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A Prática Pedagógica de Leitura do 2º ano do Ensino Médio;

RELAÇÃO COM A LEITURA

3) Pós-atividade: A atuação do docente era manifestada de forma mais engajada no término das práticas O professor evidenciava a sua preocupação sobre

6.2.3 A Prática Pedagógica de Leitura do 2º ano do Ensino Médio;

A realização de uma prática pedagógica se estabelece por vários fatores preponderantes: uma mediação significativa, discursiva e dialógica, permitindo a interação entre todos os envolvidos. Para concretizar um olhar para essa prática, foram observadas 24 aulas do componente LPLB. Nesse sentido, conhecer quem é o leitor/professor fez-se necessário para montar esse mosaico educacional e atribuir diversos contribuidores para uma prática literária condizente. Para tanto temos uma professora com formação em magistério, graduada em Pedagogia, Letras, três pós- graduações na área de Metodologia do Ensino Fundamental, Gestão Escolar e Educação a distância e mestrado em Letras pela UESB (Universidade Estadual do Sudoeste Baiano). Sua experiência profissional é de vinte e cinco anos de serviço com um ano e meio na rede particular de ensino e o restante na rede estadual. Trabalhou como professora de Educação Infantil, primeiras séries do Fundamental I e em seguida no Fundamental II e Ensino Médio. A docente não considerou sua

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formação leitora significativa ao relatar fatos de sua memória (como leitora como professora e formadora de leitores):

(...) não foi uma experiência muito positiva, não, tanto que eu tenho o livro Memórias de um Sargento de Milícias, foi o livro que eu mais detestei, desses cânones da Literatura Brasileira. Quando eu era sétima série, a professora passou o livro pra gente fazer, eu fiz prova não sei quanto eu tirei, mas eu não li o livro, porque eu comecei, não consegui terminar. Depois, quando eu terminei, eu achei um desaforo eu comprar o livro, né, e não ter lido um livro. Aí eu comecei a ler de novo, não consegui, a história não me agradava, eu não li. Eu li o livro completo depois que eu tava fazendo Letras, aí eu falei: não, agora é desaforo, eu tô fazendo Letras, eu tenho por obrigação de ler. Li por obrigação, mas não... A minha experiência primeira com este livro não foi uma experiência positiva, não, assim como várias outras acabei lendo mesmo por curiosidade, por necessidade, mas não por incentivo. (PROF2/Entrevista)

A leitura como cobrança, como dívida a ser paga está clara no discurso da prof2. A inserção desse livro na sua prática não nos dá uma visão de como foi o momento de contato do leitor com essa literatura, mas retrata as consequências de como essa obra literária foi recebida pela professora/aluna. É um relato que demarca experiências múltiplas de vários leitores que vivenciaram situação similar e que guardam em suas memórias traços semelhantes. Esse registro demonstra que a professora vivenciou a experiência com que muitos alunos deparam no seu cotidiano como leitor. Esse relato faz-se necessário para uma reflexão sobre como cada leitor se posiciona diante de uma indicação de leitura que só oportuniza ler para realização de uma atividade avaliativa, e o destaque da citação acima deixa evidente a não leitura do livro. Diante disso, é necessário um diálogo com esses leitores para dar voz à sua manifestação de leitura, para que eles se pronunciem sobre as leituras feitas, a (não) aceitação de algumas leituras e a contribuição que elas podem ter no seu processo de aprendizagem. Ser leitor/professor traz consigo suas representações de leitura que remetem às memórias literárias que podem contribuir para rever o que se desenvolve na prática atual. Esse fato não provocou uma negativa generalizada nesse leitor, visto que a professora relata na entrevista que atualmente ela consegue encaixar no seu tempo livre o espaço da leitura literária.

Sobre o ensino de literatura, o direcionamento central foram as cobranças realizadas pelo ENEM e os vestibulares, como apresentado:

Então se acaba trabalhando literatura pensando na prova do ENEM, pensando no vestibular, pensando no resultado imediato e não no prazer

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literário, no deleite que ele pode ter em descobrir no texto. Encontrar um texto algo que seja prazeroso e a gente encontra dentro da sala de aula muitos meninos com livros, livros volumosos inclusive, gente que... ontem nos jogos, por exemplo, uma menina do segundo ano que ela tava lá na biblioteca, em frente a biblioteca sentada lendo, certamente o jogo não interessava muito. Ela trouxe o livro dentro da mochila, sentou lá e foi lendo, ou seja, é falsa a ideia de que o menino não lê, de que ele não gosta de ler, eu acho que a gente não encontrou o caminho, a ponte certa para chegar nele, esse é o grande desafio. (PROF2/Entrevista)

O gosto pela leitura, a preocupação com o aluno/leitor e suas escolhas, tudo isso é, na maioria das vezes, negligenciado. E isso faz com que a leitura aconteça como um simulacro, uma camuflagem para se encaixar nas práticas pedagógicas e resultar em uma nota. Ou para ser direcionadora dos exames institucionalizados e norteadora das práticas pedagógicas de leitura que visam à conclusão de um processo avaliativo. A docente continuou ao enfatizar que é preciso:

estudar mais, conhecer mais, entender mais talvez o universo do adolescente, que é o público com que eu trabalho, para a gente poder chegar mais próximo dele, talvez seria mais interessante a gente desvincular um pouquinho esse ensino da literatura dessa obrigação porque, se é algo pra despertar prazer, não pode ser obrigatório, né? Tem que ser algo que mexa mesmo com o gosto dele, que mexa mesmo com essa vontade dele de ler. (PROF2/Entrevista)

Nas práticas observadas foi possível verificar grandes contribuições para o aluno/leitor literário. Contrapondo-se a isso, temos, na visão do professor, o discurso do aluno/leitor. A prática pedagógica precisa ser ampla no sentido de não apenas ser direcionada para um único objetivo. É necessário atentar-se para toda uma conjuntura, desde a construção dessa atividade com seus requisitos necessários ao processo de planejamento, de execução do docente, juntamente com o diálogo entre os envolvidos e especificamente as respostas discursivas do aluno/leitor literário:

Essa semana passada eu li pros meninos um conto (...) “Crianças à venda tratar aqui”, é de Rosa Extraus, e todas as quatro turmas onde eu li o conto eles estavam parados assim, olhos arregalados, cê via na Expressão do menino que ele tava acompanhando, ele tava curioso, era conto de terror, mas ele tava ali, a reação dele, você via na expressão do corpo dele, no rosto, no olhar que ele tava acompanhando, ou seja, é algo que desperta ele. (PROF2/Entrevista)

O olhar do professor para o aluno/leitor é um dos meios que o fazem perceber a sua relação com o que foi lido. Esse leitor diverso precisa de um direcionamento para conseguir captar, nos seus gestos, seu discurso, seus

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movimentos e com isso desvendar um pouco da caixa-surpresa que cada um traz consigo. Mediar uma prática demanda muito mais que uma atuação docente particularizada, mas sim de uma coletiva intervenção e redirecionamento para o aluno/leitor que está em evidência.

É perceptível a presença dos clássicos no desenvolvimento das atividades. Os best-sellers eram visualizados em práticas de leitura extra atividade, sendo indicados por colegas ou por escolhas próprias. Dessa forma, a presença da literatura ocupa espaço e momentos diversos. Cada aluno/leitor se encaixa nas leituras indicadas, selecionadas para cada situação. Não há determinações nem regras que desvalorizam os clássicos, muito menos os best-sellers, há sim uma valorização de ambos para que o aluno/leitor tenha um repertório variado e múltiplo. Segue o quadro com os livros utilizados no desenvolvimento das atividades com leitura, tanto de textos integrais como de fragmentos.

Quadro 15: Livros e textos usados no desenvolvimento das PPLL - 2º ano PPLLI1

Diálogo com o filme

PPLLF2

Interpretação detalhada

PPLLF3

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