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2.2 Múltiplos olhares acerca das emoções na formação do profissional de LE

2.2.6 As peculiaridades entre identidades, crenças e emoções

Nesta seção, vamos retomar os conceitos de identidade, crenças e emoções, destacando suas peculiaridades. No primeiro tópico, apresentamos a relação entre as três definições de identidade, crença e emoções. Logo em seguida, discutimos acerca das emoções e crenças.

2.2.6.1 Identidades, crenças e emoções

As concepções de identidades e crenças estão sempre entrelaçadas. Podemos afirmar que somos o que aceitamos ser e temos a convicção de o ser e, com isso, nossas crenças prevalecem e construímos assim nossa identidade. Cabe mencionar que essa correlação entre crenças e identidades já foi exposta por autores na LA, ao mencionarmos Barcelos (2000), Barbosa (2014), Woods (2003), Kramsch (2003), entre outros.

Barcelos (2000), em suas pesquisas, salienta essa associação acerca das crenças de alunos e professores e o ensino e aprendizagem de línguas, asseverando que identidade e crenças são dependentes. Barbosa (2014, p. 72) enfatiza em seus estudos “a relevância das crenças e das experiências prévias que os professores trazem consigo como aprendizes de línguas”. De acordo com a autora, torna-se um fator essencial estudar essas crenças e experiências no processo de formação da identidade do profissional de línguas. Para Woods (2003), as crenças estão diretamente ligadas à personalidade dos indivíduos, enquanto Kramsch (2003) aponta como sugestão que os estudos sobre crenças poderiam investigar como estas podem auxiliar ou não os professores e aprendizes a constituírem certos eus e identidades.

Nessa mesma direção, pesquisas em Linguística Ecológica mencionam a relevância da relação entre crença e identidade. Para Van Lier (2004), compreender o mundo é entender a si mesmo, sendo assim, quando concebemos algo, verificamos como isso pode se relacionar conosco. Dessa forma, crer em algo significa conceder sentimento ao mundo e a nós mesmos, e se assim fazemos, estamos constituindo nossa identidade de mundo. Murphey e Carpenter (2008) destacam a interação na relação entre identidade, crenças e emoções. Os autores

salientam que as crenças dos aprendizes devem ser consideradas em contextos sociais, isto é, de acordo com o ambiente em que estão inseridos. No que se refere às emoções, Murphey e Carpenter (2008, p. 170) asseguram que o afeto nas interações positivas em sala de aula favorecem uma “identidade robusta de usuários da língua”.

2.2.6.2 Emoções e crenças

A ligação entre emoções e crenças também merece destaque por pesquisadores como Hannula (2004) e Frijda (2000). Os autores ressaltam que as emoções decorrem de como o ser humano percebe o mundo a sua volta. Nesse sentido, as emoções são responsáveis por influenciar as crenças de determinada pessoa e ainda levá-la a modificações. É possível compreender melhor com as palavras de Frijda e Mesquita (2000, p. 64):

As emoções influenciam o pensamento em geral, não somente as crenças. Elas fazem isso influenciando o pensamento bem como a seleção de informação. As emoções podem fazer a pessoa querer certas coisas e prestar atenção a algumas coisas e não a tudo a que possa ter prestado atenção ou pensado.

Observamos que Frijda e Mesquita (2000, p. 64) procuram enfatizar como as emoções influenciam não apenas as crenças, mas todo o nosso pensamento e todas as seleções de informações da nossa mente, considerando que as emoções podem levar as pessoas a realizarem determinadas ações. Dado o exposto, podemos afirmar que as emoções influenciam todo conhecimento. Como postula Ekman (2004), as emoções podem desfazer tudo o que temos de convicção e o que conhecemos. Diversos autores discorrem sobre a influência das emoções nas crenças, assegurando que essas influências provêm de quatro maneiras. Desse modo, podemos destacar as transformações nas ações mentais, nas imagens no cérebro e ainda nas alterações corporais. Damásio (2000, p. 51) realça essas transformações por meio das emoções, “as emoções acarretam mudanças no próprio cérebro. Juntamente as mudanças explícitas no corpo”. Por isso, afirmamos que as emoções são algo complexo que resultam em modificações corporais, de acordo com o estilo de cada pessoa.

Outro aspecto de influência das emoções nas crenças origina-se da atenção para determinadas informações. Winograd (2003) elucida que as emoções agem nas crenças moldando-as e recriando-as e, com isso, deixando-as mais resistentes às alterações. É interessante ressaltar o pensamento de Frijda e Mesquita (2000) sobre a interferência das emoções nas crenças, pois as emoções podem despertar crenças que jamais existiram, ou ainda alterar as que já tinham, e também podem reduzir ou ampliar o estímulo por meio do

qual uma crença é legitimada.

Nessa perspectiva, surge uma indagação: como são determinadas as emoções que influenciam as crenças? Para Frijda e Mesquita (2000), algumas peculiaridades ilustram tais influências:

1. Instrumentalidade: Frijda e Mesquita (2000) explanam que nossos pensamentos estão ocupados para auxiliar em nossas metas emocionais. Como por exemplo: o medo abrange uma espécie de autoproteção para assim poder impedir uma possível ameaça; a depressão conduz a lembranças tristes e ao surgimento de pensamentos negativos. Dessa forma, as emoções nos levam também a consentir crenças que já persistiam ou a consolidá-las por critérios similares.

2. Força motivacional: as emoções podem influenciar também nas crenças de acordo com a situação existente. Se o propósito de uma ação for de caráter imprescindível, logo nossa motivação será bem maior para concretizá-la e nossa força do pensamento funcionará como um suporte de auxílio para conseguir tal realização.

Como se observa, nessas seções de tópicos e subtópicos sobre identidades, emoções e crenças, procuramos compreender a relação existente entre essas definições. Ressaltamos as pesquisas em LA acerca das emoções e identidades. Por conseguinte, nos conceitos descritos destacamos que as identidades são múltiplas e dinâmicas; as crenças são complexas, contraditórias e paradoxais; as emoções são ativas e se constituem culturalmente.

Sendo assim, fazem parte das personalidades dos indivíduos, ou melhor, do “eu” de cada um. Além disso, investigar a respeito dessas questões otimiza o ensino de línguas e auxilia na formação dos professores em pré-serviço, principalmente na disciplina de Estágio Supervisionado. É importante apresentar as questões referentes aos fatores afetivos e à motivação no ensino de LE. Dessa maneira, procuramos acentuar, na sessão seguinte, os conceitos acerca desses fatores afetivos, bem como a relação da motivação na aprendizagem de línguas.