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Capítulo II- A Deficiência PDI

2.2. A perturbação do desenvolvimento intelectual

Segundo Andrade, Cotrim, Fritz, Martins e Palha (2016), a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual (PDI) é tão antiga quanto a própria humanidade, e é um conceito que substitui os anteriores termos, como atraso mental, retardo mental ou de deficiência mental, entre outras. De todas as perturbações do neurodesenvolvimento a PDI é a mais grave e a mais difícil de realizar o diagnóstico, principalmente em situações estado-limite, a que define uma intervenção mais complexa e a de pior prognóstico. Sendo que se trata de uma patologia que afeta o sistema nervoso central, o diagnóstico de PDI só poderá ser realizado por um médico, especializado na área do neurodesenvolvimento. A PDI envolve um grande espectro de funcionamento, de necessidades de apoio, de capacidades e limitações. Segundo o DSM-5 (2013), a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual é uma síndrome do neurodesenvolvimento, com início durante o período de desenvolvimento e que contem um défice cognitivo/intelectual ligado a um défice comportamental, nomeadamente, a autonomia da pessoa. Os défices no comportamento ligado ao défice intelectual afetam um ou mais ambientes, e um ou mais dos três domínios: o domínio social; o domínio concetual e o domínio do funcionamento prático. Para realizar o diagnóstico de PDI existem três critérios fundamenteis que necessitam de estar presentes: défices nas funções intelectuais; défices no comportamento adaptativo e défice do nível de gravidade. Segundo Andrade, Cotrim, Fritz, Martins e Palha (2016), no ponto vista nosológico foram declarados os critérios classificados integrados no DSM- 5, no CIM-10 (Organização Mundial de Saúde, 1994), e as ideias e os termos propostos pela American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD, 2010).

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Segundo o DSM-5 (2013), no primeiro critério, défices nas funções intelectuais, a deficiência é definida por défices nas capacidades cognitivas, tais como: a resolução de problemas, o raciocínio, a organização, o pensamento abstrato, as aprendizagens escolares e as aprendizagens adquiridas nas experiências de vida. A deficiência intelectual afeta, aproximadamente 2 ou mais desvios-padrão no quociente de inteligência (QI), ficando abaixo da média da população para uma pessoa da mesma idade. Esse desvio equivale a um QI de 70 ou menos, e é classificado através de testes específicos para cada pessoa. No segundo critério, os défices das capacidades cognitivas afetam o funcionamento da pessoa comparativamente a uma pessoa da mesma idade, impedindo a sua participação e a realização de alguma atividade da vida diária, como por exemplo: a comunicação, a autonomia em casa ou em outros contextos externos, a participação social, a aprendizagem escolar e laboral, entre outros. Estes obstáculos têm como consequência a urgente necessidade de um maior apoio na escola, no trabalho e na vida diária. Portanto, além da deficiência intelectual ainda existe um défice profundo no funcionamento da pessoa. No terceiro critério, o início durante o período de desenvolvimento deve ser analisado o nível de gravidade: ligeiro; moderado; grave e profundo. A PDI deixou de se fundamentar no nível de Q.I. Os diversos níveis de gravidade são estabelecidos de acordo com o funcionamento da pessoa, o qual determina o nível de apoios necessários na intervenção.

Segundo o DSM-5 (2013), a PDI atinge, aproximadamente, 1% da população, ou seja, a taxa de predomínio está entre 0,4 a 1,4%. Portanto, esses dados demonstram um grande problema de saúde pública, não apenas pelo aumento de predomínio, mas, principalmente, pela grande necessidade de apoios sociais. A PDI tem uma maior tendência no sexo masculino, embora não haja uma boa concordância entre todas as causas, e costuma ser mais predominante em famílias desfavorecidas nas zonas rurais e nos países em desenvolvimento. As causas de PDI são orgânicas (doença genética ou de nascença) e psicossociais (falta de estimulação social ou linguística), havendo em certos casos ambas das causas. As causas orgânicas podem estar relacionadas com as doenças genéticas (anomalias, alterações cromossómicas, síndrome de down, etc.), com comportamentos de risco praticados durante a gravidez (ingestão de medicamentos, álcool, vírus, má nutrição para o feto, consumo de estupefacientes), com problemas examinados durante o parto e doenças surgidas nos primeiros dias de vida (infeções, hemorragias intraventriculares, meningite bacteriana, a ingestão de produtos com chumbo, a encefalite, a anemia, etc). A causa psicossocial é considerada a mais grave,

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pois em cerca de 40% dos casos torna-se difícil de definir uma causa de PDI. As funções do neurodesenvolvimento são as mais recentes na espécie humana (por exemplo a linguagem e a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática), e que dependem muito de educadores.

De acordo com Andrade, Cotrim, Fritz, Martins e Palha (2016), a grande questão ética em relação à atitude da sociedade perante as pessoas com PDI encontra-se na opção pela prioridade da qualidade vida ou na prioridade do conceito de vida independentemente da sua aparência ou qualidades. A forma como têm sido enfrentadas as diferenças interpessoais ao longo dos anos mudou bastante. Depois da segunda grande guerra mundial diversos paradigmas, na compreensão e na aceitação das diferenças, vieram formar verdadeiros marcos históricos. Nos anos 50 e 60 do século XX foi proposto o conceito de integração, defendendo que todos os cidadãos devem usufruir dos seus direitos (igualdade de oportunidades, espaços sociais e serviços comunitários). No entanto, esta proposta foi difícil de realizar, pois não bastava lutar apenas pela integração das pessoas com PDI. Na década de 80 do século passado surgiu o conceito de inclusão, onde todas as pessoas com PDI deveriam ser objeto de uma política ativa de inclusão na comunidade. Contudo, não bastava ser apenas integrado e deixar de ser excluído, pois era necessário criar e aplicar um conjunto de medidas para que pudesse concretizar uma integração com sucesso. A integração das pessoas com PDI, no sentido mais amplo, supõe a aplicação de um estilo de vida convencional (normal) sem o recurso a instituições especiais que, inevitavelmente, promovem a segregação, como são por exemplo as escolas de educação especial. Na fundamentação do ideal integracionista, não se devem utilizar argumentos, tais como, benefícios educativos, humanização dos colegas, entre outros, mas sim deve-se basear no direito à integração, independentemente, das características físicas, psicológicas ou culturais que diferencia a pessoa dos restantes da sociedade. Assim sendo, segundo Andrade, Cotrim, Fritz, Martins e Palha (2016), na possibilidade de encontrar resultados menos bons na prática do conceito de integração deve-se alterar as estratégias, de forma a evitar novamente uma intervenção ineficaz.

De acordo ainda com Andrade, Cotrim, Fritz, Martins e Palha (2016), na sociedade uma pessoa com deficiência deve ter uma família comum, deve estar integrada no sistema regular de ensino, deve aceder às atividades de lazer da comunidade, deve ter acesso à formação profissional e ser integrada no mercado de trabalho, etc. No entanto, para que isso tudo seja possível de se concretizar é necessário mudar as mentalidades das pessoas, de forma a combater o estigma negativo da deficiência e promover o conceito de

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adaptação (adaptação curricular, adaptação à prática desportiva, adaptação às tarefas profissionais, acessibilidades arquitetónicas, etc).

Passamos para o ponto seguinte deste capítulo, onde iremos abordar a deficiência e as respostas sociais no Algarve, nomeadamente no concelho de Silves.