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A D ISTINÇÃO ENTRE M INORIAS N ACIONAIS E G RUPOS É TNICOS

G RUPOS E TNOCULTURAIS E N ACIONAIS

3.3 A S M INORIAS N ACIONAIS

3.3.2 A D ISTINÇÃO ENTRE M INORIAS N ACIONAIS E G RUPOS É TNICOS

Uma vez distinguidas as diferentes minorias nacionais, o rigor na caracterização da diversidade e do pluralismo das sociedades ocidentais impõe uma outra distinção, a ter em consideração. Trata-se da distinção entre minorias nacionais e grupos étnicos: as minorias nacionais são sociedades distintas, que podem autogovernar-se e estão incorporadas num Estado mais vasto, enquanto os grupos étnicos são imigrantes que voluntariamente abandonaram a sua comunidade nacional e foram viver para outro Estado.127

125

“These two arguments also apply, with lesser force, to non-indigenous national minorities. They too may face disadvantages in virtue of their minority status, and may have rights of self-government which were lost when they were forcibly incorporated into a larger federation.” Ibidem. (Itálico nosso).

126

“(…) occupied and governed their lands before the state was even in existence.” Ibidem, p. 148.

127

Kymlicka considera que esta distinção tem sido negligenciada pelos pensadores políticos, com excepção de Walzer128. Todavia, Kymlicka discorda de Walzer, acusando-o de traduzir a distinção entre os dois tipos de grupos em termos meramente geográficos; para Walzer, as minorias nacionais situam-se no Velho Mundo e respondem às ameaças que são feitas às suas culturas através da criação de movimentos de libertação nacional; por sua vez, os grupos étnicos vivem no Novo Mundo e resistem às políticas de assimilação ao modelo cultural anglófono, recorrendo a apelos ao pluralismo étnico.129 Kymlicka identifica ainda outro pensador político que faz esta distinção. Trata-se de Nathan Glazer que, a partir dela, infere que o Velho Mundo é constituído por federações de povos e o Novo Mundo é constituído por imigrantes.130 Para Kymlicka, «esta forma de falar sobre a diversidade do “Novo Mundo” e do “Velho Mundo” é uma simplificação perigosa e excessiva.»131 O autor afirma que é verdade que a imigração tem maior peso na diversidade do Novo Mundo do que na do Velho, mas observa que naquele também há minorias nacionais, como os inuit, e neste também há imigrantes, como os metecos. O autor argumenta que, além de não ter em consideração o caso especial dos afro-americanos, a distinção de Walzer e de Glazer ignora a existência das minorias nacionais americanas, perpetuando assim o erro de lhes negar direitos, velho reflexo de antigos preconceitos racistas.132

Kymlicka reitera que a maior parte dos países do mundo são simultaneamente multinacionais e poliétnicos. Define grupos nacionais, não em termos de raça ou de origem (até porque considera que a mistura racial e étnica é um facto inegável e irreversível), mas como grupos culturais. Aliás, tal definição está na base de mais uma das muitas objecções que Brian Barry coloca a Kymlicka: «simplesmente, Kymlicka faz equivaler nacionalidade e

128

Michael Walzer trata deste assunto em “Pluralism: A Political Perspective”, in Will Kymlicka (ed.), The

Rights of Minority Cultures, Oxford, New York, Oxford University Press, 1997, pp. 139-154. 129

Cf. Will Kymlicka, Multicultural Citizenship: A Liberal Theory of Minority Rights, p. 20.

130

Cf. Ibidem. Para um aprofundamento da tese de Nathan Glazer, ver a sua obra, já citada, Ethnic Dilemmas:

1964–1982. 131

“(…) this way of talking about ‘New World’ and ‘Old World’ diversity is a dangerous over-simplification.” Will Kymlicka, Multicultural Citizenship: A Liberal Theory of Minority Rights, p. 20.

132

especificidade cultural por decreto definicional»133. Após uma análise da origem e da progressão histórica da definição da nação pela cultura, Barry esclarece que essa definição está na base do chamado nacionalismo romântico e que este é incompatível com o liberalismo, porque conduz à repressão e à violência: «se os pressupostos do nacionalismo romântico fossem correctos, não existiria espaço para o liberalismo.»134

Contudo, Kymlicka mantém a que «a pertença a uma nação, em princípio, deve ser aberta a todas as pessoas que, independentemente da raça e da cor, queiram aprender a língua e a história da sociedade e participar nas suas instituições sociais e políticas.»135 Para o autor, aquilo que distingue as nações étnicas das nações cívicas é o facto de as primeiras serem baseadas na raça e na cor, enquanto as segundas são baseadas na partilha de uma cultura, logo todas as pessoas as podem integrar. Assim, segundo Kymlicka, para pertencer a uma nação é necessário aderir aos seus princípios políticos mas, principalmente, é necessário aprender a sua língua e a sua história.136 Daí o carácter pós-étnico dos actuais nacionalismos minoritários, aliás, dos nacionalismos de Estado, pelo menos nas democracias liberais do Ocidente. As nações minoritárias possuem uma identidade nacional e instituições nacionais que desejam preservar, não apenas para compensarem qualquer hipotética exclusão do seio da nação maioritária, mas «por causa de um compromisso intrínseco com a manutenção da identidade nacional, da cultura e das instituições da minoria.»137 Já sabemos138que as nações minoritárias que existem nas sociedades liberais do Ocidente também são liberais, pois os seus lideres são reformadores liberais que pautam a sua actuação pelo compromisso com a

133

“(…) Kymlicka is simply equating nationhood and cultural distinctiveness by definitional fiat (…).” Brian Barry, Op. Cit., p. 308.

134

“If the presuppositions of romantic nationalism were correct, there would be no place for liberalism.” Ibidem, p. 309.

135

“National membership should be open in principle to anyone, regardless of race or colour, who is willing to learn the language and history of the society and participate in its social and political institutions.” Will Kymlicka, Multicultural Citizenship: A Liberal Theory of Minority Rights, p. 23.

136

Cf. Ibidem, p. 24.

137

“(…) because of an intrinsic commitment to the maintenance of the minority’s own national identity, culture and institutions.” Will Kymlicka, Politics in the Vernacular: Nationalism, Multiculturalism, and Citizenship, p. 284.

138

preservação da identidade cultural, entendida como garantia do exercício da escolha individual significativa; para eles, o que interessa não é preservar a autenticidade da sua cultura de modo a deixá-la tal como a receberam dos seus antepassados, mas preservar a existência da sua nação como grupo culturalmente distinto.139

Ora, Daniel Weinstock140, recorda a objecção dos liberais ao reconhecimento de direitos colectivos: segundo os liberais, o princípio da equidade exige que todos os grupos culturais sejam tratados da mesma forma, sob risco de, não o fazendo, se provocar uma enorme fragmentação do espaço político. Pelo contrário, Kymlicka afirma que o princípio da equidade não exige o reconhecimento de direitos especiais a todos os grupos culturais minoritários, mas apenas àqueles cujas culturas têm suficiente complexidade, de tal forma que lhes permita fornecer aos seus membros uma variedade de opções de vida, as culturas societais; enquanto as minorias nacionais devem ter assegurada a manutenção das suas culturas societais, os imigrantes devem integrar-se na cultura societal maioritária, gozando apenas de direitos poliétnicos, para poderem manter a sua diversidade étnica e, ao mesmo tempo, para se sentirem confortáveis dentro da sua nova sociedade.

Portanto, para Kymlicka, não existe arbitrariedade quando o Estado reconhece direitos colectivos a um grupo cultural minoritário, mas não os reconhece a outro grupo, pelo que a sua perspectiva não abre nenhuma caixa de Pandora, ou seja, não implica a multiplicação de reivindicações de direitos minoritários nem a consequente fragmentação do espaço político. Contudo, Weinstock objecta que «a teoria de Kymlicka sofre do que se poderia chamar um problema de inclusão e de um problema de exclusão.»141 Sofre de um problema de exclusão, porque, contra a vontade de Kymlicka, a sua base justificativa impede que algumas culturas

139

Cf. Will Kymlicka, Politics in the Vernacular: Nationalism, Multiculturalism, and Citizenship, pp. 208-212.

140

Cf. Daniel Weinstock, “A Problemática Multiculturalista”, in Alain Renaut (dir.), História da Filosofia

Política/5: As Filosofias Políticas Contemporâneas (Após 1945), Trad. Elsa Pereira e Filipe Duarte, Lisboa,

Instituto Piaget, 2002, pp. 357-385.

141

(por exemplo, pertencentes a pequenas nações da América do Norte) tenham direitos colectivos. Weinstock afirma que as razões por que as deveria excluir são diversas:

Seja porque simplesmente não possuem as propriedades formais exigidas para que possamos dizer que constituem culturas societais no sentido de Kymlicka, seja porque não atribuem o mesmo valor à autonomia e à capacidade de escolha individual como o fazem as sociedades de culturas políticas liberais, algumas dessas nações não satisfazem as condições que a teoria de Kymlicka impõe aos grupos minoritários para que eles possam obter direitos colectivos.142

Por conseguinte, Weinstock conclui que seria lógico que a teoria de Kymlicka favorecesse a dissolução dessas culturas e a sua assimilação pela cultura societal maioritária. Mas não é isso que acontece. E, além disso, existe ainda outra dificuldade: para Weinstock, a teoria de Kymlicka não impõe a preservação das culturas particulares, apenas que cada indivíduo pertença a uma cultura societal que lhe proporcione o contexto de escolha que é indispensável à sua autonomia. Portanto, esta posição de Kymlicka permite tirar a conclusão de que ele aceitaria a assimilação dos indivíduos de qualquer cultura minoritária por uma cultura maioritária, desde que esta lhes proporcionasse aquele contexto de escolha.143 No entanto, Weinstock parece simultaneamente, não querer ir assim tão longe, pois, embora observe que Kymlicka «ainda não respondeu de maneira satisfatória»144 a esta crítica, também admite que: «não é evidente que a intenção de Kymlicka tenha sido chegar a este resultado. Não podemos concluir que a base justificativa da teoria de Kymlicka não sustenta as conclusões normativas a que ele pretendia chegar.»145

O que é certo, para Weinstock, é que há um desequilíbrio entre a base justificativa e as conclusões normativas da teoria de Kymlicka e que esse desequilíbrio também se manifesta no chamado problema de inclusão. Weinstock explica-o, dizendo que a fundamentação teórica construída por Kymlicka o obrigaria a incluir no conjunto de grupos susceptíveis de obter o reconhecimento de direitos colectivos alguns grupos que ele quer de excluir. Esses grupos

142

Ibidem, p. 381.

143

Objecção também colocada por James W. Nickel. Vide Capítulo 1, Subsecção 1.2.1.

144

Daniel Weinstock, Op. Cit., p. 381.

145

satisfazem a condição de proporcionar aos seus membros um conjunto de opções de vida satisfatórias e inscritas num campo de valores que as torna significativas para os indivíduos. Ora, Kymlicka considera que apenas as minorias nacionais satisfazem esta condição, mas Weinstock acredita que na realidade há minorias nacionais que não a satisfazem e, simultaneamente, há alguns grupos étnicos que as satisfazem, pelo que têm o mesmo direito de autonomia que as minorias nacionais.146 Segundo Weinstock, a razão desta falha da teoria de Kymlicka deve-se a dois tipos de factores: o primeiro consiste no facto de ela negligenciar grupos que não são nem minorias nacionais nem imigrantes, por exemplo, os negros, os hispânicos e os asiáticos, e que constituem maiorias em certas zonas dos Estados Unidos. Em defesa de Kymlicka, permita-se-nos recordar a Subsecção 3.2.4, que trata precisamente as questões relativas aos afro-americanos e onde vimos que Kymlicka, por um lado, confessa as dificuldades de classificar o grupo dos afro-americanos como minorias nacionais ou como imigrantes; e, por outro lado, admite que se trata de um grupo muito especial, que se encontra numa posição virtualmente única. Cabe-nos também esclarecer que Kymlicka refere muitas vezes os grupos dos hispânicos147 e dos asiáticos148, inserindo-os entre os imigrantes e reconhecendo os seus direitos poliétnicos. Em relação aos hispânicos, o nível de problematização conseguido por Kymlicka vai ao ponto de ele deixar bem explícito que o termo «“hispânico” pouco mais é do que uma categoria estatística que abrange uma multiplicidade de minorias nacionais, imigrantes, exilados, todos com as suas próprias identidades distintas e pretensões.»149 De qualquer forma, Weinstock parece ignorar os matizes feitos por Kymlicka e afirma que é incorrecto classificar os negros, os hispânicos e os

146

Cf. Ibidem.

147

Cf. Will Kymlicka, Multicultural Citizenship: A Liberal Theory of Minority Rights, pp. 15-17.

148

Cf. Will Kymlicka, Politics in the Vernacular: Nationalism, Multiculturalism, and Citizenship, pp. 177-199.

149

“‘Hispanic’ is little more than a statistical category covering a range of national minorities, immigrants and exiles, all with their own distinct identities and demands.” Will Kymlicka, Multicultural Citizenship: A Liberal

asiáticos apenas como minorias culturais provenientes da imigração e reconhecer-lhes somente direitos poliétnicos.150

O segundo factor identificado por Weinstock para justificar a falha que ele atribui à teoria de Kymlicka (para além da arbitrariedade na identificação dos grupos culturais) consiste na convicção de que «a cultura societal dominante não proporciona um esquema de valores que permita aos indivíduos avaliar as opções de vida que se lhes apresentam através de grupos intermediários que constituem a sua sociedade civil.»151 Weinstock dá como exemplos de grupos deste tipo as Igrejas e os grupos profissionais e explica que eles não têm de ser grupos etnoculturais, embora as suas pretensões tenham legitimidade igual às dos restantes grupos; admite que se possa responder a esta dificuldade, dizendo que, em teoria, tais grupos podem possuir direitos colectivos, embora não os possam pôr em prática. Contudo, Weinstock nota que esta resposta só é satisfatória se nos restringirmos à «categorização um pouco simplista que Kymlicka faz dos tipos de direito colectivo cultural»152 e se admitirmos que os grupos intermediários não têm de possuir direitos de autogoverno nem direitos poliétnicos. E Weinstock acrescenta:

Mas se tivermos em conta toda a gama de direitos colectivos culturais possíveis, apercebemo- nos rapidamente do facto de que a teoria de Kymlicka, na medida em que não parece dar-nos os meios de distinguir no plano normativo as reivindicações colectivas de diferentes tipos de grupos sociais, pode dar lugar a uma verdadeira profusão de reivindicações colectivas justificadas.153

Weinstock conclui que a objecção que os liberais colocam ao reconhecimento de direitos colectivos tem pertinência: o princípio da equidade exige igual tratamento de todos os grupos culturais e não o fazer pode dar origem à fragmentação do espaço político. Por conseguinte, Weinstock assevera que a filosofia política tem três opções: (i) «regressar ao

150

Cf. Daniel Weinstock, Op. Cit., p. 383.

151 Ibidem. 152 Ibidem. 153 Ibidem, p. 384.

abstencionismo liberal»154 e abandonar a ambição de implicar o Estado na defesa da diferença cultural (posição de Chandran Kukathas); (ii) aprofundar a política da diferença, admitindo que o Estado deve intervir no mercado cultural para proteger todas as minorias em risco de perderem as suas culturas (posição de Iris Young); (iii) incentivar o Estado a tomar medidas que sirvam de contrapeso à noção de diferença cultural e levem ao desenvolvimento de um sentimento de pertença nacional que permita superar as especificidades culturais dos diferentes grupos que constituem as sociedades pluralistas liberais (posição de Miller).155

Adiante, analisaremos detalhadamente esta última opção e, sempre que possível, contrapô-la-emos à de Kymlicka. Weinstock não o reconhece mas, na verdade, temos vindo a constatar que Kymlicka propõe uma quarta – e bem fundada – opção: a opção por um modelo de construção da nação assente numa relação dialéctica entre a construção da nação e os direitos das minorias. Segundo Kymlicka, este modelo de construção da nação, a ser aplicado, conduzirá à evolução da organização do Estado para um modelo federal muito especial – o federalismo multinacional e multicultural.

3.4OMULTICULTURALISMO E OS NACIONALISMOS MINORITÁRIOS

Como vimos na Subsecção 3.2.1, a passagem da política de anglo-conformidade para a política multiculturalista deu-se por influência do movimento designado por revivalismo étnico (ethnic revival), que surgiu nos Estados Unidos a partir dos finais da década de 1960. Esta nova política consistia em aceitar e apoiar o desejo dos imigrantes de manterem algumas das características da sua herança étnica (por exemplo, o modo de vestir), através do reconhecimento de direitos poliétnicos. Contudo, desde logo apareceram reacções contra o multiculturalismo; Kymlicka identifica-as e procura defendê-lo. Segundo essas reacções

154

Ibidem.

155

Cf. Ibidem, pp. 383-384. Para um aprofundamento de cada opção, ver: 1) Chandran Kukathas, “Cultural Toleration”, in Ian Shapiro e Will Kymlicka (eds.), Ethnicity and Group Rights, New York, New York University Press, 1997. 2) Iris Young, Justice and the Politics of Difference, Princeton, Princeton University Press, 1990. 3) David Miller, On Nationality, Oxford, Oxford University Press, 1999.

críticas, as políticas multiculturalistas fomentam a fragmentação das comunidades nacionais, porque exageram as diferenças e intensificam os antagonismos entre raças e nacionalidades. Por sua vez, Neil Bissoondath acusa o multiculturalismo de contribuir para fechar os imigrantes em guetos e aliená-los da sociedade envolvente.156

A resposta de Kymlicka a estes temores e críticas estrutura-se em diferentes argumentos, um dos quais é aquele que chama a atenção de que o multiculturalismo é apenas uma das políticas das sociedades liberais em relação aos grupos de imigrantes:

Muitos aspectos da política pública afectam estes grupos, inclusive políticas relativas à naturalização, educação, preparação profissional e acreditação de profissões, direitos humanos e leis contra a discriminação, funcionalismo público, saúde e segurança, até a defesa nacional. Estas outras políticas é que constituem os principais motores da integração. Todas encorajam, pressionam e até forçam legalmente os imigrantes a caminhar em direcção à integração na sociedade.157

Tais políticas de integração fazem parte das políticas de construção da nação nos países liberais democráticos e, segundo Kymlicka, têm muito mais influência sobre os imigrantes do que todas as políticas multiculturalistas, pois abrangem um leque muito mais vasto de actividades quotidianas do que estas últimas.

Àqueles que se opõem às políticas multiculturalistas, Kymlicka responde com base na constatação de que os imigrantes querem integrar-se na sociedade que os recebe e querem ter sucesso dentro dessa sociedade. Kymlicka considera que a integração é condição fundamental para o sucesso. Uma vez que as políticas multiculturalistas promovem a participação dos imigrantes na vida académica, económica e política, elas são «claramente integracionistas no seu objectivo.»158 Concorrem para que os membros dos diferentes grupos desenvolvam relações pessoais e políticas: levam-nos a trabalhar juntos, a tornarem-se amigos e até a

156

Cf. Ibidem, p. 154.

157

“Many aspects of public policy affect these groups, including policies relating to naturalization, education, job training and professional accreditation, human rights and anti-discrimination law, civil service employment, health and safety, even national defence. It is this other policies which are the major engines of integration. They all encourage, pressure, even legally force immigrants to take steps towards integrating into society.” Ibidem, p. 155.

158

casarem uns com os outros; levam-nos também a cooperarem e a tomarem decisões em conjunto, o que constitui o contrário do separatismo étnico. As políticas multiculturalistas consistem sobretudo em incentivar as instituições públicas a modificarem as suas regras, práticas e símbolos, de modo a acomodarem as crenças e as práticas dos diferentes grupos de imigrantes.159 O objectivo das políticas multiculturalistas é fazer com que os imigrantes se sintam confortáveis dentro das instituições, não é encorajá-los a encararem-se a si próprios como nações minoritárias.160 Aliás, Kymlicka afirma ainda que, de modo geral, os grupos de imigrantes, mesmo que queiram, não têm capacidade nem motivação para se empenharem em projectos de construção da nação.161

Para Kymlicka, quando os imigrantes exigem políticas multiculturalistas, o que eles querem é que as instituições mudem para que se torne mais fácil participar nelas, para que as suas identidades etnoculturais tenham maior reconhecimento e para que haja uma maior aceitação das suas práticas etnoculturais, de modo a sentirem-se à vontade.162 «Em resumo, estas políticas multiculturalistas envolvem a revisão dos termos da integração, não a rejeição da integração per se.»163 A afirmação e o reconhecimento da identidade étnica dos imigrantes ocorre dentro das instituições comuns, o que contraria a marginalização étnica e os nacionalismos minoritários e encoraja as políticas de integração. Kymlicka fundamenta este argumento com base no exemplo da isenção, dada aos siques no Canadá, de usarem o capacete cerimonial da força da polícia nacional. Enquanto muitos canadianos nativos encararam essa isenção como uma forma de transigir com um sinal de desrespeito por um dos símbolos nacionais, para os siques o facto de desejarem trabalhar na polícia do Canadá é 159 Cf. Ibidem, pp. 154-155. 160 Cf. Ibidem, pp. 164-165. 161

Cf. Ibidem, p. 159. Kymlicka observa que o nacionalismo minoritário não é uma opção viável para os imigrantes, pois estabelecer e reproduzir uma cultura societal distinta envolve enormes dificuldades, exige instituições públicas e poderes que nenhuma política multiculturalista concede. Cf. Ibidem, p. 171.

162

Cf. Will Kymlicka, “Western Political Theory and Ethnic Relations in Eastern Europe”, p. 35.

163

“In short, these multiculturalism policies involve a revision in the terms of integration, not a rejection of