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O Fundo de Participação dos Estados

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO-SP (páginas 130-133)

CAPÍTULO 6 O DIREITO ESTADUAL E O DESENVOLVIMENTO

6.7. O Fundo de Participação dos Estados

Alguns Estados-membros são sustentados a partir dos repasses advindos do Fundo de Participação dos Estados, e tem na injeção de salários dos servidores públicos na economia local um dos principais fatores de desenvolvimento.

Neste contexto, a atuação estatal prepondera em virtude de lacunas deixadas pela iniciativa privada. Este modelo econômico indesejável é ainda agravado por problemas crônicos relacionados à gestão administrativa e à corrupção.

Para melhor ilustrar essa realidade mencionemos o que ocorre no Estado de Roraima onde parte considerável do território foi inviabilizada economicamente por conta da demarcação de reservas indígenas gigantescas, com a chancela do Supremo Tribunal Federal. 281

Neste caso, em particular, a competência da União para cuidar dessa matéria (demarcação de terras indígenas) foi utilizada em desfavor do desenvolvimento econômico daquele Estado-membro, cujo custeio se dá preponderantemente a partir dos repasses federais e da “economia de contracheque”. 282

O fato é que o exercício de competências comuns e a repartição obrigatória de verbas tributárias não têm sido bastante para concretizar o modelo de cooperação federativa proposto pela Lei Fundamental.

A necessidade de sobrevivência econômica tem levado os Estados mais pobres a se utilizarem de artifícios predatórios na captação de investimentos privados.

Vale lembrar que a própria Lex Mater determinou medidas com vistas ao equilíbrio federativo quando instituiu o modelo para distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados através do artigo 2º da Lei Complementar nº

281 Petição nº 3388-4/RR, Relator Min. Carlos Ayres Britto.

282 O Estado de Roraima, criado pela Constituição de 1988, faz fronteira com a Venezuela e com a

República Cooperativista da Guiana e tem quase metade, 46,37%, de seu território ocupado com áreas indígenas, dentre as quais se destacam as reservas São Marcos e Raposa Serra do Sol, essa última teve sua demarcação contestada por produtores rurais de soja e arroz. A referida demarcação foi confirmada pelo STF.

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62/89,283 pelo qual estavam definidos os critérios de rateio. Ocorre que tal dispositivo foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. 284

Diante disto, os governadores dos Estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Pernambuco solicitaram ao STF a manutenção daqueles mesmos critérios de distribuição do FPE expressos na Lei Complementar nº 62/89. 285

Sobre a Lei Complementar nº 62 tem-se que foi feita às pressas no ano de 1989 a partir de coeficientes de rateio estabelecidos de forma aleatória. Em verdade, a citada Lei foi pautada no contexto socioeconômico da época de sua criação, completamente distinto da realidade atual.

Percebe-se na iniciativa de alguns Estados do Sul e Centro-oeste (Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) em também questionar a Lei Complementar nº 62 perante o STF, a intenção de obtenção de maior participação nos valores que lhes são repassados pelo FPE.

Vale destacar que a maior parte dos recursos do Fundo de Participação dos Estados destina-se às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A revisão do rateio de acordo com o que pleiteiam alguns Estados representaria a insolvência de boa parte dos Estados do Nordeste e Norte do País.

Com efeito, os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não teriam motivos para reclamar do modelo de repartição dos valores do Fundo de Participação dos Estados em virtude de também se beneficiam dele, diferentemente

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Assim dispunha a antiga redação do art. 2º da LC nº 62/89: “Art. 2° Os recursos do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE serão distribuídos da seguinte forma:

I - 85% (oitenta e cinco por cento) às Unidades da Federação integrantes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste;

II - 15% (quinze por cento) às Unidades da Federação integrantes das regiões Sul e Sudeste.

§ 1° Os coeficientes individuais de participação dos Estados e do Distrito Federal no Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE a serem aplicados até o exercício de 1991, inclusive, são os constantes do Anexo Único, que é parte integrante desta Lei Complementar.

§ 2° Os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal, a vigorarem a partir de 1992, serão fixados em lei específica , com base na apuração do censo de 1990.

§ 3° Até que sejam definidos os critérios a que se refere o parágrafo anterior, continuarão em vigor os coeficientes estabelecidos nesta Lei Complementar.”

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Deste modo, 31/12/2012 foi o prazo estipulado pelo STF para a criação da nova norma jurídica sobre o tema. Entretanto, o citado prazo expirou sem manifestação do Congresso Nacional no sentido de suprir a lacuna legal apontada pelo Supremo. Após isso, a Suprema Corte, liminarmente, determinou a continuidade das regras de distribuição do FPE até o mês de maio de 2013. ADI 2727.

285 ADI 2727, ADI 3243, ADI 875, ADI 1987. “O julgamento foi unânime apenas em relação à ADI

1987, que na verdade é uma Ação Direita de Inconstitucionalidade por Omissão, no tocante à declaração de que há um vácuo de lei complementar a partir do ano de 1992. Nas demais ações, o ministro Marco Aurélio foi vencido pela maioria que julgou as ações de inconstitucionalidade procedentes.” Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=120714.

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do Rio Grande do Sul que tem sua quota do FPE retirada dos repasses destinados aos Estados do Sul e Sudeste, repasses estes bem inferiores àqueles feitos às demais regiões brasileiras.

A nova equação distributiva, defendida pelo Centro-Sul, certamente representaria uma diminuição das receitas transferidas aos Estados do Norte e Nordeste, o que produziria o agravamento da crise federativa brasileira em seu aspecto financeiro.

No próximo capítulo faremos menção mais detalhada sobre as decisões do STF sobre os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados.

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