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4.4 QPC – Questão Prioritária de Constitucionalidade

4.4.1 A QPC e suas Particulariedades

A Lei Constitucional 2008-724 de 23 de julho de 2008, muito embora composta por 47 artigos, responsáveis por diversas alterações no texto constitucional, os que merecem nossa atenção, devido ao objeto do estudo em tela, são os artigos 28, responsável pela alteração do artigo 61 da Constituição Francesa.

O artigo 29 que possibilitou que o artigo 61-1 adentrasse ao texto constitucional e, por fim, o artigo 30 que também alterou o artigo 62 da Constituição136.

ARTIGO 61

As leis orgânicas, antes da sua promulgação, as propostas de lei mencionadas no artigo 11 antes de serem submetidas ao referendo e os regulamentos das assembleias parlamentares, antes da sua aplicação, devem ser submetidos ao Conselho Constitucional, que se pronuncia sobre a sua conformidade com a Constituição.

Com os mesmos fins, as leis podem ser submetidas ao Conselho Constitucional, antes da sua promulgação, pelo Presidente da República, Primeiro-Ministro, presidente da Assembleia Nacional, Presidente do Senado ou por sessenta deputados ou sessenta senadores.

Nos casos previstos nos dois parágrafos precedentes, o Conselho constitucional deve deliberar no prazo de um mês. No entanto, a pedido do Governo, se há urgência, este prazo é reduzido para oito dias.

Nesses casos, o encaminhamento para o Conselho Constitucional suspende prazo para a promulgação.

ARTIGO 61-1

Quando, no âmbito de um processo pendente perante um órgão jurisdicional, é argumentado que uma disposição legislativa ameaça direitos e liberdades garantidos pela Constituição, o Conselho Constitucional pode ser convocado para analisar o caso por meio de citação do Conselho de Estado ou da Corte de Cassação, que se pronuncia em um prazo determinado.

Uma lei orgânica determina as condições de aplicação do presente artigo.

ARTIGO 62

136 Disponível em: https://www.legifrance.gouv.fr/affichTexte.do?cidTexte=JORFTEXT000019237256

Uma disposição declarada inconstitucional com base no artigo 61 não pode ser promulgada ou executada.

Uma disposição declarada inconstitucional com base no artigo 61-1 é revogada a contar da publicação da decisão do Conselho Constitucional ou de uma data posterior fixada por esta decisão. O Conselho Constitucional determina as condições e limites nos quais os efeitos que a disposição produziu são suscetíveis de serem questionados.

As decisões do Conselho Constitucional não são sujeitas a recurso.

Impõem-se aos poderes públicos e todas as autoridades administrativas e jurisdicionais137.

Basicamente a QPC, de acordo com Marc Guillaume, possui três alvos básicos, são eles: o primeiro consiste em proporcionar um novo direito às partes litigantes, de modo que possam alcançar os direitos constitucionalmente protegidos.

O segundo em premover do ordenamento gaulês as normas declaradamente inconstitucionais e o terceiro em fazer valer o caráter supremo na Constituição em âmbito interno138.

Como consequência da reforma constitucional, sempre que o cidadão se vir diante de um processo, seja ele judicial ou administrativo e considerar que a norma posta afronta um direito ou liberdade constitucionalmente protegido, nasce para ele a possibilidade de questionar a disposição legislativa mediante uma questão prioritária de constitucionalidade.

É a Lei Orgânica nº 2009-1523 de 10 de dezembro de 2009, que regulamentou a Lei 2008-724 (Reforma Constitucional) e não especificou a categoria e capacidade daqueles ditos, legitimados para propor uma QPC. Contudo, é importante ressaltar que não se trata de omissão do Legislador, na verdade evidenciar tal atributo, buscou-se assegurar a possibilidade de se tutelar direitos e garantias constitucionais de uma forma mais expandida.

Assim sendo, temos como legitimados para propor uma QPC pessoas físicas de qualquer nacionalidade, não somente o francês, desde que figurem como parte em um processo em curso, as pessoas jurídicas representadas por suas associações e/ou seus sindicatos139.

137 Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/francais/la- constitution/la-constitution-du-4-octobre-1958/texte-integral-de-la-constitution-du-4-octobre-1958-en-vigueur.5074.html

138 GUILLAUME, Marc. La Question Prioritaire de Constitutionnalité. In: Justice et Cassation, revue annuelle des avocats au Conseil d’État et la Cour de Cassation. 2010, p. 01.

139 Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/francais/la-question- prioritaire-de-constitutionnalite/decouvrir-la-qpc/la-question-prioritaire-de-constitutionnalite-par-marc-guillaume.138360.html

Embora ainda não haja um consenso, entende-se que o terceiro interessado poderia eventualmente apresentar uma QPC e não somente se postar a favor ou contra um requerimento já apresentado. Nesse sentido, é pensado também ser o MP um ente legítimo para apresentar um requerimento de uma QPC, muito embora, este órgão pareça ter se abstido desta prerrogativa, pois atua como fiscal da lei e não como um interventor, buscando questionar a constitucionalidade de uma disposição legislativa140.

Uma vez estabelecidos os legitimados, é importante ressaltar o destinatário de uma QPC, pois apesar de ser o Conselho Constitucional o órgão responsável pelo julgamento, ela não pode ser proposta diretamente nesta instância.

De acordo com a Lei Orgânica 2009-1523, a QPC pode ser proposta em todas as instânias, seja ela em âmbito administrativo de competência do Conselho de Estado, seja em âmbito judicial quando a competência pertence a Corte de Cassação, o mesmo se aplica quando tratar-se de processos em grau recurso, tanto no Tribunal Administrativo ou na Corte de Apelação. É o que dispõe o artigo 23-1 da citada lei.

Art. 23-1. - Nos tribunais sob o Conselho de Estado ou do Tribunal de Cassação, o fundamento baseado em que uma disposição legislativa viole os direitos e liberdades garantidos pela Constituição devem ser aceito, apresentado em um separado por escrito e motivado. Tais meios podem ser levantados pela primeira vez no recurso. Ele pode ser iniciado automaticamente.

"Antes de um tribunal sob a Suprema Corte, onde o Estado não é uma parte no processo, o caso é comunicado a ele assim que o meio é levantado para que ele possa fazer suas observações.

"Se o meio é levantado durante a investigação criminal, a instrução mais elevado tribunal é de entrada.

"A média pode ser levantada perante o Tribunal Criminal. Ao chamar a partir de um acórdão do Tribunal Criminal, em primeira instância, pode ser levantada em uma declaração escrita que acompanha a chamada. Esta escrita é imediatamente encaminhada para o Tribunal de Cassação141.

140 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p.14.

141 Art. 23-1 Devant les juridictions relevant du Conseil d'Etat ou de la Cour de cassation, le moyen tiré de ce qu'une disposition législative porte atteinte aux droits et libertés garantis par la Constitution est, à peine d'irrecevabilité, présenté dans un écrit distinct et motivé. Un tel moyen peut être soulevé pour la première fois en cause d'appel. Il ne peut être relevé d'office.

Devant une juridiction relevant de la Cour de cassation, lorsque le ministère public n'est pas partie à l'instance, l'affaire lui est communiquée dès que le moyen est soulevé afin qu'il puisse faire connaître son avis.

Si le moyen est soulevé au cours de l'instruction pénale, la juridiction d'instruction du second degré en est saisie.

Le moyen ne peut être soulevé devant la cour d'assises. En cas d'appel d'un arrêt rendu par la cour d'assises en premier ressort, il peut être soulevé dans un écrit accompagnant la déclaration d'appel.

Cet écrit est immédiatement transmis à la Cour de cassation.

O impedimento imposto ao questionamento diretamente ao Conselho Constitucional, obviamente não se aplica ao Conselho de Estado e a Corte de Cassação.

4.4.2 O Alcance da Questão Prioritária de Constitucionalidade: Das