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1 A EDUCAÇÃO PARA OS AGRICULTORES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA EXTENSÃO

2.5 Pedagogia da Alternância – história e concepção

2.6.5 A metodologia integrativa da Pedagogia da Alternância

O principio da alternância não é considerado novo, principalmente se tratando de educação e de escolas. Gimonet (2007, p.112) já dizia que “A Alternância não é de ontem. A aprendizagem das profissões aconteceu durante muito tempo por imitação e transmissão direta no terreno da prática”. Esta dinâmica onde se alternam tempos na instituição escolar com tempos de trabalho, com a família, na comunidade, na pequena propriedade rural, é bastante antigo, porém pouco relatado. A pedagogia da alternância praticada nos Centros Familiares de

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Formação em Alternância (CEFFAs), é caracterizada como uma alternância integrativa, trazendo consigo algumas características, tais como um projeto educativo próprio, manter o foco prioritário na formação socioprofissional, a utilização de instrumentos metodológicos específicos, a articulação de espaço tempo nas mais diversas situações, uma concepção especifica de educador/monitor, e por fim um conjunto de colaboradores na formação destes jovens.

Segundo Zonta (2010):

A integração na educação dos jovens, se estabelece entre os períodos da propriedade familiar e os períodos presenciais na CFR. Esta relação determina a ALTERNÂNCIA que é a possibilidade do educando: comprometer-se, interessar-se, experimentar, assumir responsabilidades, dialogar com o meio onde ele vive e inserir-se no meio rural dos adultos. (ZONTA, E.M.; TREVISAN, F.; HILLESHEIM,L.P., 2010, p.26)

Para Silva (2008):

A representação da alternância como estratégia de escolarização emerge no universo das Escolas Famílias Agrícolas, ancorada nas vivências e percepções do processo de exclusão e de desigualdades vivenciadas pelos agricultores familiares em nossa sociedade, sobretudo na sua dimensão sócio-educacional. A dinâmica de sucessão do aluno no meio escolar e no meio familiar é compreendida, assim, numa lógica de uma adequação da escola e da educação às condições de vida e de trabalho da população rural. A ideia de alternância assume, nesse contexto, um sentido de estratégias de escolarização que possibilita aos jovens que vivem no campo conjugar a formação escolar com as atividades e as tarefas na unidade produtiva familiar, sem desvincular-se da família e da cultura do campo. (SILVA, L.H. 2008, p.108)

Neste sentido, a Pedagogia da Alternância surge como uma alternativa metodológica de formação técnica e profissional de jovens, oferecendo alternativas para que este jovem continuasse seus estudos conciliando ao trabalho e, portanto, mantendo o vínculo com a terra e família. Cabe destacar que o desenvolvimento da Maison Familiale Rurale (MFR) envolveu as problemáticas relacionadas ao universo rural em suas dimensões ecológicas, políticas, econômicas, sociais e culturais.

“A Pedagogia da Alternância se torna a pedagogia do interesse e do concreto, em que a formação se desenvolve a partir da realidade específica de cada jovem e na troca de experiências com os colegas, famílias, monitores e outros atores envolvidos.”(UNEFAB, 2009)

Desta forma a Pedagogia da Alternância atende a uma proposta de educação real, fugindo da utopia, e isso se traduz na busca da realização de um projeto voltado a sociedade, buscando torna-la mais democrática, participativa e justa a todos. Este é portanto, um novo tipo de educação, que pode ser identificado na obra “Pedagogia do Oprimido” de Paulo

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Freire. Freire revela um novo panorama sobre a relação entre a educação, o individuo e a escola. Para o autor, o homem sendo o sujeito da educação demonstra uma predisposição interacionista, já que a interação homem/mundo, sujeito/objeto, acaba sendo imprescindível na perspectiva de que o ser humano se desenvolva e torne o agente transformador de sua própria práxis. Sendo assim, o homem sujeito pela reflexão sobre sua realidade, sua condição concreta, torna-se progressivamente consciente, comprometido e capaz de intervir em sua própria realidade, a fim de muda-la.

Na Pedagogia da Alternância, o trabalho juntamente com a profissão visam fornecer um sentido a vida, servindo de motivação aos jovens do campo, para os mesmos apropriem-se dos processos de aprendizagem, caracterizando-se por uma vinculação afetiva dos meios de vida socioprofissional e escolar, em uma unidade de tempo formativo. A Pedagogia da Alternância aparece como uma alternativa capaz de proporcionar uma importante interação entre os dois momentos de atividades, englobando também todos os campos educativos, sendo que a Pedagogia da Alternância passou a ser muito valorizada por oferecer ao jovem a possibilidade de permanência no meio familiar.

Gimonet (2007) ressalta que a Pedagogia da Alternância nos traz uma nova realidade para o ensino, onde deixa-se para trás uma pedagogia plana, para ingressar em uma pedagogia no tempo e no espaço, em que as instituições e os atores implicados no processo se diversificam, deixando de assumir aqueles papeis tradicionalmente presentes em uma escola costumeiras. O jovem em formação, ou seja, o alternante figura de vital importância para o sucesso deste processo de ensino deixa de ser um aluno na escola, mas assume um papel determinante no contexto de vida e num território.

Dentro do sistema de ensino adotado pela Pedagogia da Alternância, as famílias dos jovens são convidadas a participarem ativamente de sua educação e de sua formação. Os educadores, mestre de estagio, também denominados de monitores desempenham papel mais amplo do que os educadores de uma escola tradicional, porém isto não afeta a qualidade do ensino, pois sua atuação segue um viés bem definido e bastante específico. E como afirma Gimonet (2007, p. 20) “todos estes atores são chamados a cooperar, a completar-se nas suas diferenças”.

Esta dinâmica em que se alternam tempo e espaço na formação do jovem obedece a um processo de vai e vem, este processo parte da experiência da vida cotidiana para posteriormente chegar aos saberes teóricos, e em seguida retornar a experiência, ou seja, este processo ocorre sucessivamente durante todo o período de formação do alternante. Neste

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modelo de ensino, os alunos, ou seja, os alternantes são os principais atores de sua própria formação, atuando em um processo permanente de práxis socioprofissional (ação-reflexão- ação), onde a escola torna-se um ambiente que ao mesmo tempo em que proporciona ensino, proporciona aprendizado. Percebe, portanto, que o que diferencia enormemente a formação em alternância, do modelo de ensino tradicional, é a utilização no seu processo de ensino e aprendizagem de situações vividas pelos jovens em seu meio, ao invés de simplesmente aplicar aulas teóricas.

Para Gimonet (2007), a pedagogia da alternância utilizada pelos sistemas CEFFAs representa um caminhar permanente entre a vida e a escola, onde o jovem ao sair da experiência vai ao encontro de saberes teóricos para posteriormente retornar a experiência, permanecendo assim em um processo sucessivo. Neste processo o jovem deve ser apresentado ao trabalho e ao mundo da produção e seus saberes, também a vida social, econômica, ambiental e cultural dos lugares onde os mesmos residem. Por outro lado, o jovem também deve dedicar-se a escola, com suas atividades, sua cultura e seus saberes. As atividades e os instrumentos utilizados são indispensáveis para que ocorra uma ligação e uma integração entre os dois espaços-tempos, facilitando assim o aprendizado dos jovens, pois este ao inicio de sua jornada, vivencia o meio familiar, profissional e social, onde pratica experiências e observações, investigando e analisando os saberes experienciais. Posteriormente no segundo espaço-tempo, este jovem vivencia o CEFFA, onde ocorre a formalização, a estruturação e a conceituação do conhecimento teórico, por fim, o jovem retorna ao meio a fim de aplicar através de ações o conhecimento técnico adquirido no CEFFA, e assim sucessivamente.

Na figura a seguir (Figura 04), é possível verificar o esquema de funcionamento dos sistemas de alternância, pode-se observar a aplicação dos seus instrumentos nos momentos alternados da aprendizagem. Nessa proposta o jovem alterna sessões educativas na família/comunidade e no CEFFA, a alternância ocorre de forma integrada, onde o jovem alterna o trabalho e o estudo de forma interligada.

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Figura 04 – Funcionamento dos sistemas de alternância Fonte: www.unefab.org.br

Através desta imagem, pode-se perceber a consolidação da Pedagogia da Alternância não se deu apenas através da teoria, nem da invenção, mas sim devido a implementação de um instrumental pedagógico que traduzia em seus atos, o sentido e os procedimentos da formação. Esta formação deve levar em consideração a experiência onde prevalece o socioprofissional com uma visão e uma exigência de qualificação profissional, bem como a formação integral da pessoa no máximo de suas possibilidades. Portanto, a formação em alternância busca levar em consideração que o aluno, ou seja, o jovem alternante é o centro do projeto, é ele o protagonista do seu próprio processo de formação, sua formação como já mencionado anteriormente começa na família, permeia pela escola e retorna a sua origem, resultando em mudanças em sua própria realidade.

A Pedagogia da Alternância portanto passa a ser entendida como uma metodologia que favorece o acesso e a permanência dos jovens e adultos do campo nos processos escolares, antes dificultada por sua característica seriada e estanque, sem articulação com a realidade e os modos de vida rural. Sendo a Educação do Campo considerada estratégica para o desenvolvimento socioeconômico do meio rural, a Pedagogia da Alternância nesse âmbito passou a mostrar-se como uma alternativa adequada para a educação básica, especialmente para os anos finais do ensino fundamental, o ensino médio e a educação profissional técnica de nível médio, devido à relação expressiva que promove entre as três agências educativas – família, comunidade e escola.

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3 ESTUDO DE CASO