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1 A EDUCAÇÃO PARA OS AGRICULTORES NO CONTEXTO DA ESCOLA E DA EXTENSÃO

3.3 A importância da Escola de Ensino Médio Casa Familiar Rural pelas famílias dos jovens

Conhecer as famílias e a realidade em que elas encontram-se inseridas é de extrema importância para diagnosticar as circunstâncias que levaram os jovens a optarem pela formação em uma instituição de ensino em alternância, sendo a EEMCFR, uma instituição de ensino médio diferenciada das demais instituições locais. Também é importante conhecer a

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família a fim de verificar a realidade atual dos jovens egressos, em que ponto na CFR contribuiu para o desenvolvimento da propriedade rural familiar.

Foram entrevistados representantes de dez famílias, um membro da família de cada jovem egresso entrevistado. As famílias são provenientes de seis diferentes municípios sendo eles: Frederico Westphalen, Taquaruçu do Sul, Erval Seco, Seberi, Palmitinho e Jaboticaba, o mapa de localização destes municípios pode ser observado na página 180. Quanto aos dados obtidos, a primeira pergunta refere-se ao grau de escolaridade, sendo que dos 10 pais que responderam ao questionário, apenas um possui o ensino fundamental completo, os outros nove possuem o ensino fundamental incompleto. O grau de escolaridade das mães apresenta- se da seguinte forma uma possui o ensino médio completo, três o ensino fundamental completo, e seis não chegaram a concluir o ensino fundamental, os dados estão ilustrados na Figura 16.

Figura 16: Grau de escolaridade dos pais Org.: LOURENZI, L. (2015)

Todas as famílias afirmaram residir em propriedade própria. Quando questionados a respeito da maneira como obtiveram a propriedade, um afirmou que toda a sua propriedade é oriunda de herança; dois possuem parte da propriedade proveniente de herança e o restante proveniente de compra de terceiros; três responderam que parte de suas propriedades vem da compra de terceiros e outra parte da aquisição de parentes; dois possuem toda a propriedade proveniente da compra de parentes e outros dois da compra exclusiva de terceiros. Quando questionados a respeito das heranças familiares o que pode-se perceber é que em suas famílias os homens eram privilegiados com herança sendo que na maioria dos casos as filhas mulheres não recebiam nenhuma compensação.

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Figura 17: Gráfico representando o tamanho das propriedades Org.: LOURENZI, L. (2015)

Embora as propriedades sejam consideradas pequenas, todos os agricultores consideram o uso da terra satisfatório, desta forma constata-se que os mesmos conseguem manter uma boa produção e garantir a subsistência da família com a sua propriedade. Ao serem questionados sobre o arrendamento de terra, apenas dois afirmaram que costumam arrendar terra, com o objetivo de plantar milho para a preparação da silagem, alimento destinado a alimentação dos bovinos. Na Figura 18, pode-se observar um silo de silagem aberto, onde esta sendo feita a retirada da silagem para a alimentação do gado leiteiro. A produção leiteira é inclusive a principal fonte de renda das famílias entrevistadas.

Figura 18: Silagem sendo retirada para a alimentação animal Fonte: Arquivo pessoal (Campo 2014)

0 1 2 3 4 5 6

00 - 10 hec 10 -20 hec 20-30 hec 30-40 hec 40 -50 hec

Tamanho das Propriedades

Tamanho das Propriedades

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Cabe salientar que todas as famílias entrevistadas possuem o habito de produzir cultivos utilizados para a alimentação familiar, tais como: feijão, mandioca, hortaliças, legumes, frutas diversas. Todas as famílias possuem horta e pomar, garantindo assim a produção de hortaliças e de frutas para o consumo da família. As famílias costumam também criar animais para a alimentação, tais como galinhas, porcos, gado e peixes (Figura 19).

Figura 19: Mosaico de fotos (aves, porcos e novilhos) Fonte: Arquivo pessoal (2014)

Quanto aos maquinários utilizados pelas famílias a fim de praticar as suas atividades produtivas, destaca-se que com exceção de um agricultor que possui além de trator, pulverizador, grade para trator, pé de pato, plantadeira e colheitadeira, e outros dois que possuem trator, os demais agricultores ainda trabalham como eles mesmo se referem a “moda antiga”, com a utilização de carroça, arado, pulverizador com tração animal. Esses justificam que as prefeituras de seus municípios disponibilizam os serviços que exigem a necessidades de maquinários agrícolas a um preço simbólico, então consideram mais fácil e barato pagar para que as prefeituras municipais realizem estes trabalhos do que realizar um investimento alto para a aquisição e manutenção dos maquinários. Porém no que se refere a produção leiteira, todos os produtores afirmam fazer uso de maquinas ordenhadeiras e resfriadores a granel, pois as industrias lácteas estão constantemente aumentando os níveis de exigências para o recebimento de leite.

No que se refere a assistência técnica, duas famílias afirmam que não utilizam os serviços de assistência técnica, por sua vez oito famílias afirmam que fazem uso de assistência técnica oferecida pela Emater, as famílias costumam receber uma visita mensal de um técnico

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extensionista, que ajuda a família a fazer a gestão da propriedade, e também auxiliam em dúvidas que surgem na prática diária da propriedade.

A divisão de trabalho, acontece muito mais de forma teórica do que prática, pois com exceção dos trabalhos domésticos que são realizados exclusivamente pelas mulheres e filhas, o restante das atividades são realizadas por todos os membros das famílias, inclusive aqueles trabalhos considerados mais pesados e de responsabilidade masculina. Quanto a gerencia financeira, predominam os homem resolvendo assuntos referentes a banco, e a empréstimos bancários.

Ao serem questionados quanto a questão da evolução da agricultura e do trabalho realizado no meio rural, todos os agricultores que responderam a este questionamento afirmam que o trabalho hoje foi facilitado, porém melhorou em partes, visto que hoje a obtenção de mão-de-obra para a prática de serviços agrícolas esta muito limitada, são poucas as pessoas que aceitam trabalhar como peões, e quando aceitam é por um valor considerado alto pelos agricultores, sendo assim, a maior parte do trabalho recai para os integrantes da família, e essas estão cada vez menores.

Quanto questionados sobre a perspectiva da família na agricultura, se consegue visualizar um futuro nesta atividade e se gostaria que seus filhos seguissem a atividade sócio ocupacional de agricultores, nove pais afirmam que gostariam sim que seus filhos seguissem a atividade sócio ocupacional de agricultores, e por esse motivo incentivaram que os filhos ingressassem na EEMCFR quando assim demonstraram interesse, as famílias afirmam ainda possuírem a consciência de que a vida no campo não é fácil, mas que ali possuem uma qualidade de vida e uma autonomia muito maior do que em qualquer emprego que venham a ter no meio urbano. Alguns pais ainda destacam que embora queiram que seus filhos ali permaneçam não querem que os mesmos deixem de estudar, incentivando também os filhos a continuarem estudando e realizando o ensino superior, além claro da participação em cursos de capacitação e qualificação profissional. Apenas um pai afirmou que foi contra a decisão da filha, mas que aceitou que ela estudasse na CFR por insistência dela, com o tempo passou a aceitar e hoje esta feliz com a decisão que ela tomou. Hoje os pais afirmam que procuram incentivar ao máximo os filhos a permanecer na agricultura, procuram fornecer a eles os subsídios necessários, para que os mesmos possam além do interessem possuírem as condições necessárias para ali permanecer.

É importante salientar o apoio das famílias e a participação das mesmas em todo o processo de formação do jovem alternante é fundamental para que o mesmo conquiste

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autonomia dentro e fora da propriedade, é importante para que as ideias novas trazidas pelo jovem sejam ao menos discutidas, para analisar a viabilidade da implantação das mesmas, caso sejam viável, vale a tentativa, é importante para que o jovem sinta-se prestigiado, sinta- se aceito dentro do ambiente familiar e principalmente sinta-se útil, sinta que esta efetivamente contribuindo para a produção e reprodução social da família e da propriedade perante a comunidade de forma geral.