2 MOÇAMBIQUE E A LÍNGUA PORTUGUESA
4.4 MOÇAMBIQUE: LUSÓFONO: SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO
Duas são as questões do roteiro de entrevistas que norteiam a análise proposta neste
tópico: Em que medida fazer parte dos PALOP e da CPLP é importante para o
desenvolvimento de Moçambique? e O que você entende por lusofonia?
As respostas apresentadas não só revelam a postura crítica como também questionam a
importância das instituições e do termo Lusofonia para os entrevistados. A partir dessa
constatação, buscamos ouvi-los a fim de compreender o olhar do moçambicano para a CPLP
(Comunidade de Países de Língua Portuguesa), PALOP (Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa) e Lusofonia.
Em relação à primeira questão, Em que medida fazer parte dos PALOP e da CPLP é
importante para o desenvolvimento de Moçambique?, observados os comentários dos
professores entrevistados, notamos que a maioria desacredita, veementemente, do trabalho e
das ações dessas instituição; de modo geral, há descrédito e insatisfação no que se refere à
CPLP e aos PALOP.
Fala-se muito dessas organizações, PALOP, CPLP. Mas, essencialmente, para o cidadão comum isso não faz sentido. Porque não há, digamos assim, resultados vistos. Está a perceber? E mesmo na área acadêmica há indivíduos que questionam muito essas designações de CPLP, PALOP. Até porque PALOP está a sair um bocadinho da moda.
Realçadas pelo Professor C, ao se recordar de um episódio vivenciado por ela no
aeroporto de Portelas em Lisboa:
[...] até agora não se viu nada, não é? Até agora estamos a nível das intenções, são muito boas, muito bonitas. Mas vou lhe dizer uma coisa, eu fui a Cabo Verde há duas semanas [...], passei por Lisboa e como eram dez horas de trânsito, eu saí para ir ao guichê. Havia lá um guichê que dizia: “CPLP”. Eu vou para esse guichê, dizem: “ - Tá fechado. Vai para fila normal, vai, vai”. [...] A pessoa vai para lá, nem tem ninguém e nem estão lá para atender. Então, quer dizer, eu não vejo grandes vantagens.
Esses aspectos de descrença são também apontados pelo Professor E, para quem, “a
ideia em si que talvez esteja por detrás da criação das organizações não me parece má. Mas,
as agendas ou nascem já com fragilidades ou então não saem do papel”. O Professor A
confirma essa opinião ao mencionar “eu não vejo nada que mude nessas todas convenções”.
O Professor K não sabe precisar se estas instituições são importantes para
Moçambique,mas reconhece que “historicamente há ligações e quando há essas ligações
históricas e que muitas vezes se traduzem também em ligações econômicas e etc, é
importante.”
Além da descrença, é importante assinalarmos a desconfiança existente acerca dessas
instituições. Para o Professor F, “como a CPLP funciona, ela de facto não traz vantagem.
CPLP é Brasil e Portugal. Para os países do continente africano não tem expressão nenhuma
nem nenhuma vantagem. [...]. Por outro lado, falar dos PALOP também é uma terminologia,
uma associação que é discutível.” Entretanto, este informante faz uma pontuação importante:
[...] não considero que seja correto os países africanos deixarem a responsabilidade da solução dos problemas para Portugal e para o Brasil, não é. Passamos a vida inteira a dizer que isso é um problema de Portugal e do Brasil. E que fazemos nós, não é? Se estamos dentro de uma realidade, então, temos que ver que solução.
Percebemos que apesar de a CPLP e de os PALOP não apresentarem expressividade
em Moçambique, o país também não contribui para que isso aconteça, já que não parece
cobrar a participação e exigir o dialogo efetivo dessas comunidades no desenvolvimento do
país.
Acerca deste assunto, convém destacar trecho da entrevista do Professor F que pode
ser uma justificativa pelo desinteresse do moçambicano sobre essas instituições:
Mas, de facto, em Moçambique, se nós fomos buscar a identidade pela língua e [...] corremos muitos riscos. Porque, por exemplo, em Moçambique mais da metade da população não tem como primeira língua o português ou não fala o português em casa. Então, é um caminho muito longo até que a CPLP seja realmente representativa dos interesses de todos estes países, não é. E dos PALOP, acho que pior ainda.
Notamos que a desconfiança, o descrédito e o desinteresse ocorrem possivelmente
porque essas instituições parecem girar em torno da língua portuguesa, esquecendo-se que a
situação linguística em África é singular, completamente diferente da dos demais continentes.
Diferentemente desses professores, o docente H reconhece que há importância nessas
instituições, principalmente porque estas podem vir a contribuir para o desenvolvimento do
país no momento que o coloca em contato com seus iguais, outros países africanos falantes de
língua portuguesa, que são ao mesmo tempo também seus diferentes:
Só há desenvolvimento quando nós temos contactos além de fronteiras. E se existe países, em nível de África, que fala língua portuguesa, por que não
estabelecer contatos livres? A diferença é que faz o desenvolvimento. É
preciso que Moçambique tenha contato com Angola, Cabo Verde, por aí em diante, porque só assim que a gente pode ter experiências outras e desenvolver nossa situação. É por isso que eu acho que há uma importância. É, eu não sei como explicar, mas não é possível que um povo viva sozinho,
não é possível, e ao mesmo tempo desenvolver. É preciso que haja
contactos com outros que tenham algo em comum pra o seu desenvolvimento. Por isso é que eu acho importante. (grifo nosso).
Observamos que, para o Professor H, um país só pode desenvolver-se se houver troca
com aqueles que têm algo em comum. Para ele, não é possível existir desenvolvimento entre
os iguais, pois o desenvolvimento de um país ocorre pelo contato com a diferença, com o
diferente.
Nessa mesma linha, o Professor G acrescenta que a troca de experiência é importante
nesse processo de interação com os PALOP: “aprender com essa integração dessas
organizações, a troca de experiência sobretudo é benéfica nesse sentido”.
Nessa direção, o Professor J afirma que “é importante se se implementam os
objectivos para a qual foi criada: aumenta a cooperação e o intercâmbio cultural e uniformizar
e difundir a língua portuguesa. Sob esta perspectiva, o preconizado tem-se efectivado.”
Notamos, aqui, o uso da expressão “uniformizar”. Entretanto, diante do que foi
exposto e daquilo que tem sido transcrito das entrevistadas, ousamos dizer que o termo talvez
tenha sido usado de maneira inadequada, pois não se pretende uniformizar a língua, mas sim
marcar as suas diferenças. Evidenciar que temos uma só língua, que se manifesta por
diferentes modalidades.
Para o Professor D, a importância dessas instituições parece estar no fato de falarmos
um mesmo idioma e termos sidos colonizados por Portugal, já que “nós temos um passado
que duma forma ou de outra acaba sendo comum. [...]. Eu acho que é importante porque
compartilhamos a mesma língua. Nesse sentido, vemos que, para este professor, o valor
dessas instituições está intrinsecamente vinculado à questão linguística. Elas existem apenas
em razão de uma língua em comum. Se considerarmos que, ao tratarmos de língua, diversos
outros fatores estão implicados, como política, cultura entre outros, compreendemos que,
apesar, de parecer simples e contundente, as colocações do Professor D são pertinentes à
história de Moçambique.
Dentre os discursos apresentados, ressaltemos o do Professor I, que tem uma visão
ainda em construção acerca da CPLP:
Penso que embora muitos de nós pensamos, até agora então pensamos, que a Comunidade dos Povos de Língua Purgues, CPLP, era mais uma unidade do ponto de vista histórico e cultural, não é verdade. Para somar aqueles que foram ex-colônias portuguesas. Neste momento estamos a verificar, e com muito agrado, que começa a haver também relações muito maiores, muito mais culturais. Mas existem também relações econômicas, começam a haver uma ligação, uma harmonização do ponto de vista jurídico.
Isto não significa que nós [moçambicanos] não tenhamos alianças económicas e outro tipo no caso onde nós estamos inseridos. O Brasil está a pertencer ao cone Sul, não é verdade? Tem sua aliança com a Argentina e como os povos interamericanos. Aqui nós estamos na África Austral [...] vão ter alianças com povos de língua inglesa aqui na zona, nãotem
problema nenhum. [...]. Portugal vai ter com a União Europeia.
Essas observações são pertinentes porque ressaltam que o pertencimento a uma
determinada comunidade global, não impede o estabelecimento de relações com outros países
e até mesmo com outras comunidades globais.
Observado o exposto, a partir da questão Em que medida os PALOP e a CPLP são
importantes para o desenvolvimento de Moçambique? constatamos que essas instituições são
desacreditadas pela maioria dos entrevistados. As intenções dessas instituições parecem
obscuras, uma vez que existe ainda um distanciamento entre o dito e o feito. Os
moçambicanos não identificam, na prática, nenhuma ação dessas instituições que tenha
contribuído para o desenvolvimento efetivo do país. Além disso, questionam a reciprocidade
das relações estabelecidas a partir dessas comunidades internacionais; existe, por exemplo, a
dúvida se há relação de fato entre todos os países ou se as relações são apenas entre Brasil e
Portugal.
A partir dos apontamentos moçambicanos, concluímos que, em geral, o moçambicano
não aprecia as designações de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa ou Comunidade
de Países de Língua Portuguesa. Deduzimos que o motivo dessa rejeição está no fato de
muitos acreditarem, para o futuro, numa política linguística dos países africanos e, em
especial o deles, Moçambique, que passe a congregar mais de uma língua como idioma
oficial.
Entendemos que esse posicionamento é antes um questionamento identitário, pois as
comunidades internacionais ao restringirem seus nomes à língua portuguesa parecem não
congregar ou agregar os países africanos de língua oficial portuguesa, pois parecem
desconsiderar o emaranhado linguístico ali existente.
Nesse sentido, talvez seja necessário a essas instituições repensarem o seu papel
enquanto comunidades de falantes de língua portuguesa, as suas atividades práticas,
principalmente, no que se refere às questões relacionadas à diversidade linguística de países
multilíngues, como é o caso não só de Moçambique, mas também dos demais países
africanos, a fim de deixar clara a razão da sua existência para os falantes de língua
portuguesa.
Na medida em que há certa rejeição dessas instituições oficiais, para o termo
Lusofonia, a polêmica é ainda maior. Alguns dos entrevistados chegavam a alterar o tom de
voz e se posicionar claramente contra a utilização deste termo, evidenciando, assim, muito do
que Gonçalves e Lourenço apontaram em seus estudos acerca da Lusofonia sob a perspectiva
moçambicana.
O Professor J é bastante sucinto na sua declaração acerca do que se entende por
Lusofonia, para ele simplesmente “trata-se de um termo que caracteriza as identidades
culturais dos países falantes de língua portuguesa”. Essa postura do Professor J pode ser
observada também na questão anterior sobre os PALOPs e a CPLP. Acreditamos que essa
objetividade pode ser um cuidado para não entrar na parte polêmica dessa questão e, por isso,
respeitamos a sua posição e seguimos com a entrevista sem interferir, por exemplo, com
outros questionamentos que pudessem levá-lo a falar mais sobre o assunto.
Para o Professor D, a palavra lusofonia parece não ser um problema, já que ele a
observa do ponto de vista da globalização:
Eu penso que [...] de uma forma muito abstrata, a lusofonia seria este entendimento de trazer todos os países que falam português ao mesmo patamar [...] E vejo isso como se fosse um fragmento da globalização. Mas globalização apenas para os países que falam a língua portuguesa, que têm a língua portuguesa como língua oficial. Eu entendo mais ou menos como isto [...].
Nesse sentido, a globalização é o processo pelo qual determinados países ganham
unidade porque encontram entre si algo em comum. Neste caso, a língua portuguesa,
configurando assim, um espaço imaginário e global, a Lusofonia.
Com percepção semelhante, o Professor G diz interpretar o conceito de lusofonia
como “um espaço em que todos nós nos identificamos sendo falantes de uma mesma língua.
Eu interpreto assim. Então, prefiro pôr de lado essas outras interpretações [...]”.
É curioso observar que, para esses professores, o conceito de Lusofonia vincula-se
única e exclusivamente à língua portuguesa, mais precisamente aos falantes de língua
portuguesa, contrariando, assim, os teóricos dos estudos lusófonos que afirmam que o
conceito de Lusofonia não pode se restringir à questão da língua.
Sob a ótica do Professor E, Lusofonia é algo que pretende congregar ideias, as quais
podem ser por razões históricas ou lógicas, mas é algo que ainda exige cuidados, como
podemos constatar na sua fala:
Entendo que é uma criação que talvez tenha surgido para acomodar certos pensamentos, não é. Podem ter uma explicação histórica, podem ter uma explicação até de lógica. É, considero lusofonia, quer dizer, uma prática, eu não quero admitir que seja uma prática, não é. Uma intenção que merecia um tratamento um pouco mais atento.
Esse tratamento “mais cuidadoso e atento” proposto reside em precisar o que
exatamente se pretende com o uso deste termo, pois a seu ver, a Lusofonia pode ser:
uma espécie de perpetuação daquilo que era a relação dos países africanos, não é, de expressão portuguesa, antes das próprias independências. Ora, estamos a usar um novo nome para um fenômeno que já é antigo e que em muitos desses países, é, foi ultrapassado com recurso da força das armas. Quer dizer aparecer hoje a defender-se uma terminologia como a lusofonia, é como se, é, se procurasse cegar as pessoas daquilo que está na vista.
Percebemos neste trecho do Professor E que o conceito de Lusofonia aproxima-se da
lusitanidade, do lusitanismo.
Para o Professor F, se o termo de Lusofonia se circunscrever somente à língua não
agregará os países africanos que falam língua portuguesa, pois a maior parte da população
ainda não fala o português. Nesse ponto, ele assume que tem certas dificuldades em discutir o
conceito de Lusofonia:
[...] o meu principal problema é: quando nós falamos de lusofonia, estamos a falar só se língua. E se falamos só de língua, aí começa o primeiro problema, não é. Porque o primeiro problema é que a maior parte dos países, por exemplo, do continente africano [...] a maior parte da sua população não fala português. Então, partir da língua significa, não é, que nós temos uma série de limitações. É, eu tenho dificuldades em dizer que sou lusófona, não é. Acho que o termo lusofonia é um termo de caráter ideológico e politicizado, mais do que um termo que corresponda à realidade. [...] Então, a questão de lusofonia merece ainda uma discussão sobre o seu significado para além da língua, não é?
O docente K já é mais rígido nas suas colocações e questiona o termo Lusofonia:
Não gosto nada desse conceito. E acho que ele não diz nada, sinceramente. Porque falar de países lusófonos? O que que é isso? [...] Então, o que que é isso de lusofonia? É porque se fala português? Mas, o que é esse português? Que quando chega ao Brasil tem que ter legendas, porque dizem que não entendem.
Esse questionamento parece ser um reflexo da sensação de não se sentir representado
pelo termo Lusofonia. Isso fica evidente no seguinte trecho dos comentários do Professor K:
[...] nós levantamos essa questão quando surgiu o Congresso Luso-afro-brasileiro. E o problema é que nós não encontramos outra forma. Eu acho que até agora se falou nisso também: o que significa luso-afro? Luso: Portugal, Afro -porque afro é um continente todo. Ou seja, Portugal e Brasil estão lá representados. Afro, o continente africano, é o afro. E, no entanto, a gente está a pensar mais nos países que falam português. Não é?
Reconhecemos, assim, que o termo Lusofonia, aos olhos dos informantes, parece não
congregar países para uma comunidade globalizada. Entretanto, compreendemos com base
nos estudos acerca do contexto histórico, Lusofonia e identidade, que tratar todos os países
africanos como um bloco único foi durante muito tempo, e ainda é para alguns, um vício do
mundo, que não se restringe, portanto, a Portugal e Brasil. É comum ouvirmos a pessoas
dizerem “eu vou à África”, quando na verdade dirigem-se somente a um dos países deste
continente. É importante que o mundo reconheça que antes de serem africanos, os
moçambicanos são moçambicanos, os angolanos são angolanos e assim por diante. A
diferença entre os povos africanos é marcada pela língua, pela economia, pela história. Se
olharmos os conjuntos de continentes do universo, é, certamente, o continente africano o de
maior diversidade.
O Professor A parece ter essa mesma sensação:
É um termo também político, não serve de nada. Serve para alguns que têm acesso à informação, têm acesso às normas e tudo mais. O conceito pra mim seria isso. Porque não sei como vai falar de lusofonia num país em que contando os que têm o português como a língua primeira e aqueles que
falam português mal, não chega 15% da população total. Estou falando dum universo de 20 milhões, de moçambicanos. São vinte milhões. Que segundo os dados estatísticos juntando esses que falam português, todos eles, incluindo-me, não chegamos a 15%. Vamos lá, arriscar mais 30%, que não tenho o número bem na cabeça. Quando falamos de lusofonia estamos a falar de quê? Estamos a falar desses poucos, não é verdade? E os outros muitos [...]
Para esse informante, o termo Lusofonia parece ignorar a população que, embora
presente num país em que o idioma oficial é o português, não fala esta língua, mas se
comunica por meio de outro(s) idioma(s) local(is).
Essa percepção aparece reforçada pela fala do Professor C:
[...] É um conceito que eu não uso, aqui em Moçambique usa-se muito pouco. Porque, na verdade, quando se começou a usar o conceito foi no sentido de que nós somos todos de expressão portuguesa. Nós não somos de expressão portuguesa, nós falamos o português como língua oficial, mas nós temos origens bantu, não é? E aí, eu tinha um colega que diz: “-Nós somos bantófilos. Não somos lusófilos, somos bantófilos.”
Notamos que há, por parte dos entrevistados, certa resistência em aceitar o termo
Lusofonia, porque acreditam estar implícito nele ou a questão do quinto império, ou a
desconsideração do multilinguismo local. Entretanto, para dois deles, o termo, apesar de
conflitante, apresenta significado importante e agrega não só a língua, mas também a cultura
dos países africanos e, consequentemente, de Moçambique.
Para H, nascido em Maputo após a independência, que aprendeu a falar somente o
português, o termo Lusofonia é muito conflitante, porque envolve uma questão de identidade,
que no caso dela existe, como nos revela:
É um termo tão polêmico. Que já foi discutido tanto. Porque lá está a questão de identidade. Quando está a falar da lusofonia, está a falar daquele povo ou daquela comunidade que fala a língua lusa. Qual é ela? É a língua portuguesa. Há aqueles que falam por vários interesses, por vários interesses. Eu, particularmente uso-a, porque não é só por questão de interesse, também pode ser uma questão de identificação. Uso porque é a língua com que eu penso. Eu penso com a língua portuguesa, não penso com outra. A lusofonia acaba entrando em mim [...] Eu sou uma, se me identificar, eu sou... Eu sou uma lusa. Não lusa em Portugal, mas lusa em Moçambique.
As reflexões do Professor H acerca da Lusofonia deixam transparecer que o fato de ser
luso na concepção dele não é ser português, é possível ser luso em Moçambique. Entretanto, é
importante mencionarmos aqui que a opinião deste informante destaca-se das demais, pois se
declara como lusófona.
A razão de ela ser o único entre os informantes pode ser encontrada na exposição do
Professor I, ao afirmar que
:[...] há muita contradição na utilização desse lexema. [...]. Dá impressão de que lusofonia é uma imposição de que todos nós somos falantes de língua portuguesa, não é verdade. Quando aqui em África [...], não é verdade. Ora bem, isso, por exemplo, as pessoas contestam o fato, diz então: “-Eu sou bantófono, não sou lusófono.” Eu, aqui em Moçambique, sou bantófono. Ora bem, se nós nos libertamos desse preconceito e vermos a palavra numa dimensão de outro tipo, uma dimensão, por exemplo, cultural, aí já aceitamos que de fato, ser de país de língua oficial portuguesa, esse termo vai corresponder àquilo que é um espaço onde também se fala português. Não se fala exclusivamente o português, mas um espaço onde se fala português. Portanto, aí lusofonia tem uma terminologia muito própria, ou seja representa um espaço onde se fala o português.