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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.2 Tipo da pesquisa

3.2.2 A pesquisa etnográfica

A pesquisa etnográfica origina-se na Antropologia e Sociologia, mas vem se destacando também em outras áreas do conhecimento, como na Psicologia, na Educação e principalmente na LA, como ressalta Moita Lopes (2008). O termo ethos, vem do grego que se refere a um povo, raça ou grupo cultural (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 52), enquanto o termo gráfico faz referência à antropologia descritiva. Dessa forma, depreendemos que significa a descrição do estilo de vida das pessoas, seja no aspecto social e ou cultural. A etnografia possibilita ao pesquisador envolver-se de forma dinâmica com o grupo a ser pesquisado.

A pesquisa etnográfica está incorporada nas concepções da LA e tem por finalidade verificar e descrever os fenômenos que estão associados à linguagem. É interessante pontuar

que a etnografia, por ser desenvolvida pelos antropólogos, destaca que a etimologia concebe dois sentidos: (1) um conjunto de técnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social; (2) um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas (ANDRÉ, 2015, p. 24). Nesse contexto, a autora expressa que a etnografia veio conduzir o pesquisador à descoberta de novos conceitos, a experiências pessoais dos participantes, ou seja, a compreender vivências, crenças, emoções e identidades de cada pessoa que está inserida na pesquisa.

Woods (1987, p. 18) também realça os propósitos da etnografia:

A etnografia interessa-se pelo que fazem as pessoas, como se comportam, como interactuam. Propõe-se descobrir as suas crenças, valores, perspectivas, motivações, e o modo como tudo isso muda com o tempo ou de uma situação para outra. Procura fazer tudo isso dentro do grupo e a partir das perspectivas dos membros do grupo. O que conta são os seus significados e interpretações.

Na reflexão de Woods (1987), percebemos que o autor apresenta a etnografia como metodologia que auxilia na busca da compreensão dessas crenças, valores, motivações que estão inseridas na cultura do grupo a ser investigado. Verificamos ainda que a etnografia serve como um alicerce para esclarecer as possíveis transformações que ocorrem durante determinada pesquisa. Dessa forma, podemos pontuar que a etnografia vai muito além de uma metodologia, contudo, exige uma prática intelectual do pesquisador em “estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante” (GEERTZ, 2008, p. 4).

Posto isto, uma das finalidades para a utilização da etnografia, nesta pesquisa, deve-se principalmente ao fato de este modelo de pesquisa abrir espaço para estudar grupos e fenômenos nas esferas naturais, como afirma Flick (2009, p. 81) “flexibilidade dos métodos e do exercício de paciência no campo e com o campo”. O autor assevera a importância dessa flexibilidade de métodos e a constante paciência no campo da pesquisa. Autores como Zarharlick e Green (1991, p. 3) consideram que a “etnografia é mais do que um conjunto de métodos, técnicas de coleta de dados, procedimentos de análise ou descrição de narrativas. É uma abordagem sistemática, teoricamente orientada para o estudo da vida diária de um grupo social”. Assim, o pesquisador inicia seu estudo com algumas perguntas que o orientarão para o campo da pesquisa.

Cabe ressaltar, conforme André (2015, p. 46-48), que nos fins da década de 1970, “estudiosos da Educação apresentaram um grande interesse pela pesquisa etnográfica, com intuito de realizar um estudo minucioso sobre o ambiente de sala de aula, bem como, pelo

processo de avaliação curricular”. De acordo com a autora, nessa época apareceram diversos trabalhos que privilegiavam a etnografia. Podemos destacar os programas de pós-graduação do Brasil com teses e dissertações. André (2015) salienta que a avaliação curricular foi a ponte entre etnografia e educação e destaca um acontecimento crucial nessa área, um seminário de avaliação curricular ocorrido em 1972 em Cambridge (Inglaterra), onde os participantes discutiam as propostas do livro intitulado Beyonde the numbers game. A autora ainda aponta que nessas propostas a atenção era voltada para o contexto em que eram inseridas as práticas de sala de aula, enfatizando as questões sociais e culturais.

É importante enfatizar as observações de Zarharlick e Green (1991, p. 3) sobre a etnografia:

A etnografia é mais do que um conjunto de métodos, técnicas de coletas de dados, procedimentos de análise ou descrição de narrativas. É uma abordagem sistemática, orientada para o estudo da vida diária de um grupo social, e que envolve uma fase de planejamento, uma fase de descoberta e uma terceira fase de apresentação dos resultados.

Nesse sentido, depreendemos sobre os apontamentos de Zarharlick e Green (1991), em que o pesquisador primeiramente delimita o estudo e redige questões prévias sobre o campo de pesquisa; logo em seguida, articula o grupo e a abordagem de investigação. E assim, inicia- se a catalogação dos dados por intermédio dos instrumentos eleitos para pesquisa. Com isso, o pesquisador, nessa fase, faz o planejamento necessário para que haja uma conexão entre os seus objetivos com as circunstâncias contextuais.

Em relação ao ambiente de sala de aula de LE, a pesquisa etnográfica ou interpretativa é assim uma opção para estudos acerca do processo de ensino e aprendizagem de LE, formação de professores em pré- serviço ou formação continuada. Ela insere-se nas abordagens teóricas e práticas das atualidades contextuais em que a LE está sendo ensinada e aprendida. Vale enfatizar também que a pesquisa etnográfica prioriza a relevância dos aspectos socioculturais nesse processo de ensino e aprendizagem de LE.

A partir disso, compreendemos que a etnografia é uma prática. Geertz (2008) observa que a etnografia não é somente uma questão de método, mas também uma questão de prioridade intelectual por parte do pesquisador. Dessa forma, “praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante” (GEERTZ, 2008, p. 4). Sendo assim, consideramos que em uma pesquisa etnográfica o pesquisador entra nesse universo cultural a ser desvendado cheio de significados, proporcionando diferentes interpretações.

A pesquisa etnográfica possibilita ainda uma maior interação entre pesquisador e comunidade a ser pesquisada. Sublinhamos que a etnografia traz contribuições e possibilidades de aprendizagem de forma mais detalhada, pois é um estudo dos costumes e das atitudes dos indivíduos em contexto diário. Vale esclarecer que a pesquisa etnográfica não é constituída de uma pesquisa de campo, especificamente. Para a efetivação da mesma, é necessário um arcabouço teórico, uma experiência empírica e bibliográfica sobre o assunto abordado (MAINARDES, 2009).

A etnografia pode ser usada em várias áreas do conhecimento, com diversos temas e abordagens. Optamos, portanto, pelo estudo qualitativo seguindo as bases etnográficas, por considerarmos que o etnógrafo “encontra-se, assim, diante de diferentes formas de interpretações da vida, formas de compreensão do senso comum, significados variados atribuídos pelos participantes às suas experiências e vivências e tenta mostrar esses significados múltiplos ao leitor.” (ANDRÉ, 2015, p. 20). Vale esclarecer ainda que trabalhar sob o viés da pesquisa qualitativa com base etnográfica favorece uma análise mais detalhada da identidade dos participantes, como estes agem, o que pensam, por meio de questionários, narrativas e entrevistas. André (2015, p. 38) ressalta a relevância da pesquisa etnográfica:

Um outro requisito da pesquisa etnográfica é a obtenção de uma grande quantidade de dados descritivos. Utilizando principalmente a observação, o pesquisador vai acumulando descrições de locais, pessoas, ações, interações, fatos, formas de linguagem e outras expressões, que lhe permitem ir estruturando o quadro configurativo da realidade estudada, em função do qual ele faz suas análises e interpretações.

Assinalamos que a partir desse conhecimento acerca dessa pesquisa, direcionamos o nosso olhar para os professores em processo de formação, em um período considerado dos mais importantes para a vida profissional, a regência de sala de aula. Momento este em que as crenças, experiências, motivações e emoções estão entrelaçadas no cotidiano desses professores, podendo assim, influenciar de maneira positiva ou negativa durante a atuação deles na disciplina Estágio Supervisionado.

Diante dessas considerações apresentadas, abordamos na próxima seção o cenário da pesquisa e o perfil das professoras em pré-serviço que foram selecionadas para este estudo.