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Tendo em conta a escassez de estudos em Portugal que elaborem uma reflexão sobre o papel da Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC) no desenvolvimento e melhoria das escolas (Ventura, 2006), decidimos abordar uma área que, internacionalmente, tem recebido muita atenção. Para tal, focar-nos-emos no estudo do domínio “Liderança e Gestão” nos relatórios de avaliação externa de escolas entre os anos letivos 2011/2012 e 2012/2013. Com este estudo, pretendemos conhecer as conceções que subjazem à elaboração dos relatórios de avaliação externa de escolas no domínio “Liderança e Gestão” e em, particular, as relações que poderão ser estabelecidas com reformas da administração e gestão escolar em Portugal, em particular com a passagem de um órgão colegial de gestão para um órgão unipessoal e com a agregação em agrupamentos de escolas, no sentido de indagar qual a ligação entre a liderança e a qualidade educativa.

Utilizaremos o estudo de casos como forma privilegiada de abordagem do estudo do domínio “Liderança e Gestão” nos relatórios de avaliação externa de escola dado que esta metodologia nos permite observar o contexto efetivo e as condições reais em que as nossas questões de investigação adquirem sentido (Spillane et al, 1999). Como define Yin (1994) o estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenómeno atual dentro do seu contexto real quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são claramente definidas. Para este tipo de estudo podem ser utilizadas várias fontes de evidência, ou seja, diversos

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instrumentos para a recolha de dados. É de salientar que recorremos ao método de triangulação para observar o fenómeno a partir de três ou mais perspectivas e, assim, situamo-nos como descreve Sousa (2005) como um observador e investigador que utiliza diversos instrumentos para a recolha de dados. Quando falamos em triangulação metodológica referimo-nos aos diversos instrumentos de recolha de dados, quer qualitativos quer quantitativos que utilizaremos no nosso estudo, e que incluem os seguintes: a análise documental, a entrevista e os questionários.

Numa primeira fase, foi utilizada análise de conteúdo para o estudo dos 1107 relatórios do Programa de Avaliação Externa de Escolas (PAEE) da Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC) produzidos entre 2006 e 2011 (primeira fase do PAEE) e dos documentos de suporte da atividade. Esta análise preliminar permitiu- nos desde já retirar algumas conclusões relativamente ao posicionamento teórico deste programa, tendo, nomeadamente, constatado que a IGEC não inclui qualquer tipo de referencial teórico ou de padrões de desempenho nos seus documentos de suporte, não existindo, nomeadamente, uma definição do que deverá ser considerado liderança escolar eficaz por parte da equipa de avaliadores.

Numa segunda fase, far-se-á análise de conteúdo dos 375 relatórios do PAEE produzidos nos dois anos letivos deste segundo ciclo correspondentes a outras tantas escolas (275 agrupamentos de escolas e 100 escolas não agrupadas). De entre estas escolas serão selecionadas 20 escolas com base nos resultados obtidos no PAEE no domínio “Liderança e Gestão” (10 com avaliação “Excelente” ou “Muito Bom” e 10 com avaliação “Suficiente” ou “Bom”3). Esta segunda fase do PAEE foi escolhida para a seleção das escolas onde se desenvolverão os estudos de casos dado que, nesta fase, foi utilizado o conceito de valor esperado para controlar a variável contexto na produção dos relatórios da IGEC (Heck, 1992; Tatsuoka & Silver, 1988). Estes relatórios serão analisados tendo em conta um enquadramento teórico conceptual de liderança utilizado por Brauckman e Pashiardis (2011) e por Pashiardis (2014).

3 Na realidade a escala de avaliação do PAEE comporta 5 níveis que vão do “Excelente” ao “Insuficiente”, contudo, no período

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 191 Este enquadramento permitir-nos-á estabelecer a triangulação dos dados com as fases subsequentes da investigação, nas quais utilizaremos a metodologia do projeto “LISA - Leadership Improvement for Student Achievement”, financiando pela União Europeia e com resultados já obtidos em países como a Inglaterra, a Alemanha, a Noruega, a Eslovénia, a Holanda, a Hungria e a Itália (Pashiardis, 2014). Este enquadramento teórico-conceptual de liderança adota 5 tipos de liderança: pedagógica, estrutural, participativa, empreendedora e de desenvolvimento pessoal (Brauckmann e Pashiardis, 2011; Pahsiardis, 2014).

A utilização deste enquadramento permitirá estabelecer o retrato da liderança educacional em Portugal de acordo com a perspetiva sancionada pela IGEC, retrato esse que será triangulado com a perspetiva dos professores das escolas selecionadas para os estudos de caso com a aplicação dos questionários LISA e de clima de escola (Brauckmann & Pashiardis, 2011; Pashiardis, 2014).

Os questionários – atualmente em fase de tradução, adaptação, revisão e validação – serão passados a professores das escolas selecionadas e os dados recolhidos serão analisados estatisticamente. Far-se-ão, ainda, entrevistas aos diretores das escolas participantes nos estudos de casos, de acordo com um guião de entrevista construído para o projeto LISA (Brauckmann & Pashiardis, 2011; Pashiardis, 2014) e cuja validação se encontra também em curso.

Com esta triangulação de dados, temos como objetivo descobrir se determinados tipos de liderança se encontram correlacionados com a qualidade escolar, isto é, se existem tipos de liderança que estejam associados a melhores resultados no PAEE. Iremos verificar, também, se fatores relacionados com o clima de escola têm influência na qualidade da escola tal como analisada pela IGEC. Tendo em conta as últimas alterações no regime de autonomia, administração e gestão das escolas públicas portuguesas, pretendemos, ainda, saber se o fato de a escola se encontrar agrupada ou não tem influência no clima de escola e, em última análise, na qualidade da mesma.

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