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2 QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

2.4 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NOS INSTITUTOS FEDERAIS A

A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (EPCT) foi instituída em 29 de dezembro de 2008 pela Lei 11.892 e assim, foram criados os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, frutos da união dos Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), das Escolas Agrotécnicas, das Escolas Técnicas Federais e parte das escolas técnicas vinculadas às universidades.

A Lei supracitada salienta que os IFs têm a finalidade de desenvolver a educação profissional e tecnológica como processo educativo e investigativo de geração e adaptação de soluções técnicas e tecnológicas às demandas sociais e peculiaridades regionais. Nesse prisma, Moura (2007) destaca que uma das funções sociais da Rede Federal é priorizar o acesso a estudantes provenientes das classes populares, os quais, majoritariamente, são oriundos de escolas públicas. Sobreleva, ainda, que a implementação de ações que visem uma maior cobertura às classes populares deve estar vinculada às políticas que contribuam, além do acesso, para a permanência desses sujeitos na EPTC.

É nessa lógica que a Assistência Estudantil, enquanto política pública de inclusão foi demandada a ser implantada nos IFs. Inicialmente esta política atendia basicamente à educação pública superior Federal, porém, considerando que os IFs têm uma estrutura diferente, isto é, sua oferta de educação congrega alunos da educação básica e de nível superior, tiveram que adaptar o Programa para atender ao seu público diversificado.

Conforme afirma Taufick (2013, p. 62),

Foi com o objetivo de atender tanto aos alunos da educação básica quanto da superior que os Institutos Federais buscaram regulamentar a Assistência Estudantil. Desta forma, os Institutos Federais tiveram que extrapolar os princípios, objetivos e ações do PNAES para atender às especificidades e peculiaridades do seu público discente.

Neste contexto, diferentemente das universidades, que já vinham se mobilizando e pressionando pela consolidação da assistência estudantil como política de Estado, os institutos, principalmente pelo fato de se encontrarem neste tipo de organização administrativa há pouco tempo, iniciaram sua articulação em torno da implementação da política de assistência estudantil a partir da aprovação do PNAES pelo Decreto 7.234 de 19 de julho de 2010.

Assim, a partir de 2010, encontra-se disposto entre os objetivos do PNAES, o dever de trabalhar para impulsionar o desempenho acadêmico, contribuir na redução dos índices de evasão e de retenção, mas principalmente, democratizar a permanência dos estudantes no ensino superior e implementar ações que venham a “[...] minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior” (BRASIL, 2010, Art. 2º, Inciso II).

É importante mencionar que a assistência estudantil emergiu como uma modalidade de assistência social praticada nas instituições de ensino, notadamente naquelas de ensino superior, como forma de garantir apoio ao estudante carente para a sua permanência no curso. Na assistência estudantil, a proteção social volta-se àqueles que se encontra em condições desfavoráveis para o prosseguimento com as atividades estudantis, possuindo, portanto, objetivo diferente da assistência social de ofertar mínimos sociais aos mais necessitados. Nesse sentido, ao caráter estritamente social, característico da primeira fase da assistência estudantil nas instituições de ensino superior, foram sendo somados outros papéis, abarcando não somente o suporte à permanência, mas também desempenho acadêmico, cultura, esporte, lazer e assuntos ligados à juventude, conforme fora proposto no Projeto do PNAES pensado pelo FONAPRACE (COSTA, 2010).

Em vista disso, as diretrizes do PNAES para formulação, execução e avaliação das ações de assistência estudantil são muito amplas, e dão autonomia às Instituições de ensino para estabelecer os critérios de seleção e monitoramento das ações, bem como, a organização dos processos de trabalho, o planejamento e a definição das ações a serem executadas. Por outro lado, devido a sua amplitude deixa algumas lacunas, conforme explicita Vargas (2017, p. 4- 5):

O documento trouxe avanços no aspecto normativo geral do programa nacional. Entretanto, restam ainda algumas lacunas, como por exemplo, a definição de orçamento específico, bem como a compreensão acerca do percentual e/ou indicadores de cálculo da matriz distributiva, a composição de equipe mínima para atendimento qualificado/especializado das demandas, assim como a definição de parâmetros/critérios gerais para a elaboração de programas, projetos e/ou ações

(inclusive para a sua denominação), bem como de processos centrais à execução da política como é o caso da análise de situação socioeconômica dos prováveis beneficiários e dos processos de monitoramento e avaliação da política (mencionado pelo decreto, mas não normatizado). O decreto permite a (co) existência de uma gama diversa de programas, projetos e/ou ações institucionais, com diferentes critérios de seleção, concessão e manutenção de benefícios e da condição de beneficiários, além de uma variedade de rotinas técnicas de atendimento em AE, equipes profissionais diversas, formas/percentuais de investimento orçamentário também diferente.

Contudo, essa diversidade se explica ainda pela tentativa, por parte das Instituições Federais de ensino, de implementar ações de acordo com suas especificidades e possibilidades. No entanto, cabe salientar, que essas diferenças na gestão e na execução das ações podem acabar dificultando, inclusive, os processos de avaliação da política.

Neste segmento, considerando as especificidades de cada instituição, os Institutos adotaram diferentes formas de organizar e ofertar os benefícios e serviços da Assistência Estudantil. Taufick (2013) destaca a importância que a publicação do Decreto 7.234 em 2010, que instituiu o PNAES, teve para a estruturação das atividades nos IFs, visto que foi a partir dele que a maioria das instituições se aparelhou para aprovar um regulamento interno que representasse suas necessidades. Porém, com as incipientes discussões coletivas nacionais sobre a implementação, surge uma grande diversidade de formas de conduzir o PNAES porque os IFs a realizam cada qual de acordo com sua realidade, recursos humanos, acepções e interpretações diversas do referido decreto.

Em vista disso, os Institutos Federais são instruídos a realizar a execução das ações previstas no PNAES, promovendo o acesso e permanência dos alunos na instituição, e, por consequência, têm seus recursos ampliados para o investimento na assistência ao educando da Rede de Educação Profissional e Tecnológica. Isso exige, por parte dos Institutos Federais, a constituição da sua Assistência Estudantil em meio ao seu próprio processo de expansão:

a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, respeitado o princípio da autonomia dos Institutos Federais, recomenda a aprovação pelos Conselhos Superiores de uma regulamentação específica para a assistência estudantil, envolvendo os setores da assistência social, coordenação pedagógica, psicologia, com critérios claros de acesso dos estudantes de origem popular, especialmente os vinculados ao PROEJA Médio e FIC, aos trabalhadores da rede CERTIFIC, aos estudantes atendidos pelos NAPNES, às mulheres vinculadas ao Programa Mulheres Mil, ao atendimento da mobilidade estudantil nacional e internacional (SETEC/MEC/2010, p. 3).

Assim, os IFs, fazendo uso da autonomia que lhe são concedidas, enquanto órgãos da Rede EPTC e com base nas necessidades de seus discentes, considerando o perfil socioeconômico e a região em que estão inseridos, passaram a oferecer benefícios diversificados. Taufick (2013)

em seu trabalho reuniu os benefícios e os categorizou em três: Benefícios Sociais, Universais e Acadêmicos.

Nessa categorização, os benefícios sociais são destinados aos alunos que estão em situação de vulnerabilidade social; os benefícios universais são permanentes e pontuais e solicitados em caso de necessidades pelos estudantes, como a atenção à saúde, aos alunos com deficiência, além de apoio às atividades de cultura e lazer; já os benefícios acadêmicos são direcionados aos alunos que participam de projetos de pesquisa ou que apresentam bons desempenhos acadêmicos, geralmente ofertados como bolsas. Na Figura 1, vemos esses benefícios conforme são previstos no decreto de instituição do PNAES.

Figura 1: Benefícios previstos no Programa Nacional de Assistência Estudantil - PNAES

Fonte: Taufick (2013), elaborado com base no Decreto nº 7.234/2010.

Portanto, no PNAES ficam estabelecidos, que devessem ser desenvolvidas ações relativas à moradia estudantil, alimentação, transporte, assistência à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação. O mencionado Programa atribui a cada instituição definir como serão desenvolvidas as ações e a forma como serão utilizados os recursos orçamentários. Sendo assim, cabe a cada instituição adequá-lo à sua realidade respeitando sempre as condições previstas no Decreto. A seguir iremos conhecer o Instituto Federal Farroupilha e como está organizada a Assistência estudantil no IFFar para a efetivação das ações previstas no PNAES.