• Nenhum resultado encontrado

A LIDERANÇA E A QUALIDADE: O PAPEL DA INSPEÇÃO ESCOLAR

Diversos organismos internacionais – União Europeia, OCDE, UNESCO – têm apontado várias características das escolas de qualidade. Entre essas características encontram-se fatores tão diferenciados como a promoção da equidade e da inclusão, a diminuição das taxas de abandono, a oferta de oportunidades de aprendizagem diversificadas e adequadas aos alunos, a criação de redes, a utilização da autoavaliação como instrumento de melhoria e crescimento, o apoio ao desenvolvimento profissional dos professores, a gestão estratégica, a promoção da democracia, entre outros (Ministério da Educação, 2013).

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 187 Entre nós, o Conselho Nacional de Educação (CNE) dedicou o ano de 2010 à qualidade dos percursos escolares, emitindo duas recomendações relativas à qualidade das escolas. Em suma, para o CNE, uma escola de qualidade será aquela em que é garantida a equidade no acesso, é promovida a eficiência e a qualidade dos percursos, é favorecida a integração, o respeito mútuo e a participação ativa de todos, se relaciona de forma aberta com a comunidade em que se insere e o mundo que a rodeia (Recomendação n.º 1/2011). Também a Lei n.º 31/2002, de 20 de dezembro, no seu artigo 3.º do Capítulo I, apresenta como alguns dos objetivos do sistema de avaliação “promover a melhoria da qualidade do sistema educativo, da sua organização e dos seus níveis de eficiência e eficácia, apoiar a formulação e o desenvolvimento das políticas de educação e assegurar a disponibilidade de informação e gestão daquele sistema”, “assegurar o sucesso educativo, promovendo uma cultura de qualidade, exigência e responsabilidade nas escolas”, “permitir incentivar as ações e os processos de melhoria da qualidade, do funcionamento e dos resultados das escolas, através de intervenções públicas de reconhecimento e apoio a estas”. Assim, a qualidade é apresentada como um dos objetivos do sistema de avaliação de escolas, sendo estabelecida a relação com a avaliação externa e com a autoavaliação de escolas.

Um conceito habitualmente relacionado com o de qualidade da escola é o de eficácia. A pesquisa sobre as escolas eficazes, iniciada por Edmonds em 1979 e por Rutter et. al. também no mesmo ano como reação ao relatório Coleman de 1966 e a um estudo de Jencks publicado em 1972 (Jacobson, 2011), tem focado muito a sua atenção nos resultados dos alunos. Uma escola eficaz será aquela que consiga que os alunos tenham melhores resultados do que aquilo que seria previsível tendo em conta o seu contexto inicial (Day & Sammons, 2013). No entanto, que tipo de resultados estamos a ter em conta? Os dos rankings de escolas? Todos os anos a comunicação social lança rankings, listas de escolas ordenadas em função dos resultados dos seus alunos nos exames de final de ciclo (12.º, 9.º, 6.º e 4.º anos de escolaridade). No entanto, os rankings, enquanto medida de qualidade e eficácia das escolas, têm sido muito contestados (Cullen & Reback, 2006; Goldstein &

188 Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas

Spiegelhalter, 1996; Leckie & Goldstein, 2011a; Leckie &e Goldstein, 2011b; Mendes, Costa & Ventura, 2003; Wilson & Piebalga, 2008).

Por um lado, os rankings de escolas são facilmente manipuláveis através de estratégias administrativas para evitar que alunos mais fracos façam o exame na escola e, assim, prejudiquem a média geral da mesma, por outro lado há factores externos à escola que influenciam o resultado dos alunos, como a frequência de explicações, que não são tidos em conta na elaboração dos rankings de escolas (Mendes, Costa & Ventura, 2003). Há também a questão do tipo de resultados que se pretende estudar. A eficácia e a qualidade, da escola dever-se-ão sentir apenas dos resultados académicos? Não serão os resultados sociais (de afetividade, de inclusão, de promoção de valores, de desenvolvimento humano) igualmente importantes (Day & Sammons, 2013, Pashiardis, 2014)? Na realidade, a esmagadora maioria dos estudos sobre qualidade e eficácia da escola tem em conta apenas os resultados académicos dos alunos (Hallinger & Heck, 1996; Hallinger & Heck, 1998; Pashiardis, 2014; Riley & Nutall, 1994) visto que estes, apesar de todas as variáveis que os podem influenciar – ou talvez em função delas mesmo – permitem um acompanhamento da sua evolução de forma mais fácil e mais matematicamente exequível.

A nível internacional têm sido conduzidos estudos que procuram aferir o desenvolvimento da qualidade das escolas e da liderança a partir das atividades da inspeção escolar (Earley, 1998; Earley, Fidler & Ouston, 1998; Ehren & Visscher, 2008; Learmonth, 2000; Ofsted, 2003; Wolf & Janssens, 2007). A avaliação de escolas tem sido apontada como “the systematic investigation of the quality of a school and how well it is serving the needs of its community”, podendo servir para responder à necessidade de os pais saberem se a escola é boa, por um lado, e por outro para os professores e administradores saberem como podem melhorar a qualidade da escola (Sanders & Davidson, 2003, p. 807). No entanto, no nosso país, as relações entre a inspeção e a avaliação de escolas e a liderança e qualidade são, ainda em grande medida, um campo a explorar.

Os sistemas de inspeção de escolas, em geral, têm como um dos objetivos o controlo da qualidade das escolas públicas e privadas, garantindo um mínimo de qualidade educativa, de cumprimento das leias e regulamentos nas escolas (Wolf &

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 189 Janssens, 2007). O facto de existir uma avaliação externa que produz um relatório público sobre a qualidade da escola e que pressupõe a existência de um plano de melhorias, reflectido em conjunto com a escola, é visto como um motivador da melhoria da qualidade da escola (Wolf & Janssens, 2007). De facto, nos objetivos do Programa de Avaliação Externa de Escolas (PAEE) da Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC) explicita-se que se pretende que este programa, entre outros objetivos, conduza à autoavaliação que resulte na melhoria da escola e dos resultados dos alunos (Ministério da Educação, 2013), sendo assim vista como uma ferramenta para a melhoria da escola (Learmonth, 2000).