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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE QUANTITATIVA

4.1 A opção pela pesquisa empírica

A opção pelo uso da pesquisa empírica no estudo das decisões judiciais sobre ordem pública e prisão preventiva no STF se deve, por um lado, à lacuna no campo da pesquisa do direito sobre o tema com este enfoque. Por outro lado, a doutrina se divide entre autores que têm como válido seu uso e o dão como adequado à Constituição da República de 1988 e aqueles que questionam sua conformação constitucional, deslocando o interesse do pesquisador para o levantamento histórico das decisões da Suprema Corte, com objetivo de tentar encontrar uma racionalidade na ação jurisdicional sobre tema.

Outro fator que pesou na escolha é a própria tradição de pesquisa do Grupo Candango de Criminologia que consolidou uma farta e relevante prática em pesquisa empírica, constituindo os seus trabalhos em referência sobre o tema132.

Um último e derradeiro motivo pela escolha da pesquisa empírica é a possibilidade real de desmistificar alguns dogmas culturalmente construídos ao longo do tempo – e por aqueles que detêm o poder político – para justificar os porquês de se punir e infligir dor e sofrimento mediante isolamento prisional de milhares de seres humanos ao longo da nossa história.

Se as nódoas de um sistema de justiça criminal injusto, desumano e degradante muitas vezes são encobertas pelo véu de uma suposta racionalidade científica – que se arvora sobre a mentalidade dos atores jurídicos exalando ares de neutralidade e igualdade – já se demonstrou que a pesquisa empírica pode realizar um desnudamento das ilusões jurídicas que fomos treinados a assimilar e por em prática.

É o que veremos.

132 Indicamos a leitura dos trabalhos das pesquisadoras Fabiana Costa Barreto, Marina Quezado Grosner, Carolina

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4.2 Metodologia

O levantamento das decisões judiciais analisadas se deu por meio do sítio da rede mundial de computadores do Supremo Tribunal Federal (http://stf.jus.br).

O pesquisador entrou em contato com o setor de jurisprudência do STF para estabelecer os argumentos de pesquisa. Por indicação de servidor do Tribunal, realizamos buscas em espaços do sítio diversos. Para conseguirmos acessar decisões mais antigas realizamos o seguinte caminho: clicamos no argumento jurisprudência que está entre os principais temas de pesquisa do sítio eletrônico e, dentro deste encontramos o argumento “coletânea de acórdãos”133. Com isso, foi possível encontrarmos, em formato digitalizado, decisões da década de 1930 do século passado.

Para as decisões a partir da década de 1950 do século passado nos utilizamos da ferramenta mais utilizada por todos aqueles que trabalham acessando decisões da Suprema Corte que é a argumento da pesquisa de jurisprudência134.

Até tentamos buscar na sede do Arquivo Nacional, sediado na cidade do Rio de Janeiro, decisões da antiga Casa de Suplicação do Brasil que versassem sobre ordem pública, mas diante da dificuldade de leitura e estado de danificação dos processos (o que poderia comprometer o tempo estabelecido para a pesquisa), se optou pelo trabalho com as decisões já integralizadas digitalmente.

Também, por indicação de servidores do Tribunal que atuam na área da pesquisa jurisprudencial, nos utilizamos do argumento de pesquisa ordem pública, pois poderia abarcar maior amplitude de documentos.

Somente na parte da pesquisa que contemplou o período compreendido entre os anos 2000 até os dias atuais, refinamos o argumento e acrescentamos no subitem “legislação” a seguintes informações: Código de Processo Penal e art. 312. Essa mudança foi necessária por dois motivos. Um primeiro é relativo ao aparecimento de decisões que o termo “ordem pública” gerava e que não interessavam ao presente estudo, tais como matérias de direito administrativo, mandados de segurança etc. Não que até o ano 2000 isso não tenha surgido e exigido a leitura criteriosa, ao menos da ementa, para tratamento e refino dos dados, mas o número de decisões

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Ver SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Coletânea de Acórdãos. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/ portal/colac/pesquisarColac.asp>. Acesso em: 05 abr. 2012.

134 Ver SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Jurisprudência. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/

100 aumentou exponencialmente a partir do ano referido, o que trouxe certa dificuldade para mantermos a lógica utilizada até então.

De toda forma, a pesquisa abarcou a totalidade das decisões relativas à ordem pública e prisão preventiva no STF, sendo constituído um acervo de 460 acórdãos, base de análise tanto da pesquisa qualitativa (Capítulo 3) como da quantitativa que ora se apresentará.

A análise das decisões se deu por meio do preenchimento de formulário (anexo) pelo pesquisador, sem auxílio de pesquisadores para garantir melhor uniformidade na coleta dos dados. Dos itens constantes no formulário temos a) número do processo; b) tipo de processo; c) local de origem do processo; d) relator; e) data do julgamento; f) data do fato e data da prisão; g) decisão; h) juízo de origem; i) tipo de crime; e j) justificativa da decisão. Para os itens relativos ao tipo de crime e justificativa da decisão se criou uma relação de termos mais frequentes e um subitem de preenchimento com o título “outros”.

Feitas as correções e checadas as inconsistências, foram geradas 45 tabelas a partir dos itens constantes no formulário.

Para não se correr o risco de tornar enfadonha e confusa a leitura deste capítulo, optamos por selecionar algumas tabelas para exposição e análise. Optamos assim, por aquelas tabelas fundamentais para o que se propôs a presente pesquisa, sem prejuízo de acesso à totalidade da consolidação dos dados extraídos nos anexos.