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1 A EDUCAÇÃO PARA OS AGRICULTORES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA EXTENSÃO

2.1 A agricultura camponesa

2.1.1 Marx e o campesinato

A escola Marxista exerceu um papel de grande destaque na interpretação sobre a natureza, conteúdo e alcance das transformações que experimentam as estruturas agrárias a partir da expansão do modo de produção capitalista. Segundo Anjos (2003, p.10) “O problema fundamental para o esquema teórico marxista reside no rumo das mudanças impostas sove a agricultura, levando em conta certas peculiaridades relativas aos processos de produção sob a égide da expansão capitalista a industrial.”

Do ponto de vista da teoria Marxista sobre o campesinato, Abramovay (1992) considera ser impossível encontrar na estrutura de “O Capital” um conceito definitivo sobre o que é o camponês, ao afirmar que “do ponto de vista marxista, é realmente possível falar conceitualmente em classe operária e burguesa, sendo que campesinato é uma expressão que não encontra lugar definido no corpo de categorias que formam as leis básicas de desenvolvimento do capitalismo”. Para Abramovay, Marx considerava que os ‘operários fundiários’ – termo que usava para designar o campesinato – só emergiriam como a “terceira” classe na medida que a eles correspondia um rendimento cuja origem é a mais-valia-social. Marx acreditava ainda que, se ao camponês fosse atribuído lucro, ele se tornaria um capitalista, e se recebesse um salário, se tornaria um proletário. Assim, a impossibilidade de se definir claramente a natureza e a origem de seus rendimentos demonstra que o conceito de camponês em “O Capital” está ausente. No Marxismo, as duas classes capazes de incorporar nelas mesmos elementos básicos de organização contemporânea seriam a burguesia e o

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proletariado, e somente elas são nesse sentido consideradas classes e possuem a universalidade de conceito (Abramovay, 1992:35-36).

Marx faz ainda referência à disposição dos trabalhadores rurais em áreas cada vez maiores, o que levaria de imediato a ruptura de sua capacidade de resistência, ao contrario do que pensava em relação aos trabalhadores urbanos, onde a sua concentração, teoricamente, lhes proporcionaria uma maior capacidade de organização. Cortez (2006) ressalta que para Marx cada progresso obtido pela agricultura capitalista corresponderia a um avanço na “arte de saquear o trabalhador e o solo”, sendo assim, sob forma crescente, levaria por fim ao depauperamento dessas fontes permanentes de fertilidade. Percebe-se que de certa forma, já fazia-se alusão ao caráter predatório inerente à própria lógica e racionalidade do modo de produção capitalista.

Marx se propõem a explicar o problema da falta de acumulação de capital a partir de mecanismos específicos no funcionamento da economia camponesa. Para o autor, em sua expressiva obra O capital, para o camponês o limite da exploração não é o lucro médio do capital, no que se trata de um pequeno capitalista, tampouco a necessidade de renda, quando se trata de um proprietário de terra. O limite de acordo com Marx não é senão o salário que a si próprio abona, depois de deduzir o que constitui o custo de produção. Enquanto o preço do produto cobri-lo, cultivará suas terras, reduzindo, não poucas vezes, o seu salário até o limite estritamente físico. Neste sentido, o camponês não maximiza nem lucro, e nem renda, bem como a lei do valor não se cumpre para a produção camponesa, as transformações do pequeno produtor não são orientadas por um preço de mercado que iguale o valor, ou ao menos, o preço de produção.

Para Marx a economia camponesa, é uma economia mercantil30, ou seja, o camponês vende para obter recursos para comprar. A circulação simples de mercadorias (mercadoria- dinheiro-mercadoria), tem como finalidade a satisfação determinadas necessidades, esta serve de meio para a consecução de um fim último situado fora da circulação, a assimilação de valores de uso. A circulação simples só é possível visto que, o camponês não aparece no mercado como possuidor de capital financeiro, ou seja, o camponês não é visto como aquele sujeito possuidor de dinheiro, mas sim como vendedor de mercadorias produzidas por ele mesmo.

Marx (1985) analisa que os camponeses detentores de parcelas constituem uma grande massa, sendo que os seus membros vivem em situações distintas, porém sem a ocorrência de

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relações múltiplas entre eles. O modo de produção adotado pela maioria dos camponeses provoca o isolamento entre os mesmos, ao invés de promover um intercâmbio mútuo. A falta de meios de comunicação adequados, e a pobreza a qual muitos camponeses estão submissos, favorece ainda mais este isolamento. Neste sentido, a família é considerada autossuficiente, ou seja ela basta a si própria, produz o que necessita para o seu consumo e com o excedente consegue obter os demais produtos necessários para a sua subsistência. Na medida em que subsistem entre os camponeses detentores de determinadas parcelas uma conexão unicamente local, e a identidade de seus interesses não gera entre eles nenhuma comunidade, nenhuma união nacional e nenhuma organização política, fica impossibilitada a geração de uma classe.

Na visão de Marx, quanto mais o camponês estiver imerso nas relações de mercado, novas necessidades serão criadas, ou seja, quanto mais o camponês estiver sujeito as regras d mercado maior será a sua capacidade de comercialização, consequentemente maior será o seu lucro, sendo assim, o camponês possuindo uma maior capacidade financeira, resultara em um maior poder aquisitivo, o que tornará o camponês um consumidor em potencial. Sendo detentor de recursos financeiros, suas necessidades serão ampliadas de acordo com sua capacidade de aquisição. Neste sentido, o excedente em forma de dinheiro poderá ser utilizado de várias formas.

A teoria de Marx se propõe, portanto, a explicar porque o camponês cede parte de seu trabalho excedente à sociedade, sendo esta considerada a causa principal de sua não acumulação de capital. O camponês tradicionalmente transfere parte do seu trabalho excedente e, em determinadas vezes parte do trabalho necessárias à sua reprodução, porque não considera o seu trabalho como parte essencial dos custos de produção, desta forma, em muitos casos, o preço comercial não chega a cobrir o valor real do produto.

Outra questão que adquiri significativa importância dentro do debate marxista refere- se à reflexão sobre a identidade do camponês, tanto no nível individual quanto coletivo. Mais especificamente, trata-se de indagar se os camponeses são uma classe social inserida no modo de produção capitalista, ou seja, um modo de produção distinto, ou se os mesmos compreenderiam um modo de produção singular e totalmente diferenciada, ou ainda se a mesma encontrar-se-ia em um determinado estágio de transição. Esta classe intermediária por sua vez, representaria aqueles agricultores que, embora apresentem vestígios de um modo de produção pré-capitalista, simultaneamente expressam características do modo de capitalista e campesina.

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Ao considerar o camponês um individuo ambíguo que encerra em si mesmo tanto a possibilidade de explorador quando a possibilidade de ser explorado, além de ser efetivo possuidor de um determinado pedaço de terra, assume que tal fato, por si mesmo, torna-se um empecilho para haver determinado enquadramento, neste sentido, o camponês não assume nenhuma das duas classes polares a antagônicas, quer sejam, o operariado e a burguesia.

Percebe-se portanto que Marx em seu amplo estudo, não dispensou muitos esforços para estudar a questão campesina além da percepção de considera-lo como uma forma ou um modo de produção pré-capitalista, que pouco interesse despertaria para o estudo do capitalismo industrial emergente. A questão agraria tal como percebe-se hoje, é efetivamente desenvolvida posterior ao marxismo.