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A nível regional, em consequência de deslocações em grande escala em

O CONCEITO DE REFUGIADO NOS ORDENAMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAL, EUROPEU E PORTUGUÊS

12. A nível regional, em consequência de deslocações em grande escala em

consequência de conflitos armados, o conceito de refugiado acabou por ser ampliado. Esse alargamento foi feito, nomeadamente, pela Declaração de Cartagena48, no que concerne à

América do Sul, e pela Convenção da Organização da Unidade Africana (OUA), no que toca a África. De acordo com esta última:

O termo refugiado aplica-se também a qualquer pessoa que, devido a uma agressão, ocupação externa, dominação estrangeira ou a acontecimentos que perturbem 43 Cfr. artigo 1.º, alínea C, da Convenção de Genebra.

44 Cfr. artigo 1.º, alínea A, n.º 2, e alíneas D e E, da Convenção de Genebra.

45 Cfr. artigo 1.º, alínea F, da Convenção de Genebra. Estas normas têm sido alvo de excepção jurisprudencial, por exemplo, no caso das crianças soldado – cfr. ACNUR, Background note on the application of the exclusion clauses: Article 1F of the 1951 Convention relating to the status of refugees, 2003, parágrafo 92, disponível em

http://goo.gl/DvzKVa. Sobre a alínea F da Convenção de Genebra, cfr., para desenvolvimentos, G. Gilbert, Exclusion under article 1F since 2001: Two steps backwards, one step forward, in V. Chetail / C. Bauloz (eds), Research handbook on internacional law and migration, pp. 519-530.

46 Cfr. D. Weissbordt, The human rights of non-citizens, Oxford: OUP, 2008, p. 159. 47 Cfr. D. Weissbordt, The human rights of non-citizens, p. 164.

48 Adoptada pelo “Colóquio sobre Protecção Internacional dos Refugiados na América Central, México e Panamá: Problemas Jurídicos e Humanitários”, realizado em Cartagena, Colômbia, entre 19 e 22 de Novembro de 1984. A respectiva cláusula 3.ª dita que também devem ser qualificadas como refugiados: “as pessoas que tenham fugido dos seus países porque a sua vida, segurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência generalizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública”. Sobre esta declaração, cfr. A. S. Pinto Oliveira, O direito de asilo na Constituição portuguesa, pp. 68-69.

gravemente a ordem pública numa parte ou na totalidade do seu Estado de origem ou do país de que tem nacionalidade, seja obrigada a deixar o lugar da residência habitual para procurar refúgio noutro lugar fora do seu Estado de origem ou de nacionalidade49.

No que toca à Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH)50, não existe no seu texto

nenhuma norma específica sobre o estatuto dos refugiados. No entanto, alguns dos seus artigos – com relevo particular para o seu artigo 3.º, relativo à proibição da tortura e de penas ou tratamentos desumanos ou degradantes – têm sido interpretados pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), e antes pela Comissão, por forma a oferecer protecção complementar aos requerentes de asilo de duas maneiras. Por um lado, no sentido de aí incluir as razões que dão azo a ‘perseguição’ no sentido da Convenção de Genebra de 195151. Por

outro, limitando as circunstâncias em que o refoulement é excepcionalmente permitido52

através da aplicação do referido artigo – alargando, por outras palavras, o âmbito da proibição de refoulement53.

49 Cfr. artigo 1.º, n.º 2, da Convenção da OUA que rege os aspectos específicos dos problemas dos refugiados em África, adoptada pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo aquando da Sexta Sessão Ordinária (Adis- Abeba, 10 de Setembro de 1969) da OUA (actualmente, União Africana, desde 9 de Julho de 2002). Em 2009, a União Africana adoptou a primeira convenção internacional relativa a pessoas internamente deslocadas: a Convenção da União Africana sobre a protecção e assistência às pessoas deslocadas internamente em África (Convenção de Kampala), tendo entrado em vigor na ordem jurídica internacional a 6 de Dezembro de 2012.

50 Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (modificada nos termos das disposições dos Protocolos n.os 11 e 14), adoptada em Roma, a 4 de Novembro de 1950. Em Portugal, foi aprovada para ratificação pela Lei n.º 65/78, de 13 de Outubro, e o Aviso do Ministério dos Negócios Estrangeiros de depósito do instrumento de ratificação junto do Secretário-Geral do Conselho da Europa foi publicado no Diário da República, I Série, n.º 1/79, de 2 de Janeiro. Sobre a influência da CEDH em matéria de asilo, cfr. Cfr. J. Vedsted-Hansen, The European Convention on Human Rights, counter-terrorism, and refugee protection, Refugee Survey Quarterly, 29:4, 2010, pp. 189-206; A. S. Pinto Oliveira, Direito de asilo, pp. 303-306; Id., O direito de asilo na Constituição portuguesa, pp. 66-67; P. M. Costa, A protecção dos estrangeiros pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem perante processos de asilo, expulsão e extradição: A jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, ROA, n.º 60:I, 2000, pp. 497-541; C. J. Gortázar Rotaeche, Derecho de asilo y ‘no rechazo’ del refugiado, Madrid: Dykinson, 1997, pp. 228-237; T. Einarsen, The European Convention on Human Rights and the notion of an implied right to de facto asylum, International Journal of Refugee Law, 2:3, 1990, pp. 361-389.

51 No caso Vilvarajah, o TEDH declarou que a expulsão de um requerente de asilo por parte de um Estado contratante para um Estado em relação ao qual haja razões substanciais para crer que uma pessoa corre um risco real de submissão a tortura ou tratamento degradante é uma violação do artigo 3.º da CEDH – cfr. caso Vilvarajah and Others v. United Kingdom (Judgment), (1991), Ser. A n.º 215.

52 Cfr. artigos 32.º, n.º 1, e 33.º, n.º 2, da Convenção de Genebra de 1951.

53 No caso Soering, o TEDH decidiu que a extradição de um cidadão alemão para os Estados Unidos da América, onde seria aplicada a pena de morte, violava o artigo 3.º da CEDH – cfr. caso Soering v. United Kingdom (Judgment), (1989), Ser. A n.º 161. No caso Chahal, por seu turno, o Governo britânico argumentou pela existência de uma restrição implícita ao âmbito de aplicação do artigo 3.º da CEDH caso a expulsão de um indivíduo, mesmo para um local onde este pudesse vir a sofrer tratamento degradante, fosse necessária face a exigências de segurança nacional. O TEDH rejeitou este argumento, tendo entendendido que “[t]he prohibition provided by Article 3 against ill-treatment is equally absolute in expulsion cases. Thus, whenever substantial grounds have been shown for believing that an individual would face a real risk of being subjected to treatment contrary to Article 3 if removed to another State, the responsibility of the Contracting State to safeguard him or her against such treatment is engaged in the event of expulsion. […] In these circumstances, the activities of the individual in question, however undesirable or dangerous, cannot be a material consideration. The protection afforded by Article 3 is thus wider than that provided by Articles 32 and 33 of the United Nations 1951 Convention on the Status of Refugees” – cfr. caso Chahal v. United Kingdom (Judgment), (1996), Appl. n.º 22414/93, parágrafo 80.

§ 3.º – O conceito de refugiado no ordenamento jurídico europeu 3.1. Considerações introdutórias

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