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Centrando a atenção nas normas constitucionais que prevêem o direito

O CONCEITO DE REFUGIADO NOS ORDENAMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAL, EUROPEU E PORTUGUÊS

27. Centrando a atenção nas normas constitucionais que prevêem o direito

fundamental de asilo, podem adiantar-se as seguintes notas breves:

(i) Enquanto o n.º 8 contém o recorte pessoal do direito de asilo, o n.º 9 remete para a lei a determinação do estatuto jurídico que lhe é aplicável – isto é, a concreta estruturação do regime jurídico em questão, com particular enfoque nos seus direitos e deveres139;

não tem qualquer equivalência no enunciado normativo do artigo da Constituição portuguesa. Sobre o asilo naqueloutras ordens jurídicas (alemã, italiana e francesa), cfr. A. S. Pinto Oliveira, idem, pp. 104-115; para uma síntese comparativa, cfr. pp. 121-125. Para uma lista de várias Constituições estrangeiras que consagram o direito de asilo, cfr. J. Miranda, Direito de asilo e refugiados na ordem jurídica portuguesa, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2016, pp. 31-324; Id., Manual, III4, p. 2651.

135 Cfr. artigo 22.º da Constituição de 1976. Para as respectivas fontes nos projectos de Constituição apresentados à Assembleia Constituinte, cfr. J. Miranda, Manual, III4, p. 2653.

136 Cfr. artigo 17.º da Lei constitucional n.º 1/82, de 30 de Setembro.

137 Cfr. J. de Melo Alexandrino, A estruturação do sistema de direitos, liberdades e garantias na Constituição portuguesa, I, Coimbra: Almedina, 2006, pp. 663-664, 681; trata-se, contudo, ao mesmo tempo, de uma ampliação ou reforço de um direito já enunciado, e não (apenas) uma verdadeira aquisição do catálogo. Sobre os projectos então apresentados quanto a esta concreta questão, cfr. A. S. Pinto Oliveira, O direito de asilo na Constituição portuguesa, p. 121243; sobre o impacto da 1.ª revisão constitucional no sistema de direitos fundamentais, cfr., por todos, J. de Melo Alexandrino, idem, 654-706.

138 Cfr. A. S. Pinto Oliveira, O direito de asilo na Constituição portuguesa, p. 75.

139 J. J. Gomes Canotilho / V. Moreira, Constituição da república portuguesa anotada, I4, Coimbra: Coimbra Editora, 2007, p. 537. Trata-se, assim, de uma norma constitucional preceptiva não exequível por si mesma (ou norma de eficácia diferida) – cfr. C. Blanco de Morais, Curso de direito constitucional, II-2, Coimbra: Coimbra Editora, 2014, pp.

(ii) Apenas os estrangeiros e apátridas podem beneficiar de asilo político140; o

conceito de estrangeiro é geralmente definido negativamente: é estrangeiro quem não é nacional de um determinado Estado, seja porque tem outra nacionalidade, seja porque não tem nenhuma, ou seja, é apátrida141;

(iii) Da consagração constitucional do direito de asilo decorrem para o refugiado: um direito subjectivo a requerer o asilo, um direito a permanecer no território nacional na pendência do pedido e, estando preenchidos os respectivos pressupostos, um direito a exigir do Estado português a protecção devida; desta protecção decorre um direito do estrangeiro a não ser enviado de volta para o Estado que o persegue (princípio do non refoulement)142, só podendo ser

afastado do território nacional pelos mesmos procedimentos que tenham por destinatário qualquer cidadão que se encontre legitimamente em território nacional143;

(iv) Para o Estado português, decorre um dever de formular um juízo de prognose sobre se o estrangeiro pode regressar em segurança ao Estado de origem144 e

de, não sendo esse o caso, garantir o asilo, assim se abstendo de exercer alguns dos seus poderes relativamente a estrangeiros, como o de livre admissão e o de expulsão de quem se encontre ilegalmente no território145;

(v) Note-se, no entanto, que se trata, da perspectiva do direito internacional, primariamente de um direito potestativo do Estado português a conceder asilo a qualquer estrangeiro que se encontre em território português146;

539-541; J. Miranda, Manual de direito constitucional, II7, Coimbra: Coimbra Editora, 2013, pp. 304-306; M. Nogueira de Brito, Lições de introdução à teoria da Constituição, Lisboa: s. n., 2013, pp. 144-148.

140 J. J. Gomes Canotilho / V. Moreira, Constituição, I4, p. 537.

141 Cfr. M. J. Rangel de Mesquita, Os direitos fundamentais dos estrangeiros, pp. 11-48; R. Moura Ramos, Estrangeiro, in Id., Da comunidade internacional e do seu direito. Estudos de direito internacional público e relações internacionais, Coimbra: Coimbra Editora, 1996, pp. 117-124. Notando igualmente que os apátridas são estrangeiros, cfr. P. Soares Martinez, Comentários, p. 31. No entanto, por razões pedagógicas – isto é, para ficar claro que os apátridas gozam dos mesmos direitos que os estrangeiros que têm outra(s) nacionalidade(s) –, a Constituição apresenta-os dicotomicamente. Sobre o conceito de imigrante, cfr. C. Amado Gomes / A. Costa Leão, A condição de imigrante. Uma análise de direito constitucional e de direito administrativo, Coimbra: Almedina, 2010, pp. 21-34; distinguindo-o do de refugiado, cfr. J. Miranda, Direito de asilo e refugiados, p. 10.

142 D. da Cunha, sub artigo 33.º, in J. Miranda / R. Medeiros, Constituição portuguesa anotada, I2, Coimbra: Coimbra Editora, 2010, p. 754; A. S. Pinto Oliveira, O direito de asilo na Constituição portuguesa, pp. 98-102, 117- 121; J. J. Gomes Canotilho / V. Moreira, Constituição, I4, p. 536. Sobre a natureza de direito subjectivo do asilo, cfr., por exemplo, Acórdãos do Tribunal Constitucional n.os 962/96, 338/85, 339/95 e 340/95. Para a caracterização da proibição de refoulement como uma norma de ius cogens, cfr., entre nós, A. L. Riquito, The public/private dichotomy in international refugee law, pp. 403-408; para um enquadramento geral, cfr. R. Wallace, The principle of non refoulement in international refugee law, in V. Chetail / C. Bauloz (eds), Research handbook on internacional law and migration, pp. 417-436.

143 D. da Cunha, sub artigo 33.º, in J. Miranda / R. Medeiros, Constituição, I2, p. 754.

144 A. S. Pinto Oliveira, Algumas questões sobre os pressupostos do reconhecimento de protecção internacional, p. 351; Id., O direito de asilo na Constituição portuguesa, p. 133.

145 Cfr. D. da Cunha, sub artigo 33.º, in J. Miranda / R. Medeiros, Constituição, I2, p. 754; A. S. Pinto Oliveira, O direito de asilo na Constituição portuguesa, pp. 95-96, 128-129.

146 Cfr., inter alia, R. Boed, The state of the right to asylum in international law, Duke Journal of International and Comparative Law, 5:1, 1994, pp. 3-14. Sobre o requisito relativo à presença do estrangeiro em território português, cfr. A. S. Pinto Oliveira, O direito de asilo na Constituição portuguesa, pp. 140-145.

(vi) Apesar da originalidade do conceito de asilo plasmado na Constituição portuguesa, a falta de jurisprudência constitucional tem deixado por esclarecer importantes aspectos do tratamento constitucional da matéria147.

(vii) Da Constituição decorrem ainda uma dimensão constitucional objectiva de protecção dos valores constitucionais da “democracia, da libertação social e nacional, da paz entre os povos, da liberdade e dos direitos da pessoa humana”148.

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