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ANEXOS ANEXO A KEY WORDS LÍNGUA INGLESA

3 ENFOQUE TEÓRICO

3.2 A ORGANIZAÇÃO DOS DICIONÁRIOS BILÍNGUES

O dicionário bilíngue apresenta como característica a correspondência lexema a lexema entre duas línguas estrangeiras, relacionando os vocabulários de duas línguas por meio de equivalentes de tradução (HARTMANN E JAMES, 1998). O que diferencia um dicionário bilíngue de um monolíngue é que este último apresenta a explicação do lema por meio de definições na mesma língua da entrada, enquanto que no dicionário bilíngue a explicação se dá na forma de equivalente(s) na língua- meta. As obras de referência bilíngues revelam uma complexidade própria por trabalharem na descrição do léxico de duas línguas na perspectiva de fornecer itens lexicais equivalentes que atendam às demandas de tradução do consulente. Embora exista ausência de um consenso no âmbito da lexicografia a respeito do que se estabelece por “equivalência”, em linhas gerais, esta pode ser entendida como um recurso de equiparação do conteúdo semântico entre o léxico de uma L1 e o léxico de uma L2 (ZGUSTA,1971; KROMAN, 1991; CARVALHO, 2001), porém a busca por equivalências entre o léxico de diferentes línguas parece não ser uma operação tão simples “[...] uma vez que o recorte linguístico-cultural pode não ser o mesmo em todas as línguas, o que cria lacunas ou impõe equivalências aproximativas” (BARROS, 2004: 235). Como as realidades diferem cultural, econômica e linguisticamente a ideia de equivalência absoluta parece ser algo bastante difícil, o que se sugere que existam, na verdade, graus de equivalências. Carvalho (2001:113), conforme (Welker 2004) resume o que Hausmann (1977), Werner (1982), Rettig (1985) abordaram a respeito de diferentes tipos ou graus de equivalência:

(i) Equivalência total entre o lexema ALF e o lexema BLA (congruência; mono-equivalência) – . Exemplo: oxigênio > oxygen; orquídea> orchid.

(em geral são termos técnicos ou lexemas que designam objetos muito específicos como orquídea).

(ii) Relação “divergente”: um único lexema na LF > vários lexemas na LA. Exemplo: firma > firm, signature. (iii) Relação “convergente”: dois ou mais lexemas na LF > um único lexema (polissêmico) na LA. Exemplo: finger, toe > dedo.

(iv) Relação “multivergente”: combinação da divergência e da convergência; é a relação mais comum. Exemplo: flor > flower, blossom, bloom; bloom > flor, florescência, frescor, beleza.

(v) Ausência de equivalência: teóricos da tradução propuseram várias soluções (cf.Carvalho 2001:118): (a) empréstimo (seguido de explicação): interventor > interventor (+ explicação); (b) decalque – tradução literal, “tradução-cópia”: alemão: Bundesrat > Conselho Federal (+ explicação); (c) item lexical análogo: um item lexical da LA designa um objeto ou fato designado pelo item lexical da LF: INSS > (US) Welfare Department; (d) paráfrase: alemão: Blaster > pessoa que gosta de executar tarefas manuais. (WELKER 2004:195)

Uma vez variável, nem sempre total ou absoluta, a equivalência pode ser também entendida como uma entidade negociável (Pym,1992; Steiner, 2005), sendo os tradutores os responsáveis por essa negociação, o que se pressupõe que a equivalência entre textos de dois idiomas é negociada por quem traduz de acordo com um contexto comunicativo, histórico e culturalmente estabelecido. Vista por este aspecto, o tradutor poderia contar com recursos, entre os quais aqueles como explicitados por Carvalho (2001:118), para auxiliar na equiparação entre o léxico de uma língua 1 com o léxico de uma língua 2.

Acreditamos que o estabelecimento de equivalentes de L1 para L2 pode ser possibilitado por meio da observação da língua em uso presente nos textos da área sob investigação, em que os correspondentes tradutórios devem cumprir o mesmo papel, nos dois idiomas (inglês/português) dentro de um mesmo contexto comunicativo, representado pelo texto técnico.

Outra característica que difere os dicionários bilíngues dos monolíngues é que nos dicionários bilíngues não existe preocupação de cobrir todas as características sintático-semânticas dos itens. Um grande problema é o número limitado dos itens e das definições que são dispostos neste tipo de dicionário, uma vez que privilegiam a equivalência, não apresentando definições explicativas (TOSQUE, 2002). Ainda assim, este tipo de dicionário desempenha um papel de relevada importância no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, uma vez que estabelecem relações entre línguas e culturas distintas, o que propicia a compreensão do léxico, tanto geral quanto especializado, lhe conferindo status de ferramenta didático-pedagógica.

Na direção de um dicionário bilíngue considera-se a posição da língua materna do usuário em relação a uma língua estrangeira. O dicionário pode tomar a língua materna do usuário como língua-fonte, vindo constituir o lema ou como língua-alvo, constituindo os equivalentes. Assim, as informações podem ser dispostas em duas direções: da língua estrangeira para a língua materna (direção passiva) e da língua materna

para a língua estrangeira (direção ativa). Conforme Welker (2004) esses dicionários podem conter duas direções (por exemplo, português-francês e francês português) ou apenas uma delas.

Já a função está relacionada ao tipo de tarefa que o consulente objetiva fazer ao usar o dicionário. Desse modo, o dicionário pode ser usado para a decodificação/recepção da língua estrangeira (também chamado passivo) ou para a codificação/produção em língua estrangeira (também chamado ativo).

Um dicionário para decodificação é desenvolvido para atender as necessidades de tradução da língua estrangeira para a língua materna do consulente, e, também, para compreensão de textos em outra língua. O dicionário para codificação é designado com a função de tradução de textos da língua materna do consulente para uma língua estrangeira e para a produção de textos em outra língua (HAUSMANN, 1977).

Ter claro as distintas situações de uso, ou seja, estabelecer a distinção a respeito da direção e da função do dicionário é de grande importância, pois vai determinar o desenho da macro e da microestrutura quanto ao tipo de informação lexicográfica que será disponibilizada na obra. Welker (2004:199) diz que “[...] os dicionários bilíngues deveriam ter uma feição distinta em consequência das duas situações de uso bem diferentes uma da outra”, ressaltando que, mesmo em relação aos monolíngues, o consulente que tenha por objetivo a produção de texto necessitará de muito mais informações comparando-se com aquele que deseja apenas comprrender a mensagem.

Quanto a essa distinção, Damim e Bugueño Miranda (2005) observam que um dicionário passivo (para compreensão) deve apresentar uma macroestrutura densa, o que significa dizer que os itens lexicais devem compor uma lista suficientemente extensa, a fim de que o consulente desempenhe relativamente bem as atividades de tradução de textos e compreensão em uma língua estrangeira. No dicionário ativo (para produção) a ênfase é dada na microestrutura, ou seja, a relevância do dicionário ativo dá-se através da quantidade de informações que são apresentadas no interior do verbete, que necessita ser suficiente para que o usuário possa expressar-se de modo correto e claro na língua estrangeira. Ainda, segundo Damim e Bugueño Miranda (2005:5): “[...] a qualidade de um dicionário deve estar relacionada à adequação entre a sua proposta e as necessidades de seus usuários.” Isso implica afirmar que o perfil do usuário do produto lexicográfico também deve ser levado em conta, pois é com base nele, que as decisões em relação à estrutura organizacional e o conjunto de informações de cunho lexicográfico que compõem o dicionário devem ser pensados (WELKER, 2004). Ademais, acreditamos que as

observações a respeito dos dicionários bilíngues até aqui expressas, podem, também, ser aplicadas aos repertórios bilíngues de natureza terminológica que se propõem a sistematizar o uso de léxico específico, elaborado com vistas a atender um determinado grupo de usuários dentro de um ramo especializado, pois consideramos que:

Ainda que se reconheça, como bem assinala Cabré (1998, p.38), que as regras gerais que governam o funcionamento do léxico são as mesmas que governam os termos e que não temos uma “língua” diferente da língua portuguesa do Brasil na comunicação técnico- científica feita em português, acreditamos que os processos de trabalho lexicográfico e terminográfico realmente interconectam-se em vários pontos”. (BEVILACQUA E FINATTO, 2006:49 (grifo das autoras) ).

Em sendo o presente estudo vinculado ao tratamento dos termos de uma língua de especialidade de uma área específica, portanto, um projeto de cunho terminográfico, pensamos oportuno apresentar algumas reflexões relacionadas ao campo da Terminologia que embasam as obras de referências desses domínios, como é o caso de nossa proposta.