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Segundo Gilson Queluz, as propostas apresentadas por Rocha Pombo em seu mandato como deputado provincial, buscavam reformas econômicas que garantissem o desenvolvimento industrial e a diversificação agrícola na Província do Paraná e tinham objetivos vinculados a um processo imigrantista174. A leitura de vários artigos produzidos por Rocha Pombo, na década de 1880, corroboram a interpretação de Queluz de que no

170 Idem, pp.24-25. 171 Idem, pp. 26-27.

172 POMBO, José Francisco da Rocha. Supremacia do ideal... Op. Cit. pp. XVI-XVII. 173 QUELUZ, Gilson Leandro. Op. Cit., pp. 26.

“pensamento de Rocha Pombo progresso e civilização são sinônimos de mão de obra imigrante”175. Entretanto, é importante ressaltar que essa não era uma prerrogativa apenas de

nossa personagem, uma vez que a ideia de que a presença de mão de obra negra e escrava era um atraso não apenas para a economia do país, mas principalmente para a sua evolução para uma verdadeira civilização era algo grandemente discutido nos espaços intelectualizados do país desde a década de 1870, com a entrada das teorias cientificistas no Brasil176. A grande preocupação com a transformação do Brasil em um local para onde os europeus quisessem imigrar já estava posta no discurso de Rocha Pombo, conforme aqui demonstrado, em Questão Negra de 1880. Dois anos depois, no periódico Gazeta Paranaense, ele trataria do mesmo tema mais direta e incisivamente, em uma série de três textos que discutiam a “colonização” do Brasil. Tratam-se de artigos produzidos e direcionados ao novo presidente da província do Paraná, Dr. Carlos de Carvalho177.

No primeiro artigo da série, publicado no dia 05 de abril de 1882, Rocha Pombo apresentou suas ideias sobre a questão da colonização e da necessidade de fortalecer a agricultura e a indústria no país. Estabelece a colonização como um tema de primeira grandeza nas discussões do momento, cuja solução deveria estar sempre em estreita relação com a prosperidade do Brasil178. Traz ideias e impressões sobre o tema, assim como algumas propostas para o problema. Em sua análise da questão, embora tanto o governo quanto os homens públicos concordassem sobre a necessidade e urgência de pensar e buscar meios para inserir o trabalho livre no país, cabia ao governo a culpa pelos resultados ineficientes da política de imigração no início da década de 1880179. Para o jornalista paranaense no que concernia a colonização era facilmente identificável a “(...) falta absoluta de estudo, de systhema, de racionalidade nos actos officiais à ella relativos. Os publicistas que não

175 Idem, Ibidem.

176 SCHWARCZ, Lilia K. M. O Espetáculo das raças... Op. Cit.

177 Médico carioca indicado para presidência da província do Paraná, no biênio 1882-1883, assumiu o cargo um

mês antes da publicação do primeiro artigo de Rocha Pombo sobre a colonização. Gazeta Paranaense. Curitiba: 4 de março de 1882, pp. 4.

178Gazeta Paranaense, Seção livre, Questões da actualidade (Ao exmo. sr. dr. Carlos de Carvalho). Curitiba: 05

de abril de 1882, pp. 3. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/

179 Sobre o tema: COSTA, Emília Viotti da. "Da escravidão ao trabalho livre". Da Monarquia a república:

momentos decisivos. São Paulo: Editorial Grijalbo, 1977, pp. 209-226; BIONDI, Luigi. “A greve geral de 1917

em São Paulo e a imigração: novas perspectivas”. Cadernos AEL, 27. Campinas: IFCH, 1999, pp. 259-310; HALL, Michael. "Imigrantes na Cidade de São Paulo". IN: Horta, Paula (org.). História da cidade de São Paulo

- a cidade na primeira metade do século XX. São Paulo: Paz e Terra, 2004, pp. 121-151; MARTINS, José de

esmorecem ante os grande problemas politicos, economicos e sociaes ... a seu turno, não têm considerado a colonisação em toda a sua vasta latitude.”180

Ao propor soluções ao problema, Rocha Pombo apresenta-se como alguém que apesar de sua deficiência de recursos intelectuais se arriscaria a apresentar ao governo medidas novas e, quem sabe, mais eficazes, construídas por meio do estudo e da pesquisa sistemática sobre o tema. Deixa bem claro que suas propostas são voltadas para a província do Paraná e por isso dirige os artigos diretamente ao dr. Carlos de Carvalho. Aqui, mais uma vez, o texto de Rocha Pombo assume um caráter didático e educativo, ele apresenta aquilo que entende ser a colonização para o país, para em seguida explicar o porquê dela não estar alcançando nenhum dos seus objetivos básicos:

Entendemos que a colonização deve ser para o nosso paiz: I – um elemento de civilização ou de progresso moral. II – um elemento de produção ou progresso material.

Até hoje porem o irregular, desordenado, anarchico e absurdo systhema de estabelecer extrangeiros em nossas terras nem ao menos ao ultimo efeito tem surtido.

E porque? É facil explicar.

Ainda não nos ocupamos com o trabalho de fazer a mais ligeira seleção ao menos dos extrangeiros que importamos da Europa. Nunca o governo teve em vista as vantagens das raças ou das nacionalidades, nem as vantagens da condição de classe ou siquer da condição pessoal dos imigrantes.

Devem estar ainda na memoria de todas as desgraças que provierão a este paiz de alguns celebres contractos firmados pelo governo para a introdução de colonos europeus.

Contractos onerosissimos para aliciar-se gente na Italia e nos mandar para cá! Esses colonos, arrebanhados nos campos e nas estradas, está exhuberantemente provado por factos, de nada nos poderão servir jamais. Eles não nos trouceram nem um pallido reflexo d’essa explendida civilização industrial do velho mundo; não são laboriosos nem mais morigerados que nossa população aborigena; não são mais activos, nem mais emprehededores, nem teem mais instrucção.

Nestas condições, entendemos que a colonisação extrangeira de modo algum poderia contribuir para a prosperidade de nossa lavoura e de nossas industrias, nem para os progressos de nossa civilização moral. Os nossos governos pois nem ao menos teem conseguido angariar, pela importação de imigrantes, o reforço necessario dos elementos de produção que tanto nos escasseão.181

Como é possível verificar no trecho acima, para Rocha Pombo, a simples introdução de europeus não era a solução para a questão da colonização e da evolução do país. Se no decorrer de toda a década de 1880, políticos, juristas, médicos e outros intelectuais discutiriam quais seriam os caminhos para a substituição do trabalho escravo pelo livre, colocando no centro da discussão quem seriam os novos braços para a lavoura e para a

180Gazeta Paranaense, Seção livre, Questões da actualidade (Ao exmo. sr. dr. Carlos de Carvalho). Curitiba: 05

de abril de 1882, pp. 3. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/

indústria182, para José Francisco da Rocha Pombo, a solução do problema estava na introdução de imigrantes europeus, mas que deveriam ser selecionados dentre as nações e locais em que o progresso e a civilização fossem claramente identificáveis. É importante destacar que para Rocha Pombo o elemento nacional também poderia e deveria ser aproveitado, mas mesmo isso exigia projetos imediatos e sistemáticos para tornar o seu trabalho ordenado para que a nação de forma geral e não apenas os grandes fazendeiros lucrassem com a introdução de formas modernas de trabalho. Essa visão sobre quem seria o imigrante indesejado e qual o papel do trabalhador nacional, para a evolução da nação seria reforçada e longamente discutida no segundo texto da série, publicado em 22 de abril de 1882. Dizendo ter conseguido ler alguns artigos produzidos pelo dr. Carvalho, direcionados a eleitores de um dos distritos da corte, quando este se candidatara ao parlamento, Rocha Pombo alega ter a felicidade de concordar, até certo ponto, com as ideias neles contidas, mas considera deficiente e incompleta a exposição feita. Aproveita o momento para se indagar se o que fora registrado nos artigos do presidente da província seriam propostas reais, visando uma intervenção no problema da colonização ou se não passava de mero discurso com intuito deeleger Carvalho deputado. O principal ponto criticado por Rocha Pombo foi o silêncio de Carlos Carvalho sobre a imigração espontânea, uma vez que em seu texto, o então candidato, dizia não ser partidário da imigração solicitada e clamava pela utilização imediata do elemento nacional livre que deveria receber capacitação em escolas noturnas183. Em sua crítica, o jornalista alega ser notável a um cidadão de nome no país, que pretendia um posto de legislador, silenciar-se sobre tão importante tema. Concorda e, de certa forma, demonstra ser lugar comum propor o uso do braço nacional para a colonização, mas que esse uso não seria por si só suficiente para as necessidades da nação, segundo ele, se o estrangeiro fosse o europeu oriundo dos países mais desenvolvidos e civilizados este deveria ser preferido ao nacional. Essa preferência se explicaria no fato de que a colonização para o Brasil não deveria significar apenas a ampliação dos instrumentos de trabalho, para o que o nacional seria suficiente, mas principalmente deveria “(...) trazer-nos novos recursos de educação, costumes mais adiantados, principios mais fecundos do trabalho; e até deve trazer- nos outro sangue que ao menos renove o temperamento e a índole de nossa raça.”184

182 AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites (século

XIX). Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987; EISENBERG, Peter L.“O homem esquecido: o trabalhador livre

nacional no século XIX sugestões para uma pesquisa”. Homens Esquecidos – escravos e trabalhadores livres no

Brasil séculos XVIII e XIX. Campinas: Ed. da Unicamp, 1989, pp. 223-244.

183 QUELUZ, Gilson Leandro. Op. Cit., pp. 35.

184Gazeta Paranaense, Seção livre, Questões da actualidade (Ao exmo. sr. dr. Carlos de Carvalho). Curitiba: 05

Nesse sentido, o jornalista paranaense, mais uma vez reforça a necessidade de se investir na imigração europeia, já que pouco valeria para o país a introdução de braços que não preenchessem a necessidade de melhorar a raça, que não se repetisse os erros coloniais, quando o estrangeiro trazido para o país era visto apenas como mero instrumento de trabalho e por isso a origem e a inferioridade de sua raça não teriam sido levadas em conta. Se no princípio da colonização do país o nacional, o indígena, mostrara-se bravio e fraco para o trabalho, a inserção do negro – “verdadeira machina, insensível ás intemperies, ás agruras e até aos cansaços da vida dos campos” – em nada contribuíra para o progresso da colônia, não apenas por garantir a ociosidade do nacional, mas principalmente por não ser o africano “(...) um individuo que a nossa sociedade possa assimilar, ou que possa melhorar a nossa raça.”185

Assim, a imigração espontânea deveria ter como foco a evolução e o progresso da nação, devendo criar condições para que se atraísse europeus de países mais civilizados e industrializados. Esse é um ponto em que Rocha Pombo por várias vezes insistirá e, para reforçar essa necessidade, criticará a proposta de se trazer asiáticos para o trabalho na lavoura, como podemos verificar no trecho a seguir:

Iguaes consequências às de que nos fizeram victimas os africanos terá a introdução de trabalhadores aziaticos, com que alguns homens publicos sonhão.

O conselheiro Sinimbú, querendo fazer apologia do trabalhador chinez, só conseguio lançar sobre ele indelavel, stygma e condennal-o para sempre, si sempre tivermos homens que se interessem pela sorte da patria.

Eis que s. ex. chegou a dizer quando ministro d’agricultur, no relatorio apresentado à Assembléa Geral em 1878:

...

“nem serão alguns milhares de trabalhadores de raça inferior à nossa porém incontestavelmente superior à africana, que poderão ameaçar-nos de decadencia physica ou moral. O Chim é unicamenpte trabalhador à salario; não se liga à terra extranha, não adopta segunda patria, não funda família, tornar ao seu paiz, cumprindo o seu mais ou menos prolongado contracto, é o ponto de mira das suas ambições.”

E para que nos serviria pois o Chim? Perguntaremos a s. ex.

O operário chinez contenta-se com pequeníssimo salario e por isso, pensa s. ex., será um valioso suppremento de forças para a lavoura. Só por isso seria a desgraça do nosso paiz, pensamos nós. Os grandes proprietários, os ricos senhores de fazenda, talvez enriquecem; mas a maior parte da população que vive do trabalho bruto morreria de fome.

O Chim pois não oferece nenhuma das condicções de colonisação eficiente.

Ha pouco tempo, apareceu um livro do dr. Salvador de Mendonça, animando a propaganda à favor dos trabalhadores asiáticos. O dr. Mendonça baseava o seu conceito sobre a colonisação chinesa em observações feitas em diversos paizes, entre os quaes os Estados Unidos. Apezar porem de todos os elogios que o Chim mereceu do illustre escritor, o Congresso dos Estados-Unidos acaba de decretar uma lei prohibindo a importação de Chins por espaço de 20 annos! É verdade que o presidente da republica não sancionou a lei; mas resta-nos saber si os dous treços do Congresso se oporão ao veto do poder executivo.

De qualquer modo que consideremos o trabalhador aziatico, ele não pode servir para a colonisação do Brasil. Muito embora servisse para a lavoura dos Estados- Unidos.186

Como podemos verificar nesse trecho e em outros aqui apresentados, a leitura que Rocha Pombo faz da sociedade brasileira está sempre em consonância com as discussões do período. Aqui o autor recorre mais uma vez à leitura de outros textos para embasar seu discurso e reforçar seus argumentos, traz para a discussão a questão da imigração asiática187 não apenas como forma de criticar o relatório do senador Sinimbú188 – a quem já havia criticado a atuação no Motim do Vintém –, mas também para demonstrar o seu conhecimento sobre o tema da imigração e da necessidade de melhoria da raça. Seus argumentos apresentam, além da citação de documentos e livros do período, conceitos já construídos sobre as diferenças entre os indivíduos calcadas em termos raciais dadas por elementos biológicos e do meio. Conceitos que de forma menos incisiva apareciam em Questão Negra e que demonstram que Rocha Pombo estava em harmonia com as discussões e leituras que ocorriam nos principais centros intelectuais do Brasil189 em que, desde a década de 1870, as teorias raciais se tornaram centrais para o entendimento da nação. Segundo Lilia Schwarcz, houve tardiamente uma grande entrada de literatura sobre o tema no Brasil e nomes como Ernest Renan, Gustave Le Bon, Hippolyte Taine, Arthur de Gobineau, Franz Joseph Gall, Charles Darwin, Cesare Lombroso, Hebert Spencer entre outros, tornar-se-iam comuns entre

186 Idem, Ibidem.

187 Aqui Rocha Pombo faz referências às intensas discussões sobre a substituição de mão de obra negra pela

imigrante, ocorridas no fim da década de 1870, e mais especificamente a atuação do Visconde de Sinimbu que, em 1878, produziu um relatório cuja proposta era a de incentivar a imigração de chineses para o Brasil. Cf.: MENDONÇA, Salvador de. Trabalhadores Asiáticos. New York: Typographia do “Novo Mundo”, 1879. Disponível em: file:///C:/Users/Darth%20Vader/Downloads/011185_COMPLETO%20(1).pdf; COSTA, Emília Viotti da.Da Senzala à Colônia. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1866. ELIAS, Maria José. “Os debates sobre o trabalho dos chins e o problema da mão-de-obra no Brasil durante o século XIX”. In.: PAULA, Eurípedes Simões de (org). Trabalho livre e trabalho escravo. Anais do VI simpósio nacionail dos professores

universitários de História. São Paulo: 1973, pp. 698-715. Disponível em: http://anais.anpuh.org/wp-

content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S06.26.pdf; LAMOUNIER, Maria Lúcia. “O trabalho sob contrato: a Lei de 1879”. Revista Brasileira de Historia v. 6, n° 12. São Paulo: mar/ago 1986, pp. 101-124. Disponível em: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=sinimbu+chins.

188 João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, Visconde de Sinimbu, nasceu em São Miguel dos Campos, Alagoas,

em 1810. Bacharel em direito pela Faculdade de Direito de Olinda, seguiu para a Europa em 1836, doutorando- se pela Universidade de Iena. Foi diplomata, deputado geral por Alagoas, Vice-Presidente da Província de Alagoas, Presidente de Província (Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Sul e Bahia) e Senador por Alagoas de 1858 a 1889. Sobre o Visconde de Sinimbu: COSTA, Craveiro. O Visconde de Sinimbu: sua vida e sua atuação na

política nacional (1840-1889). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1987. Disponível em:

http://www.brasiliana.com.br/obras/o-visconde-de-sinimbu-sua-vida-e-sua-atuacao-na-politica-

nacional/pagina/7/texto; Senado Federal, Senadores, Visconde de Sinimbú. Disponível em: http://www25.senado.leg.br/web/senadores/senador/-/perfil/1814

189 Segundo Lilia Schwarcz: Museus Etnográficos, Faculdades de Direito, Faculdades de Medicina e Institutos

Históricos e Geográficos tornaram-se, a partir da década de 1870, espaços privilegiados em que as discussões sobre a raça se dariam e constituiriam um conceito próprio de Teoria Racial. Cf. SCHWARCZ, Lilia K. M. Op.

os homens de letras, juristas e médicos e essas elites intelectuais não só consumiram esse tipo de literatura especializada e científica como recriaram conceitos de teorias de forma original.190 Ainda segundo a historiadora, essas discussões não ficariam restritas a um pequeno grupo de homens de ciência, mas seriam disseminadas em romances e jornais, como a Província de São Paulo, fundado pelas elites paulistas em 1875, que daria grande publicidade a “(...) um ideário evolutivo-positivista, sendo sua prática a divulgação cotidiana de mestres europeus, entre eles Darwin, Spencer e Comte (...)”.191

Rocha Pombo era um leitor assíduo de jornais da corte e pode-se imaginar que também tinha acesso à leitura da Província de São Paulo, além disso, por meio de seus próprios textos, é possível identificar que era leitor de vários intelectuais paulistas – um exemplo disso é sua leitura de Pereira Barreto –, assim seu primeiro contato com essas teorias cientificistas pode ter se dado por meio da leitura de jornais. Mas seria, como ele mesmo declara em a Supremacia do Ideal, a leitura dos pensadores europeus e norte americanos que lhe dariam os alicerces para a construção de sua leitura da sociedade e da necessidade de civilizar o país192. Uma leitura determinista em que identificava as diferenças entre as raças e

clamava pela necessidade de se inserir elementos estrangeiros, civilizados e membros da raça superior, para que com isso o Brasil apagasse sua herança racial negra e mestiça, para então igualar-se às nações europeias civilizadas e modernas.

De forma geral na série de artigos publicada na Gazeta Paranaense, Rocha Pombo demarca claramente sua posição sobre questão da imigração, sobre o tipo de imigrante desejável e sobre o papel do trabalhador nacional na construção do futuro que se pretendia para o Brasil. A introdução dos imigrantes portadores do progresso, da modernidade e da civilização se daria por meio da imigração espontânea, um recurso, segundo Rocha Pombo, descartado pelo governo e pelos políticos do período. O autor mostra-se inconformado com a incapacidade e a impassibilidade dos homens públicos ante ao quadro assombroso que se apresenta para o futuro do trabalho nacional. Um Estado que, em 1882, já carecia de braços para uma lavoura dependente de uma instituição com seu fim gradual certo, dados os efeitos da Lei Rio Branco. Um Estado que não se propunha a pensar seriamente naquilo que aconteceria com o fim do elemento servil, ao qual ficavam inaudíveis os clamores pela imigração espontânea, mesmo com exemplos de resultados positivos obtidos por outras nações americanas. Segundo Rocha Pombo: “inveja-se os Estados-Unidos, as republicas do

190 Idem, pp. 24. 191 Idem, pp. 42.

Prata, o Mexico, a Venezuela, o Chili; mas os governantes entende que devemos esperar o mal, o sinistro, para vermos o que ele nos ensina, ... ainda que seja a custa de horrores...”193.

Se ao governo não parecia ser primordial e necessário aprimorar e civilizar a nação, utilizando-se para isso da imigração espontânea como forma de atrair para o país elementos que contribuíssem para a evolução moral do povo, deveria ser pelo menos a “necessidade de organizar a grande lavoura; mas uma espécie de grande lavoura adequada às circumstancias do paiz”194. Para isso seria imprescindível que a produção aumentasse e

houvesse a instalação de grandes indústrias no país. E nesse ponto, era necessário criar novas políticas de incentivo econômico, tendo em vista que elemento nacional que, fosse ele aborígene ou europeu a muito instalado no país, não estava apto para o trabalho na lavoura e na indústria modernizada. Seria necessário que o governo tomasse para si a responsabilidade de apoiar e incentivar o estabelecimento da grande lavoura e da indústria na província, lançando mão para isso de algumas medidas imediatas como garantir juros as empresas agrícolas e estabelecimentos industriais e criar um banco de crédito, mesmo que se tratasse