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MOÇAMBIQUE: LUSÓFONO: SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO

No documento reflexões sobre lusofonia e identidade (páginas 89-99)

2 MOÇAMBIQUE E A LÍNGUA PORTUGUESA

4.4 MOÇAMBIQUE: LUSÓFONO: SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO

Duas são as questões do roteiro de entrevistas que norteiam a análise proposta neste

tópico: Em que medida fazer parte dos PALOP e da CPLP é importante para o

desenvolvimento de Moçambique? e O que você entende por lusofonia?

As respostas apresentadas não só revelam a postura crítica como também questionam a

importância das instituições e do termo Lusofonia para os entrevistados. A partir dessa

constatação, buscamos ouvi-los a fim de compreender o olhar do moçambicano para a CPLP

(Comunidade de Países de Língua Portuguesa), PALOP (Países Africanos de Língua Oficial

Portuguesa) e Lusofonia.

Em relação à primeira questão, Em que medida fazer parte dos PALOP e da CPLP é

importante para o desenvolvimento de Moçambique?, observados os comentários dos

professores entrevistados, notamos que a maioria desacredita, veementemente, do trabalho e

das ações dessas instituição; de modo geral, há descrédito e insatisfação no que se refere à

CPLP e aos PALOP.

Fala-se muito dessas organizações, PALOP, CPLP. Mas, essencialmente, para o cidadão comum isso não faz sentido. Porque não há, digamos assim, resultados vistos. Está a perceber? E mesmo na área acadêmica há indivíduos que questionam muito essas designações de CPLP, PALOP. Até porque PALOP está a sair um bocadinho da moda.

Realçadas pelo Professor C, ao se recordar de um episódio vivenciado por ela no

aeroporto de Portelas em Lisboa:

[...] até agora não se viu nada, não é? Até agora estamos a nível das intenções, são muito boas, muito bonitas. Mas vou lhe dizer uma coisa, eu fui a Cabo Verde há duas semanas [...], passei por Lisboa e como eram dez horas de trânsito, eu saí para ir ao guichê. Havia lá um guichê que dizia: “CPLP”. Eu vou para esse guichê, dizem: “ - Tá fechado. Vai para fila normal, vai, vai”. [...] A pessoa vai para lá, nem tem ninguém e nem estão lá para atender. Então, quer dizer, eu não vejo grandes vantagens.

Esses aspectos de descrença são também apontados pelo Professor E, para quem, “a

ideia em si que talvez esteja por detrás da criação das organizações não me parece má. Mas,

as agendas ou nascem já com fragilidades ou então não saem do papel”. O Professor A

confirma essa opinião ao mencionar “eu não vejo nada que mude nessas todas convenções”.

O Professor K não sabe precisar se estas instituições são importantes para

Moçambique,mas reconhece que “historicamente há ligações e quando há essas ligações

históricas e que muitas vezes se traduzem também em ligações econômicas e etc, é

importante.”

Além da descrença, é importante assinalarmos a desconfiança existente acerca dessas

instituições. Para o Professor F, “como a CPLP funciona, ela de facto não traz vantagem.

CPLP é Brasil e Portugal. Para os países do continente africano não tem expressão nenhuma

nem nenhuma vantagem. [...]. Por outro lado, falar dos PALOP também é uma terminologia,

uma associação que é discutível.” Entretanto, este informante faz uma pontuação importante:

[...] não considero que seja correto os países africanos deixarem a responsabilidade da solução dos problemas para Portugal e para o Brasil, não é. Passamos a vida inteira a dizer que isso é um problema de Portugal e do Brasil. E que fazemos nós, não é? Se estamos dentro de uma realidade, então, temos que ver que solução.

Percebemos que apesar de a CPLP e de os PALOP não apresentarem expressividade

em Moçambique, o país também não contribui para que isso aconteça, já que não parece

cobrar a participação e exigir o dialogo efetivo dessas comunidades no desenvolvimento do

país.

Acerca deste assunto, convém destacar trecho da entrevista do Professor F que pode

ser uma justificativa pelo desinteresse do moçambicano sobre essas instituições:

Mas, de facto, em Moçambique, se nós fomos buscar a identidade pela língua e [...] corremos muitos riscos. Porque, por exemplo, em Moçambique mais da metade da população não tem como primeira língua o português ou não fala o português em casa. Então, é um caminho muito longo até que a CPLP seja realmente representativa dos interesses de todos estes países, não é. E dos PALOP, acho que pior ainda.

Notamos que a desconfiança, o descrédito e o desinteresse ocorrem possivelmente

porque essas instituições parecem girar em torno da língua portuguesa, esquecendo-se que a

situação linguística em África é singular, completamente diferente da dos demais continentes.

Diferentemente desses professores, o docente H reconhece que há importância nessas

instituições, principalmente porque estas podem vir a contribuir para o desenvolvimento do

país no momento que o coloca em contato com seus iguais, outros países africanos falantes de

língua portuguesa, que são ao mesmo tempo também seus diferentes:

Só há desenvolvimento quando nós temos contactos além de fronteiras. E se existe países, em nível de África, que fala língua portuguesa, por que não

estabelecer contatos livres? A diferença é que faz o desenvolvimento. É

preciso que Moçambique tenha contato com Angola, Cabo Verde, por aí em diante, porque só assim que a gente pode ter experiências outras e desenvolver nossa situação. É por isso que eu acho que há uma importância. É, eu não sei como explicar, mas não é possível que um povo viva sozinho,

não é possível, e ao mesmo tempo desenvolver. É preciso que haja

contactos com outros que tenham algo em comum pra o seu desenvolvimento. Por isso é que eu acho importante. (grifo nosso).

Observamos que, para o Professor H, um país só pode desenvolver-se se houver troca

com aqueles que têm algo em comum. Para ele, não é possível existir desenvolvimento entre

os iguais, pois o desenvolvimento de um país ocorre pelo contato com a diferença, com o

diferente.

Nessa mesma linha, o Professor G acrescenta que a troca de experiência é importante

nesse processo de interação com os PALOP: “aprender com essa integração dessas

organizações, a troca de experiência sobretudo é benéfica nesse sentido”.

Nessa direção, o Professor J afirma que “é importante se se implementam os

objectivos para a qual foi criada: aumenta a cooperação e o intercâmbio cultural e uniformizar

e difundir a língua portuguesa. Sob esta perspectiva, o preconizado tem-se efectivado.”

Notamos, aqui, o uso da expressão “uniformizar”. Entretanto, diante do que foi

exposto e daquilo que tem sido transcrito das entrevistadas, ousamos dizer que o termo talvez

tenha sido usado de maneira inadequada, pois não se pretende uniformizar a língua, mas sim

marcar as suas diferenças. Evidenciar que temos uma só língua, que se manifesta por

diferentes modalidades.

Para o Professor D, a importância dessas instituições parece estar no fato de falarmos

um mesmo idioma e termos sidos colonizados por Portugal, já que “nós temos um passado

que duma forma ou de outra acaba sendo comum. [...]. Eu acho que é importante porque

compartilhamos a mesma língua. Nesse sentido, vemos que, para este professor, o valor

dessas instituições está intrinsecamente vinculado à questão linguística. Elas existem apenas

em razão de uma língua em comum. Se considerarmos que, ao tratarmos de língua, diversos

outros fatores estão implicados, como política, cultura entre outros, compreendemos que,

apesar, de parecer simples e contundente, as colocações do Professor D são pertinentes à

história de Moçambique.

Dentre os discursos apresentados, ressaltemos o do Professor I, que tem uma visão

ainda em construção acerca da CPLP:

Penso que embora muitos de nós pensamos, até agora então pensamos, que a Comunidade dos Povos de Língua Purgues, CPLP, era mais uma unidade do ponto de vista histórico e cultural, não é verdade. Para somar aqueles que foram ex-colônias portuguesas. Neste momento estamos a verificar, e com muito agrado, que começa a haver também relações muito maiores, muito mais culturais. Mas existem também relações econômicas, começam a haver uma ligação, uma harmonização do ponto de vista jurídico.

Isto não significa que nós [moçambicanos] não tenhamos alianças económicas e outro tipo no caso onde nós estamos inseridos. O Brasil está a pertencer ao cone Sul, não é verdade? Tem sua aliança com a Argentina e como os povos interamericanos. Aqui nós estamos na África Austral [...] vão ter alianças com povos de língua inglesa aqui na zona, nãotem

problema nenhum. [...]. Portugal vai ter com a União Europeia.

Essas observações são pertinentes porque ressaltam que o pertencimento a uma

determinada comunidade global, não impede o estabelecimento de relações com outros países

e até mesmo com outras comunidades globais.

Observado o exposto, a partir da questão Em que medida os PALOP e a CPLP são

importantes para o desenvolvimento de Moçambique? constatamos que essas instituições são

desacreditadas pela maioria dos entrevistados. As intenções dessas instituições parecem

obscuras, uma vez que existe ainda um distanciamento entre o dito e o feito. Os

moçambicanos não identificam, na prática, nenhuma ação dessas instituições que tenha

contribuído para o desenvolvimento efetivo do país. Além disso, questionam a reciprocidade

das relações estabelecidas a partir dessas comunidades internacionais; existe, por exemplo, a

dúvida se há relação de fato entre todos os países ou se as relações são apenas entre Brasil e

Portugal.

A partir dos apontamentos moçambicanos, concluímos que, em geral, o moçambicano

não aprecia as designações de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa ou Comunidade

de Países de Língua Portuguesa. Deduzimos que o motivo dessa rejeição está no fato de

muitos acreditarem, para o futuro, numa política linguística dos países africanos e, em

especial o deles, Moçambique, que passe a congregar mais de uma língua como idioma

oficial.

Entendemos que esse posicionamento é antes um questionamento identitário, pois as

comunidades internacionais ao restringirem seus nomes à língua portuguesa parecem não

congregar ou agregar os países africanos de língua oficial portuguesa, pois parecem

desconsiderar o emaranhado linguístico ali existente.

Nesse sentido, talvez seja necessário a essas instituições repensarem o seu papel

enquanto comunidades de falantes de língua portuguesa, as suas atividades práticas,

principalmente, no que se refere às questões relacionadas à diversidade linguística de países

multilíngues, como é o caso não só de Moçambique, mas também dos demais países

africanos, a fim de deixar clara a razão da sua existência para os falantes de língua

portuguesa.

Na medida em que há certa rejeição dessas instituições oficiais, para o termo

Lusofonia, a polêmica é ainda maior. Alguns dos entrevistados chegavam a alterar o tom de

voz e se posicionar claramente contra a utilização deste termo, evidenciando, assim, muito do

que Gonçalves e Lourenço apontaram em seus estudos acerca da Lusofonia sob a perspectiva

moçambicana.

O Professor J é bastante sucinto na sua declaração acerca do que se entende por

Lusofonia, para ele simplesmente “trata-se de um termo que caracteriza as identidades

culturais dos países falantes de língua portuguesa”. Essa postura do Professor J pode ser

observada também na questão anterior sobre os PALOPs e a CPLP. Acreditamos que essa

objetividade pode ser um cuidado para não entrar na parte polêmica dessa questão e, por isso,

respeitamos a sua posição e seguimos com a entrevista sem interferir, por exemplo, com

outros questionamentos que pudessem levá-lo a falar mais sobre o assunto.

Para o Professor D, a palavra lusofonia parece não ser um problema, já que ele a

observa do ponto de vista da globalização:

Eu penso que [...] de uma forma muito abstrata, a lusofonia seria este entendimento de trazer todos os países que falam português ao mesmo patamar [...] E vejo isso como se fosse um fragmento da globalização. Mas globalização apenas para os países que falam a língua portuguesa, que têm a língua portuguesa como língua oficial. Eu entendo mais ou menos como isto [...].

Nesse sentido, a globalização é o processo pelo qual determinados países ganham

unidade porque encontram entre si algo em comum. Neste caso, a língua portuguesa,

configurando assim, um espaço imaginário e global, a Lusofonia.

Com percepção semelhante, o Professor G diz interpretar o conceito de lusofonia

como “um espaço em que todos nós nos identificamos sendo falantes de uma mesma língua.

Eu interpreto assim. Então, prefiro pôr de lado essas outras interpretações [...]”.

É curioso observar que, para esses professores, o conceito de Lusofonia vincula-se

única e exclusivamente à língua portuguesa, mais precisamente aos falantes de língua

portuguesa, contrariando, assim, os teóricos dos estudos lusófonos que afirmam que o

conceito de Lusofonia não pode se restringir à questão da língua.

Sob a ótica do Professor E, Lusofonia é algo que pretende congregar ideias, as quais

podem ser por razões históricas ou lógicas, mas é algo que ainda exige cuidados, como

podemos constatar na sua fala:

Entendo que é uma criação que talvez tenha surgido para acomodar certos pensamentos, não é. Podem ter uma explicação histórica, podem ter uma explicação até de lógica. É, considero lusofonia, quer dizer, uma prática, eu não quero admitir que seja uma prática, não é. Uma intenção que merecia um tratamento um pouco mais atento.

Esse tratamento “mais cuidadoso e atento” proposto reside em precisar o que

exatamente se pretende com o uso deste termo, pois a seu ver, a Lusofonia pode ser:

uma espécie de perpetuação daquilo que era a relação dos países africanos, não é, de expressão portuguesa, antes das próprias independências. Ora, estamos a usar um novo nome para um fenômeno que já é antigo e que em muitos desses países, é, foi ultrapassado com recurso da força das armas. Quer dizer aparecer hoje a defender-se uma terminologia como a lusofonia, é como se, é, se procurasse cegar as pessoas daquilo que está na vista.

Percebemos neste trecho do Professor E que o conceito de Lusofonia aproxima-se da

lusitanidade, do lusitanismo.

Para o Professor F, se o termo de Lusofonia se circunscrever somente à língua não

agregará os países africanos que falam língua portuguesa, pois a maior parte da população

ainda não fala o português. Nesse ponto, ele assume que tem certas dificuldades em discutir o

conceito de Lusofonia:

[...] o meu principal problema é: quando nós falamos de lusofonia, estamos a falar só se língua. E se falamos só de língua, aí começa o primeiro problema, não é. Porque o primeiro problema é que a maior parte dos países, por exemplo, do continente africano [...] a maior parte da sua população não fala português. Então, partir da língua significa, não é, que nós temos uma série de limitações. É, eu tenho dificuldades em dizer que sou lusófona, não é. Acho que o termo lusofonia é um termo de caráter ideológico e politicizado, mais do que um termo que corresponda à realidade. [...] Então, a questão de lusofonia merece ainda uma discussão sobre o seu significado para além da língua, não é?

O docente K já é mais rígido nas suas colocações e questiona o termo Lusofonia:

Não gosto nada desse conceito. E acho que ele não diz nada, sinceramente. Porque falar de países lusófonos? O que que é isso? [...] Então, o que que é isso de lusofonia? É porque se fala português? Mas, o que é esse português? Que quando chega ao Brasil tem que ter legendas, porque dizem que não entendem.

Esse questionamento parece ser um reflexo da sensação de não se sentir representado

pelo termo Lusofonia. Isso fica evidente no seguinte trecho dos comentários do Professor K:

[...] nós levantamos essa questão quando surgiu o Congresso Luso-afro-brasileiro. E o problema é que nós não encontramos outra forma. Eu acho que até agora se falou nisso também: o que significa luso-afro? Luso: Portugal, Afro -porque afro é um continente todo. Ou seja, Portugal e Brasil estão lá representados. Afro, o continente africano, é o afro. E, no entanto, a gente está a pensar mais nos países que falam português. Não é?

Reconhecemos, assim, que o termo Lusofonia, aos olhos dos informantes, parece não

congregar países para uma comunidade globalizada. Entretanto, compreendemos com base

nos estudos acerca do contexto histórico, Lusofonia e identidade, que tratar todos os países

africanos como um bloco único foi durante muito tempo, e ainda é para alguns, um vício do

mundo, que não se restringe, portanto, a Portugal e Brasil. É comum ouvirmos a pessoas

dizerem “eu vou à África”, quando na verdade dirigem-se somente a um dos países deste

continente. É importante que o mundo reconheça que antes de serem africanos, os

moçambicanos são moçambicanos, os angolanos são angolanos e assim por diante. A

diferença entre os povos africanos é marcada pela língua, pela economia, pela história. Se

olharmos os conjuntos de continentes do universo, é, certamente, o continente africano o de

maior diversidade.

O Professor A parece ter essa mesma sensação:

É um termo também político, não serve de nada. Serve para alguns que têm acesso à informação, têm acesso às normas e tudo mais. O conceito pra mim seria isso. Porque não sei como vai falar de lusofonia num país em que contando os que têm o português como a língua primeira e aqueles que

falam português mal, não chega 15% da população total. Estou falando dum universo de 20 milhões, de moçambicanos. São vinte milhões. Que segundo os dados estatísticos juntando esses que falam português, todos eles, incluindo-me, não chegamos a 15%. Vamos lá, arriscar mais 30%, que não tenho o número bem na cabeça. Quando falamos de lusofonia estamos a falar de quê? Estamos a falar desses poucos, não é verdade? E os outros muitos [...]

Para esse informante, o termo Lusofonia parece ignorar a população que, embora

presente num país em que o idioma oficial é o português, não fala esta língua, mas se

comunica por meio de outro(s) idioma(s) local(is).

Essa percepção aparece reforçada pela fala do Professor C:

[...] É um conceito que eu não uso, aqui em Moçambique usa-se muito pouco. Porque, na verdade, quando se começou a usar o conceito foi no sentido de que nós somos todos de expressão portuguesa. Nós não somos de expressão portuguesa, nós falamos o português como língua oficial, mas nós temos origens bantu, não é? E aí, eu tinha um colega que diz: “-Nós somos bantófilos. Não somos lusófilos, somos bantófilos.”

Notamos que há, por parte dos entrevistados, certa resistência em aceitar o termo

Lusofonia, porque acreditam estar implícito nele ou a questão do quinto império, ou a

desconsideração do multilinguismo local. Entretanto, para dois deles, o termo, apesar de

conflitante, apresenta significado importante e agrega não só a língua, mas também a cultura

dos países africanos e, consequentemente, de Moçambique.

Para H, nascido em Maputo após a independência, que aprendeu a falar somente o

português, o termo Lusofonia é muito conflitante, porque envolve uma questão de identidade,

que no caso dela existe, como nos revela:

É um termo tão polêmico. Que já foi discutido tanto. Porque lá está a questão de identidade. Quando está a falar da lusofonia, está a falar daquele povo ou daquela comunidade que fala a língua lusa. Qual é ela? É a língua portuguesa. Há aqueles que falam por vários interesses, por vários interesses. Eu, particularmente uso-a, porque não é só por questão de interesse, também pode ser uma questão de identificação. Uso porque é a língua com que eu penso. Eu penso com a língua portuguesa, não penso com outra. A lusofonia acaba entrando em mim [...] Eu sou uma, se me identificar, eu sou... Eu sou uma lusa. Não lusa em Portugal, mas lusa em Moçambique.

As reflexões do Professor H acerca da Lusofonia deixam transparecer que o fato de ser

luso na concepção dele não é ser português, é possível ser luso em Moçambique. Entretanto, é

importante mencionarmos aqui que a opinião deste informante destaca-se das demais, pois se

declara como lusófona.

A razão de ela ser o único entre os informantes pode ser encontrada na exposição do

Professor I, ao afirmar que

:

[...] há muita contradição na utilização desse lexema. [...]. Dá impressão de que lusofonia é uma imposição de que todos nós somos falantes de língua portuguesa, não é verdade. Quando aqui em África [...], não é verdade. Ora bem, isso, por exemplo, as pessoas contestam o fato, diz então: “-Eu sou bantófono, não sou lusófono.” Eu, aqui em Moçambique, sou bantófono. Ora bem, se nós nos libertamos desse preconceito e vermos a palavra numa dimensão de outro tipo, uma dimensão, por exemplo, cultural, aí já aceitamos que de fato, ser de país de língua oficial portuguesa, esse termo vai corresponder àquilo que é um espaço onde também se fala português. Não se fala exclusivamente o português, mas um espaço onde se fala português. Portanto, aí lusofonia tem uma terminologia muito própria, ou seja representa um espaço onde se fala o português.

O que percebemos é que a própria palavra luso já apresenta problemas para os

moçambicanos, por reativar imediatamente um passado ainda muito recente, o da colonização

portuguesa que perdurou por séculos e terminou aproximadamente há 40 anos.

Ao refletir sobre exposto, acreditamos que o conceito de Lusofonia ainda está em

construção, principalmente, porque, apesar da maioria dos professores entrevistados ter

restrições ao termo, vemos em alguns momentos que as ideias de ampliação da utilização do

termo e a exigência de olhar o termo além do aspecto linguístico foi largamente acentuada.

No documento reflexões sobre lusofonia e identidade (páginas 89-99)