• Nenhum resultado encontrado

A “Narração dos factos”: os índios, os africanos e os europeus

SYNTHESE DOS CAPÍTULOS DA SECÇÃO II DA TERCEIRA PARTE LXIX – 1.Estados Unidos da América do Norte – Washington dirigiu a

2. Um livrinho: para a inteligência das crianças e dos homens simples do povo

2.1 A “Narração dos factos”: os índios, os africanos e os europeus

Além da diminuição da massa de dados, da seleção de fatos históricos que criavam uma história epopeica, havia, como demonstra Alexandra Lima da Silva, uma intensa preocupação com a narrativa dos acontecimentos da história. Segundo a autora, a narrativa histórica nos manuais e compêndios didáticos era “entendida como, uma ‘narrativa’ comprometida com a ‘verdade’, com os ‘fatos’, os ‘episódios’ da história e as ‘biografias’ de personagens célebres da história”613. Se havia essa concordância entre os autores no que se referia à narrativa o mesmo não acontecia no que dizia respeito à relação a proximidade/distanciamento do tempo narrado e aquele em que viviam. Assim, dentre muitos

livros produzidos nas primeiras décadas do século XX, alguns tinham como prerrogativa manter o afastamento entre passado e presente. Esse era o caso, por exemplo, das obras de João Ribeiro para quem o livro didático estarva destinado “ao esquecimento das paixões do presente e à glorificação da nossa história”614. Outros seguiam no sentido totalmente

contrário, como Afranio Peixoto para quem o ensino de história tinha um papel cívico e deveria partir exatamente das demandas do presente, buscando no passado suas origens

A educação civica ha de ser feita com o conhecimento da causa, as razões do patriotismo, buscadas nas origens e nas tradições, continuadas na historia da formação nacional, alcançando o período em que vivemos, no qual, depois da emancipação política procuramos uma emancipação economica, bem mais difícil de conseguir.

Para educar, isto é, conduzir, socialmente os futuros brasileiros, parece não deveria haver outro caminho, além deste, da verdade honestamente procurada e dita com franqueza. Só ella dá forças para a acção e emprega bem a confiança, indispensáveis à victoria na vida615.

Outros relacionavam feitos, fatos e ações do passado à vida cotidiana em sua contemporaneidade, muitas vezes comparando passado e presente como forma de melhor fazer compreender ou mesmo de criar aproximações e afastamentos entre seu leitor e seu objeto de análise. Esse é o caso de Rocha Pombo como podemos verificar na lição XV – Como se vivia nas villas:

As villas e cidades, naqueles tempos, não eram como hoje.

Além de mal construidas as casas, eram muito tortas as ruas, não eram calçadas, nem tinham illuminação.

Por isso, de noite quase nunca sahiam os moradores; e quando sahiam, levavam sempre adeante um rapaz com uma lanterna, ou mesmo com um facho acceso. Sem isso correriam o risco de andar, no escuro, encontrando bois e cavalos, a não serem os parentes muito chegados, no seio da familia não se recebia ninguem. E até, quase sempre, os proprios parentes só se viam na igreja, aos domingos, à hora da missa.

As mulheres viviam quase fechadas no interior das casas, cuidando dos serviços domesticos.

Esses serviços eram, então, mais penosos do que hoje. As mulheres tinham que fazer toda a roupa da familia.

É verdade que as roupas não eram muitas. Os homens usavam apenas calção, (ou ceroulas), camisa e, quando muito, jaqueta.

Os que podiam, em dias de festa, usavam por cima da jaqueta, ou mesmo da camisa, uma capa. Só as grandes pessoas é que tinham roupa melhor.

As mulheres usavam saias curtas e camisas ou corpetes. As saias eram quase sempre duas, uma de baeta e outra de algodão.

Quando tinham de sahir, por cima do corpete punham o chale.

As creanças, até os cinco ou seis annos, andavam núas; os meninos, até quase moços só usavam camisola.

614 RIBEIRO, João. Historia do Brasil. Para uso das escolas e dos Lyceus. Rio de Janeiro: Editor Jacinto Cruz

Coutinho. 1900. Apud.: Idem, pp. 93.

Mas, si as roupas eram poucas, deviam, ainda assim, custar muito a fazer, porque eram feitas a mão. Não havia, como hoje, machinas de costura. E era preciso ainda fazer o proprio panno, tecendo a lã e o algodão em pequenos teares, pois o pouco panno que vinha da Europa era muito caro.

Além de tudo isso que as mulheres tinham de fazer para toda a familia, os trabalhos da cozinha eram mais difficeis.

Não havia na casa agua encanada. Era preciso ir buscal-la à fonte.

Não havia fogões. Fazia-se fogo de lenha debaixo de uma trempe de ferro; e sobre essa trempe punha-se a pannella de barro.

Não havia phosphoros; e era preciso conservar o fogo sempre acesso. Chamava-se mesmos – guardar o fogo.

Quando este se apagava, era preciso pedir fogo ao vizinho. Dahi se vê como era custosa a vida para as familias.

Mas também e certo que as donas de casa contavam com o auxilio das escravas; e quase sempre não tinham mais que o trabalho de as governar.

Os homens, durante o dia, andam fóra de casa.

Quando permaneciam em casa, ou estavam comendo, ou dormindo nas redes. Almoçavam muito cedo; jantavam ao maio dia, e ceavam à noite.

Fóra de casa, os homens tratavam de seus negócios, ou das coisas da villa. Eram raros homens que sabiam ler e escrever. Não havia escolas.

Quando muito, haviam o que se chamava – mestres pagos – isto é, pessoas que ensinavam a ler cobrando alguns vintens por mez de cada alumno. Não era pouco, sempre naqueles tempo um vintem valia muito.

Por isso usava-se, então, assignar de cruz, isto é, a pessoa fazia no papel uma cruz, e um outro, que soubesse, escrevia-lhe o nome adeante da cruz616.

Alexandra Lima da Silva analisa dois excertos do trecho acima617 para demonstrar como Rocha Pombo constrói um quadro em que a vida cotidiana passada é vista em contraponto com aquela do período em que escreve618, o que fica bastante claro no decorrer de toda a obra. Contudo, esse é apenas um aspecto da forma como Rocha Pombo faz a aproximação entre o passado e o seu presente, análise da lição XV, como um todo, permite verificar muito mais. O autor usa elementos da vida cotidiana, tratando de coisas que são próximas ao seu público, como a vestimenta, o cozinhar, o papel da mulher e do homem dentro e fora de casa, a escola e o analfabetismo para construir a imagem de evolução pela qual o Brasil passou. No quadro que apresenta, a sociedade do passado é muito diferente da atual, ela não tem a modernidade – encanamento, fósforos, máquinas, escolas etc. –, a vida fazia-se muito mais dificultosa. A presença dos usos e costumes cotidianos desmonta a ideia corrente de que os compêndios do início do século XX, herdeiros da dita tradição positivista, descrevem apenas grandes fatos associados a grandes nomes. A história se interessa também

616 POMBO, José Francisco da Rocha. Nossa Pátria... Op. Cit., 1922, pp. 45-49.

617 A autora utiliza em sua análise os trechos: “As mulheres viviam quase fechadas no interior das casas,

cuidando dos serviços domesticos. Esses serviços eram, então, mais penosos do que hoje. As mulheres tinham que fazer toda a roupa da familia. É verdade que as roupas não eram muitas. Os homens usavam apenas calção, (ou ceroulas), camisa e, quando muito, jaqueta” e “As creanças, até os cinco ou seis annos, andavam núas; os meninos, até quase moços só usavam camisola. Mas, si as roupas eram poucas, deviam, ainda assim, custar muito a fazer, porque eram feitas a mão. Não havia, como hoje, machinas de costura. E era preciso ainda fazer o proprio panno, tecendo a lã e o algodão em pequenos teares, pois o pouco panno que vinha da Europa era muito caro”. SILVA, Alexandra Lima da.Op. Cit., pp. 94.

pelo miúdo, pelo corriqueiro, pelo cotidiano. Para compor o contraste entre o moderno, a tecnologia que facilita a vida, e aquilo que se fazia cotidiano, Rocha Pombo traz para seu texto personagens, que mesmo despersonificadas nas figuras dos homens, mulheres e crianças anônimos, permitem a criação delaços de identidade, de solidariedade e também de afastamento entre aqueles que leem o livro e aqueles ali se encontram descritos. Nesse sentido, a mulher do período colonial pode ser comparada com qualquer mulher do presente e a conclusão dessa comparação será sempre a de que a vida nos dias atuais é muito melhor para as mulheres que os tempos coloniais e essa nova condição de vida é dada pelo fato de a pátria ter evoluído para uma nova realidade.

Fica claro também ao se analisar a lição o conceito evolucionista de história, com que Rocha Pombo lida desde seus, primeiros livros históricos. Aqui é possível verificar uma ideia de aperfeiçoamento da humanidade, em que o presente é necessariamente superior ao passado, que dialoga diretamente com as referências teóricas de Rocha Pombo, aqui já apresentadas. Outra coisa passível de ser observada a partir da lição XV é atendencia à generalização. Ainda observando a vida cotidiana da mulher, o que o texto de Rocha Pombo apresenta é uma mulher trabalhava muito mais porque a vida era mais difícil, mas que ao mesmo tempo esse trabalho não se fazia uma realidade, já que as mulheres possuíam escravas que eram quem efetivamente trabalhava. Aqui há dois aspectos importantes a serem observados: o primeiro a generalização do ter escravos, como se todas as mulheres brancas tivessem escravas no serviço doméstico o que de certa forma apaga a existência de homens e mulheres livres pobres, sem escravos; o outro é a demarcação de espaços específicos para os dois grupos étnicos, as mulheres, senhoras brancas, responsáveis pela casa e pelos serviços domésticos e as escravas, negras quem efetivamente realizavam o serviço doméstico.

Esse trecho leva a pensar o que dessa descrição da vida cotidiana colonial repercutia nas crenças infantis, que impressões e certezas provocavam. De forma mais direta poderiam produzir impressões como: a vida melhorou muito, hoje temos muitos mais benefícios dados pela modernidade e industrialização, a escravidão tinha um bom aspecto uma vez que a existência de escravos tirava a carga de trabalho das donas de casa. Por outro lado, também leva à indagação do quanto os papeis apresentados para os indivíduos ali descritos podiam ter se modificado ou se mantido na vida cotidiana dos leitores de Nossa Patria em seus 53 anos de permanência no ensino básico brasileiro: a senhora continuava dentro de casa? O homem ainda era o provedor e saia ao trabalho? A negra ainda estaria na cozinha agora como empregada doméstica?

É possível ainda imaginar que para uma grande parte da população as respostas a essas questões seriam positivas, sim para as mulheres brancas, de classe média e alta era esperado que se mantivessem dentro de casa, cuidando dos filhos enquanto os maridos saiam para trabalhar, manter e prover a casa e a família. Nessa tarefa ainda árdua, mas muito facilitada pela modernidade a mulher sempre seria auxiliada pela empregada doméstica, facilmente identificada na negra, depois na nordestina.

Essa relação passado/presente poderia aproximar leitor e leitura, mas também construir ou perpetuar a ideia de que existem papeis sociais fixos, assim como reforçar a desigualdade e a ideia de que existem diferença e inferioridade naturais e imutáveis entre as pessoas. Tais ideias são bastante claras na obra de Rocha Pombo, como já foi verificado em suas obras mais extensas e que serão reforçadas, como o papel de cada uma das raças, em Nossa Patria.

Rocha Pombo dedica uma lição para cada uma das três raças que constituíram a nação brasileira. Assim índios, africanos e europeus são apresentados chamando a atenção para alguns aspectos de sua cultura material, de seu cotidiano, origens e principalmente para o papel que desempenharam na formação da nação. O primeiro grupo a ser apresentado é o dos indígenas. Em lição anterior Rocha Pombo estabelecera o início do povoamento da colônia por Martim Afonso de Souza, dizendo que aqui já se encontravam populações de outra raça, os índios, mas que eles “ainda estavam muito atrasados quanto à civilização”619. Destaca ainda a forma como viviam, chamando seus agrupamentos de tribus, descritas como grupos de famílias em que todos eram aparentados do chefe, que viviam todos juntos como irmãos, em tabas, alimentando-se do produto de sua coleta, caça, pesca e do cultivo da mandioca. A relação entre passado e futuro é estabelecida em vários momentos como ao descrever os instrumentosfabricados pelos indígenas que continuariam a ser utilizados pelos pescadores e habitantes de sítios620.

A inferioridade dos indígenas está posta em Nossa Patria no reforço de sua falta de civilidade e em sua condição de selvagens. São descritos como supersticiosos por temerem aos elementos da natureza e como muito belicosos, algo bastante comum entre os selvagens:

Quando viajavam no sertão, os homens iam sempre adeante, para defender, de algum inimigo ou de alguma féra, as mulheres e creanças que iam atrás.

Mas entre uma nação e outra, quase sempre havia questões e brigas. Por isso ficaram os indios, afinal muito dados à guerra.

Entre selvagens isso era natural.

619 POMBO, José Francisco da Rocha. Nossa Pátria... Op. Cit. 1922, 26-29. 620 Idem, ibidem.

Só o homem civilizado é que confia mais na razão que na força, e resolve tudo pelo direito e não pelas armas621.

É exatamente o contraponto entre o que era “natural” aos selvagens e o que somente o que o homem civilizado poderia ter como característica que estabelecia a diferença entre o indígena e o europeu que apareceria duas lições depois e que colocaria o último em estado de superioridade. Um ponto importante a ser destacado sobre o indígena de Rocha Pombo é que o índio é único, não há distinção de etnias, línguas, costumes – ele é uma categoria única, imutável como a natureza.

O segundo elemento a ser apresentado é o africano. Rocha Pombo inicia sua lição dizendo que o rei de Portugal, ao desejar uma rápida colonização do Brasil, concedeu terras a todos aqueles que desejassem aqui se estabelecer, mas que os colonos ao receberem extensas propriedades não tinham como nelas produzirem e precisavam de mão de obra para a lavoura. Esse problema teria levado os colonos a chamarem os índios ao serviço, mas estes acostumados a viverem aqui, sempre livres e sem trabalhar não se adaptaram, gerando guerras entre os dois grupos

Cuidaram, então, os colonos de trazer para aqui gente da Africa.

Esta gente era também selvagem como os indios, e viviam lá quase como os indios viviam aqui.

Apenas os africanos não eram livres como os indios; tinham os seus reis, chamados

sobas, que com eles eram muito cruéis.

Aquelles reis vendiam gente como si fosse gado.

Sabendo disso, os nossos colonos mandavam lá comprar quantos queriam para os ajudarem nas plantações622.

Dessa forma, a introdução da escravidão no Brasil novamente se apresenta como uma simples solução para o problema de mão de obra, como uma consequência da prática pré-existente na África, fruto das relações bárbaras estabelecidas entre os sobas623 e aqueles a

621 Idem, Ibidem. 622 Idem, 30-33.

623 Sobas eram individuos que faziam governavam certos territórios em Angola, operavam como governadores e

faziam parte da corte do principal rei da região: “O reino do Ndongo tinha como principal sobrano o ngola, que por sua vez dividia seus territórios em sobados, governados por homens que faziam parte de sua corte, chamados sobas. Os sobas possuíam séquitos, nos quais cada personagem desempenhava papel bem determinado na política do sobado (...) Em 1671, com a derrota da batalha de Pungo Andongo, o Ndongo perdeu sua autonomia para os portugueses, passando a ser chamado de Angola. Apesar da interferência portuguesa, o território do Ndongo continuou a ser governado pelo ngola que transferia grande parte do poder político aos sobas que, por sua vez, administravam com grande autonomia suas possessões territoriais. Esses chefes foram personagens fundamentais para a condução dos projetos políticos portugueses, já que exerciam as funções de intermediários e de grandes fornecedores de escravos destinados ao comércio atlântico. Cabia aos sobas a função de permitir ou proibir a presença de estrangeiros em determinados territórios e principalmente a passagem das caravanas, viabilizando, ou não, o desenho de rotas comerciais e de comunicação entre as regiões de captação do interior,

quem dominavam. De forma simples e direta, as considerações a que chegara Rocha Pombo sobre as sociedades africanas são apresentadas ao seu público leitor como fatos cotidianos generalizados para toda a África, assim como são replicadas algumas qualidades dos africanos para cá expatriados:

O africano é preto por causa do clima da Africa, que é muito quente; mas é uma raça muito boa, principalmente de muito bom coração.

Trabalhadores, obedientes e muito espertos, os africanos fizeram muito pelo progresso do nosso paiz.

Sofferam bastante sahindo lá do meio dos seus; e às vezes o sacrificio para eles era tão grande que chegavam a morrer de saudade.

Afinal a raça foi recompensada, pois os descendentes daqueles pobres escravos hoje são iguaes aos antigos senhores, e sem duvida muito mais felizes do que os parentes que ficaram lá na Africa.

Em todos os paizes da America, e até na Europa, se fez isto. Mas, felizmente, a escravidão passou, e para sempre. Hoje, somos todos como irmãos624.

A forma como a escravidão é apresentada, acaba por apagar sua violência, uma vez que a o sofrimento aqui apontado não está na perda da liberdade ou nas várias formas que a prática assumia desde o apresamento do indivíduo até o fim do cativeiro, mas sim no deixar os seus, na saudade que levava o africano à morte. A leitura da escravidão como algo positivo também é mantinda, na forma da recompensa que os descendentes dos escravos recebem ao se tornarem iguais aos antigos senhores e por poderem viver entre os brancos como se fossem irmãos.

Finalmente, o terceiro elemento é o europeu, apresentado por Rocha Pombo nos seguintes termos:

Os europeus

Os portugueses, e também outros europeus, começaram a vir para o Brasil desde cedo.

Quando Martim Affonso chegou à ilha de S. Vicente, já encontrou ali alguns portugueses, entre os quais um, chamado João Ramalho, que se dera muito bem com os indios, e que vivia respeitado entre eles desde muitos annos. Casára com uma india de nome Bartira, filha de um chefe; e deixou grande descendência.

Tambem na Bahia, os primeiros portugueses, que ali se foram se estabelecer, encontraram um patricio, Diogo Alvares, que os indios apelidaram Caramuru. Este, segundo se conta, tinha naufragado perto da costa, e pudera, salvar-se com alguns companheiros.

Os companheiros foram quasi todos mortos pelos indios, mas Diogo livrou-se da morte devido a huma esperteza de que usou.

até o litoral”. Cf.: CARVALHO, Flávia Maria de. Os homens do rei em Angola: sobas, governadores e capitães

mores, séculos XVII e XVIII. Tese de Doutorado. Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2013, pp. 17- 19.

Conseguira salvar do naufrágio, e trazer comsigo, para a terra, uma espingarda com um pouco de polvora e chumbo; e, deante dos indios, matou com um tiro um pássaro que voava a certa distancia.

Os indios ficaram muito assustados ouvindo o tiro, e deram a Diogo o nome de

Caramuru, que quer dizer – senhor do raio.

E por isso ficaram com muito medo daquele homem e, em seguida, querendo-lhe muito bem, porque elle os ajudou nas guerras e lhes ensinou muitas coisas.

Casou elle depois com uma rapariga muito bonita, chamada Paraguassú, filha do chefe Itaparica; e ajudou muito os portugueses quando estes foram colonizar a Bahia.

Mas, a vinda de europeus para o Brasil aumentou muito, depois que Martim Affonso fundou a primeira villa.

Não demorou que muitos outros pontos da costa fossem povoados 625.

A lição sobre os europeus difere das duas anteriores, por não apresentar um texto que busque fazer conhecer esse elemento, mas descrever algumas histórias bastante difundidas sobre os primeiros contatos entre portugueses e indígenas. Mais uma vez o europeu não precisa ser descrito ou explicado para o público leitor. Ele se faz conhecido e reconhecido, não apenas no resto da obra, mas na vida cotidiana da nação. Além disso, são espertos e engenhosos e ensinam aos outros povos mais atrasados uma série de coisas, são eles que personificam a civilização e conduzem, por meio da racionalidade, os dois elementos inferiores rumo ao progresso626. É interessante destacar que nessa lição em vez da descrição do europeu o que encontramos é uma personalização em formas de personagens conhecidos e