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2.6 A República se Apresenta à França

2.6.1 A Morte de XVI

Ainda que a Constituição recém-criada propiciasse certa proteção ao Rei Luís XVI, muitos exigiram o seu julgamento e com isso deram mais forças à Revolução. O movimento foi fortalecido, a morte do Rei simbolizou a morte da realeza. Em sua defesa, o fato de seus acusadores serem homens do Estado e não juízes aptos a julgá-lo. Porém, documentos incriminadores foram descobertos no Palacio Real e apontavam que o Rei atentou contra a Pátria. Esses documentos

24Marie-Joseph Paul Yves Roch Gilbert du Motier, Marquês de La Fayette (Chavaniac, 6 desetembro de 1757 – Paris, 20 de maio de 1834), conhecido nos Estados Unidos simplesmente como La Fayette, foi um aristocrata e militar francês que lutou pelo lado revolucionário na Guerra da Independência dos Estados Unidos e também foi uma figura importante na Revolução Francesa e na Revolução de Julho.

25Longwy é uma comuna francesa na região administrativa de Lorena, no departamento de Meurthe-et-Moselle. Estende-se por uma área de 5,34 km². Em 2010 a comuna tinha 14 420 habitantes (densidade: 2 700,4 hab./km²).

26Verdun é uma cidade da francesa de 19.624 habitantes, do Departamento de Meuse, região de Lorena. É uma cidade símbolo da Grande Guerra, pois no fronte franco-germânico ocorreu a Batalha de Verdun, durante a qual, ao longo de dez meses, pereceram aproximadamente 260 mil soldados.

27A Batalha de Valmy foi travada a 20 de setembro de 1792, durante as guerras da Revolução Francesa. Foi travada no início das guerras da Primeira Coligação. Nesta batalha enfrentaram-se as tropas francesas e prussianas, um exército que espelhava a revolução e um exército convencional, criado por monarquias absolutas. O primeiro estava sob o comando dos generais Charles Dumouriez e François Kellermann, o segundo sob o comando do Duque de Brunswick. Esta batalha, que não chegou a consumar-se, foi, apesar de tudo, a primeira vitória militar da Revolução Francesa, pois o exército prussiano retirou.

Não sendo um feito militarmente relevante, reveste-se de enorme importância histórica.

atestaram a infidelidade de Luís XVI, inclusive confabulando com estrangeiros. A denúncia era grave e a defesa dp Rei não foi suficiente, embora tivesse sido notório que não o foi permitido fazê-lo. Por 387 a 334 vencia aqueles que desejavam a pena de morte. Em 21 de janeiro de 1793, o Rei Luís XVI enfrentou a “justiça” da guilhotina francesa. As pontes com o passado foram quebradas, ocorrendo em um ato histórico e verdadeiro que, de uma vez por todas, fundava a República.

Eratambém um aviso à Europa Monárquica, o povo não seria usado para impulsionar um sistema que privilegiava uma minoria abastada.

O sucesso militar da Revolução espalhou o temor entre os soberanos europeus, a Inglaterra entrou na guerra aliando-se à Áustria e à Prússia, além da Espanha, Holanda e os principais Estados Alemães. Findava-se o breve período das vitórias fáceis. A República tentava de todas as formas conter o os inimigos, centenas de pessoas foram convocadas a lutar e um novo tribunal criminal foi criado,levando posteriormente à formação do Tribunal Revolucionário. Todas essas medidas tinham um único objetivo: a “salvação pública”. Contudo, o inimigo não era a única preocupação, Girondinos, Montanheses e Comunas não se entendiam e a tensão só aumentava. Nesse sentido Eric J. Hobsbowm (2003, p.46)

Os sansculottes saudaram um governo revolucionário de guerra, e não apenas porque corretamente defendiam que só assim a contra-revolução e a intervenção estrangeira podiam ser derrotadas, mas também porque seus métodos mobilizavam o povo e traziam a justiça social mais para perto.

(Eles desprezavam o fato de que nenhum esforço efetivo de guerra moderna é compatível com a democracia direta, voluntária e descentralizada que acalentavam.) Os girondinos, por outro lado, temiam as consequências políticas da combinação de uma revolução de massa com a guerra que eles provocaram. Nem estavam preparados para competir com a esquerda. Eles não queriam julgar ou executar o rei, mas tinham que competir com seus rivais, “a Montanha” (os jacobinos), por este símbolo de zelo revolucionário; a Montanha ganhou prestígio, não a Gironda. Por outro lado, os girondinos queriam realmente expandir a guerra para uma cruzada ideológica geral de libertação e para um desafio direto ao grande rival econômico, a Grã-Bretanha. Neste particular, tiveram sucesso. Por volta de março de 1793 a França estava em guerra contra a maior parte da Europa e tinha dado início a anexações estrangeiras (legitimadas pela recém-inventada doutrina do direito francês às “fronteiras naturais”).

Os Girondinos, sob a acusação de confabularem com a realeza e com os ricos, perderam apoio entre os cidadãos e a queda foi iminente. Robespierre incitou os Jacobinos e a massa de manobras estava pronta. A Assembleia foi sitiada com canhões à mira, os revoltos exigiram a prisão dos chefes Girondinos. Os que não foram presos morreram em condições miseráveis, sua maior parte no cadafalso.

A Gironda ruíra e muitas foram às causas. Sucumbiram-se por terem se sustentado em incoerências e discrepâncias que os cegaram diante da política, clamaram por guerra em que se mostraram completamente inexperientes a conduzir, se revoltaramcontra o Rei para mais tarde salvá-lo, agravando a crise econômica e sendo inflexíveis em compartilhar soluções para remediá-la e pela pretensão em frear uma revolução na qual sempre se mantiveram como elementos impulsionadores. As junções de todos esses fatores provocaram sua queda.

A França, porém, estava longe conseguir sua paz política. Os Jacobinos, que eram oposição passaram agora a alvo de críticas e queixas oriundas não somente das derrotas na guerra, mas principalmente da crise econômica que alavancou os preços dos itens mais essenciais para a sobrevivência. Embora os Girondinos tivessem amargado uma derrota significativa em Paris, no interior os pequenos, mas numerosos focos de resistência Girondina ameaçavam o governo Jacobino. Um movimento contra revolução ganhou força em toda a França, uma resistência à ditadura que ecoava de Paris.

O quadro se agravou ainda mais com as recorrentes derrotas da Revolução na fronteira. Ataques ingleses, espanhóis, prussianos minavam as defesas francesas. Até mesmo a Ilha de Corsega sofria com movimentos separatistas. As colônias haviam se tornado domínios, em sua maior parte ingleses, devido à supremacia náutica deste país. Os jacobinos pareciam trilhar o mesmo caminho outrora percorrido pelos girondinos.

Em socorro aos Jacobinos, Maximilien de Robespierre assumiu a direção do Comitê de Salvação Pública, em substituição a Danton. Foi um dos únicos a não mudar seu pensamento ideológico com as grandes reviravoltas políticas pelas quais a França passara. Tido como “incorruptível”, esse advogado e deputado, que por vezes beirou o ridículo ante seus pares, escreveu na história seu nome como o grande símbolo encarnado da revolução Jacobina.

Os Jacobinos se depararam com um cenário até então desconhecido, eles que sempre foram opositores do governo, agora eram o próprio Governo.

Viram-se alvos das críticas e não souberam lidar com elas. Todo opositor ao governo Jacobino passou a ser visto como criminoso. O Terror havia sido estabelecido e usando do poder legislativo que detinham, editaram normas que tornaram legais diversos atos, que em suas essências eram completamente ilegais, usando do direito à liberdade como grande justificativa. Milhares foram

encarcerados, muitos sob a única acusação de não se manterem incessantemente fiéis à Revolução. Cita-se Jean Tulard (1989, p.119):

...e mais, geralmente, daqueles que, “seja por sua conduta, seja por suas relações, seja por suas palavras ou escritos, se mostraram partidários da tirania e do federalismo e inimigos da Liberdade”. A lei será interpretada de modo extensivo. Para Saint-Just trata-se de atingir “todo aquele que é passivo na República e nada faz por ela”. Várias centenas de milhares de suspeitos serão assim encarcerados ou confinados em um momento ou outro do Terror.

A extinção dos “ditos contra a República” tomou dimensões assustadoras, Maria Antonieta foi guilhotinada diante dos olhos incrédulos de toda a Europa. Grupos tidos como marginais com o novo governo passaram a realizar suas vinganças pessoais. Afogamentos, fuzilamentos aconteceram por toda a França. A República estava diante de uma nova guerra, travada contra seu próprio povo.

Os Jacobinos não se mostraram mais eficientes que seus antecessores, acabando por burocratizar o Governo ainda. Mas seus pensamentos revolucionários permaneciam os mesmos de 1789. Nesse sentido Eric J.

Robsbawan:

Depois de 1794, ficaria claro para os moderados que o regime jacobino tinha levado a revolução longe demais para os objetivos e comodidades burgueses, exatamente como ficaria claro para os revolucionários que “o sol de 1793”, se fosse nascer de novo, teria que brilhar sobre uma sociedade não burguesa. Por outro lado, os jacobinos podiam sustentar o radicalismo porque em sua época não existia uma classe que pudesse fornecer uma solução social coerente como alternativa à deles28.

Muito mais que governar, os Jacobinos possuíam o desejo como que obsessivo de concluir a Revolução e fundar a República permanentemente. Nesta busca incessante, confundiram o dever do Estado de proteger passando a se defender do povo que não era mais aquele que habitava o solo francês, quem por seus atos, relações ou mesmo estilo de vida se mostrasse simpatizante do Antigo Regime era excluído, não sendo mais considerado parte da sociedade, na República apenas os republicanos eram cidadãos. O Terror foi a forma usada para selecionar o

“povo” francês e, para tal, a guilhotina deveria estar permanentemente armada.

28 ROBSBAWM, Eric J. (1962), disponível em:

http://lutasocialista.com.br/livros/V%C1RIOS/HOBSBAWM,%20E.%20A%20era%20das%20revolu%E 7%F5es.pdf

Um triste exemplo desta “política” foi o Massacre de Vendéia29, algo que podemos definir como o episódio histórico que inaugurou a era de genocídios da modernidade. Vendéia era encarada como um importante polo de opositores à Revolução, terminando com um destino cruel. O exército católico foi dizimado em 23 de dezembro de 1793, sob a força da “espada livre”. As crianças foram pisotesdas pelos cavalos e as mulheres massacradas para que não pudessem mais gerar bandidos. Este foi o relato do General Westermann ao comitê da Salvação Pública.

Os Jacobinos e suas ideias de revolução transformam o movimento em um verdadeiro devorador de seus próprios filhos, o povo francês suportava as duras tendências do Terror.

O dia 22 de setembro de 1792 marcou o início da República com um novo calendário criado para iniciar a nova história francesa. Esta data mudaria para sempre a História de toda a humanidade. Não se trata de um feito simples, o abandono do calendário gregoriano, foi além, levando a uma verdadeira descristianização. Uma revolta anticristã tomou conta do país, símbolos, cemitérios, igreja foram alvos de vandalismo e intolerância religiosa. Muitos membros da Igreja fugiram para se salvar, o bispo de Paris e tantos outros pediram demissão de suas atribuições. Começou a surgir, sobretudo entre os dantonistas, a ideia de que era preciso abrandar o Terror.

29 A guerra da Vendéia (em francês: guerre de Vendée, 1793-1796) foi uma guerra civil e contrarrevolução ocorrida na Vendeia, região costeira localizada no sul do vale do Loire, oeste da França. Aconteceu durante a Revolução Francesa e mais particularmente durante a Primeira República, quando houve enfrentamentos entre católicos e realistas, de um lado, e republicanos, de outro. A insurreição é intimamente ligada à chouannerie, que também opôs revolucionários republicanos e realistas da França e teve lugar na Bretanha, no norte do país. O conjunto desses dois conflitos é às vezes referido como Guerras do Oeste. A chouannerie se desenrolou na margem direta do Loire, enquanto a guerra da Vendeia teve lugar na margem esquerda.

Assim como toda a França, a Vendeia conheceu manifestações de camponeses entre 1789 e 1792.

Inicialmente a guerra da Vendeia foi semelhante a uma jacquerie camponesa clássica (cujo exemplo mais notável é a Grande Jacquerie de 1358, que se espalhou por várias partes da França durante a Guerra dos Cem Anos). Mas no momento em que ocorre a sublevação de 1793, a sublevação vendeiana rapidamente perde o caráter de revolta camponesa e assume contornos de movimento contrarrevolucionário.

A natureza da insurreição dividiu as opiniões dos historiadores a partir do século XIX. Reynald Secher popularizou a tese de que a morte de católicos vendeianos pelo estado anticlerical francês, no fim da guerra, foi o primeiro genocídio moderno, mas essa afirmação tem sido objeto de controvérsia.

O conflito se desenvolveu entre as antigas províncias do Poitou, Anjou e Bretanha, ultrapassando amplamente, portanto, os limites do departamento da Vendeia. Alcançou também o sul do baixo Loire, o sudoeste de Maine-et-Loire e o noroeste de Deux-Sèvres, tendo sido contida pelos redutos republicanos de Nantes, Angers, Saumur, Thouars, Parthenay, Luçon, Fontenay-le-Comte e Les Sables-d'Olonne.

Ao longo de três anos, a guerra passou por várias fases, com um breve período de paz, na primavera de 1795. Terminou no início de 1796, resultando em cerca de 200.000 mortes e muita destruição.

A Revolução perdera seu rumo, Robespierre se mostrou como o verdadeiro dono da França, sua influência e poder era imensurável. Os sans-cullotes pareceram amedrontados e desencorajados, a guilhotina alcançou até mesmo os grandes revolucionários, a Revolução parecia congelada. A lei dos suspeitos foiaprimorada, as acusações e condenações no Tribunal Revolucionário ocorreram com simples provas morais, penalizadas com a morte e o período do Grande Terror chegara para o povo francês. Cita-se Frédéric Bluche (1989, p. 130):

O Grande Terror começou mais cedo na província. A lei contenta-se em racionalizar e centralizar um pouco mais o Terror. Em Paris, é a época das

“fornadas” indiferenciadas de condenados. A técnica da “assimilação”, já empregada contra os girondinos, os hebertistas e os dantonistas, é utilizada até o absurdo. Antes da lei dos suspeitos, o Tribunal Revolucionário pronunciava a pena de morte onze vezes por mês, em média (24% das sentenças). Passou-se a 134 execuções mensais (58%) entre a lei dos suspeitos e a lei de prairial, e a 878 (79%) entre a prairial e termidor.

No fim do Terror, o número de execuções terá aumentado em metade a cada mês (38 cabeças por dia às vésperas de 9 de termidor). A naúsea da guilhotina atinge até mesmo uma parte do público “patriota”, mas os Comitês não parecem nada dispostos a deter o Terror.

O sangue do povo manchava o solo francês, a Revolução, agora muito mais Jacobina que francesa, parecia cega, seus ideais estariam perdidos? Não se pode dizer. Somente que essa revolução não fazia distinção entre revolucionários e contra revolucionários, o terror não fazia diferenciação e suas guilhotinas não poupavam cabeças.