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1 A EDUCAÇÃO PARA OS AGRICULTORES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA EXTENSÃO

1.3 A educação formal, não formal e não escolar na construção do conhecimento

1.3.1 Educação: um direito de todos

A educação é um requisitos básico e fundamental para que os indivíduos tenham acesso a um conjunto de bens e serviços disponibilizados na sociedade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em seu artigo 26 sinaliza que:

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. (UNESCO, 1948)

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Gadotti (2005) afirma que a educação é um direito de todo ser humano como condição necessária para que o mesmo possa usufruir dos demais direitos constituídos numa sociedade democrática. A própria Constituição Federal27 de 1988 em seu Art. 205, afirma que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Neste sentido, todo e qualquer ser humano possui direito ao acesso a educação, e esse direito é reconhecido e consagrado na legislação de quase todos os países. Porém, ofato de a Constituição citar ainda a qualificação para o trabalho não significa ser esse seu objetivo principal, como muitas vezes se tenta interpretar. A educação profissional, para respeitar sua natureza de direito social constitucional, precisa estar integrada à concepção ampla de educação, possibilitando a inserção autônoma e qualificada no mundo do trabalho.

Para a Plataforma Dhesca Brasil e Ação Educativa (2011), tratar a educação como um direito humano significa antes de mais nada que não deve-se depender das condições econômicas dos estudantes ou estar sujeita unicamente às regras de mercado, visto que é mais barato garantir esse direito através do mercado do que através do auto custo da educação pública onde entende-se a educação como despesa e não como investimento. Também não pode estar limitada à condição social, nacional, cultural e de gênero ou étnico-racial da pessoa, o mais importante é conseguir que todas as pessoas possam exercer e estar conscientes de seus direitos bem como de seus deveres.

Conceber a educação como um direito humano, significa antes de mais nada inclui-la entre os demais direitos necessários a realização e manutenção da dignidade humana. A educação após diversas lutas sociais passou a ser reconhecida como um direito de todos, embora por muito tempo tratada como privilégio para poucos, onde eram atendidas apenas as classes mais abastadas, residentes no meio urbano. O direito a educação esta intimamente ligado a uma característica básica do ser humano, a vocação de pensar, de produzir, de questionar as suas práticas, de utilizar os bens disponíveis, e de se organizar em grupos.

Aqui no Brasil, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), sancionado pela Lei nº 8.06928, de 13 de julho de 1990, que garante a criança e o adolescente direitos fundamentais, ficando explicito no Art. 3º que:

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Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>

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Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (ECA, 1990)

No que se refere a educação, o Capítulo IV do ECA, dispõem a cerca do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer. Este capítulo é composto por sete artigos, sendo que em seu primeiro artigo, numerado em Art. 53, o ECA deixa claro que “a criança e o adolescente têm direito a educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (ECA, 1990), para isso deve ser assegurado que haja igualdade de condições de acesso bem como de permanência na escola, que a criança e o adolescente sejam respeitados por seus educadores, bem como tenham acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência. No Art. 54, fica disposto os deveres do Estado perante à criança e ao adolescente, neste sentido o Estado tem o dever de assegurar o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles indivíduos que não tiveram acesso ao ensino fundamental na idade própria, o Estado deve assegurar também a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio, bem como o atendimento especializado indivíduos portadores de necessidades especiais preferencialmente dentro da rede regular de ensino, a fim de promover a inclusão social deste individuo, é dever do Estado também garantir que crianças de zero a seis anos de idade tenham acesso a creche e a pré-escolar, assim como a oferta de ensino noturno regular, adequado as condições do adolescente que necessita trabalhar durante o dia.

Os demais artigos integrantes do Capítulo IV, referem-se as responsabilidades dos pais em matricular seus filhos/pupilos/enteados na rede regular de ensino, o não cumprimento desta norma implica em punições para os responsáveis. Também dispõem a cerca da parceira entre os dirigentes dos estabelecimentos de ensino com o Conselho Tutelar29, sendo assim fica a cargo dos dirigentes observar o comportamento de seus alunos, e no caso de identificar maus-tratos os mesmos devem reportar ao Conselho Tutelar, no caso de reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolar também o Conselho Tutelar deve ser comunicado. Ao poder público cabe a responsabilidade de estimular pesquisas,

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Criado juntamente com o Estatuto da Criança e do Adolescente no dia 13 de julho de 1990, instituído pela Lei nº 8.069, o Conselho Tutelar é um órgão permanente, autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, sendo o mesmo um órgão de garantia da criança e do adolescente.

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experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. E para finalizar este capítulo, o mesmo reitera que os municípios contanto com o apoio dos estados e da União, deverão estimular e facilitar a destinação dos recursos e espaços para as programações culturais, esportivas e de lazer que são voltadas ao público jovem e infantil, no processo educacional, dever-se-á respeitar os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura, ou seja, cada município para garantir a qualidade da educação oferecida deverá respeitar a realidade local, levando em consideração o ambiente ao qual esta criança e este adolescente estão inseridos.

Haddad (2012, p. 217) destaca que “A educação como direito humano pressupõe o desenvolvimento de todas as habilidades e potencialidades humanas, entre elas o valor social do trabalho, que não se reduz a dimensão do mercado”. Porém nos últimos anos o que pode-se observar é que em virtude da influência das políticas neoliberais e pela força hegemônica dos valores do mercado, poucas vezes a educação tem sido lembrada como formação para a cidadania. Neste sentido o que prevalece é a tentativa de reduzir a educação a seu aspecto meramente funcional em relação ao desenvolvimento econômico, ao mercado de trabalho e principalmente a formação de mão de obra qualificada para atender a demanda capitalista a que estamos sujeitos.

Negar o acesso ao direito da educação é negar o acesso a um dos direitos humanos fundamentais para a cidadania. A educação como afirma Gadotti (2005, p. 01) “é um direito de cidadania, sempre proclamado como prioridade, mas nem sempre cumprido e garantido na prática”. O direito a educação atualmente restringe-se ao ensino obrigatório e gratuito, porém a educação e a aprendizagem não cessam quando se alcança a idade dita ‘própria’ para a conclusão do ensino fundamental, o direito a educação é um direito que deve se estender ao longo de toda a vida, pois estamos em um constante processo de aprendizagem, todas as nossas ações nos proporcionam aprendizados .

Ainda segundo Haddad (2012) o reconhecimento do direito à educação insinua que sua oferta deve ser garantida para todas as pessoas, independente de qualquer diferença social, a equidade educativa significa igualar as oportunidades para que todas as pessoas sejam elas, brancas, negras, partas, ricas ou pobres possuam as mesmas oportunidades de acesso, permanecer e concluir a educação básica, e ao mesmo tempo, consigam desfrutar de um ensino de qualidade, independente de sua origem étnica, racial, social ou geográfica. O direito

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à educação tem um sentido amplo, não se refere somente à educação escolar. O processo educativo começa com o nascimento e termina apenas no momento da morte. A aprendizagem acontece em diversos âmbitos, na família, na comunidade, no trabalho, no grupo de amigos, na associação e também na escola, em sentido amplo, a educação é portanto um direito e um dever compartilhado por todos os atores sociais.

Diante da premissa que a educação é um direito de todos e deve ser disponibilizado para todos, contata-se que as políticas públicas educacionais permanecem insuficientes para reverter o caos imposto pelas condições desiguais em que vive a população brasileira, diante da baixa qualidade da educação e da distribuição desigual dos recursos educacionais previstos nas políticas públicas. Esta é uma realidade recorrente, onde predomina a desigualdade e quem mais necessita é quem acaba menos recebendo, embora o reconhecimento no sentido normativo esteja consolidado, a realização plena do direito a educação ainda esta longe de acontecer, sendo necessário ainda inúmeras mudanças no sistema de ensino do Estado brasileiro.