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Em 09 de abril, o editor de A república informava ao público leitor a ocorrência de um meeting abolicionista ocorrido no dia anterior, exaltando as virtudes do orador e de seu discurso:

MEETING ABOLICIONISTA

A confederação abolicionista realisou hontem um meeting no passeio publico às 5 horas da tarde.

Havia grande concurrencia de povo, notando-se o número avultado de senhoras. Orou às massas em primeiro discurso o distincto e altivo moço sr. Rocha Pombo, orador oficial da Confederação.

O seu discurso foi brilhantissimo e merecidamente aplaudido por todos os que o ouviram.

Possuido do mais alto enthusiasmo disse o orador que a abolição era a iniciação de outras reformas necessárias ao paiz, as quaes hão de vir porque o povo levanta-se começando a comprehender os seus direitos.

Qualificou os dous partidos políticos de pequenos, sem ideal politico, reduzindo-se a meros ajuntamentos de individuos sem uma aspiração comum, a não ser de usofruir os proventos do poder.

O orador endeosou o ministério actual, no que sentimos não acompanha-lo pois que qualquer ministerio que viesse actualmente, faria a abolição.

160A república. Curitiba, 03/04/1888, pp. 2-3. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/

161 Sobre os últimos anos da escravidão: CHALHOUB, Sidney. Op. Cit; MENDONÇA, Joseli M. N. Op. Cit;

CANO, Jefferson.Escravidão, alforrias e projetos políticos na imprensa de Campinas. Dissertação de Mestrado, Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1993; XAVIER, Regina. A conquista da liberdade – libertos em

Campinas na segunda metade do século XIX. Campinas: Centro de Memória, Unicamp, 1996; RAMOS, Vanessa

Gomes. Os Escravos da Religião – Alforriandos do Clero católico no Rio de Janeiro imperial (1840-1871). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007; SALLES, Ricardo. E o vale era escravo

- Vassouras, século XIX - senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2008; PEDRO, Alessandra. Liberdade sob condição: alforrias e política de domínio senhorial em Campinas,

Ao terminar a sua brilhante e enthusiastica oração foi o orador saudado com uma salva de palmas (...)162

O anúncio permite verificar que Rocha Pombo não apenas registrava as suas ideias nos jornais em que era editor, colaborador ou proprietário, mas também era bem quisto entre os homens de letras paranaenses e figurava como orador em várias associações e sobre vários temas. Permite ainda vislumbrar uma crítica aos partidos políticos do momento, o que pode ter fundamento em sua própria experiência como membro do Partido Conservador e como deputado da província, cargo de que, segundo nota publicada no jornal A República de 15 de janeiro de 1888, foi despojado pelos liberais163. Segundo Romário Martins, em nota sobre a morte de autor paranaense em 1933, o jovem Rocha Pombo era “moço, idealista, intemorato [sic], abolicionista, suspeito de republicano, sua atuação desagradou o conservadorismo e o carrancismo da época”164. Tais informações ajudam a indagar acerca da

postura antipartidária de Rocha Pombo e suas críticas não apenas ao Imperador, mas também aos homens que se colocavam sob as bandeiras dos dois partidos monárquicos. Crítica que não fazia, de forma direta, anos antes quando, filiado ao Partido Conservador, foi eleito deputado provincial.

Sobre sua filiação ao Partido Conservador, Rocha Pombo declara que sendo republicano, ainda em Morretes, publicava suas ideias abertamente e não se lembrava das razões pelas quais escolhera o partido, mas que um amigo seu165 era conservador e que por simpatia a ele havia se inclinado ao mesmo partido166. Mesmo filiado ao partido, Rocha Pombo continuou a fazer propaganda republicana em seus artigos para diversos jornais, apesar disso foi eleito deputado, o que, segundo Gilson Queluz, denotava a existência de uma íntima relação com a elite ligada à produção da erva-mate, especialmente com o então presidente do Partido Conservador, Ildefonso Correia, o Barão de Serro Azul167.

Em seu primeiro discurso como deputado eleito, Rocha Pombo busca justificar seu alinhamento com o Partido Conservador que de certa forma contradizia sua posição como republicano, em suas palavras:

162 A república. Curitiba, 09/04/1888, pp. 3. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/

163 Nota publicada como “Comunicado”, e que se colocava em oposição à crítica tecida pelo periódico ao partido

conservador e sua disputa pelo poder, a nota vem assinada com o pseudônimo Republicano Independente. Idem, 15/01/1888, pp. 03.

164 O Dia, Curitiba, 28/06/1933, pp. 01. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/

165 Embora em seu texto Rocha Pombo não diga o nome de seu amigo, a descrição feita e principalmente por

deixar claro que se colocara sob a proteção da amizade construída ainda no Anhaia, pode-se concluir que esse amigo fosse o futuro Barão de Serro Azul, Idelfonso Correia.

166POMBO, José Francisco da Rocha. A Supremacia do Ideal... Op. Cit. pp. XIV-XV. 167 QUELUZ, Gilson Leandro. Op. Cit., pp.18.

(...) há nestas Províncias um certo grupo de moços distanciados do seu tempo, um certo grupo de homens que entende que separando-se de seus contemporâneos presta melhores serviços ao país do que se unisse aos seus esforços aos partidos militantes. Não posso deixar de dizer, antes de tudo, que sei que esses moços me censuram pelo fato de ter-me alistado a um dos partidos militantes; mas em primeiro lugar devo assegurar a esse grupo que sou tão amigo da liberdade, tão bom soldado da liberdade como os que melhor possa contar este país.

Quando eles me censuram esquecem-se de que para tomar o ponto de protagonista acérrimo da idéia nova é preciso antes de tudo firmar créditos perante a opinião, é preciso primeiro que tudo conquistar a confiança pública e ter a certeza que o povo nos ouve.

Que, Sr. Presidente, V. Ex. sabe o quanto tem custado, não direi já aos pequenos jornalistas, mas aos grandes escritores do país, fazer vingar sobre os espírito público esse conjunto de reformas, de melhoramentos sociais tão necessários ao progresso e civilização da nossa pátria.

Se essas reformas, perfeitamente comportáveis no regime vigente, tem lutado com tantos embaraços afim de arraigar-se bem no fundo do coração popular, como entender os propagandistas da república que deve abalar, que deve transtornar, convulsionar a ordem das coisas existentes para depois reorganizar essa sociedade. Sr. Vicente Machado – Não apoiado a república evolucionista não quer isto.

Sr. Rocha Pombo – Sr. Presidente, aproveito o aparte do nobre deputado que me distingue, para dizer que é justamente pela república evolucionista que tenho o prazer de estar externando os meus pensamentos.

V. Ex. sabe, Sr. Presidente que ainda temos tanto a trabalhar, tanto a fazer neste país dentro do regime monárquico (...)

(...) não condenei-os apenas lamentei que esse grupo de moços a que me referi se isola de seu tempo não querendo unir aos seus esforços os partidos atuais, aos quais essa nação deve tudo até o presente.

Sr. Presidente, por maior que chegue a ser esse país, por maior que chegue a ser esse povo, por mais gloriosa que venha se tornar a bandeira brasileira, os partidos atuais tem o direito de ver tudo a sua obra, e com toda a certeza eles que tem lutado desde a organização do império, são os que hão de levar o país aos sistemas mais livres (...)

Quero Caminhar para a república dentro do sistema atual...168

A fala de Rocha Pombo, demonstra que sua postura republicana continuaria mesmo alistado e eleito por um partido ainda no período monárquico. Apresenta uma militância pela república a ser feita por dentro do sistema, conforme se esperaria de um republicano evolucionista, mesmo que para isso recebesse críticas daqueles que consideravam que para construir uma república no Brasil seria necessário se colocar em lado oposto aos dois partidos monárquicos. Segundo Gilson Queluz, Rocha Pombo teria, em sua prática legislativa, aderido “ao status quo político vigente” como meio para realizar reformas urgentes para o “progresso e civilização da Província do Paraná”. Reformas que tinham como motivação sanar problemas que se agravavam na província com a crise econômica pela qual passava a indústria ervamateira na década de 1880, e o aumento da pressão dos produtores liderados por seu amigo Barão de Serro Azul169. Ainda segundo Queluz, os vários projetos apresentados por

168Anais da Assembleia Provincial do Paraná, 6ª Sessão Ordinária, 09/11/1886, p.23. Apud. Idem, pp.18-20. 169 Idem, pp. 20-21.

Rocha Pombo não seriam aprovados pela Assembleia Provincial, alguns sequer chegaram à votação sendo arquivados por pressão da maioria dos deputados que pertenciam ao partido liberal.170

O único projeto apresentado e aprovado durante o seu mandato na Assembleia Provincial foi aquele que propunha a criação, em Curitiba, uma exposição permanente de produtos industriais e agrícolas do Paraná, com o intuito de incentivar o desenvolvimento da produção na província pelo conhecimento e intercambio de técnicas de fabricação, em um momento em que as exposições se apresentam como um auxiliar na constituição de um mercado mundial171.

Se, em 1883, Rocha Pombo declarava seu grande e precoce interesse pela política no início de sua carreira de jornalista e auto avaliava sua forma de lidar com a política como um simples arranhar a casca dos problemas – uma vez que “entendia que só da forma de governo dependia a sorte das nações” e dava pouca importância para as instituições políticas ou às questões práticas que diziam respeito ao progresso das nações172 –, em 1886-1887,

lidava diretamente com a máquina política. Via seus projetos serem rejeitados e sua tentativa de utilizar a própria política imperial para construir sua nova e progressiva nação morrer não apenas ante a oposição do Partido Liberal, mas também pela rejeição de suas ideias pelos produtores de erva-mate que viam no Partido Conservador o seu principal representante173. Sua experiência no poder legislativo pode ser a fonte de sua crítica aos partidos políticos, em 1888, mas não impediu que, para além de suas críticas aos dois partidos, no discurso proferido no “meeting abolicionista” elogiasse o gabinete que empreendia as mudanças rumo à abolição da escravidão.