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1 A EDUCAÇÃO PARA OS AGRICULTORES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA EXTENSÃO

2.5 Pedagogia da Alternância – história e concepção

2.5.4 Os quatro pilares da Pedagogia da Alternância

A quase 80 anos que as MFRs vêm percorrendo um longo trajeto institucional e pedagógico, primeiramente na França e progressivamente no restante do mundo. Porém, com esta expansão, observa-se que adaptações do projeto foram feitas, a fim de que este respondesse melhor as necessidades do local onde estaria sendo inserido, e isso dificulta a gestão de cada uma e do conjunto, pois de um sistema praticamente homogêneo em sua origem, adquiriu uma gama de diversidades. Como ressalta Gimonet (2007, p. 13) “A diversidade torna-se regra hoje”. É importante promover adaptações para que as CEFFAs possam atender aos seus propósitos, visto que cada localidade vive uma realidade diferenciada e carece que suas penúrias sejam sanadas. No entanto, é necessário para que não ocorra uma perca de identidade, nem da originalidade do movimento é necessário que se mantenha uma unidade entre as instituições pertencentes ao sistema CEFFAs, “uma unidade na diversidade” (Gimonet, 2007, p.14). Para que se mantenha esta unidade é fundamental que cada CEFFA atenda a alguns traços fundamentais de uma identidade em comum.

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Perante esta necessidade de manter uma identidade comum a todas as instituições do movimento cuja origem se deu nas MFR, na França a UNMFR criou a Carta de Identidade das MFRs, sendo que todos deveriam saber:

- finalidades: - de um lado, a educação, a formação profissional e geral associadas e a orientação dos adolescentes, e, de outro lado, a contribuição para o desenvolvimento do meio;

- um contexto de implantação e de ação: o meio rural;

-uma estrutura, ao mesmo tempo jurídica e de participação e responsabilização das famílias: a associação;

- um método pedagógico: a alternância com suas implicações quanto ao papel educativo dos pais e mestres de estágio profissionais e suas técnicas e instrumentos pedagógicos;

- uma estrutura educativa: o internato e o pequeno grupo;

- uma equipe educativa animadora do conjunto. (GIMONET, 2007, p.14)

Neste sentido, a Carta de Identidade, busca preservar a unidade do movimento, destacando o que é necessário para que determinada instituição possa ser considerada uma MFR. No entanto, cabe ressaltar que da mesma forma que o movimento, a carta também é um documento evolutivo, que vai adaptando-se no decorrer do tempo, porém as mudanças nela feitas passam por um profundo interrogatório a fim de garantir que os fundamentos do movimento sejam preservados acima da evolução.

A necessidade de manter uma identidade comum a todas entidades integrantes ao sistema CEFFA, fez com que os fundamentos fossem repensados de maneira que contemplassem igualmente a todos, neste sentido, surge então os Quatro Pilares dos CEFFAs (Figura 03), que caracteriza o sistema e o sustenta, representando os princípios, e atuando como sua base, concentrando suas características fundamentais e irrevogáveis, constituem os fins definidos que se conseguem com meios precisos. Como é possível observar na figura a seguir, os quatro pilares estão divididos em dois grupos, sendo que dois pilares pertencem a ordem das finalidades, ou seja, a formação e o desenvolvimento do meio, e os outros dois pertencem a ordem dos meios, isto é, a associação e a alternância, portanto os quatro pilares sustentam as associações mantenedoras dos CEFFAs, a pedagogia da alternância, a formação integral do aluno e o desenvolvimento local sustentável.

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Figura 03 – Os Quatro Pilares dos CEFFAs Fonte: www.arcafarsul.org.br

O primeiro desses pilares, diz respeito a constituição de uma associação responsável pela instituição em seus mais variados aspectos: econômico, jurídico e de gestão. As CEFFAs “representam para as suas associações, não um fim em si mesmas, mas um meio para alcançar o desenvolvimento local e coletivo” (SOUZA, 2008, p.5), isto é, as associações que representam cada uma das instituições integrantes do sistema CEFFA podem atuar em projetos e atividades que favoreçam o desenvolvimento local, ao mesmo tempo em que se propõem a formar as futuras gerações que irão dar continuidade ao projeto. Este primeiro pilar é considerado uma condição necessária para a formação e manutenção de uma CEFFA, pois sua existência se vincula a uma organização local de base participativa, em que a associação das famílias, as comunidades, as instituições locais, os profissionais do setor são os responsáveis pela gestão e pelo desenvolvimento local. Essa associação deve promover um organização de base democrática e participativa, composta por pais e outros atores comunitários, cujo principal objetivo esta na promoção do desenvolvimento local.

O segundo pilar de sustentação e caracterização das CEFFAs, é a utilização de uma proposta pedagógica específica e única para todas as instituições integrantes do movimento, ou seja a Pedagogia da Alternância. No sentido geral, pode-se dizer que para Ribeiro (2008, p.30) “a Pedagogia da Alternância tem o trabalho produtivo como um principio de uma formação humanista que articula dialeticamente ensino formal e trabalho produtivo”, sendo que a mesma procura articular a pratica e a teoria, realizando-se em tempos e espaços que se alternam entre a escola e a propriedade, comunidade, assentamento, acampamento ou movimento social ao qual o educando esta vinculado. Para Azevedo (2005) o ensino na alternância é organizado em função do trabalho e o educando alterna períodos regulares de

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aprendizagem na escola, com períodos de convívio com a família, onde desenvolve as praticas previamente orientadas, colocando em ação a ligação entre a teoria e a prática. Neste sentido, a alternância atua como uma estratégia de escolarização que possibilita aos jovens que vivem no campo conjugar a formação escolar com as atividades e tarefas na unidade produtiva familiar, sem desvincular-se da família e da cultura do meio rural. Daí a importância do sistema CEFFA de ensino, como uma alternativa de escolarização desse público, uma vez que possibilita ao aluno ter acesso à escola, ao mesmo tempo em que permite a ele permanecer junto a sua família, a sua cultura e as atividades produtivas as quais já estava habituado.

O terceiro pilar é a formação integral do jovem, de maneira que possa lhe permitir o pleno desenvolvimento de sua personalidade e a capacidade de construir por si só o seu projeto de vida. A formação integral leva em consideração que cada pessoa é distinta e completa, em si mesma, mas ao mesmo tempo coletiva isto porque vive em comunidade, e não subsiste enquanto individuo isolado. A formação integral compreende, portanto, a formação pessoal como um todo, levando em consideração todas as dimensões da pessoa: pessoal, coletiva, afetivo, emocional, intuitivo, racional, intelectual, profissional etc. A formação integral, diz respeito a tudo aquilo que pode enriquecer a sua constituição como indivíduo, considerando todos os elementos que se referem ou interferem na aprendizagem, como a organização escolar, a formação dos profissionais que nela atuam a configuração social, as representações vigentes no meio, o projeto de vida de cada um, as condições socioeconômicas da família e da comunidade. Neste sentido, a formação integral vai muito além de simplesmente preparar o jovem estudante para assimilar ciência e tecnologia, pretende prepara-lo também para a vida, e para que este jovem possa promover o desenvolvimento do local onde vive.

A formação de jovens pelo metodologia da alternância implica que este se envolva em atividades produtivas, de maneira a interpretar as ações desenvolvidas, refletindo sobre o porquê e o como das atividades desenvolvidas. Ou seja, a formação integral busca promover a interação entre as atividades práticas e a reflexão teórica sobre elas. De acordo com Gimonet (2007), nesta perspectiva educativa o jovem deve ser o protagonista de sua própria formação. Fica a cargo do jovem analisar e identificar quais são os conteúdos relevantes para a promoção do seu desenvolvimento pessoal e social, e qual o papel a ser desenvolvido por ele perante a sociedade. Para que a formação integral seja possível, e para que ela obtenha o sucesso desejado, deve-se contar com atenção personalizada, pois a tutoria e o diálogo, bem

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como as visitas as famílias e as comunidades são elementos de vital importância para que o objetivo da formação integral do jovem alternante seja atingido.

O quarto e ultimo pilar, diz respeito às preocupações com as questões voltadas ao desenvolvimento. A incessante busca por parte das CEFFAs em promover o desenvolvimento nas comunidades locais é uma das principais características deste quarto pilar, pois foi justamente este desejo de desenvolvimento local que fez com que as experiências educativas baseadas em um modelo de ensino alternante surgissem primeiramente na França e posteriormente espalhando-se pelo mundo todo. Para que seja possível promover o desenvolvimento local, é necessária a integração dos mais diversos atores, entre eles encontramos as dimensões humanas, econômicas, sociais, culturais, ambientais inseridos em uma perspectiva global. É a partir dos interesses em comum destes sujeitos que são conduzidas as ações necessárias para que ocorra a busca pelo desenvolvimento de competências, de atitudes, de comportamentos para um bem estar econômico e social para todos que vivem neste meio e dele necessita. Neste sentido, torna-se importante destacar que quando os atores de um determinado contexto compartilham interesses comuns de desenvolvimento, eles tem em qualquer CEFFA um espaço de socialização, ondem podem expor suas ideias e possivelmente ali planejar ações para a concretização das mesmas.

Estes Quatro Pilares dos CEFFAs, constituem as invariáveis deste movimento, porém apresentam um caráter muito geral, abrangendo de forma superficial as características necessárias para se preservar a identidade comum ao sistema. Segundo Gimonet (2007) é necessário que se entenda sobre o conteúdo e as modalidades de implementação de cada um deles, sendo necessário especificar as finalidades, precisar a natureza, as razões de ser, os funcionamentos e a animação da associação, bem como definir a alternância tal como é entendida pela AIMFR, já que várias são as formas de alternância existentes.