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Entrevista Técnico 3- 08 de Abril de 2019 Técnica Patrícia (Psicóloga Clínica) – T3

Entrevistadora- E

Duração da Entrevista – 15´54 Minutos E- Como é que se chama?

T3- Patrícia

E- E quantos anos tem? T3- 38 anos

E- Qual é a sua profissão? T3- Psicóloga Clínica E- E onde é que vive? T3- Albufeira

E- A nível do percurso escolar, considera que a escola apoia esses alunos com deficiência após o ensino obrigatório?

T3- De todo, de maneira alguma

E- Os utentes que acompanha considera que fizeram uma boa transição pós-escolar? T3- Pois isso é um bocado subjetivo…na vida real a maioria não tem emprego…só nas instituições realmente por exemplo como a Casa do Povo onde isso é incluído e hoje em dia já algumas instituições têm esse protocolo a nível de inclusão, aí sim é inserido agora de resto….muito dificilmente arranjam um emprego

E- Considera que os utentes estão preparados na escola para as atividades da vida diária? T3- Hoje com a nova lei que existe que ainda não está bem implementada, aí acredito que com o decorrer dos anos daqui a uns três/quatro anos…agora não

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E- Os utentes que estão desempregados você vê que estão interessados em procurar emprego? Se não, quais são os motivos dessa desmotivação?

T3- Se for para alguma instituição sim, são motivados para….agora se estiverem em casa e realmente não tiverem um acompanhamento nesse sentido não. Aqui na Casa do Povo são incentivados. Na Casa do Povo são incentivados…têm essa motivação para….aliás nós temos aqui alguns que têm protocolos com a segurança social inclusiva e que estão a trabalhar nas nossas condições

E- Considera que existe falta de abertura no mercado de trabalho para estas pessoas com deficiência?

T3- Sem dúvida, as pessoas não estão preparadas para isso, é muito complicado. Mesmo havendo alguma abertura, por exemplo aqui na instituição é muito difícil e todos os dias acontece alguma coisa, porque as pessoas não estão habituadas a falarem com estas pessoas, com algumas deficiências querem elas motoras sejam quais forem…e não conseguem entender…para eles nós temos de ser todos “normais”

E- Os utentes que entraram na instituição adaptaram-se bem às atividades ou senão de que forma é feita essa adaptação?

T3- Normalmente adaptam-se bem, o maior problema aqui são as famílias, porque as famílias têm muitos receios, muitos medos e muitas vezes os utentes não fazem mais porque as famílias não deixam

E- Desde que trabalha com estes utentes tem deparado progressos e evolução?

T3- Sim sem dúvida…a nível social, a nível de inclusão, a nível cognitivo também…as vezes é difícil mas tentamos de alguma forma combater isso também, fazemos vários jogos, várias estratégias

E- Os utentes demonstram interesse e motivação em participar nas atividades que proponham?

T3- Sim, lá está…eles demonstram interesse e motivação, as vezes não têm logo aquela abertura: Ai! Sim vou, mas são motivados e depois vão…depois acaba por haver uma interrupção às vezes dita pela família, isso existe muito em alguns casos

E- Na sua opinião qual é o maior motivo de eles virem para a instituição?

T3- São pessoas muito isoladas, são pessoas que não têm ninguém…depois os pais vão trabalhar a maioria deles, há outros que temos aqui casos adultos também. Temos aqui um caso por exemplo que tem um pai apenas presente e ele vive sozinho, e isto é um meio de passar o tempo

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T3- A nível social e a nível emocional, porque eles não conseguem gerir muito bem as emoções…a maioria deles tem muita dificuldade. Temos aqui um caso que trabalha na cozinha e ela muitas das vezes leva a mal o que é dito pelas outras senhoras que estão lá a trabalhar, porque é pedido para fazer desta forma e ela acha que elas estão simplesmente a gozar. Pronto lá está a nível da interpretação, a nível emocional, o gerir aquilo é muito difícil porque são coisas básicas mas que eles não entendam da mesma forma

E- E os utentes manifestam interesse em ter autonomia financeira? T3- Manifestam, o problema é gerir o dinheiro

E- A atual rede de transportes públicos é suficiente para os utentes que se encontram mais isolados daqui da freguesia?

T3- Podia haver mais, é difícil deslocarem-se com facilidade. Eu acho que nós aqui temos uma rede de transportes que podia ser mais ampla

E- Considera que os utentes têm fácil acesso aos bens essenciais e restantes serviços? T3- Aqui até têm, mas o problema é que as vezes…o centro de saúde aqui não suficiente, eles têm que ir ao hospital, depois para o hospital eles não têm meio transporte pra puder ir, mas depois também têm facilidades e têm muita ajuda da junta de freguesia. A esse nível nós até estamos a gerir as coisas muito bem. Se tivessem sozinhos secalhar aí já era bem mais difícil

E- Acredita que estas pessoas poderiam ser mais apoiadas? Se sim, por quem e como? T3- Pois, elas poderiam ser mais apoiadas em tudo, podia haver mais apoios a nível de apoio financeiro….eles acabam por receber muito pouco. A nível da saúde também, um maior facilitismo a nível de acesso, porque se eles não tivessem nesta instituição era bem mais difícil ter esse acesso. Também a nível social, a nível de emprego, se houvesse mais empresas que aderissem à inclusão seria mais fácil

E- A nível familiar, as famílias dão apoio suficiente aos utentes? Se não, porque?

T3- Algumas dão, outras não. Foi o que disse à pouco, as famílias têm muitos receios e medos, elas sabem que aqui até estão bem mas depois acabam por fechar um bocadinho as portas

E- As famílias contactam os técnicos para falar sobre a evolução dos utentes? T3- Não, os técnicos é que contactam com maior frequência

E- E tecnicamente quais são as principais dificuldades em lidar com as mentalidades dos cuidadores destas pessoas?

T3- Na minha opinião há muitas, mas a principal é realmente os medos e os receios, porque eles estão a evoluir e conseguem chegar aos nosso objetivos, só que depois nós

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temos a porta fechada, porque por exemplo um está a jogar ao futebol adaptado, caí e aleija-se…cair faz parte e a partir do momento que ele caí então a mãe diz: não, não já não vai mais! porque o meu filho não pode aleijar

E- Sente que os utentes são descriminados fora da instituição?

T3- É que isto é um meio pequeno, aqui secalhar não tanto porque as pessoas já se conhecem. Em certos casos sim há pessoas que vêm e levam a mal certas coisas, mas aqui…pelo menos que eu tenha conhecimento não me parece de todo, secalhar se fosse fora da cidade seria diferente

E- E considera que algum utente vive em situação de exclusão/isolamento social?

T3- Eles acabam por viverem isolados sim, porque não têm amigos…a população não exclui, mas entre ásperas acaba por excluir e a interação não existe, só existe relação aqui entre os colegas

E- No que toca à cidadania e à autonomia social o que é que poderia ser diferente? T3- Podia se fazer tanta coisa, mas eu acho que mudar estas mentalidades é muito difícil, podia-se fazer ações de formação, imensas coisas. Mas isto tem muito haver a forma como vemos as coisas, por isso…. aliás eu não estou a desacreditar da cidadania mas eu acho que é difícil mudar os cidadãos todos. Por isso é que eu acho que se houvesse mais instituições e mais empresas aí sim conseguimos mudar alguma coisa. Agora os cidadãos que me estava a perguntar no geral é difícil mudar mentalidades

E- Você considera que os utentes daqui estão consciencializados sobre a sua deficiência? T3- Têm, a maioria deles têm

E- E dos que não têm de que forma lidam com a deficiência?

T3- Há quem fique frustrado tendo em conta daquilo que têm, mas depois acabam por lidar. Mas aqui também temos um serviço de psicologia a nível individual, eles acabam por conseguir também falar e isso é muito bom

E- Quais são as principais necessidades dos utentes? E o que é que faz para soluciona- los?

T3- É muto a nível social, emocional, relacional…eles têm muita dificuldade, a onde existe mais conflitos é aí. Eu gero mais a parte emocional, cabe me a mim essa parte E- Chegamos ao fim da entrevista, quer dizer mais alguma coisa que não tenha lembrado antes?

T3- Não, acho que não

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