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O Fundo de Participação dos Estados à luz da Suprema Corte 1

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO-SP (páginas 162-164)

CAPÍTULO 7 A FEDERAÇÃO E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

7.8. O Fundo de Participação dos Estados à luz da Suprema Corte 1

No que se refere ao Fundo de Participação dos Estados355, instrumento de promoção de equilíbrio socioeconômico entre os Estados-membros - surgido com a Emenda Constitucional nº 18/65, devidamente recepcionado pela Constituição Federal de 1967 - o STF declarou a inconstitucionalidade de todo o artigo 2º da Lei Complementar 62/89, definidor dos critérios de rateio concernente aos Estados- membros e ao Distrito Federal, através das Ações Diretas de Inconstitucionalidade ajuizadas pelo Rio Grande do Sul (ADI 875) 356, Goiás (ADI 1987) 357, Mato Grosso

(ADI 3243) 358 e Mato Grosso do Sul (ADI 2727) 359.

Um dos argumentos das citadas ações consiste em que o contexto socioeconômico do Brasil na época em que foi criada a Lei Complementar nº 62, seria completamente diferente da realidade social e econômica vivenciada pelo País

Janeiro: inconstitucionalidade, porque ofensiva ao disposto nos arts. 21, XXIV, e 22, I, da CF.” (ADI 1.893, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 12-5- 2004, Plenário, DJ de 4-6-2004.)

355 A este respeito extrai-se da PEC nº 04/2012, de autoria do Senador Ricardo Ferraço, o seguinte

extrato: “O Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal – FPE, por sua vez, constitui o principal instrumento de transferência financeira não voluntária do regime federativo brasileiro. Constitucionalmente, o FPE tem como propósito promover o equilíbrio socioeconômico entre os entes da Federação (conforme o art. 161, inciso II, da Lei Maior). No entanto, isso não foi levado em consideração na definição dos coeficientes atribuídos a cada estado pelo art. 2º e pelo Anexo Único da Lei Complementar nº 62, de 1989, o que acabou agravado pela não edição da norma específica prevista no § 2° do recém-citado art. 2º. Em face do não atendimento do comando constitucional, o Supremo Tribunal Federal declarou, em fevereiro de 2010, inconstitucionais os dispositivos da Lei Complementar nº 62, de 1989, relacionados com o FPE, estabelecendo que a sua vigência manter- se-á somente até 31 de dezembro de 2012.”

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O governo do Rio Grande do Sul, na ADI 875, através desta ação manifestou-se pela inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei Complementar Federal 62/89, alegando ter havido lesão ao princípio da igualdade assegurado pela Constituição Federal, em seu art. 5º da Lex Major.

357 A (ADI 1987) é na verdade uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão ajuizada pelo

Mato Grosso e por Goiás em face da Lei Complementar 62/89, sob o argumento de que tal lei não contemplou rateio justo e objetivo na promoção do equilíbrio sócio-econômico entre os Estado da Federação.

358 A ADI 3243 foi ajuizada pelo governo de Mato Grosso contra a Lei Complementar Federal nº

62/98, sob alegação de que o FPE não cumpriria sua função social em favor do equilíbrio sócio- econômico entre as unidades da federação. Assim, o entendimento é que a citada lei afrontaria o artigo 159, inciso II, da Constituição Federal, que determina a distribuição da arrecadação sobre produtos industrializados aos estados e ao DF, bem como o artigo 161, inciso II. Esse dispositivo atribui à lei complementar o estabelecimento de normas sobre a entrega dos recursos e o critério de rateio utilizado pela União.

359 Pela ADI 2727 o governo de Mato Grosso do Sul alegou a inconstitucionalidade dos parágrafos 1º,

2º e 3º do artigo 2º da Lei Complementar Federal nº 62/98 e parte da Decisão Normativa nº 44/01 do Tribunal de Contas da União. Os dispositivos contestados da Lei Complementar definem a forma de distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE).

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no limiar do Século XXI. Além do mais, os coeficientes de rateio teriam sido estabelecidos de modo precário por acordos políticos feitos às pressas.360

O fato é que este modelo de FPE, praticado desde 1989, favorece a alguns Estados em detrimento de outros, em nome do Federalismo cooperativo.361 Os

Estados das regiões mais pobres se esforçarão para manter o volume de seus repasses, com óbvia resistência das Regiões Sul e Sudeste.362

Uma solução para este impasse foi apresentada no Senado pela qual se propôs a manutenção do FPE com base nos seguintes critérios: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maior população, menor renda per capita e em níveis de pobreza. Tais indicadores ajudariam a produzir um coeficiente, para repartição do dinheiro do Fundo, bem parecido com aquele praticado atualmente. 363

A Lei Complementar nº 62/1989 tinha previsão para valer apenas até 1992. A partir dos dados obtidos pelo IBGE, no censo de 1990, uma nova norma para distribuição dos valores do FPE deveria ter sido criada, pautada na admissibilidade de revisões periódicas dos coeficientes de rateio. O fato é que a referida norma não foi produzida.

Diante disso, o Supremo considerou inconstitucional a referida LC nº 62/89, no que determinou prazo até o dia 31 de dezembro de 2012, para que entrasse em vigor outra norma com nova disciplina sobre o tema. O prazo se esgotou sem que o Congresso Nacional tivesse produzido a referida lei. O STF prorrogou por mais 150 dias o prazo para a criação de nova legislação.

360Com base na petição inicial da ADI 1987 tem-se que: “A partir de 1988, as cotas destinadas aos

Estados seriam vinculadas a dados objetivos apurados pelo IBGE (Lei Complementar nº 59/88). Contudo, às vésperas do censo previsto para 1990, um acordo político entre Governo Federal e Governos Estaduais levou à aprovação da Lei Complementar nº 62/89, pela qual os índices de participação dos Estados foram fixados arbitrariamente, de forma provisória, para o exercício de 1991 – em prejuízo de várias unidades da federação, principalmente do Centro-Oeste.”

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“(...) O FPE 2011 distribuiu R$ 48 bilhões. Para efeito de comparação, o Maranhão, com seus 6,5 milhões habitantes, recebeu R$ 3,47 bilhões do fundo, ao passo que São Paulo, o estado mais populoso do país (41 milhões de habitantes), ficou com apenas R$ 480 milhões. Outros casos: o fundo rendeu R$ 1,19 bilhão a Roraima, o Estado menos habitado (450 mil pessoas), e entregou R$ 730 milhões e R$ 720 milhões, respectivamente, ao Rio (16 milhões de habitantes) e ao Espírito Santo (3,5 milhões).” Fonte: Congresso em Foco - Internet - Data: 26/03/2012

362 Projeto de autoria do deputado federal Gilney Viana que altera a Lei Complementar nº 62 de

28/12/1989 visando estabelecer critérios de rateio do FPE dos Estados e do Distrito Federal.

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No limite deste prazo a Câmara e o Senado aprovaram a Lei Complementar nº 143/2013, com destaque para o dispositivo de proteção aos Estados-membros contra desonerações concedidas pela União a partir de impostos repartidos com os Estados, para que referidas desonerações pudessem ser descontadas apenas da parte da arrecadação atinente à União, não mais da totalidade dos recursos do FPE. Entretanto, a norma foi sancionada, com veto a esta proposição.364

A antiga redação do art. 2º, I e II da LC nº 62/89 determinava que 85% do valor do FPE fossem distribuídos entre as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e os outros 15% para as Regiões Sul e Sudeste.

Pela nova redação dada pela Lei Complementar nº 143/2013 tem-se que os coeficientes individuais de participação dos Estados e do Distrito Federal no FPE, a serem aplicados até 31/12/2015, são os constantes do Anexo Único contido na aludida Lei Complementa e a partir de 01/01/2016, cada entidade beneficiária receberá valor igual ao que foi distribuído no correspondente decêndio do exercício de 2015, corrigido pela variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou outro que vier a substituí-lo e pelo percentual equivalente a 75% (setenta e cinco por cento) da variação real do Produto Interno Bruto nacional do ano anterior ao ano considerado para base de cálculo. Após a aplicação dessas correções, caso ainda existam recursos para distribuição, a repartição será proporcional à população e inversamente à renda per capita dos Estados.

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO-SP (páginas 162-164)