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A avaliação da qualidade do trabalho desenvolvido em uma escola precisa considerar o ambiente onde ela está inserida e que lugar ocupa em termos de localização e de prestígio na cultura local. Assim parece importante apresentar a escola e o território onde está inserida e que se constituiu cenário da pesquisa.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Coelho Neto é uma escola pertencente a rede municipal de São Paulo, situada no Parque Boa Esperança, um dos bairros que compõem o Jardim Iguatemi, um dos distritos de São Mateus, na periferia Leste da cidade de São Paulo. O Parque Boa Esperança, é um dos bairros mais organizados do distrito: conta com asfalto, saneamento básico, iluminação, agência bancária etc. Mas a escola não atende apenas as crianças desse bairro. Além delas, atende também alunos que vem do Jardim São Gonçalo uma vila formada por ocupações irregulares, que fica às margens do rio Aricanduva. Muitas das mazelas da escola são geralmente atribuídas aos alunos do Jardim São Gonçalo e a seus familiares.

O Jardim Iguatemi, onde ficam o Boa e o Gonçalo como são carinhosamente chamados pelos moradores, é um dos distritos mais pobres da cidade, sendo classificado no Mapa da Exclusão3 entre os quatro últimos distritos em termos de Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. Trata-se de uma região com muitas ocupações irregulares e onde é difícil encontrar lugar para construir escolas, por ser uma área de manancial. Por isso possui alto índice de violência e grande quantidade de crianças em situação de vulnerabilidade social.

Por outro lado neste distrito ainda restam algumas riquezas naturais como remanescentes de Mata Atlântica com a presença da fauna e flora originais. Fica também localizada ali boa parte das nascentes que formam o Rio Aricanduva, como as nascentes do Palanque, do Limoeiro e do Gabirobeira, além do Parque Natural

3 O Mapa da Exclusão/Inclusão Social é uma iniciativa de qualificação e quantificação da apartação social na cidade de São

Paulo a partir dos 96 distritos que a formam. Ele busca construir indicadores de discrepância ou da distribuição das diferenças na cidade. Foi organizado, em 1994 pelo Fórum da Assistência Social da Cidade de São Paulo, as Equipes Arquidiocesana e Diocesana da Campanha da Fraternidade, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida/SP, o Núcleo de Estudos de Seguridade e Assistência Social - PUC/SP, o Cedec e a Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos, e coordenado por Aldaíza Sposati.

Políticas Educativas, Eficácia e Melhoria das Escolas 123 Cabeceiras do Aricanduva, uma importante área de preservação ambiental. No Plano diretor da cidade há previsão de construção de vários parques lineares sendo que alguns já foram construídos e outros ainda aguardam a ação do poder público. É possível verificar que as margens dos córregos destinadas à construção desses parques vão sendo deterioradas.

Assim, embora seja um distrito marcado pela pobreza, encontra-se em uma região cujo desenvolvimento sustentável vem sendo pauta nas agendas dos representantes dos poderes públicos e sociedade civil local. Além do Rodoanel que corta o território, do Estádio do Corinthians que está sendo construído perto, entre outras iniciativas, há a perspectiva de construção de uma Universidade Federal na região.

Trata-se de um território com grande potencial de desenvolvimento social e econômico. Tendo como referência esse potencial do bairro onde está inserida, a escola há algum tempo vem discutindo a possibilidade de organização de um currículo que busque contemplar o desenvolvimento local (Dowbor, 2010), objetivando com isso formar jovens capazes de utilizar os conhecimentos oferecidos pela escola no exercício da cidadania ativa, isto é, capazes de compreender a realidade e nela intervir.

Com este objetivo a escola começou a empenhar-se no sentido de desenvolver uma proposta de educação contextualizada, isto é, capaz de promover aprendizagem significativa entre os alunos. Assim organizou sua proposta pedagógica assumindo como um de seus eixos as questões relacionadas à avaliação educacional, identificada como problema essencial em um momento em que o grande desafio das unidades e dos sistemas educacionais é garantir educação de boa qualidade. No entanto, apesar do esforço coletivo, quando foram divulgados os resultados da escola nas avaliações externas e em uma sondagem promovida pela Secretaria Municipal de Educação ela foi classificada entre as escola que deveriam receber acompanhamento especial.

Essa classificação da escola mobilizou a equipe no sentido de entender o processo avaliativo que a havia colocado entre as piores. Assim, a partir do início de 2010, quando a escola foi incluída no chamado grupo das 77 que precisavam de

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acompanhamento especial incluiu como um dos eixos de formação em serviço a questão da avaliação educacional. A unidade estava preocupada em melhorar os resultados dos alunos, pois entendia que este era um indicador de qualidade importante, mas não ficou satisfeita com a sua inclusão neste grupo.

Embora não tenha recebido uma explicação clara sobre essa inclusão acabou sendo assumido pela equipe que o fato se deu em função dos resultados das sondagens realizada na escola. Essa sondagem realizada pela unidade a pedido das pessoas que realizavam a formação dos coordenadores para implantação do Programa Ler e Escrever4 em condições extremamente precárias e os resultados foram encaminhados para a Diretoria de Orientação Técnica que, a partir da análise dos dados recebidos, incluiu a unidade no referido grupo. Aliás a escolha do número 77 deve ter também alguma razão não confessada e, justamente por isso, talvez não convenha ser aqui analisada.

As escolas incluídas neste grupo recebiam uma formação especial, uma espécie de recuperação paralela, que lhe permitiria ser novamente incluída no grupo de escolas que vinham desenvolvendo um trabalho adequado. O sentimento dos gestores participantes, no entanto, foi bem parecido com o dos alunos que vão para as salas de recuperação: constrangimento! Tentaram definir o grupo de outra forma: escolas vulneráveis, a reação foi ainda pior e então passaram a chamar ainda que discretamente de escolas prioritárias. Com essa situação pretendeu-se enfatizar que o projeto surgiu da insatisfação da equipe gestora com a classificação da escola entre as piores da rede.

A partir dessa insatisfação a escola buscou a Universidade Cidade de São Paulo e foi então estabelecida parceria a partir do diálogo entre os educadores que atuam na educação básica e o Programa de Mestrado em Educação desta universidade. Essa parceria foi concretizada por meio de intercambio institucional e pessoal e dela tem decorrido produtos como encontros de formação de educadores, promoção de seminários e produção acadêmica.

4 O Programa Ler e Escrever foi uma iniciativa do governo municipal de São Paulo, que teve como objetivo declarado

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