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ASSALARIADO E A PRECARIZAÇÃO DOS SERVIÇOS SOCIAIS

3.2 A precarização das condições de trabalho e os impactos na subjetividade do trabalhador

Demonstramos nas discussões anteriores que a expansão da precarização do trabalho foi desenhada na década de 1970 do século XX, tendo expressões visíveis e concretas nos países de capitalismo central e nas periferias do sistema. Resguardadas as devidas

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diferenciações, os elementos que expressam a precarização das condições de trabalho no Brasil a partir dos anos 1990 podem ser traduzidos na intensificação do trabalho, por intermédio do aumento da jornada de trabalho e/ou adoção de Tecnologias da Informação; na precarização dos vínculos empregatícios, por meio da erosão e flexibilização dos contratos e vínculos formais de trabalho; do aumento dos trabalhadores terceirizados, autônomos e do “empreendedorismo”, ocultando o trabalho assalariado; do desmonte da legislação trabalhista e do achatamento dos salários.

Voltados para a manutenção da base material da sociedade, os processos de ampliação da precarização do trabalho advieram com maior veemência a partir da reestruturação produtiva do capital e foram impulsionados pelo modelo de produção toyotista125. Além do fenômeno da degradação das condições de trabalho, outra problemática de igual importância, e que decorre diretamente dela, pulsa a partir dessa conjuntura: quais as tendências

expressas na precarização das condições de trabalho que incidem na subjetividade do trabalhador?

Consideramos aqui que as condições de trabalho que incidem na subjetividade do trabalhador são aquelas que decorrem do exercício do seu labor e expressam-se nas formas de controle exercidas nos trabalhadores e no grau de preservação física e psíquica da força de trabalho. As formas de precarização das condições de trabalho resultam em efeitos diretos e/ou indiretos nos modos que se expressa a precarização na subjetividade do trabalhador.

Sabemos que o resultado dos processos históricos subjacentes ao desenvolvimento do sistema capitalista provocou a ampliação da precarização do trabalho, que já é intrínseca a este modo de produção. Contudo, a dinâmica capitalista contemporânea apresenta especificidades e características inéditas e as formas que se expressam a precarização não são estáticas, modificando-se de acordo com a conjuntura social, política e econômica. O século XX é caracterizado pela ampliação da precarização do trabalho, ainda assim, nos últimos anos desse século e início do século XXI, vivenciamos “outras modalidades e modos de ser da precarização, próprios da fase da flexibilidade toyotizada, com seus traços de continuidade e descontinuidade em relação à forma taylorista-fordista” (ANTUNES, 2018, p. 76, grifos do autor).

125 O toyotismo pode ser tomado como a mais radical (e interessante) experiência de organização social da

produção de mercadorias sob a era da mundialização do capital. Ela é adequada, por um lado, às necessidades de acumulação do capital na época da “crise de superprodução” e, por outro lado, é adequada à “nova base técnica” da produção capitalista, sendo capaz de desenvolver suas plenas potencialidades de flexibilidade e de manipulação da subjetividade operária (ALVES, 2011, p.61).

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Sendo assim, em nossa pesquisa bibliográfica e documental, a primeira tendência encontrada na precarização das condições de trabalho que se expressa na subjetividade do trabalhador refere-se às novas formas de controle do trabalhador advindas, em grande medida, do modelo toyotista de produção. Muito além de ser conceituado como o modelo de produção japonês, o toyotismo126 cria novos princípios de gestão da produção e do trabalho

disseminados em escala global e novas formas de controlar o trabalhador. Surgem com ele, novas inovações organizacionais com base no novo modelo de produção flexível. Portanto, o Sistema Toyota de Produção “é o ponto de partida de um complexo ideológico-moral que irá determinar a gestão da produção e a gestão do trabalho no capitalismo global” (ALVES, 2011, p.45).

As novas formas de controle da força de trabalho operam através de elementos ideológicos. Os novos valores propagados pela ideologia de produção toyotista, que surge com a crise estrutural do capital, articulam-se com os valores defendidos pela pós- modernidade127, disseminando-se pelas instâncias de reprodução social. Ao lado da universalização do modelo de acumulação flexível e da revolução tecnológica, que fizeram insurgir novos processos de trabalho, as ideias pós-modernas128 compõem um contexto mais amplo que auxiliam na legitimação do capitalismo na sociedade, ao mesmo tempo em que mascaram e dissolvem a perspectiva de classe, ocultando as desigualdades sociais oriundas do conflito entre capital e trabalho. Pode-se sugerir, antecipadamente, que esse movimento também se atrela à propagação da perda da centralidade do trabalho como justificativa para a crise estrutural do capital e para as transformações da economia capitalista pós anos 1970, implicando em metamorfoses no mundo do trabalho e na complexificação da questão social.

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“O toyotismo é a “ideologia orgânica” do novo complexo da reestruturação produtiva do capital que encontra nas novas tecnologias da informação e comunicação e no sociometabolismo da barbárie, a materialidade sociotécnica (e psicossocial) adequada à nova produção de mercadorias. Existe uma intensa sinergia entre inovações organizacionais, inovações tecnológicas e inovações sociometabólicas, constituindo o novo empreendimento capitalista que coloca novos elementos para a luta de classes no século XXI. Esta é a marca da cooperação complexa da nova produção do capital” (ALVES, 2011, p.43).

127 Segundo Silveira Júnior (2016, p.170) a pós-modernidade pode ser conceituada, de modo bem geral, como

um complexo de atitudes culturais, “um repertório determinado de atitudes perante a cultura e a política ou um movimento intelectual que se sustenta numa referência crítica ao legado da modernidade, particularmente, do iluminismo”. Para o autor, a pós-modernidade nega as ideias herdadas do século XIX sobre a emancipação racional do gênero humano, que serviu como fonte de inspiração para a luta democrática e socialista da primeira metade do século XX.

128 A sociedade sob o viés pós-moderno compõe-se de sujeitos fragmentados, desvirtuados das identidades e

perspectivas de classe, como também dos determinantes materiais. Os indivíduos orientam-se por escolhas individuais, referências subjetivas e particulares, que negam as classes sociais e suas lutas. O discurso emancipatório dá lugar à fala do empoderamento individual, das novas significações dos sujeitos, das representações sociais que os indivíduos fazem de si próprios, robustecendo o fetichismo e a reificação.

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Permeando a totalidade social, o controle do trabalhador pela ideologia toyotista129 é realizado pela difusão de uma nova linguagem que adota um discurso de estímulo ao produtivismo, mascarando a condição de trabalhador assalariado, sob o desígnio do colaborador, que faz ocultar a exploração do trabalho. E, através das novas práticas de organização dos processos de trabalho, o toyotismo detém o pensamento do trabalhador para o interior da cadeia produtiva. É por isso que, “sob o toyotismo, o trabalhador pensa e é obrigado a pensar muito mais, mas colocando a inteligência humana a serviço do capital” (ALVES, 2011, p.112).

Com isso, acirra-se a alienação130 do trabalhador em seu ambiente de trabalho, fragiliza-se a organização sindical e trabalhista e dilacera-se a vida laboral e particular do trabalhador. Atrela-se a esse contexto a disseminação do neoliberalismo131 que vem conjugar novas formas de precarização das condições de trabalho, que alcança tanto os trabalhadores da esfera privada, como os servidores públicos.

Com a expansão do trabalho assalariado e, consequentemente, com a ampliação dos determinantes do trabalho precário, inúmeras são as implicações na subjetividade do trabalho. O trabalho abstrato oculta os princípios sociais do trabalho e mascara o caráter fetichizado da mercadoria produzida. E na contemporaneidade, sobretudo com a ascensão do modelo de

129 A organização do trabalho toyotista tem “uma densidade manipulatória de maior envergadura”, pois além de

“capturar” o “fazer e o saber” do trabalhador, busca também “a sua dimensão intelectual-afetiva, constituída para cooperar com a lógica da valorização” (ALVES, 2011, p. 111). A nova “hegemonia social” toyotista acentua a precarização objetiva e subjetiva do trabalho, por meio dos novos modelos organizacionais e pela “captura da subjetividade” do trabalhador, incentivando-o a envolver-se demasiadamente na produção e a ser proativo perante as demandas da empresa. Através das novas práticas de organização dos processos de trabalho, o toyotismo detém o pensamento do trabalhador para o interior da cadeia produtiva. É por isso que “sob o toyotismo, o trabalhador pensa e é obrigado a pensar muito mais, mas colocando a inteligência humana a serviço do capital” (ALVES, 2011, p.112).

130 Sobre este trabalho assalariado que aliena, Mészáros (1981, p.110) afirma: “Mas o uso da força de trabalho, o

trabalho, é a própria atividade vital do trabalhador, a manifestação de sua própria vida. E ele vende essa atividade a outra pessoa para conseguir os meios de subsistência necessários. Assim, sua atividade é para ele apenas um meio que lhe permite existir. Ele trabalha para viver. Não considera nem mesmo o trabalho como parte de sua vida, é antes o sacrifício de sua vida. É uma mercadoria, que ele transferiu a outro. Daí, também, não ser o produto de sua atividade o objeto dessa atividade. O que ele produz para si mesmo não é a seda que tece, nem o ouro que arranca do fundo da mina, nem o palácio que constrói. O que ele produz para si são os salários, e a seda, o ouro e o palácio se resolvem, para ele, numa quantidade definida dos meios de subsistência, talvez num paletó de algodão, algumas moedas de cobre e um quarto num porão. E o trabalhador, que durante 12 horas tece, fura, drila, constrói, quebra pedras, carrega pesos etc., considera essas 12 horas como uma manifestação de sua vida, como vida? Ao contrário, a vida começa para ele quando essa atividade cessa; começa na mesa, no bar, na cama. As 12 horas de trabalho, por outro lado, não têm significado para ele como tecelagem, mineração etc., mas como ganho, que o leva à mesa, ao bar, à cama. Se o bicho-da-seda tivesse de tecer para continuar sua existência como lagarta, seria um trabalhador assalariado completo”.

131 “O processo de mercantilização universal, incentivado pelas políticas neoliberais dos últimos trinta anos e a

exacerbação do trabalho abstrato, por conta da explosão da produtividade do trabalho, constituem a base forma- material para as alterações do espaço-tempo na sociedade do capital. Ora, o toyotismo tende a aproveitar-se destas mutações orgânicas do capitalismo tardio para instaurar sua nova (e precária) hegemonia social” (ALVES, 2011, p.107).

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produção toyotista, o controle do trabalhador também se dá pela utilização de práticas que expropriam seu intelecto para intensificar a produção de mais-valia. Portanto:

O processo de precarização do trabalho no capitalismo global atinge a “objetividade” e a “subjetividade” da classe dos trabalhadores assalariados. O eixo central dos dispositivos organizacionais (e institucionais) das inovações organizacionais do novo complexo de reestruturação produtiva é a “captura” da subjetividade do trabalho pela lógica do capital. É a constituição de um novo nexo psicofísico capaz de moldar e direcionar ação e pensamento de operários e empregados em conformidade com a racionalização da produção (ALVES, 2011, p.112).

O controle do trabalhador aviva os processos de alienação do trabalhador que se entrelaçam de forma direta com o fenômeno bem descrito por Giovanni Alves da “captura” da subjetividade132 do trabalhador (ALVES, 2011). Essa “captura” tem como elemento essencial

a vigência do toyotismo, que adota novas formas de gestão do trabalho e novos princípios organizacionais, incitando valores sociais individualistas, fragmentando a organização política da classe trabalhadora e destruindo a saúde física e mental do conjunto dos trabalhadores.

Alves (2011, p.114) explica que a “captura133 da subjetividade” do trabalhador na

organização toyotista134 de produção estimula novos valores para que “os trabalhadores possam intervir na produção, não apenas produzindo, mas agregando valor. Eis o significado da ‘captura’ da subjetividade”: trata-se de uma nova pedagogia empresarial que se vale de mecanismos para educar o trabalhador para ser mais competitivo, “capturando” sua

132 A lógica imposta pelo toyotismo implica numa demasiada manipulação da “subjetividade do trabalho vivo

(que é o conteúdo da ‘captura’ da subjetividade). A lógica manipulatória do toyotismo sob o lastro das inovações sociometabólicas atinge as dimensões do psiquismo humano” (ALVES, 2011, p.127). No toyotismo, o sociometabolismo do capital utiliza diversos recursos manipulatório que adentram nas instâncias “intrapsíquicas do homem”, constituindo novos consentimentos de dominação do homem ao capital. São disseminados novos valores-fetiche e utopias de mercado, que adentram nas instâncias “intrapsíquicas” dos trabalhadores. Ao passo em que o toyotismo é baseado “em atitudes e comportamentos pró-ativos, a construção do novo homem produtivo utiliza, com intensidade e amplitude, estratégias de subjetivação que implicam a manipulação incisiva da mente e do corpo por conteúdos ocultos e semiocultos das instâncias intrapsíquicas” (idem, p.129).

133 “É importante destacar que, ao dizermos ‘captura’ da subjetividade, colocamos ‘captura’ entre aspas para

salientar o caráter problemático da operação captura, ou seja, a captura não ocorre, de fato, como o termo poderia supor. Estamos lidando com uma operação de produção de consentimento ou unidade orgânica entre pensamento e ação que não se desenvolve de modo perene, sem resistências e lutas cotidianas” (ALVES, 2011, p.114, grifos do autor).

134 Potencializando a exploração do trabalho, o novo sistema de produção flexível baseado nos conceitos e

ideologia toyotista utiliza-se de princípios que interferem diretamente na subjetividade dos trabalhadores, por meio do uso da linguagem que estimula o engajamento e a competitividade dos trabalhadores na produção, com vistas a “capturar a subjetividade” do trabalho vivo. “O toyotismo mobiliza a subjetividade, isto é, corpo e mente. Convém notar que essa implicação subjetiva do toyotismo entre corpo e mente é peculiaríssima”. Portanto, “o espírito do toyotismo implica não apenas na mobilização total da mente [...], mas na mobilização total do corpo e da mente. Não apenas conhecer e fazer, mas conhecer e fazer ‘instintivamente’” (ALVES, 2011, p.46).

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subjetividade e afligindo tanto a dimensão física da força de trabalho, como a dimensão psicossocial, por meio de doenças como a depressão, ansiedade e o stress.

Enfim, o processo de “captura” da subjetividade do trabalho vivo é um processo intrinsecamente contraditório e densamente complexo, que articula mecanismo de coerção/consentimento e de manipulação não apenas no local de trabalho, por meio da administração pelo olhar, mas nas instâncias sociorreprodutivas, com a pletora de valores-fetiche e emulação pelo medo que mobiliza as instâncias da pré-consciência/inconsciência do psiquismo humano (ALVES, 2011, p.114, grifos do autor).

Com o intuito de garantir as melhores condições para acumulação e expansão dos lucros, a filosofia de produção toyotista135 levou à imposição de uma lógica particularmente perversa para os trabalhadores, pois, ao incentivar o trabalho polivalente e a produção fluída, enxuta e flexível, fomenta a ampliação do trabalho terceirizado, temporário e subcontratado. Além de estimular o envolvimento do trabalhador na produção de forma proativa, “capturando a subjetividade136” do trabalho, “essa nova organização da produção e do

trabalho significa o abandono da organização do trabalho em postos fixos e especializados” (ALVES, 2011, p.49).

Para Alves (2011) a “captura” da subjetividade do trabalho pela lógica do capital ocorre no campo da produção e no campo da reprodução social, por meio de valores-fetiche, construindo uma subjetivação estranhada e disseminando a individualidade de classe e a competição entre os trabalhadores. O autor ainda assinala que existem “mediações” dentro da organização do trabalho capitalista que irão contribuir para a “‘captura’ da subjetividade pelo capital, isto é, os mecanismos de contrapartida salarial (as novas formas de pagamento137) e

135 “O que consideramos cerne essencial do toyotismo é a busca do ‘engajamento estimulado’ do trabalho,

principalmente do trabalhador central, o assalariado estável. É por essa ‘captura’ da subjetividade que o operário ou empregado consegue operar, com eficácia relativa, a série de dispositivos técnico-organizacionais que sustentam a produção fluída e difusa” (ALVES, 2011, p.49).

136 A “hegemonia social do toyotismo” opera tanto no local de trabalho como na vida particular do trabalhador,

apropriando-se da inteligência e da subjetividade dos que vendem a força de trabalho para sobreviver. A “captura da subjetividade” atua através das “inovações tecnológicas”, operando em um “duplo movimento hegemônico” que vai incorporar, por um lado, os “valores da vida do trabalho na produção do capital” e, por outro, estende “valores-fetiche da produção do capitão na instância da reprodução social” (ALVES, 2011, p.101).

137 Com relação às novas formas de pagamento, às empresas estão vinculando os salários a um sistema de

avaliação de desempenho, que incentiva o espírito competitivo entre os empregados. Por meio desse “incentivo salarial” o comportamento do empregado é gerenciado de modo a elevar a produtividade, o que acarreta em mais exploração da força de trabalho e, em alguns casos, implica em doenças relacionadas ao aumento do ritmo e intensidade do trabalho. Pode-se fazer uma analogia dessa situação com aquela que Marx demonstrou em “O capital”, ao relatar o salário por peça, que obriga o trabalhador a produzir mais para aumentar seu salário. Assim, essas novas formas de pagamento de salário, atreladas à produção do trabalhador, “reproduzem, em sua essência, a lógica do salário por peça, na qual a exploração dos trabalhadores pelo capital é mediada pelos próprios trabalhadores como força de trabalho como mercadoria” (ALVES, 2011, p.123).

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de gestão da organização do trabalho138 (o trabalho em equipe) que sedimentam os consentimentos espúrios” (ALVES, 2011, p.120-121).

Para que se obtenha um maior controle dos trabalhadores são utilizadas práticas de trabalho “flexíveis”, que adotam novos mecanismos de personificação do trabalho, mascarados pelo “envolvimento” do trabalhador com a empresa, estimulando “o exercício de uma subjetividade marcada pela inautenticidade”, que constitui instigar o exercício da subjetividade do trabalho conforme o interesse da empresa. Essa subjetividade empresarial “trata-se de um exercício de subjetivismo anticoletivo, antissindical e intensamente empresarial” (ANTUNES, 2018, p.105, grifos do autor). Já o exercício da “subjetividade autêntica” ocorre quando o trabalhador não é constrangido e obrigado ao “envolvimento incitado” pelas empresas. “Por isso, o exercício da subjetividade autêntica expressa formas de autonomia, enquanto as formas de subjetividade inautêntica são próprias da heteronomia” (idem, p. 106, grifos do autor).

O despotismo típico do início da grande indústria capitalista é substituído por um despotismo menos visível139, ocultado pela interiorização do discurso do trabalhador “colaborador”, “parceiro”, que se envolve com os objetivos da empresa, onde eles próprios “controlam” sua produção e patrulham os demais colegas trabalhadores para que mantenham um nível alto de produtividade, além de intensificar a concorrência entre os trabalhadores, com um ritmo alucinante de produção e competição. As práticas empresariais toyotistas140

138 No que se refere à gestão da organização do trabalho, Alves (2011, p.124) utiliza os exemplos das equipes de

trabalho e do engajamento estimulado. Para o autor, o toyotismo estimula o comprometimento do trabalhador por meio da pressão exercida de forma coletiva pela equipe de trabalho sobre todos os trabalhadores. A eficácia produtiva é conseguida pela integração de todos os trabalhadores, pelo “engajamento estimulado”, dos trabalhadores no processo produtivo. “Deste modo, o toyotismo utiliza o ‘espírito de equipe’ como estímulo psíquico fundamental”. A equipe de trabalho exerce uma pressão no coletivo do conjunto de trabalhadores, o que implica na “exploração do trabalhador pelo trabalhador”. (idem). O trabalho em equipe é articulado à competição entre os trabalhadores, onde cada trabalhador é supervisor do outro. Assim, a “captura” da subjetividade “tende a se tornar mais consensual, mais envolvente, mais participativa: em verdade, mais manipulatória” (ALVES, 2011, p.125).

139 Essa nova forma de gestão do trabalho incide diretamente no aumento da taxa de exploração dos

trabalhadores, por meio, sobretudo, da intensificação do processo de trabalho, que reduz o número de trabalhadores, mas aumenta o nível de produção. Para isso é imprescindível que haja a “captura” da subjetividade dos trabalhadores para que eles se envolvam o máximo possível com a produção. “Nesse sentido, o toyotismo, como a cooperação, é uma inovação meramente organizacional que busca racionalizar a produção atacando outro ângulo: a intensa espoliação da subjetividade do trabalho vivo” (ALVES, 2011, p.58).

140 A organização do trabalho sob o molde toyotista requer um trabalhador que se adapte a atividades

multitarefas e a polivalência. Além disso, a demanda é por um trabalhador qualificado, que se insira facilmente em distintos postos de trabalho e que seja “flexível” às diversas demandas e exigências do contratante. A flexibilidade vai além, atingindo também o vínculo de contratação do trabalhador, que agora é mais precarizado devido às contratações temporárias, terceirizadas e ao pagamento do salário vinculado a gratificações por produção. Portanto, tanto a flexibilização das formas de contratos trabalhistas, como a flexibilização dos salários “são elementos compositivos das condições objetivas pressupostas da ‘captura’ da subjetividade do trabalho vivo pelo capital” (ALVES, 2011, p.51).

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apropriam-se intensamente das dimensões intelectual e cognitiva do trabalhador, que é envolvido demasiadamente com as metas da empresa, dominando sua subjetividade trabalhadora. Este é um mecanismo novo dos processos de precarização do trabalho, que o torna mais desumanizado e alienado.

Nesse sentido, o toyotismo articula um novo tipo de “captura” da subjetividade do trabalho ou uma subjetividade às avessas capaz de gerir