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183 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 89.

184 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, pp. 90 e 91.

A atribuição máxima do Conselho de Constitucionalidade na apreciação de uma QPC é verificar a compatibilidade da lei atacada com a Constituição. O controle de constitucionalidade nesses casos deve ser mais atenuado visando manter o frágil equilíbrio que existe entre a mitigação de leis que afrontam direitos e garantias constitucionais. Essa espécie de relativização visa evitar o sempre temeroso “governo de juízes”, tão hostilizado pelos franceses.

Diferentemente do Conselho de Estado ou da Corte de Cassação o Conselho Constitucional possui em seu regulamento interno a possibilidade de conhecer de ofício a violação de um direito ou garantia constitucional. Essa previsão visa aperfeiçoar a atuação do órgão no desenvolvimento da apreciação de uma QPC185. Assim o Conselho Constitucional pode analisar uma eventual violação de direito e garantias constitucionais produzidas por uma norma atacada mediante uma QPC, mas que a parte não tenha contestado. Tal possibilidade possui previsão expressa no artigo 7º de seu regimento interno186.

No entando é de fundamental importância não confundir essa prerrogativa do Conselho Constitucional com a proibição do magistrado de primeira instância, em conhecer de ofício requerimento objetivando a apresentação de uma QPC187. Da mesma forma não se pode confundir tal prerrogativa com a possibilidade do próprio Conselho Constitucional conhecer de ofício a disposição legislatica atacada pela QPC, somente a norma de referência188.

O fato de o Conselho Constitucional conhecer de ofício tais questões, não pode ser encarado como uma forma do órgão impor sua supremacia frente ao ordenamento jurídico francês, pelo contrário, essa prerrogativa faz com que este órgão desenvolva em sua plenitude a função de guardião máximo da Constituição, retirando normas legislativas que a afronte189. Além do mais, tal conduta pode beneficiar o requerente que eventualmente pode não se atentar a determinado aspecto inconstitucional da norma de referência que abriga a disposição atacada.

185 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 98.

186 Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/root/bank_mm/QPC/pa038_pa038.pdf

187 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 98.

188 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 98.

189 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 98.

Porém, há que se destacar que nem sempre o conhecimento de ofício proporcionará uma decisão favorável ao requerente, como exemplo tem-se a decisão de 17 de setembro de 2010190.

Ao declarar uma lei em sintonia com a Constituição o Conselho Constitucional pode conferir a essa decisão uma “reserva de intepretação que condiciona a constitucionalidade da lei” 191, isso significa atestar que a lei somente foi analisada conforme a direcionamento apontado pela Lei Máxima. Essa reserva se mostra fundamental, pois o Conselho Constitucional ao verificar a inconstitucionalidade de uma lei, de pronto é expurgada do ordenamento. Essa retirada abrupta pode causar graves consequências ao particular, uma vez que a mesma encontrava-se em pleno vigor gerando todos os efeitos jurídicos192.

A QPC possui o mesmo princípio do controle difuso brasileiro, por exemplo, originando-se de um caso em concreto, porém diferentemente do dispositivo nacional, o instituto francês possui força erga omnes não adminitindo recurso. Uma vez julgada a QPC, sua decisão será remetida ao magistrado originário para que ele dê andamento ao processo principal que se encontra suspenso.

A decisão do Conselho Constitucional proferida em sede de QPC que atesta que a norma atacada é contrária à Constituição, produz grandes consequências no ordenamento, assim cabe ao Conselho proceder à revogação da norma ou modular seus efeitos, conforme artigo 62193 da Constituição Francesa.

As decisões do Conselho Constitucional quando versar sobre uma QPC possui efeito ex nunc, legislador se preocupou com esse critério, pois se fossem considerados os efeitos desde a entrada em vigor da lei, as consequências seriam extremamentes difíceis de serem administradas.

A reforma constitucional de 2008 revolucionou o sistema jurídico francês, por todos os vários motivos já citados, mas também pelo fato da decisão favorável em sede de QPC fazer com que a norma violadora seja expulsa do

190 Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/francais/les- decisions/acces-par-date/decisions-depuis-1959/2010/2010-28-qpc/decision-n-2010-28-qpc-du-17-septembre-2010.49362.html.

191 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 99.

192 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p.99.

193 Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/root/bank_mm/portugais/constitution_portugais.pdf

ordenamento e não somente afastada do caso em concreto, como ocorre no controle de convencionalidade por exemplo. Neste último caso, o afastamento favoreceria somente as partes envolvidas, o que abriria a possibilidade da lei lesar outros indivíduos, quando de sua aplicação em tribunais de instências inferiores.

O instituto da QPC surgiu como um dizimador de dogmas, sobretudo o relacionado à supremacia da Lei e do Legislador. Ao revogar uma lei criada e aprovada pelo Parlamento, o Conselho Constitucional e a QPC transcenderam séculos de uma tradição que temia conferir poderes nessa natureza aos membros do Poder Judiciário, devidos as já conhecidas ingerências cometidas no passado.

Desta forma, o Conselho Constitucional precisou adaptar os efeitos da revogação de uma norma quando da aplicação no caso em concreto194, buscando com isso preservar a segurança jurídica. Preocupado com eventuais questionamentos, ofereceu apenas três semanas para que as autoridades administrativas possam emitir conclusões acerca da inconstitucionalidade da lei.

Para que a decisão de uma QPC que ateste o caráter inconstitucional da norma, esta deve beneficiar a parte que apresentou o questionamento apreciado, assim, no caso de dúvidas sobre os efeitos de tais decisões, tanto no caso de análise, como em outros em curso, a decisão não poderá ser aplicada a partir da data de sua publicação. O Conselho Constitucional demonstrou esse entendimento na decisão proferida em 25 de março de 2011195.

O Conselho Constitucional ao prolatar a decisão de um julgamento de uma QPC deverá atribuir o efeito erga omnes diretamente no corpo da sentença, evidenciando que seus efeitos se irradiam por todo ordenamento e não somente no tribunal que originou o questionamento. Esse poder amplo que modula os efeitos das decisões de questionamento via QPC foi dado pela alteração do artigo 62 da Constituição Francesa, ocorrida com a reforma constitucional de 2008.

Essa possibilidade de modular os efeitos deste tipo de decisão visa proporcionar que outros jurisdicionados se valham da mesma, preenchendo as

194 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 108.

195 Disponível em: http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/francais/les- decisions/acces-par-date/decisions-depuis-1959/2011/2010-108-qpc/decision-n-2010-108-qpc-du-25-mars-2011.95488.html. Decisão na intregra disponível nos anexos desta composição.

lacunas deixadas pelo legislador e ainda impedir que o magistrado constitucional usurpe a função do Legislador196.

O Conselho Constitucional demonstrou a aplicação da modulação de efeitos na decisão da QPC nº 2010-1197 onde revogou a lei violadora e determinou que os magistrados aguardassem pela edição de uma nova legislação, e mais, orientou ao Parlamento que a lei ao ser elaborada fosse aplicável aos lítigios que estavam sendo suspensos.

Segundo Rousseau e Bonnet o Conselho Constitucional alinha suas diretivas com a lei que está sendo apreciada bem como contextualiza os direitos e garantias envolvidos no caso. Este procedimento é aplicado para que a QPC apresentada possa realmente alcançar o fim pretendido198.

No que se refere à modulação de efeitos nas decisões das QPC proferidas pelo Conselho Constitucional, algumas indagações permanecem sem resposta, o Parlamento possui tempo para a elaboração da lei prevista pelo Conselho Constitucional? Sofreria alguma sanção caso não fizesse? E mais, no caso da não elaboração da lei prevista, a lei considerada inconstitucional pelo Conselho Constitucional poderia voltar a ser aplicada sob pena de um risco de lesão ainda maior aqueles que possuíssem processos suspensos?

São questões que a França, como Estado Democrático de Direito recém-modernizado, precisa responder.

5 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL

Caminhando para o final desse estudo, resta a necessidade de traçar breves comentários relativos às semelhanças e diferenças existentes entre o controle de constitucionalidade francês, já estudado e o controle de constitucionalidade brasileiro; sempre objetivando as relações com o particular e a manutenção de seus direitos e garantias assegurados pela Constituição.

196 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 110.

197 http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/francais/les-decisions/acces-par-date/decisions-depuis-1959/2010/2010-1-qpc/decision-n-2010-1-qpc-du-28-mai-2010.48290.html.

198 ROUSSEAU, Dominique. BONNET, Julien. L’essenciel de la QPC. Mode d’emploi de la Question Prioritaire de Constitutionnalité. 2ª ed. Paris: Gualino, 2012, p. 111.