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2.4 Crenças na formação dos professores de língua

2.4.1 Conceituando e compreendendo as crenças

O verbete crenças tem origem do latim medieval, que significa “credentia” - que origina-se do verbo “credere”, conceituada por Ferreira (1986, p. 496) por “opiniões adotadas com fé e convicção” e ainda por “convicção íntima”. Na visão de Pajares (1992), o vocábulo crenças foi investigado sob diversos conceitos: “atitudes, julgamentos, axiomas, opiniões, ideologias, percepções, concepções, sistemas conceituais, preconceitos, disposições, teorias implícitas, explícitas, estratégias de ação, regras de prática”, dentre outros conceitos.

A respeito dessa pesquisa, seguimos a definição defendida por Barcelos (2006, p. 18):

Uma forma de pensamento, com construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construídas em nossas experiências resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais.

Barcelos (2006) sublinha a definição de crenças sob o viés cognitivo e social, originado das interações e das relações sociais desenvolvidas pelos participantes. Outro aspecto importante é que o termo crenças não é exclusivo da LA. Várias áreas tentaram definir o vocábulo crenças, como: Antropologia, Sociologia, Psicologia, Educação e Filosofia. Barcelos (2003, p. 127) relaciona Hosenfeld (1978) quando apresenta crenças como “mini-teorias de aprendizagem de línguas dos alunos”, sem apontá-las ainda como crenças, compreendendo a relevância do aprendiz para sala de aula.

Barcelos (2003) advoga que a partir do momento de transição de paradigma, os fatores sociais e afetivos foram sendo investigados no ensino de línguas. Desse modo, conhecer o universo do aprendiz ficou mais em evidência, principalmente com a abordagem comunicativa. Assim, foi por meio dessa abordagem que tornou-se possível conseguir compreender todo o universo que o aluno trazia para o ambiente de sala de aula e ainda e para as vivências de aprendizagem de línguas (BARCELOS, 2003). O professor passou a ser um mediador da aprendizagem nesse processo comunicativo.

É interessante ressaltar que Barcelos (2007, p. 60) sintetiza no que diz respeito à definição de crenças após diversas pesquisas: “está no cerne dos estudos sobre formação de professores, constituindo-se na chave para se compreender a ação, o pensamento do professor e a interação entre seu discurso e sua prática”. Diante do exposto, percebemos que a autora destaca as crenças como ponto central dos estudos sobre formação de professores, considerando-a uma chave para compreensão do discurso e da prática desses professores no âmbito de sala de aula de LE.

Almeida Filho (2013) e Barcelos (2003) afirmam que as crenças adquirem um caráter social, pois “surgem de nossas experiências e problemas, de nossa interação com o contexto e ainda de nossa reflexão sobre o que nos rodeia”. Diante dessa afirmação, o conceito de crenças torna-se complexo. Desde muito cedo os professores em formação já constituem suas crenças, seja por intermédio da idade, contexto social, experiências vividas e valores. Almeida Filho (2013) destaca que as crenças sobre o ensino e aprendizagem de línguas são também denominadas de “cultura de aprender”, visto que originam-se várias diferenças sobre a maneira de aprender línguas.

Para Silva (2005, p. 77), as crenças podem ser definidas como:

Ideias ou conjunto de ideias para quais apresentamos graus distintos de adesão (...) são essas ideias que tanto alunos, professores e terceiros tem a respeito do processo de ensino e aprendizagem de línguas e que se (re)constroem neles mediante as suas próprias experiências de vida e que se mantêm por um certo período de tempo.

Esse conceito acima, engloba princípios que estão relacionados às crenças, às ideias, experiências, construção e também à reconstrução. Assim, de acordo com Barcelos (2004), são diversos os autores que definem o termo crenças (HOLEC, 1987; WENDEN, 1986; GARDNER, 1988;), dentre outros. Contudo, é seminal mencionar que esses conceitos dependem do contexto histórico, do social e também econômico, experienciado em um determinado período da história. Nesse sentido, Barcelos (2003) realça que a estabilidade ou não da crença vai ao encontro da prioridade de cada pessoa.

Barcelos (2003) salienta ainda que no cenário de sala de aula, as crenças são mais perceptíveis devido à maioria dos participantes não as reconhecerem como crenças. Entretanto, a não identificação das crenças ocorrem constantemente por parte dos professores e, com isso, eles ficam impedidos de assumir uma posição crítica em relação às dificuldades de ensino e aprendizagem expostas por seus aprendizes.

Celani (2006) argumenta que essa resistência do professor em fazer uma reflexão sobre as crenças é devido à função social e cultural que a língua adquire na vida do aprendiz na sociedade atual. Sob essa perspectiva, há vários educadores que ministram aulas apenas direcionadas por regras gramaticais e de forma descontextualizadas. Sendo assim, é primordial que o educador participe de cursos de formação continuada para promover um elo entre teoria e prática.

Barcelos (2011) expõe também que as crenças, além de estarem associadas à aprendizagem dos alunos, são interligadas por outras definições como: motivação, estratégias, expectativas, ansiedade e autoestima. Vale mencionar também as definições de identidade,

visto que as crenças dos aprendizes recebem influência do ambiente social de aprendizagem e ainda podem influenciar nas atitudes da aprendizagem da língua como um todo.

Barcelos (2015) descreve que a origem das crenças está interligada às nossas experiências, que resultam das nossas experiências pessoais, da interação com o mundo exterior e ainda com as outras pessoas. A autora pontua ainda que as crenças são maneiras de ressignificar o mundo e conceder significados a si próprio e, por meio disso, é possível construir sua identidade. É importante realçar que algumas crenças também têm uma origem coletiva, pois se relacionam à cultura, à mídia escrita e falada e à influência de outras pessoas em nossa vida. Podemos afirmar que as crenças funcionam como subsídios para compreender o processo de formação de professores de LE.

As influências das crenças podem ser instáveis porque se modificam no decorrer do tempo e dependem de variáveis de acordo com o ambiente em que se inserem. Fernandes (2005, p. 33) conceitua crenças alinhado ao processo de ensino e aprendizagem:

Ideias e opiniões que alunos e professores têm sobre os processos de ensino e aprendizagem de línguas, sejam elas baseadas em percepções, intuição, reflexão ou experiência. Os sistemas de crenças individuais de professores e de alunos carregam seus objetivos e seus valores sobre o funcionamento do processo de ensino e aprendizagem da língua estrangeira, além da definição de seu papel em sala de aula.

Pelas palavras do autor, torna-se visível como é complexo definir o vocábulo crenças. Esta complexidade provém da aprendizagem do indivíduo, das suas experiências, como já foi mencionado, e sempre influenciado pelo contexto de que faz parte. Outro ponto relevante sobre as questões das crenças refere-se à realidade de cada pessoa. Logo, quando uma pessoa segue a carreira da docência, antes de ingressar na Universidade, já leva consigo as crenças de aprender e ensinar. Isso faz parte da história de vida de cada aprendiz.

Freudenberger & Rottava, (2004, p. 29) descrevem sobre a construção das crenças na vida do aprendiz:

[..]isso significa que ao ingressar em um curso de graduação, o aluno traz consigo suas experiências anteriores, sob a forma de crenças sobre o que seja aprender e ensinar LE. Algumas pesquisas de (Feiman-Nemser & Floden, 1996; Crookes, 1997) apontam que tais crenças permanecem intactas durante todo o curso, pois não são oferecidas oportunidades de mudá-las ou ressignificá-las.

Sendo assim, as crenças de aprender e ensinar de um professor são expressas por suas atitudes e comportamentos diante de sua ação docente. Em síntese, as crenças englobam um conjunto de ideias, opiniões e princípios acerca de um assunto abordado. E além disso, são individuais, coletivas e sociais, partes integrantes da vida de cada pessoa e da sua cognição e

conhecimento. As crenças inserem-se na vida do indivíduo e, apesar de terem um caráter dinâmico, podem se estancar e se tornarem verdades concretas, difíceis de serem modificadas.

Na seção seguinte, vamos discorrer sobre a natureza das crenças.