2 MOÇAMBIQUE E A LÍNGUA PORTUGUESA
4.3 A LÍNGUA PORTUGUESA É NOSSA, É MOÇAMBICANA
A pergunta que justifica este tópico é Como você vê o papel da Língua Portuguesa
como Língua Oficial de Moçambique? Para uma compreensão melhor dessa relação do
circunstâncias/situações você usa a língua portuguesa?, Em que circunstâncias você usa as
línguas autóctones?, Na sua opinião, como você avalia a heterogeneidade linguística
moçambicana? e A língua portuguesa e as línguas autóctones convivem bem?.
Para o professor A, “o português não funciona tão bem assim”. Para este informante, a
língua portuguesa ainda é uma língua de elite e de difícil acesso para o povo. Já que “não há
nem um milhão de tiragem de jornal num país em que a população é cerca de 20 milhões”.
Por isso, ele usa a língua portuguesa somente “em sessões formais, como esta [entrevista]”,
por exemplo.
Para o professor B, a língua portuguesa ainda não representa bem toda a população
moçambicana, exceto a que vive em Maputo. Segundo ele, se nos deslocarmos para Gaza, a
província mais próxima de Maputo, é possível notar uma diminuição significativa no número
de falantes de Língua Portuguesa, por isso, ele defende algo similar ao que é proposto por
Armando Jorge Lopes:
E sou defensor de que as línguas moçambicanas devem andar lado a lado, com o português. Por uma questão de princípio, porque nós temos línguas. Por que é que vamos importar uma outra língua com a qual nos devemos identificar de facto, quando nós temos as nossas? A língua portuguesa é língua de unidade nacional, muito bem. É preciso que seja dominada pelos moçambicanos, é preciso que os moçambicanos saibam falar a língua muito bem, certo. Mas, isso não deixa de fora esta questão, que não defendemos o que é nosso.
Nessa mesma perspectiva, o Professor C afirma que:
O português é a língua oficial, infelizmente é a única língua oficial. [...]. Embora, a maioria seja nos centros urbanos, nas cidades, não é? Já há uma camada jovem já muito grande, que fala português como língua materna. E eu sinto que esta apropriação do português é muito boa porque é uma das línguas, não é, nós não dizemos que temos esta, esta, esta e o português.
Portanto, português é mais uma língua moçambicana. Nós não sentimos
que seja uma língua estrangeira no nosso país, é uma língua moçambicana. E sentimos que aquela língua que nós falamos não é igual à língua que falam os outros.
Apesar da consciência da necessidade de um país com idiomas locais bilíngues, o
Professor D ressalta que:
O português, contrariamente àquilo que muitas pessoas costumam veicular por aí, veio para ficar. É uma língua que nós herdamos, por via colonial. A história assim o ditou e ela veio para ficar. E eu penso que o papel da língua portuguesa como língua franca vai continuar. Porque para nos cimentarmos. É, materializarmos de forma consistente este Moçambique, que do ponto de vista linguístico é diverso, tem essa diversidade toda. E termos, portanto, sucesso, sermos bem-sucedidos, o papel da língua portuguesa tem que estar lá. É a língua franca, é a língua coma qual os moçambicanos falantes das diferentes línguas bantu podem usar para se comunicar.
Apesar disso, o Professor G, reconhece que a língua portuguesa é “é imprescindível,
tem que ser, tem que ser, é a nossa língua oficial”.
Diante do exposto, observamos que a língua portuguesa não é um “problema” para os
moçambicanos. A ausência das línguas nacionais como línguas oficiais é que tem sido um
problema, já que 51% da população moçambicana ainda não tem conhecimento do português.
Logo, há um bom convívio entre as línguas autóctones e a língua portuguesa. Do mesmo
modo em que é possível perceber como positiva essa heterogeneidade das línguas
moçambicanas.
Enquanto as línguas autóctones não são elevadas ao estatuto de língua oficial, são
usadas como língua de afeto, como podemos perceber na fala do informante E:
Para dizer a verdade, gosto mais de changana. Porque eu me sinto mais à vontade. Consigo chorar em changana, não é, seja por assuntos bons, seja por assuntos maus. Choro nessa língua com mais, digamos, liberdade. Agora, português é uma língua com outro lugar em mim. Não me permite transmitir as emoções na sua profundidade. [...] Posso dizer que naquele momento em que queremos ser mais originais, queremos ser emocionais, até metemos uma palavra em changana, no meio da língua portuguesa. É fascinante isso. [...] changana eu uso numa situação mais doméstica, não é. Estou em casa, ocorre-me que tenho que me expressar em changana, expresso-me, sem reservas. [...]