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A Possibilidade de o Contribuinte Invocar, por Discriminação em

CAPÍTULO II A APLICABILIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE

3.3 A Denúncia Espontânea de Infração Seguida do Pagamento Parcelado do

3.3.3 A incidência dos tratados internacionais de direitos humanos sobre a

3.3.3.1 A Possibilidade de o Contribuinte Invocar, por Discriminação em

Conforme visto nos itens precedentes, permanece acesa a discussão, no direito pátrio, quanto à possibilidade ou não da exclusão da multa de mora quando a denúncia espontânea é seguida, não do pagamento à vista, mas do parcelamento do tributo devido.

Na verdade, muito mais do que simples discussão acadêmica, o que se tem, na atualidade, é o entendimento de um Tribunal Superior (o STJ), aquele a quem compete constitucionalmente o julgamento de causas que envolvem a legislação infraconstitucional (como é a questão ora em estudo), no sentido de que a autodenúncia seguida do parcelamento do tributo não exclui o pagamento da multa de mora.

De forma que, atualmente, se o contribuinte apresentar denúncia espontânea quanto a algum tributo e requerer o parcelamento do respectivo débito com exclusão da multa de mora, com toda certeza terá o pedido de exclusão negado na esfera administrativa e, se recorrer ao Poder Judiciário buscando a modificação da decisão fazendária, não terá melhor sorte, eis que teria a sua pretensão indeferida pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ, conforme visto acima.

Todavia, o que se defende no presente trabalho, é que, diante de tal situação de ofensa aos direitos humanos pela deficiência normativa do ordenamento jurídico pátrio, ainda outro caminho resta ao cidadão prejudicado – partindo da dualidade de fontes normativas admitida pelo direito brasileiro no que concerne à proteção dos direitos humanos: os tratados internacionais de direitos humanos. Assim, poderá o contribuinte questionar a legitimidade da exigência do pagamento da multa de mora, em caso de parcelamento do tributo, alegando discriminação decorrente de posição econômica, com fundamento na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica – art. 1º), no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 26), e no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 2º, § 2º), de onde se extraem, respectivamente, os seguintes excertos:

Art. 1º Os Estados-Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja à sua jurisdição, sem discriminação

alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. (Grifou-se) Art. 26 Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. (Grifou-se)

Artigo 2º

§ 2. Os Estados Membros no presente Pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele enunciados se exercerão sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. (Grifou-se)

Não obstante a clareza dos preceitos convencionais acima poder-se-ia, talvez, inquirir, conforme adverte Troianelli (1999, p.49), se a negativa da exclusão da multa de mora implicaria discriminação em virtude de posição econômica. Muito embora o citado autor esteja a se referir a depósito recursal, o seu entendimento tem plena aplicabilidade ao presente estudo, quando alude que a resposta à pergunta formulada haveria de ser afirmativa, já que na hipótese da existência de duas pessoas que viessem a apresentar denúncia espontânea sobre a mesma espécie tributária, unicamente aquela detentora de dinheiro suficiente para efetuar o pagamento à vista é que poderia ver excluído do total do débito o valor da multa de mora, sujeitando-se, portanto, a ver o próprio direito ao parcelamento inviabilizado por questão de posição econômica.

Questionamento outro levantado pelo citado autor e que teria relevância para o presente trabalho, seria o de saber se o direito à não discriminação por motivo de posição econômica já não se encontraria suficientemente estabelecido no Texto Constitucional, vez que o mesmo veda as discriminações, além de consagrar o princípio da isonomia, nos termos seguintes:

Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

[...]

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

[...]

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.

De fato, colhe-se do primeiro dispositivo coligido que as discriminações vedadas, expressamente nominadas, são as referentes à origem, raça, ao sexo, à cor e à idade, restando, assim, à discriminação em razão da posição econômica a possibilidade de, quando muito, ser inserida entre as "quaisquer outras formas de discriminação", fato que, muito embora possa parecer óbvio para alguns, para outros (inclusive para o Superior Tribunal de Justiça – STJ) tal obviedade não se apresentaria, principalmente se se levar em conta que o contribuinte impossibilitado de efetuar o pagamento integral do débito tributário à vista não se apresente, em muitos casos, como pobre ou destituído de qualquer capacidade econômica.

No que concerne aos dois seguintes dispositivos constitucionais acima mencionados, concordamos com o entendimento do citado autor (1999, p. 50), quando assevera:

Também aí se vê que o artigo 5° veda, sem detalhamentos, distinções de qualquer natureza, deixando um campo muito amplo para o intérprete. Quanto ao artigo 150, que veda, expressamente, a instituição de tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, poderia alguém entender que dois contribuintes contra quem houvesse o fisco crédito tributário oriundo de denúncia espontânea se encontrassem em situação equivalente, sendo, portanto, legítimo que para ambos se exigisse o pagamento integral do tributo à vista.

À vista do exposto, constata-se uma falha, uma lacuna no ordenamento jurídico pátrio acerca da vedação à discriminação por motivo de posição econômica. Em tais hipóteses, como já demonstrado no item 2.6.1 do Capítulo II deste trabalho, à vista da inexistência de norma interna (ou da existência de norma interna insatisfatória), capaz de assegurar a proteção de um direito e a existência de norma internacional que o integralize, deve ser feita a introdução supletória da norma internacional (in casu, dispositivos dos tratados internacionais de direitos humanos) na lacuna presente no ordenamento interno.

3.3.3.2 Posição do Pacto de São José e dos Demais Tratados Internacionais de

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