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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.2 Tipo da pesquisa

3.2.1 A pesquisa qualitativa

A abordagem qualitativa tem suas origens no final do século XIX, assim que os cientistas sociais iniciaram questionamentos acerca do método de investigação das ciências físicas naturais, que se baseavam numa concepção positivista de conhecimento que deveria continuar servindo como modelo para o estudo dos fenômenos humanos e sociais. Dilthey (2010), um dos primeiros historiadores a questionar e investigar a possibilidade de uma metodologia singular para as ciências sociais, menciona que os fenômenos humanos e sociais são complexos, o que dificulta estabelecer regras e leis como mencionamos na física ou na biologia.

Dilthey (2010) assevera que ao pesquisarmos sobre uma história, interessamo-nos pelo fato e não pela causa. O autor pontua ainda que o contexto em que os fatos ocorrem são essenciais para uma melhor compreensão desses fatos. Assim, com base nessas reflexões Dilthey (2010) propõe uma investigação dos problemas sociais com uma abordagem metodológica - a hermenêutica, visando uma preocupação com a interpretação dos significados que estão em um texto, valorizando cada mensagem no texto e, ao mesmo tempo, as inter-relações.

Vale destacar a contribuição de Weber (1994) para a pesquisa qualitativa, ressaltando a compreensão - verstehen1, com o propósito que distingue a ciência social da ciência física.

De acordo com esse autor, a investigação deve priorizar a compreensão dos significados atribuídos pelos participantes às suas ações. Como enfatizou Dilthey (2010), Weber (1994) afirma que para a compreensão desses significados é importante inseri-los dentro de um contexto. Outros pesquisadores adeptos das questões humanas e sociais seguiam as premissas de Weber (1994) e Dilthey (2010) e defendiam a perspectiva de conhecimento que denominou-se de idealista-subjetivista. Ressaltamos que mesmo com uma nova visão de

conhecimento, havia uma crítica de concepção positivista de ciência, prevalecendo um debate que se estendeu até o final da década de 80 entre o quantitativo e o qualitativo.

A abordagem qualitativa envolve várias modalidades de pesquisa (ANDRÉ, 2015; BOGDAN; BIKLEN, 1998). Priorizamos, neste estudo, a pesquisa etnográfica. Dessa forma, pontuamos as características da pesquisa qualitativa de acordo com Bogdan e Biklen (1998, p. 54), como: i - naturalista: o contexto é o centro da pesquisa, as ações são interpretadas se forem observadas no contexto onde estão sendo desenvolvidas; ii - descritiva: os dados são especificados de maneira minuciosa nos registros e transcrições; iii - processual: o estudo centraliza-se mais no processo do que no produto. Em relação a um estudo de sala de aula, verificamos questões a respeito das atividades, das interações cotidianas; iv - indutiva: a análise dos dados é realizada de forma indutiva; v - significativa: preocupa-se com a percepção dos participantes.

Alinhamos o trabalho nas bases da pesquisa qualitativa que segue a influência de crenças, das atitudes e valores, ou seja, o pesquisador considera como análise do corpus um texto empírico em vez de números, para depreender as questões que estão sendo investigadas. Flick (2009, p. 23) apresenta alguns aspectos importantes sobre a pesquisa qualitativa:

Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa consistem na escolha adequada de métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e na análise de diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento; e na variedade de abordagens e métodos.

Nessa perspectiva, observamos que o autor aponta ideias que norteiam o estudo qualitativo, prevalecendo desde a escolha dos métodos às teorias que predominam na pesquisa. E ainda, Bortoni-Ricardo (2008, p. 49) enfatiza sobre a relevância da pesquisa qualitativa, asseverando que esta “segue uma rotina de procedimentos para desvelar o que está dentro da caixa preta do dia a dia dos ambientes escolares”. E por meio do conhecimento do pesquisador em relação ao assunto estudado é possível compreender o que está guardado no cotidiano desses ambientes escolares, ou melhor, nos questionários, narrativas, entrevistas e relatórios dessas alunas em formação.

Frente a isto, dentre os propósitos da pesquisa qualitativa, enquadra-se os de natureza interpretativista, que funcionam como uma maneira de assimilar as práticas sociais em seus “cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos sociais em termos de significados que as pessoas a eles conferem” (DENZIN e LINCOLN, 2006, p.17). Para os autores, a pesquisa qualitativa está incorporada aos modelos interpretativistas que atuam

como norteadores dos cenários naturais, visando a compreensão e a interpretação dos fenômenos sociais. É fundamental pontuar que a visão do pesquisador é essencial para a análise dos dados fornecidos durante a pesquisa.

Diante disso, Bortoni-Ricardo (2008, p. 38) ainda acrescenta:

As pesquisas qualitativas, especialmente as pesquisas conduzidas em instituições, como presídios ou escolas, não são necessariamente desenvolvidas por extensos períodos de tempo. Quando ouvimos menção a “pesquisas etnográfica em sala de aula”, por exemplo, devemos compreender que se trata de pesquisa qualitativa, interpretativista, que fez uso de métodos desenvolvidos na tradição etnográfica, como a observação, especialmente para a geração e análise dos dados.

Para a autora, a pesquisa qualitativa possibilita compreender acerca do contexto social onde os participantes estão inseridos. Sendo assim, escolhemos trabalhar com a abordagem de pesquisa qualitativa, pois procuramos compreender a visão dos participantes na pesquisa e ainda contribuir para a formação desse profissional de Letras.

É interessante pontuar a questão da pesquisa aplicada que se refere a conhecimentos associados à prática, à solução de problemas específicos. Esta pesquisa engloba contextos locais. Em relação ao vocábulo pesquisa vale pontuar a reflexão de Fachin (2001, p. 123): “é um procedimento intelectual para adquirir conhecimentos pela investigação de uma realidade e busca de novas verdades sobre um fato”. Pensando em nossa pesquisa, observamos a realidade das professoras em formação em uma busca pelas verdades acerca de suas crenças, identidades e emoções.

Nesse enfoque, vamos apresentar a pesquisa etnográfica.