• Nenhum resultado encontrado

A análise permitida pela documentação disponível demonstra que desde a sua primeira experiência editorial, com seu O Povo – órgão a serviço da causa popular, José Francisco da Rocha Pombo apresentava-se como um homem bastante informado sobre as discussões políticas recorrentes na capital do império, e que tentava por meio da escrita informar, mas também “ilustrar”131 aos cidadãos da pequena Morretes, alertando-os sobre os

males da monarquia e principalmente, sobre a falta da liberdade que ela trazia para a população. Um exemplo de sua busca por informar e esclarecer aos seus conterrâneos e também por criticar a ação do Imperador, em apoio ao movimento republicano, é encontrado no número seis de seu semanário, de 19 de fevereiro de 1880:

Já está frio o sangue derramando ao redor do palácio imperial. O que ignoramos e o que ninguem nos saberá ainda affirmar é si o sangue que galopa nas veias dos patriotas que escaparão do holocausto estará hoje completamente arrefecido e calmo... Agora, quando as tropas, os arcabuzeiros sanguisedento do rei, não mais trancão as ruas da corte, apparece a verdade dos fatos.

O imperador quíz fazer crer que, no dia 3 de janeiro, ignorava inteiramente o que se passava em sua capital.

Mostrou a sua proverbial finura lançando ou pretendendo lançar exclusivamente à conta do ministerio a responsabilidade das scenas de horror representadas na imperial cidade pelos capangas e esbirros da policia.

Que inocência mostra S. Magestade imperial perante o povo espezinhado! Quanto não vai ahi de perfídia e hypocrisia!

Quanta ousadia de um homem irrogada zombeteiramente à face de dez milhões de entes que também pensão!

Analysemos perfunctoriamente a mentirada audaciosa do imperador, o despejo, a desvergonha de seus lacaios.

O conflito que se deo entre o povo e a tropa era de prever desde que foram anunciados os meetings, a julgar pelo capricho absolutista ou pelo absolutismo caprichoso do Sr. D. Pedro e desses cynicos palacianos que se expõem, com cara de

riso, aos escarneos da nação inteira.

Desde o dia 29, se annunciavão meeting no campo de Sant’Anna.

O povo não tomou esta atitude em frente dos abusos do poder por ceder a um desejo de provocar as iras, as vinganças e perseguições imperiais, não.

O povo supunha ainda que o imperador e seus servidores aprendem e se corrigem de dia em dia. O povo brasileiro é muito prudente, é muito pacifico e longanime vai exprerimentando o seu rei pouco a pouco, a ver quando elle se quer tornar bom e generoso... (sempre com decepções pelas ventas... mas sempre paciente!...)

Está pois mais que justificada a conducta do povo. Os ministros do Sr. D. Pedro acalcanhavão os pobres com um imposto vexatorio e o unico recurso legal que restava a essas pobres era representarem contra o absurdo.

Como dissemos – desde o dia 29 de Dezembro de 79 se anunciavão meetings no campo de Sant’Anna, com o fito de representar contra a maneira vexatoria por que estava o governo disposto a cobrar o imposto de transito. Entretanto S M o Imperador chega a declarar que não tinha sciencia de taes acontecímentos.

Então o nosso rei nao tem ouvidos para perceber os gritos do povo em frente de seu palacio?

Então o nosso rei ignorava tao grave acontecimento que agitava a grande cidade de seus avós?

Então nosso rei nem ao menos lê as gazetas do dia?

Nesse caso não pode governar um povo; é um Ninias, é um Sardanapalo incapaz de impunhar dignamente um sceptro...

Como vamos nós!... Como se devassão cada vez mais os labyrintos da politica do rei! Como se desprendem, sem maís escrupulo, as audacias de D. Pedro!

E o que ficamos sendo na accepeção imperialista? Que papel cabe ao povo nas cassoadas do Sr. D. Pedro de Alcantara?

O horror da nossa condição social se desnuda!...

A coroa significa bem a nenhuma importância o desprezo com que olha os Sinimbus descarregando-lhes toda a culpa dos conflitos do vintem... e esses Sinimbus teem ainda a coragem de apaprecer ao povo, como cacheiros d’aquele que os vilipendia! Estamos completamente perdidos...Cada vez mais descemos...

A desvergonha dos aulicos, dos Sinimbus será a desgraça passageira deste povo, mas as lagrimas da pobreza e da ignorância que gemem serão a maldição eterna dos vissicarios que assassinam, roubam e se envilecem por amor ao rei...132

Nesse pequeno artigo chamam a atenção três elementos. O primeiro diz respeito à escrita e algumas referências clássicas utilizadas por Rocha Pombo, o segundo é a questão política colocada e o terceiro é o papel não apenas informativo do texto, mas principalmente instrutivo e esclarecedor do que seria o povo brasileiro. Quanto ao primeiro, pode-se questionar quais as intenções em trazer para o texto referências de reis assírios comparando D. Pedro II a eles, e o quanto essas referências poderiam ser compreendidas pelo seu público leitor.

Imaginemos a Morretes dos anos 1880, uma pequena cidade localizada próxima ao litoral da então província do Paraná – uma província em que se destacava economicamente a produção de erva mate e que consumia produtos vindos do Rio de Janeiro e São Paulo133. Morretes, segundo Elmano Cardim, era um centro econômico de projeção na província, desfrutando de um ambiente de prosperidade e progresso. Era ainda um berço da ilustração e da cultura paranaense, na medida em que ali nasceram importantes expoentes das letras como: Silveira Neto, Romário Martins, Ricardo de Lemos, José Gelbck, Adolfo Werneck, aos quais podemos ainda agregar o principal expoente do simbolismo paranaense Nestor Victor, que se tornaria nos anos vindouros amigo de Rocha Pombo, oriundo da cidade vizinha Paranaguá134. A prosperidade de Morretes se dava, ainda segundo Elmano Cardim, por ser ela essencial para o escoamento da produção ervamateira, uma vez que a estrada de ferro que ligaria Curitiba ao litoral só seria construída em 1885. Até a construção da estrada de ferro a produção de erva mate descia pelo rio Nhundiaquara em grandes batelões, era embarcada para o litoral, Antonina e Paranaguá, e dali para os mercados do Prata135. Essa posição estratégica dava à

região influência e proporcionava a grande circulação de ideias e de informações, o que talvez explique o fato dela ser considerada, de forma um tanto exagerada, por Cardim como o berço da intelectualidade paranaense.

Apesar dessa prosperidade é possível imaginar também, que a maioria da população fosse analfabeta e que mesmo entre os leitores os níveis de erudição não seriam altos. Desta feita, Rocha Pombo, filho de Morretes, conhecia seu público e mesmo assim utiliza referências aos reis assírios Nínias e Sardanapalo (Assurbanipal), pretendendo que seu

132O Povo – órgão a serviço da causa popular.Morretes, n. 6, 19/02/1880, pp. 1-2. 133 QUELUZ, Gilson Leandro. Op. Cit., pp. 15-18.

134 CARDIM, Elmano. Op. Cit. pp. 5. 135 Idem, pp.07.

público leitor identificasse em D. Pedro II características negativas atribuídas aos reis da antiguidade: ociosidade, descaso com o reino e indolência136. Assim, cabia ao público relacionar as atitudes do Imperador que fechava os olhos aos problemas do povo, que preferia encastelar-se e ignorar aquilo que ocorria embaixo de sua janela e pressupor que os reis assírios possuíam as mesmas características.

Outra possibilidade é a de que Rocha Pombo utilizara-se de tais referências não esperando que seu público as compreendesse, mas para demarcar em seu texto a sua erudição e conhecimento. Dessa forma, seu papel de homem letrado e ilustrado fica marcado e registrado no próprio texto, demonstrando ao seu leitor que seus argumentos procedem de um homem conhecedor da história e da política, apto a lhes oferecer não apenas informações acerca dos acontecimentos no império, mas, principalmente, argumentos que demonstrem como o governo vigente fazia-se incompatível com as necessidades do povo.

Quanto à questão política, Rocha Pombo expõe a atuação do imperador ante uma das revoltas populares motivadas pela carestia dos preços nos anos finais do imperio, a saber, o Motim do Vintém137. O Imposto do Vintém encontrou grande oposição de parte da imprensa

136 Sobre os dois reis assírios: “Nínias foi apenas um simulacro de rei. Passou a vida na ociosidade e na

indolência, e foi o primeiro que estabeleceu o governo do serralho. Seguiram-se-lhe trinta e três reis que nada fizeram pelo bem do país e de que a História apenas faz menção. O último foi Sardanapalo, cujo nome ficou lendário e serve para caracterizar os soberanos que põem de lado os cuidados da governação, para se darem tão somente à ociosidade e aos prazeres físicos. Sardanapalo, indolente e crapuloso, estabeleceu a sua residência em Nínive, onde passava a vida metido em um palácio, cercado de mulheres, cujos hábitos e adornos imitava, deixando em Babilônia o governo entregue a validos que de tudo dispunham. Nunca visto de seus súditos, sempre encerrado no palácio, onde passava as noites em libações e folgares, não lhe importavam nada os negócios públicos, e só tratava de esconder aos olhos dos súditos os seus ignominiosos hábitos. Um dia Arbaces, governador da Média, surpreendeu-o no meio de um grupo de mulheres impudicas, trajando como elas. Indignado por ver que tantos valorosos Assírios estavam sujeitos a um monarca desprezível, revelou aos seus amigos os vergonhosos hábitos de Sardanapalo, ligou-se com Belesis (governador da Babilônia), e ambos foram pôr cerco ao rei no próprio palácio em que habitava. Depois de tênue resistência, Sardanapalo reduzido a circunstancias extremas, quis apagar com um esforço supremo de coragem a memoria da sua vergonhosa vida. Mandou acender num dos pátios interiores do palácio uma grande fogueira, na qual se queimou com suas mulheres, seus escravos e seus tesouros”. Cf. Biblioteca do povo e das escolas. História Antiga, terceiro ano –

oitava série. Lisboa: Secção Editorial da Companhia Nacional Editora, 1900. Disponível em:

http://www.gutenberg.org/files/29529/29529-h/29529-h.htm#SECTION0024

137 No ano de 1879, sob o Gabinete Sinimbu, o Ministério da Fazenda instituiu um imposto de 20 réis ou 1

vintém, sobre as passagens de bondes, que entraria em vigor no dia 1° de janeiro do ano seguinte. A imposição desse imposto tornou-se em poucos dias um dos principais temas na imprensa carioca do período, sendo a sua regulamentação o principal alvo das discussões. No cerne das críticas ao novo imposto os pontos de maior polêmica diziam respeito à forma de cobrança e a proporcionalidade dessa cobrança, uma vez que o imposto era fixo e aplicado sem reajustes a todas as faixas de preço de bondes. Para melhor entender o porquê de tanta repercussão do referido imposto, precisa-se ter em mente que as viagens de bonde podiam variar entre 100 e 400 réis e que o cálculo do imposto era feito com base no preço da passagem de menor valor, 100 reis, ao qual se acrescia 20%, ou seja, 20 réis. Assim, independente do custo da viagem (100, 200, 300 ou 400 réis) o valor do imposto era sempre de um vintém (20 réis), dessa maneira é possível afirmar, concordando com os contemporâneos da revolta, que quanto maior o preço da viagem de bonde a taxa aplicada era progressivamente menor, sendo a maior prejudicada a população mais pobre que fazia uso dos bondes com tarifa menores, 100 mil réis, e que proporcionalmente acabava por ser a mais onerada com o imposto. Cf. BALABAN, Marcelo. Poeta

na Corte, mais especificamente da imprensa republicana, e acabou culminado em uma revolta envolvendo a população, líderes republicanos, capoeiras e a polícia da capital. Rocha Pombo, ao analisar os fatos ocorridos, não se esquiva em apontar as “culpas” do Imperador e de seus ministros. Esse posicionamento não apenas informava seus conterrâneos, mas também criava ou recriava – tendo em vista as diferentes formas que jornais da corte trataram esse episódio – “verdades” sobre o fato e ao mesmo tempo buscava induzir ao leitor a tomar partido do “povo” tão menosprezado, em sua inteligência, pelo Imperador.

Num primeiro momento pode parecer que tal notícia publicada na pequena Morretes seria irrelevante na construção de ideais republicanos no Paraná. Entretanto, não se pode deixar de ressaltar que o Motim do Vintém, fora algo de grande impacto social e político, fazendo-se amplamente divulgado e comentado pela imprensa das várias partes do império. tendo-se em vista a sua posição econômica e a circulação de pessoas e ideias que ali se davam, pode-se inferir que as discussões iniciadas em Morretes estabeleciam-se, se não como ponto de partida, pelo menos como elo de uma corrente mais ampla para a construção de uma rede de outras discussões entre intelectuais paranaenses, muitos deles ligados ao republicanismo. A publicação da notícia também pode ser considerada como parte da busca incessante de Rocha Pombo em conhecer, discutir e fazer conhecer as suas ideias.

No caso específico do Motim do Vintém, muito mais que discutir o imposto ou a própria revolta, percebe-se que o jornalista paranaense utiliza o ocorrido e vislumbra nele uma possiblidade de tecer críticas ao governo imperial no que se referia à forma de lidar com a população em geral. A postura do jornalista é a de alertar a todos sobre como a monarquia, representada na figura de Pedro II, era um sistema de governo que não apenas ignora o povo, mas também o considera inapto para pensar por si mesmo. Por outro lado, o texto de Rocha Pombo também demostra a necessidade de abrir os olhos de um povo que parece alheio à opressão que sofre, estabelecendo assim a necessidade de que o mesmo seja esclarecido. Uma marcação clara dessa necessidade de apontar aquilo que o povo deveria observar é encontrada nas palavras destacadas em itálico pelo autor: proverbial finura (para destacar a forma como o imperador confere aos ministros toda a responsabilidade sobre o ocorrido), perceber (sobre o se fazer de surdo ante aquilo que passava embaixo de sua janela) e accepeção imperialista (sobre que interpretação o imperador fazia do povo).

Neste aspecto, Rocha Pombo estabelece o seu papel como vetor, mas também como instrutor da sociedade em que vivia. Em Supremacia do ideal, Rocha Pombo afirma que

do lápis: a trajetória de Ângelo Agostini no Brasil imperial - São Paulo e Rio de Janeiro - 1864-1888. Tese de

lia todos os jornais que lhe caiam às mãos, principalmente os chegados do Rio de Janeiro, tomando gosto pelos assuntos da política. Cita dentre os jornais que lia: o Jornal do Comércio, o Cruzeiro e a Gazeta de Notícias. Assim é possível afirmar que suas bases para a informação, dos acontecimentos do dia 1º de janeiro de 1880, provinham da leitura de periódicos vindos da capital e que Rocha Pombo não apenas os lia e replicava em seu O Povo, mas que também os interpretava a luz de suas próprias opiniões acerca da política, registrando seu republicanismo nas páginas do periódico. Sobre esse período de sua vida o jornalista comentou:

Tinha eu muito cuidado em possuir as melhores teorias à respeito de moral politica. Discutia, folgava de expender as minhas ideas e achava que ellas sempre erão as melhores.

(...) pregava as minhas ideas... embora as pregasse no deserto. Quando se prega no deserto há sempre quem lucre: ao menos o pregador.

(...) Todavia, eu estudava muito. Tinha a paixão de saber e de pensar.138

As palavras acima, escritas três anos depois do artigo, demonstram que em sua avaliação, mesmo que posterior, Rocha Pombo reconhecia seu público e que tinha clareza de sua própria busca pelo conhecimento e necessidade de expor suas ideias. O jornal seria o principal veículo para isso em todo período em que ele viveu no Paraná. Entretanto, não seria o único. No ano seguinte, por exemplo, o jovem jornalista publicaria seu primeiro romance, que traria como marca principal a apresentação da oposição entre a monarquia – arcaica e ultrapassada – e a república – moderna e democrática.

As leituras de A honra do Barão e de notas sobre ele publicadas em jornais do período confirmam e reforçam a busca de Rocha Pombo por levar aos leitores esclarecimentos sobre o cancro que seria a monarquia no seio daquela sociedade. Em seu periódico, O Paranaense, Albino Silva declara ter recebido um exemplar de A honra do Barão e se propõe a realizar alguns comentários sobre ele. Em seu texto, tece uma descrição de Rocha Pombo como sendo um jovem rapaz, de origem humilde e que às duras penas consegue publicar seu primeiro romance, chegando mesmo a pedir ajuda financeira aos “endinheirados” da cidade para conseguir realizar seu projeto. O livro, segundo Albino Silva:

(...) nos parece um livro não só precioso como util, por isso rasão teve o seu autor de publicá-lo, vencendo mesmo sacrifícios: o que é util é necessário.

Despido desses enredos complicados, que muitas vezes não passam de habilidades de que se servem alguns mestres para enganarem os tolos; sem essas horripilantes visões das imaginações hoffmannicas, que fazem um pobre leitor tremer de medo,

toda contem um tragico desenlace, scena da desgraça, fructo amargo dos preconceitos e da honra do tal barão de S. Gil.

É um livro da actualidade, e melhor ainda, ele veio iniciar na província o genero de literatura que o Brazil é raro.

O seu fundo é todo politico, e ha n’elle a luta de dous sentimentos ospostos: um retrógado, egoista e covarde, outro patriotico, generoso e altivo; um é o typo da monarchia, do clero e da nobresa, outro é o emblema da democracia, da razão e da liberdade. Um trabalha pelo absolutismo, pelo feudalismo, com apoio do poder, outro sacrifica-se pela igualdade escudado na intelligencia e na razão. Mas nem sempre estes fenômenos triunphão do absurdo e da iniquidade! Nesta guerra de sentimentos o fim é uma catástrofe pungente!..

Como nos romances da Revolução, as victmas cahem inânimes e passão para a Eternidade, não decepadas, mas dilaceradas pelo veneno ao mira-las pela tisica, esses dois agentes fataes que mais não podem suportar as provações da vida. Real ou imaginario isto é sempre doloroso!

Não está isento de defeito o livro do Sr. Pombo, o que é natural; mas notamos, como mais palpável, essa idéa que apresenta a nação passando por uma metamorfose politica, quadro verdadeiramente illusorio, ou imagem de um sonho patriotico! O autor porem teve mais em vista escrever um livro onde suas idéas politicas, suas crenças pela liberdade se manifestassem como um inccativo...

Compenetrou-se desse pensamento, soffreo talvez por ele, e, como Dante vingou-se dos opressores e dos inimigos da patria.

O barão de S. Gil nos pareceria impropriadamente caracterisado se algum outro typo houvesse que melhor representasse o retrocesso. Entre nós não ha nobresa ou gente de sangue azul; mas ha uns pobres tartufos que pairão nas alturas pesilentas onde os coloca o sopro de repugnantes bajulações; ha muiro parvos com o titulo de ilustres ou sabios, e um número espantoso de servis corruptores que trocão a dignidade de homem serio por qualquer cracachá para o bom tom dos dias de gala e de cortejo... Esta espécie de gente, porem, sempre ha de existir no mundo, nem que se realise aquelle chistoso dito de Voltarie sobre os reis e frades.

(...)

Quanto ao amor de Julia e Alfredo, dizemos: Se o amor existisse sem o sacrifício, se não fosse ele um heróe que desafia a propria morte e deixa na historia das paixões sublimes exemplos de abnegação e pureza, para que serviria o amor?... Ninguem acreditaria no juramento de eterna fidelidade! Julia e Alfredo jurarão pertencerem-se e... cumprirão!... Este quadro tem o mystico doloroso desses dramas intimos do coração que o genio de Shakespeare eternizou em Julieta e Romeu! (...)139

Sobre o enredo do livro, trata-se de um casal que vê seu romance impedido pelo pai da moça, o Barão de São Gil, por preconceitos e pensamentos considerados arcaicos, tendo Alfredo, no decorrer da obra, sofrido com os ataques e proibições do poderoso Barão São Gil. O “Barão”, na obra, representa a monarquia, sistema de governo atrasado contra o qual desde muito cedo Rocha Pombo milita e Alfredo a modernidade, os novos ideais democráticos, republicanos, sendo, portanto, perseguido e rejeitado140.

Com o romance Rocha Pombo mais uma vez registra a sua insatisfação com o sistema de governo vigente e ataca a monarquia e a nobreza como os principais males da nação, assim como aponta o caminho possível para que o Brasil finalmente alcançasse a