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O projeto vem se desenvolvendo considerando por um lado um movimento coletivo que se constituiu em momentos importantes de compartilhamento dos questionamentos e descobertas que emergiram do trabalho pessoal e, por outro, de um trabalho individual que permitiu aos participantes contato com outras experiências de pesquisa e também com informações importantes para sua atuação desenvolvimento de atividades de pesquisa.

Foi possível a construção de um referencial teórico comum de modo que conceitos como: avaliação da aprendizagem, interna, externa, em larga escala, institucional; indicadores de qualidade, índice de qualidade, matriz de avaliação etc. se tornaram compreensivos para todos e pudessem ser utilizados para a compreensão do trabalho desenvolvido na escola e no diálogo com o sistema. Esse movimento é descrito no trecho seguinte:

A fim de produzir indicadores referentes à qualidade da educação na escola, o grupo de pesquisa organizou maneiras de pesquisar, junto aos funcionários, alunos e seus pais/responsáveis, o que compreendiam sobre o tema avaliação. Assim, cada integrante ficou responsável por pesquisar, junto a um segmento, suas impressões sobre avaliação O segmento por mim pesquisado, em parceria com a professora Pâmela, foi o segmento dos pais. [...] A pesquisa possibilitou a apreciação dos dados obtidos, não apenas de maneira classificatória, costumeira em avaliações escolares; os alunos não estiveram como foco principal, passíveis de uma avaliação que apenas considera o sucesso ou fracasso escolar individualmente, mas como parte da escola, esta foi analisada nos seus aspectos pedagógicos e estruturais, na sua totalidade, considerando os vários segmentos que a compõem. Este é o diferencial da autoavaliação institucional: a contextualização das informações.(Gabriela, professora)

A partir do exercício de elaboração de referências e instrumentos, os docentes tiveram a oportunidade de compreender e apropriar-se de conceitos e habilidades para a busca de informações e atitudes propícias ao exame da

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realidade à luz dos conceitos apreendidos. Esse foi um movimento importante para os educadores que passaram a perceberem-se como capazes de realizar pesquisa. O desenvolvimento da pesquisa mostrou que o educador que está atuando na escola básica pode fazer pesquisa. Vivenciar a condição de pesquisadora foi uma experiência bastante enriquecedora, porque mostrou que os educadores que atuam na escola podem ir além da condição de consumidores de conhecimento e assumir a condição de sistematizadores ou mesmo produtores de conhecimento. (Josenilda-coordenadora pedagógica)

Além de perceberem-se como pesquisadores, os docentes começaram a utilizar as descobertas da pesquisa para compreender a prática concreta:

participar deste projeto foi fundamental para dar continuidade em minha formação, uma vez que foi possível utilizar a teoria para compreender o significado de algumas práticas desenvolvidas dentro da escola e também perceber que a reflexão sobre algumas práticas serviram para compreender melhor alguns conceitos teóricos. (Pamela- professora)

Os registros realizados pelos docentes pesquisadores evidenciam que a participação no projeto contribuiu bastante para melhorar sua compreensão sobre o seu próprio papel no trabalho escolar. Nesta mudança vale destacar o entendimento segundo o qual é possível o professor que atua na escola de educação básica superar a condição de consumidor passivo de informação e passar à condição de sujeito que também produz conhecimento.

Embora haja consenso com relação ao desafio de oferecer às crianças uma educação de boa qualidade, muito ainda se discute o que seria essa educação considerando-se a grande diversidade de concepção e propósitos envolvidos no processo educacional. Esses questionamentos são ainda mais fortes quando se pensa em uma proposta que pretende concretizar-se por meio de inovação no currículo e nas práticas que organizam a escola. Desta forma buscou-se parâmetros para análise dos resultados dos alunos em fontes diferentes daquelas utilizadas pelo sistema que eram os resultados de desempenho nas avaliações externas e as

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 127 sondagens realizadas pela escola. O trecho seguinte evidencia a opção da escola por ampliar o referencial de análise dos resultados.

Para a análise de dados utilizou-se como referência a definição de avaliação adotada por Oliveira (2008), para quem há um certo equívoco na utilização dos “instrumentos de medida” como sinônimo de avaliação. Para ele estes instrumentos apenas testam a proficiência do aluno em alguma disciplina, mas não podem ser chamados de avaliação. Segundo este mesmo autor, a avaliação consiste em um processo mais amplo que pode tomar a medida como uma de suas dimensões, mas se associa à elaboração de juízos de valor sobre a medida e a proposição de ações a partir dela. (Carolina- professora)

Interessante notar que a avaliação deixa de ser entendida apenas como uma medida do aprendido pelos alunos por meio do seu desempenho nas chamadas “avaliações externas” e assume também a perspectiva de proposição de ações a partir dos juízos de valor construídos nas discussões sobre os resultados obtidos por meio dessas provas. Nesta perspectiva, o território passa a ser o espaço onde a qualidade da educação deve ser testada e uma escola que oferece educação de boa qualidade é uma escola que se faz presente no bairro e que também se constitui como espaço onde a comunidade local se sente acolhida em seus anseios e expectativas.

É possível observar avanços conceituais importantes entre os educadores. Tais avanços evidenciam a compreensão da temática do projeto de pesquisa e o entendimento de que a avaliação possui uma natureza política. O entendimento de que a atividade avaliativa comporta uma dimensão política dá ao professor a possibilidade de atribuir à avaliação um significado compatível com sua concepção, podendo escapar do significado que lhe atribui os usos e costumes ou os interesses políticos do momento. Daí a importância do educador, que cotidianamente tem a responsabilidade de avaliar o aluno, aperfeiçoar-se para que possa de maneira cada vez mais consciente realizar essa atividade. Assim, nesta fase da pesquisa buscou-se trabalhar sobre dois aspectos: o primeiro foi a realização de um trabalho

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sobre as questões suscitadas no início da pesquisa o segundo foi buscar junto a comunidade escolar como eles viam a questão da avaliação na escola.

Com relação à possibilidade da escola construir indicadores buscou-se apoio na noção de qualidade negociada defendido por Freitas (2005), pois sendo a escola parte de um sistema e estando inserida em território, marcado por tensões sociais explicitas ou camufladas não pode ela sozinha definir o que é qualidade. Por outro lado, sendo a escola o espaço onde a ação educacional acontece os educadores não podem acatar definições de qualidade a partir de interesses que a escola desconhece. Assim emerge como importante entender a noção de autonomia da escola.

Com relação à articulação entre a avaliação interna e externa verificou-se que não há uma articulação clara, mas fica a impressão de que as avaliações internas servem para promover ou reter os alunos e as avaliações externas para constranger as pessoas que trabalham na escola. Buscar uma articulação entre os diferentes aspectos da avaliação emergiu como importante diante da percepção que o trabalho não pode ser avaliado a partir de uma parte dele. Aqui surge nas discussões a perspectiva de trabalhar com a ideia de avaliação institucional.

Entender o que significava o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, qual a sua função e como era composto emergiu também como questão importante para as pessoas envolvidas no projeto. Afinal o IDEB da escola tinha caído drasticamente apesar dos esforços da comunidade escolar para melhorá-lo. Embora essa queda em uma leitura rápida pudesse ser explicada apenas pelo desempenho dos alunos, ao observar o fluxo escolar que também compõe o índice, foi possível concluir internamente que a queda do IDEB se devia principalmente ao impacto da eliminação de um turno da escola no ano em que foram coletado os dados para avaliação.

Outra questão que precisa ser considerada quando se discute a qualidade da educação são as condições em que se realiza o trabalho. Como procurou-se demonstrar, a escola fica em um espaço da cidade marcado pela precariedade no que diz respeito às condições de vida da população. Essa situação deixou claro para a escola os limites das avaliações externas: elas não captam muitas variáveis

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 129 que emergem no desenvolvimento do trabalho escolar. A fala seguinte mostra a reflexão de uma das participantes do projeto sobre as avaliações externas:

A minha participação no projeto ajudou a perceber que as avaliações externas têm ocupado um lugar privilegiado nas políticas educacionais, muitas vezes, sendo utilizadas como o único indicador para medir a qualidade da educação, principalmente nos sistemas públicos de ensino. Essa situação é verificada também quando se olha para a maneira que a qualidade da educação vem sendo avaliada na rede municipal de São Paulo. Diante desta realidade, percebi, por meio da pesquisa, a importância de se construir indicadores próprios que atendessem às especificidades da escola, sem, contudo, desconsiderar as avaliações externas, que são também indicadores importantes. (Pamela-professora).

Além da necessidade de construção de indicadores próprios na fala seguinte, a professora aponta a necessidade de mobilização da comunidade escolar para a discussão da avaliação.

Embora perceba que a realização da pesquisa vem interferindo positivamente na dinâmica da escola como um todo, penso que essas mudanças podem ser ampliadas e consolidadas com o desenvolvimento de uma nova fase da pesquisa na qual se possa envolver um número maior de sujeitos, na discussão dos seus resultados e em propostas de intervenção com vistas à melhoria da qualidade do ensino desenvolvido na escola. (Pamela-professora) O envolvimento dos professores com projetos de pesquisa constitui uma contribuição importante para sua formação enquanto docentes e pesquisadores. Os projetos de pesquisa envolvendo os professores que atuam na escola básica precisam contemplar suas inquietações cotidianas Para que os professores sejam efetivamente envolvidos eles precisam participar dos debates mais amplos e para isso é necessário dominar os conceitos, propiciando discussão mais qualificada nos espaços de formação. Os professores que foram envolvidos puderam ter maior compreensão sobre a avaliação e suas implicações nos processos de ensino e de

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aprendizagem. Hoje, na escola, já se considera que avaliar implica ir além da atribuição de notas.

A pesquisa possibilitou a apreciação dos dados obtidos, não apenas de maneira classificatória, costumeira em avaliações escolares; os alunos não estiveram como foco principal, passíveis de uma avaliação que apenas considera o sucesso ou fracasso escolar individualmente, mas como parte da escola, esta foi analisada nos seus aspectos pedagógicos e estruturais, na sua totalidade, considerando os vários segmentos que a compõem. Este é o diferencial da autoavaliação institucional: a contextualização das informações. Deste modo, práticas que incentivem à reflexão coletiva da realidade da escola podem auxiliar neste processo. (Gabriela-professora)

A partir da pesquisa foi possível aos docentes pesquisadores discutir os tipos de avaliação e podemos destacar que os professores passaram a entender que a avaliação às vezes tem objetivos “não declarados” tacitamente aceitos por todos. A comunidade escolar passa a fazer parte de uma dinâmica que entende a avaliação como atitude coletiva que envolve mais que a análise dos resultados obtidos pelos alunos por meio de uma medida interna ou externa. Embora percebam os limites das avaliações externas os participantes do projeto as consideram importantes.

Assim, a unidade escolar não deve deixar de considerar a importância das avaliações, como as em larga escala, porém, cria meios de expor, divulgar dados muitas vezes desconhecidos do grande público, como projetos desenvolvidos, ações conjuntas, condições de trabalho, realidade local, fatores essenciais de serem observados, para uma avaliação mais fidedigna da escola As condições de trabalho dos funcionários e a realidade local são indicadores de qualidade da educação que foram observados neste projeto. Com tais informações, a escola poderá nortear os trabalhos de forma mais eficaz e capaz de atender as suas especificidades, necessidades e também pode criar condições de diálogo com o sistema no qual está inserida. (Gabriela- professora)

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 131 A citação além de destacar a necessidade de valorização dos resultados das avaliações externas chama a atenção para a necessidade de inclusão de outros fatores, como as condições de trabalho, na definição de um padrão de qualidade. Esse entendimento já constitui uma mudança na dinâmica tradicional da escola e permitirá o diálogo entre os segmentos e a utilização dos dados obtidos nas avaliações em larga escala como norteadores do trabalho pedagógico e da melhoria na qualidade do ensino público, mas sem desconsiderar as condições nas quais este trabalho se realiza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto caracterizou-se pela busca de inovação nas práticas justamente pensando em romper com a lógica de organização da escola que esconde a reprodução da desigualdade. Entre essas novas práticas podem ser destacadas os encontros sistemáticos da equipe gestora com os professores em uma situação em que se manteve uma igualdade essencial de cada participante o que permitiu a participação ativa de todos opinando e responsabilizando-se pelas ações. Outro aspecto que merece destaque é a possibilidade de trabalho colaborativo entre pessoas da equipe gestora e da equipe docente. A partilha de informações constituiu-se proposta inovadora que possibilitou a discussão, em um clima favorável, de temas relacionados ao cotidiano da escola e favoreceu um conhecimento mais global sobre o que se passa na instituição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Dowbor, Ladislau. (2016). Educação e desenvolvimento local. Disponível em: www.dowbor.org.br, acessado em 14/12/2010.

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Freitas, Luiz Carlos de (2005). Qualidade negociada: avaliação e contra-regulação na escola pública. Edu. Soc., Campinas, vol 26, n.º 92, 911-933, Especial- Out. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br

Sposati, Aldaiza (Coord.). (1996). Mapa da exclusão/inclusão social de São Paulo. São Paulo: Educ.

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MELHORIA DAS ESCOLAS EM PORTUGAL.