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Capítulo II- A Deficiência PDI

2.1. As conceções da deficiência

Segundo Dias (2001, citado em Silveira, 2017) o processo de inclusão ou de exclusão social tem início no momento que nasce a pessoa, enquanto esta se insere e interage com diversos sistemas ecológicos, como a escola, a família, os pares e a comunidade. Como já foi referido anteriormente, a humanidade é composta por diversas pessoas diferentes, que são influenciadas pelos diferentes contextos que se encontram incluídas ou não. Resumidamente, as ideias criadas acerca das pessoas com deficiência foram-se modificando através, da evolução das sociedades, o tempo cronológico, os acontecimentos que marcaram a mudança de mentalidades, o espaço e a causalidade concedida por essas sociedades. De acordo com Dias (2001, citado em Silveira, 2017), na idade média prevalecia o modelo da previdência, o qual atribuía a origem da deficiência a motivos religiosos e a imagens diabólicas. A deficiência naquela época era considerada um castigo divino. Esse modelo fazia com que as pessoas fossem excluídas e condenadas. Após algum tempo, começou a aparecer alguma preocupação com as pessoas com deficiência, criando-se estruturas para a sua institucionalização. Contudo, a inclusão social não era ainda uma preocupação por parte da sociedade. Só começou a existir essa preocupação a partir do final do século XIX, e que foi obtendo mais destaque ao longo do século XX. Atualmente, como se tem vindo a verificar, o conceito de deficiência continua ainda em desenvolvimento. Para além do mais, ainda não está completamente

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assegurado às pessoas com deficiência o acesso aos direitos, à política, à participação social, à cidadania, entre outros. Portanto, estes atores sociais, continuam a defrontar-se com diversas barreiras estruturais.

Segundo Forhman e Barreto (2016), essas barreiras são o resultado do percurso histórico, que se refletem na atualidade, nomeadamente, nas leis, nos comportamentos e na realidade social. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) representa um instrumento importante de diagnóstico de incapacidade da deficiência. De acordo com a CIF (2003, citado em Silveira, 2017), a deficiência pode ser considerada como um problema a nível das funções ou estruturas do corpo, tais como um desvio ou uma perda. As limitações são dificuldades que uma pessoa pode ter na realização de atividades diárias, bem como restrições de participação, ou seja, são problemas que podem defrontar em situações de vida real. Desta forma, a CIF diferencia a deficiência de incapacidade. A deficiência é considerada como uma modificação a nível corporal, e a incapacidade é um conceito mais abrangente, ou seja, uma pessoa pode ter uma deficiência, mas sem apresentar qualquer incapacidade. A deficiência pode ser definida em diversas áreas, tais como: linguagem; audição; visão; física; orgânica; mental e intelectual. A incapacidade apresenta outros tipos de limitações, tais como: falar; ouvir e interagir; ver; andar; realizar a higiene pessoal; vestir; alimentar; aprender; compreender; relacionar-se; ter consciência, etc. Quando se trata de desvantagens utilizam-se conceitos, tais como: comunicação; orientação; independência física; mobilidade; capacidade ocupacional; integração pessoal, etc. Segundo Almiralian, Ghirardi, Masioni e Pasqualin (2000), enquanto o conceito de deficiência é definido pela Classificação Internacional de Doenças (CID10) por perda (temporária ou permanente) ou por anomalia na estrutura ou função do corpo, a incapacidade é considerada como uma consequência da deficiência quer física, mental ou sensorial.

Segundo Dias (2011), devido às incertezas do conceito de deficiência surgem diversos obstáculos na compreensão da mesma, quer acerca da sua definição quer da sua classificação e caracterização. De acordo com Sassaki (2003) não existe concordância na definição de deficiência, pois nunca houve nem vai existir um único conceito válido para todas as sociedades. Ao longo dos anos têm sido sempre apresentados diversos termos para definir os cidadãos com deficiência em concordância com o tempo e o espaço em que são encontrados. Recuando no tempo, segundo Sassaki (2003), encontram-se diferentes definições, de acordo com a sua época cronológica e os acontecimentos que destacaram mudanças de mentalidades. As definições como os defeituosos e os

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excecionais precederam a denominação de pessoas com deficiência pela Organização das Nações Unidas (ONU), no âmbito de criação do ano Internacional das Pessoas com Deficiência. Proveniente das NEE surgiu assim a denominação de pessoas com Necessidades Especiais, embora a palavra especial não seja restrito das pessoas que tenham deficiência.

Segundo Dias (2011), o conceito de deficiência está ligado a diversos aspetos alusivos ao ser humano. Portanto, aborda às suas características individuais e à sua condição de vida, mas também o desenvolvimento de interações e aos diversos contextos onde evolui. Segundo Ferreira (2007), entende-se que o grau de evolução moral de uma sociedade poderá ser avaliado a partir da forma como trata e respeita todas as pessoas que são diferentes. De acordo com a ONU- Organização das Nações Unidas (1994), existem fatores particulares que prejudicam as condições de vida das pessoas com deficiência, tais como: a ignorância, a crença, o medo e o abandono. Estes fatores ao longo da história da deficiência isolaram essas pessoas e atrasaram o seu desenvolvimento.

Segundo a Convenção das Nações Unidas (2008), a deficiência é um conceito ainda em evolução, mas define-a como resultante da interação entre pessoas com incapacidade e barreiras ao nível do comportamento e ambiente que impossibilitam a sua participação ativa na sociedade e em condições de igualdade. Para Saeta (1999), a deficiência não pode ser considerada apenas como uma característica existente no organismo ou no corpo da pessoa, decidida por um diagnóstico que cumpre apenas com critérios médicos. Na mesma perspetiva, para Omote (1994, citado em Dias, 2011) o conceito de deficiência deve ser entendido segundo a “análise do fenómeno de construção social da deficiência” (p.14). Portanto, consiste num conjunto de expetativas sociais fundamentais das inter-relações determinadas entre todos os membros constituintes do grupo social. Os comportamentos e ações da sociedade em geral é que definem a pessoa como sendo “deficiente” ou incapacitado, ou seja, existe neste conceito uma interpretação da deficiência baseada em crenças. Uma outra conceção criada para a deficiência, segundo Diniz, Squinca e Medeiros (2007), está relacionada com as limitações das habilidades básicas da pessoa com deficiência, pois a deficiência supõe a existência de mudanças de algumas habilidades que sejam categorizadas como restrições ou lesões. A diversidade de interpretações em torno do corpo e da relação deste com o ambiente social passa a maior parte das discussões atuais sobre a deficiência.

De acordo ainda com Diniz, Squinca e Medeiros (2007), outro aspeto para descrever a deficiência é o facto de revelar-se na pessoa como um estado duradouro e

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contínuo. Isto significa que a pessoa com deficiência demonstra certas perdas ou anormalidades na sua estrutura física, psicológica, fisiológica ou anatómica, que podem criar ou não incapacidades na execução das atividades diárias. Para Louro (2001), a deficiência pode ocorrer por motivo de uma doença, de anomalia congénita ou de acidente. Este autor faz a separação entre a deficiência adquirida em acidente e a deficiência hereditária ou adquirida em nascença.

Passamos para o próximo ponto, a designar a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual.