo a literatura, os atores da rede de políticas públicas devem estar em situação de interdependência pela necessidade de compartilhar recursos para que o objetivo comum seja atingido. Cada ator possui seu objetivo particular, mesmo porque fazem parte de setores diferentes, por isso, para fazerem parte da rede é preciso que acreditem que o relacionamento com os demais atores seja fundamental para a consecução de um objetivo maior. Como propõe Mandell (2000), a capacidade de estabelecer um objetivo comum está relacionada com o grau de compatibilidade e congruência de valores entre os membros do grupo.

A questão das mudanças climáticas e do aquecimento global, é um problema relativamente novo, ameaça as bases e estabilidade do capitalismo contemporâneo, principalmente a busca do lucro a qualquer custo. Uma vez que o problema existe, observa-se uma preocupação de todos os atores

95 para a mitigação dos gases de efeito estufa, mas isso não quer dizer que as ações realizadas pelos setores individualmente visem esta mitigação. Por isso, pode-se observar que, em tese, existe um objetivo comum entre os atores envolvidos, mas que nem sempre as ações praticadas coincidem com o objetivo do grupo.

Existe consenso entre os Órgãos entrevistados quanto ao objetivo comum a ser alcançado. Para esse setor evitar o aquecimento do Planeta Terra a mais de 2ºC (como foi alertado pelo relatório do IPCC e discutido na COP-15) reduzindo-se as emissões dos gases causadores do efeito estufa é o objetivo geral da rede. Segundo o Órgão D:

Em tese, o objetivo de qualquer mobilização pelo clima é a redução das emissões de gases de efeito estufa. A gente tem que partir do pressuposto que todos os atores envolvidos estejam batalhando pela mesma razão. Mas na prática não é bem assim. Mesmo atores relevantes envolvidos estão querendo justificar que não precisam reduzir a emissão, porque vai prejudicar o modelo econômico. (...) existem interesses aí que são, muitas vezes, antagônicos.

Para os atores representantes do setor privado, a redução dos gases de efeito estufa também foi citada como sendo o objetivo comum do grupo de atores envolvido na questão de mudanças climáticas. O objetivo coletivo foi destacado pelo surgimento a partir dos objetivos particulares de cada setor. Porém, a resposta de maior consenso quanto ao objetivo comum foi o desenvolvimento sustentável:

O objetivo de todos os atores é o desenvolvimento sustentável. (...) é importante que esse esforço seja coordenado em termos de política pública com o governo e com as outras redes porque só assim a gente vai conseguir maximizar este objetivo. (Empresa B).

(...) existe um objetivo maior, comum, mas cada ator, claro, tem um interesse numa coisa ou na outra: quer atingir isso (objetivo maior) por quê? O governo porque tem que mostrar para a população que está fazendo alguma coisa. A própria população, sociedade civil, porque se não fizer vai prejudicar ela mesma. E a empresa está fazendo porque quer, talvez, fazer um marketing ambiental ou porque polui em outro lugar (Empresa A).

Dentre os representantes das organizações não-governamentais, observou-se divergência nas respostas. Há quem afirmou não existir um objetivo comum entre os atores envolvidos. Outros disseram ser a maximização do bem estar, o desenvolvimento sustentável e a redução dos gases de efeito estufa. Para a ONG A:

Teoricamente sim (existe um objetivo comum), mas nem todo mundo está focado nas mesmas coisas. Grande parte do setor empresarial – mas não a totalidade – já está

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consciente da questão das mudanças climáticas. Mas entre estar consciente e querer agir, e querer pagar um preço por isso, e querer se colocar na vanguarda, aí vai um passo que às vezes é difícil de ser dado. (...) essa questão de mudanças climáticas está se tornando um fator de competitividade das empresas. Mas algumas já se conscientizaram da importância do tema, mas não se conscientizaram de que isso pode se transformar num ativo; elas ainda acham que isso vai gerar custos, que vai gerar problemas, e ainda não deram esse passo.

O setor produtivo tem que se preocupar em produzir de uma maneira mais limpa, em usar fontes renováveis de energia, reduzir o desperdício, etc. E a sociedade tem que se preocupar em consumir menos, com prestar atenção à cadeia produtiva dos produtos, etc. Então, essas medidas práticas, sair da parte teórica, do conhecimento teórico do problema, e começar a adotar medidas prática, seja na nossa vida pessoal, seja nas políticas das empresas, aí é que eu acho que muitas empresas e grande parte da sociedade civil ainda não deram esse passo (ONG A).

Para o estabelecimento de uma governança global e para a constituição da rede é essencial que todos os membros envolvidos convirjam para um objetivo maior com valores compartilhados. Se a institucionalidade entre os atores for baixa, os fins recaem sobre os objetivos específicos de cada setor, fazendo com que o intercâmbio de recursos esteja voltado somente para esta finalidade, descaracterizando a estrutura em rede. No quadro 4 estão listadas as respostas de cada setor quando questionados quanto ao objetivo comum da rede.

Quadro 4 – Objetivo comum dos atores

Atores Objetivo Comum

Órgãos - Redução dos gases de efeito estufa Empresas - Desenvolvimento Sustentável

- Redução dos gases de efeito estufa ONGs - Não existe objetivo comum

- Maximização do bem estar - Desenvolvimento sustentável - Redução dos gases de efeito estufa

Como é ressaltado por Fleury e Ouverney (2007), a formação de uma estrutura em rede acontece em torno de objetivos comuns, o que envolve a construção de percepções, estratégias e valores compartilhados.

97 Com a pesquisa de campo, pôde-se constatar que há elementos que induzem a existência de um objetivo comum compartilhado pelos membros da estrutura, onde o bem do todo precede o bem das partes. Contudo, não é aceitável por alguns atores que todos os membros, na prática, estejam tomando atitudes que visem à consecução do mesmo. A maioria dos envolvidos considera o desenvolvimento sustentável com ações que reduzam a emissão de gases de efeito estufa como sendo o objetivo maior da estrutura.

Com isso, pode-se inferir que existe, entre os atores brasileiros envolvidos no processo de mitigação das mudanças climáticas, uma tentativa de compromisso com o objetivo maior do grupo a partir dos objetivos particulares de cada ator, remetendo a uma interdependência entre as partes, favorecendo a formação da estrutura em rede e proporcionando subsídios para a governança ambiental global.