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1 A EDUCAÇÃO PARA OS AGRICULTORES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA EXTENSÃO

2.5 Pedagogia da Alternância – história e concepção

2.5.2 Experiências educativas em alternância no Brasil: EFAs e CFRs

No Brasil, as experiências que permitiram a entrada da Pedagogia da Alternância e criação das primeiras Maisons Familiales Rurales foi introduzida durante a década de 1960, no interior do estado do Espirito Santo, localizado na região sudeste brasileira, sob influência de experiências italianas. Esta experiência foi marcada pela participação do padre Jesuíta Humberto Pietrogrande, recém chegado ao sul do estado do Espirito Santo.

A implantação da primeira EFA no Espirito Santo, se deu junto a agricultores empobrecidos pela politica do intervencionismo econômico estatal, pois esta renegava a agricultura familiar em detrimento da empresa agrícola moderna. Diante desta realidade de crise econômica e social, o pároco, que possuía conhecimento das EFAs italianas, vendo a possibilidade de adaptar o projeto, deu inicio as discussões juntamente aos agricultores locais para a criação de uma Escola que atendesse seus filhos, foi a partir desta discussão que surge no ano de 1968 a primeira Escola Família Agrícola (EFA) em território brasileiro, adotado este nome em função da influência italiana.

Para garantir e operacionalizar a criação da primeira EFA e de outras que surgiram posteriormente a esta, criou-se o Movimento de Educação Promocional do Espirito Santo (MEPES) no ano de 1968 como uma entidade civil mantenedora, filantrópica, sem fins lucrativos, e com poderes para representar e defender os interesses e aspirações dos agricultores da região, sendo portanto uma entidade de voltada a atende de forma social, com ações visando a área da educação, da saúde e ações comunitárias do meio rural daquele Estado.

Neste sentido, Lourenzi (2014) enfatiza que as novas CEFFA’s, ao se espalharem pelo mundo procuram se adaptar ao meio em que elas estão inseridas, a fim de atender as necessidades e especificidades do local, porém mantendo a unidade pedagógica da alternância. As Maisons portanto continuam com os mesmos objetivos, não sendo apenas o de formar, mas principalmente o de educar, mantendo-se centradas na qualidade, na acolhida e no acompanhamento dos jovens.

As primeiras experiências em alternância no Brasil ocorriam de maneira informal, como “Cursos Livres”, ou seja, não possuíam nenhuma autorização legal de órgão competente para o funcionamento. Primeiramente, a duração desse curso era de dois anos, com períodos alternados de uma semana de formação técnica na escola e duas de formação prática junto à família. O publico atendido manteve as mesmas caraterísticas da experiência europeia, jovens

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rurais filhos de agricultores familiares, porém esses apresentavam faixa etária superior, fora da faixa etária escolar, ou seja, com idade superior a 16 anos.

A partir do ano de 1972, as EFAs brasileiras passam por um processo de formalização, passando também por um avanço sobre o território Capixaba39, bem como para os outros Estados brasileiros. Após a formalização do ensino, o plano de formação das EFAs passa a ter por finalidade a pré-qualificação profissional e escolarização formal, pois esta era uma alternativa quase que única de escolarização na maioria das comunidades onde foram instaladas, gerando um grande desafio, e obrigando uma articulação entre os planos de estudo e o currículo oficial.

A expansão ocorreu de forma mais acentuada durante a segunda metade da década de 1980. Esta expansão se deu tanto dentro do Estado do Espirito Santo, quanto para fora dele, neste período observaram-se implantações de EFAs nos Estados de Minas Gerais, Piauí, Rondônia, Maranhão e Amapá. Em sua maioria, essas iniciativas originaram-se através da influência das pastorais sociais das igrejas, principalmente aquelas de cunho religioso católico. O sistema de ensino adotado pelas EFAs, varia de acordo com o tipo de reconhecimento obtido pelos seus cursos junto as Secretarias de Estado da Educação, quanto ao ritmo de alternâncias, Silva ressalta que:

Nos cursos regulares de ensino fundamental, o ritmo de alternância adotado era de uma semana na EFA e uma semana na propriedade, enquanto nos cursos de ensino médio, era de quinze dias na EFA e quinze dias na propriedade. Nos cursos reconhecidos como ensino de suplência, o ritmo da alternância passava a ser de uma semana na EFA e de duas semanas na propriedade. (SILVA, 2012, p.56)

Com esta grande aceitação do publico jovem, bem como de suas famílias em relação ao modelo de ensino praticado pelas EFAs observou-se ao longo dos anos um grande processo de expansão dessas instituições de ensino. Diante da expansão do projeto, surge a necessidade da criação de uma associação que garanta uma maior articulação e união entre as EFAs. Neste sentido, no ano de 1982, durante a primeira assembleia geral de todas as EFAs brasileiras que criou-se a União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil (UNEFAB), cujo objetivo segundo Silva (2000) era o de coordenar as atividades buscando defender os interesses das entidades vinculadas, assim como assessorar a implantação de novas iniciativas em território nacional.

Diferentemente das Escolas Famílias Agrícolas que foram implantadas em território brasileiro durante a década de 1960, as Casas Familiares Rurais (CFRs), surgem no Brasil no início da década de 1980, período este em que as EFAs encontravam-se em plena ascensão .

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Totalmente desvinculada das EFAs, as CFRs nasceram e se desenvolveram constituindo um outro movimento de formação por alternância, vinculado diretamente ao movimento internacional das MFRs e sob orientação das experiências francesas e da UNMFRs. A primeiras CFRs brasileiras foram implantadas na Região Nordeste, tendo como base um assessor pedagógico da UNMFRs através de convênios e acordos de Cooperação Internacional firmados entre o governo brasileiro e o governo francês.

De acordo com Silva (2012), para resgatar a história da implantação das Casas Familiares Rurais no Brasil, devemos distinguir três momentos que caracterizam a sua trajetória em nossa sociedade, sendo eles:

[...]um primeiro momento, no qual foram realizados os primeiros ensaios de organização das CFRs no nordeste brasileiro; um segundo momento, que registra a ocorrência da migração dos projetos das CFRs para o sul do Brasil, caracterizando assim, a implantação e o desenvolvimento das primeiras experiências educativas no Paraná. Com a consolidação dessas experiências no Paraná teve inicio um terceiro momento da trajetória das CFRs, com a sua expansão para outras regiões do Estado do Paraná, ao mesmo tempo em que ocorreu também o inicio dessas experiências em outros estados da Região Sul do Brasil. (SILVA, 2012, p.58)

É importante destacar que as primeiras manifestações para a criação das Casas Familiares Rurais na região Nordeste ocorreram em função de uma viagem de estudo realizada por um grupo de profissionais brasileiros que em viagem a França no ano de 1979, conheceram as experiências francesas em alternância. As ações desenvolvidas nesta primeira fase de divulgação das MFRs no Brasil, aconteceram na região Nordeste, devido aos primeiros contatos terem sido feitos com pessoas ligadas a SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), que durante a década de 1980, desenvolviam inúmeros programas voltados para a educação, principalmente o programa do Polo Nordeste.

O Polo Nordeste, juntamente com Pronasec, o Promunicípio, e Edurural, entre outros programas de desenvolvimento marcaram o cenário educacional nordestino na década de 1980, estes programas buscavam enfatizar a educação e o trabalho produtivo, a educação e a vida comunitária. Esses programas investiram na melhoria da qualidade da educação rural brasileira, e devem de acordo com Silva (2012) serem considerados como um todo que se articulava na perspectiva de integração do Brasil e de outros países da América Latina a sociedade capitalista de mercado.

No ano de 1980 surge então a primeira CFR brasileira no município de Arapiraca, Alagoas, e posteriormente uma segunda no ano de 1984 no município de Riacho das Almas, Pernambuco. Ambas apresentaram traços em comum, como a ajuda e auxilio francês para a

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implantação e manutenção, este apoio objetivava qualificar os monitores, realizar a pesquisa participativa, criar uma associação de pais, criar o Plano de Formação, entre outros. Outra característica em comum entre as duas CFRs é a de que ambas foram experiências de curta duração.

A Casa Familiar Rural de Arapiraca, foi instalada em uma região onde a principal fonte de renda provinha da cultura do fumo de corda, sendo que esses agricultores eram filiados a uma cooperativa local, e a partir desta cooperativa, recebiam assistência da EMATER e SUDENE. Porém, os jovens e as famílias convencidos pela CFR a comercializar o fumo com a cooperativa local, afim de garantir maiores lucros. Este fato provocou um grande descontentamento entre os comerciantes locais, no quarto ano de funcionamento da Casa, essa insatisfação gerou o mando de morte do Presidente da Cooperativa e o Secretario da Associação, causando assim o encerramento das atividades.

Já a Casa Familiar Rural de Riacho das Almas em Pernambuco, iniciada no ano de 1984, também contou com a ajuda francesa, esta experiência foi implantada em uma região do agreste nordestino, onde os agricultores vinham sendo castigados pela miséria e pelos longos meses de seca ocorridos durante os anos, como consequência, ocorre o abandono de suas atividades habituais, e encontram uma solução no artesanato, porém ai também encontram problemas principalmente com a comercialização, devido a dependência de intermediários. Com a criação da CFR, ameniza-se esses problemas com a criação de grupos de produção e comercialização diretamente nos centros consumidores. Porém ao longo do tempo, esta experiência sofreu um desvio de seus objetivos, e ao invés de fazer o que estava previsto dentro da proposta de uma CFR, os monitores acabaram reproduzindo os mesmos propósitos de uma escola convencional. Este fato fez com que as autoridades locais optaram por cessar o apoio financeiro, acarretando no encerramento de suas atividades em 1990.

Apesar de essas duas primeiras experiências fracassarem em seus objetivos iniciais, tornaram-se referencia para o surgimento de outras CFRs no Brasil, sendo que a CFR de Riacho das Almas foi a principal inspiração nacional para a criação das CFRs do estado do Paraná. Silva (2012) destaca que foi no sul do Brasil que as CFRs encontraram o cenário ideal para sua expansão. Foi durante o Seminário Franco-Brasileiro ocorrido no ano de 1985 na cidade de Curitiba – PR que ocorreu os primeiros contatos e interações com pessoas e instituições da Região Sul.

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