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A ordem econômica estadual

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO-SP (páginas 123-126)

CAPÍTULO 6 O DIREITO ESTADUAL E O DESENVOLVIMENTO

6.4. A ordem econômica estadual

A ordem econômica brasileira procurou agregar elementos aparentemente inconciliáveis, a saber: o capital e o trabalho, conforme o art. 170 da Constituição Federal.

O capitalismo proposto em 1988 trouxe consigo uma série de princípios que buscam orientar a atividade econômica a partir de valores sociais.265 O Direito Estadual deverá repercutir a orientação econômica exarada da Lei Maior, conciliando-a com a justiça social. 266

O Direito Econômico está disposto no âmbito da competência concorrente contida no art. 24 da Lei Maior. Diante disto, há espaço para a construção de uma ordem econômica específica na Constituição Estadual. Assim, no exercício de sua competência concorrente os Estados-membros poderão adaptar a norma econômica

264 RAMOS, Elival da Silva. Op. Cit., p. 173.

265 BONAVIDES, Paulo. Op.cit., p.371.

266 A Constituição pernambucana em seu título VI, atinente à ordem econômica, reproduz a Lei Maior

ao dispor que o desenvolvimento econômico deverá conciliar a livre iniciativa com a justiça social a fim de gerar bem-estar. Cf. artigo 139 da constituição do Estado de Pernambuco.

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a sua realidade. Destarte, é preciso aperfeiçoar o marco jurídico estadual atinente a esta matéria.

Aliás, Bandeira de Mello267 já nutria simpatia diante da possibilidade dos

Estados legislarem sobre a ordem social, sendo que para ele a União deveria atuar concorrentemente nesta matéria.

“Já vimos que os assuntos de ordem geral devem caber à União e os de ordem particular aos Estados-membros. Assim, a maior parte da atividade jurídica deve ser entregue à União, isto é, as questões atinentes à defesa externa, privativamente, e as condizentes à ordem interna; parcialmente, se bem que a porção mais importante. Por motivo idêntico, a maior parte da atividade social deve caber aos Estados federados, tocando à União, quando muito, traçar as diretrizes legislativas nessas matérias e exercer concorrentemente, e de modo secundário, os serviços referentes a essa última atividade.” 268

A atuação estatal se estabelece em pelo menos três frentes: Administrativa, financeira e legislativa.

Portanto, o Estado cumpre importância cabal como elemento indutor de desenvolvimento. Ademais, não poderá se furtar de seu dever constitucional de garantir dignidade às populações economicamente vulneráveis através de políticas públicas que promovam justiça social.

Neste sentido, Bandeira de Mello 269 afirma o seguinte:

“O Estado, na consecução do seu fim, exerce uma dupla atividade: jurídica e social. Aquela é considerada primária, pois só a ele incumbe sob pena da sua falência virtual; ao passo que a outra, se bem que necessária, é supletiva e concorrente, porquanto o Estado a exerce ao mesmo tempo que os particulares e para preencher as deficiências ou falta destes.”

Com efeito, os repasses financeiros feitos pela União aos Estados-membros, em virtude de determinação constitucional, são fundamentais à sobrevivência econômica de Estados, Distrito Federal e Municípios, e visam ainda promover desenvolvimento econômico e social nas regiões mais pobres. Os Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte (FNO), do Nordeste (FNE) e do Centro-

267MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira. Op.cit., pp. 80, 81.

268

Idem.

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Oeste (FCO), representam importante mecanismo de fomento na execução da política de desenvolvimento regional no Brasil.

A composição dos referidos fundos (FNE, FCO, FNO) se dá pela destinação de 3% da soma da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de um total de 48%, deste percentual tem-se que 21,5% são destinados para compor os recursos que formam o FPE e 23,5% para a composição do FPM, de acordo com o art. 159, I, a, b e c da Carta de 1988. 270

A União é o ente federativo com o maior número de impostos e é o único que tem autorização da Lei Fundamental para criação de outros, o que deu ao ente central uma posição privilegiada na composição de sua arrecadação cuja dimensão é nacional. Diante disto, em nome do Federalismo cooperativo a Constituição de 1988 promove uma repartição de rendas entre os entes federativos em que a União repassa parte do montante de alguns de seus impostos aos Estados, Distrito Federal e Municípios. A seu turno, os Estados-membros destinam parte do IPVA e do ICMS aos seus Municípios.

Assim por questões óbvias a repartição das receitas não se dá da periferia para o centro, o contrário é o que ocorre. A União reparte receitas com todos os demais entes federativos, sem de nenhum deles auferir repasses oriundos de impostos, enquanto que os Municípios apenas recebem, sem redistribuir parte de seus impostos com nenhum outro ente federal.

Interessante é que, no artigo 157, I e II, a Lei Maior atribuiu aos Estados e ao Distrito Federal os valores atinentes ao Imposto de Renda arrecadado na fonte por tais entes, suas autarquias e fundações, bem como 20% do montante arrecadado com impostos criados extraordinariamente pela União no exercício de sua competência residual. Nesta última hipótese, a repartição do tributo arrecadado residualmente pela União estaria condicionada à disposição do ente central em criar novos impostos, num cenário que tende a desestimular o surgimento deste tipo de tributo, em virtude justamente da obrigação da União em reparti-lo com os demais entes federados.

270 “Administrados pelo Ministério da Integração Nacional, pelos Conselhos Deliberativos de cada

Fundo e operados pelo Banco da Amazônia, na Região Norte (FNO), o Banco do Nordeste na Região Nordeste (FNE) e o Banco do Brasil na Região Centro-Oeste (FCO), os Fundos Constitucionais são, atualmente, a mais expressiva fonte de financiamento da política regional Brasileira.” Ministério da Integração nacional. Op.cit., p.04.

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Com base na Carta de 1988 a União partilha com os Municípios metade do montante arrecadado com o Imposto Territorial Rural (ITR) sobre os imóveis inscritos em seu território. No que tange ao ITR os Municípios terão direito à totalidade do montante auferido, cuja incidência tenha se dado no âmbito do respectivo Município, na hipótese de se responsabilizarem por sua fiscalização e arrecadação.

Os Municípios recebem dos Estados 50% do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) referentes aos veículos licenciados em seu território e auferem 25% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), além de lhes pertencer o montante do Imposto de Renda arrecadado na fonte por eles, suas autarquias e fundações.

É certo que a competência tributária estadual se estende por todo o território do respectivo Estado-membro. Deste modo em todos os Municípios, que compõem um determinado Estado, haverá cobrança e arrecadação de IPVA e ICMS. Enquanto que a capacidade tributária municipal resume-se ao seu território, cujo contingente populacional compõe-se apenas de uma parcela do montante populacional que forma o Estado-membro no qual se insere.

Destarte, a União não tem do que reclamar no plano tributário. Por outro lado, tem-se que os Estados-membros foram desprestigiados na formulação do arranjo constitucional referente à repartição de receitas tributárias porque perderam competência sobre uma série de impostos que em ordens constitucionais pretéritas estavam sob sua égide.271

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO-SP (páginas 123-126)