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Vimos anteriormente que, entre o lapso temporal que se estende da década de 1970 aos anos atuais, a produção capitalista passou por inúmeras transformações que incidiram objetivamente na precarização das condições de trabalho e de vida da classe trabalhadora. É conveniente ressaltar que embora os traços gerais e estruturais dessas transformações sejam semelhantes na maioria dos países, há particularidades que não devem ser ignoradas, especialmente àquelas que dizem respeito aos países periféricos como o Brasil.

Alves (2012) faz uma importante análise sobre esse período de crise pós anos 1970 que, para ele, no plano da conjuntura histórica há uma nova temporalidade na fase de era do capitalismo global. Ele discrimina essa era, em linhas gerais, em alguns períodos. O primeiro seria de 1973 a 1981, período da crise e contrarrevolução neoliberal, onde se impulsionou o processo de reestruturação capitalista nas mais diversas instâncias da vida social. Para o autor, a década de 1970 expressou a derrota das forças sociais, políticas e ideológicas do trabalho que conduziu a nova temporalidade histórica do capital: o capitalismo global sob dominância financeira e direção política neoliberal. O segundo período para Alves (2012) seria entre os anos de 1981 a 1991, o qual ele denomina de período da financeirização e barbárie social, onde há a expansão da nova ordem burguesa e o aprofundamento do processo de reestruturação capitalista. É um período em que o capital recupera as margens de lucratividade e o capitalismo global torna-se efetivamente capitalismo predominantemente financeirizado.

Para Alves (2012) o terceiro período corresponde à década de 1990 e 2000 que são marcadas por crises financeiras que “explicitam a lógica do ‘capitalismo das bolhas’, forma originaria do sistema institucional-político da mundialização financeira”. Essas crises financeiras “traduzem no plano da objetividade contraditória do sistema, a fenomenologia da crise estrutural do capital. A financeirização expõe as novas manifestações da precarização estrutural do trabalho e da dinâmica social da proletariedade” (ALVES, 2012, online, n.p.). Já a década de 2001-2011 foi o período do “terceiro ciclo da financeirização e barbárie social, elementos compositivos do metabolismo social do capitalismo global. A condição de

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proletariedade amplia-se como fenômeno universal e o precariato aparece como ‘persona viva’ das contradições viscerais da ordem burguesa hipertardia” (idem).

As repercussões da crise estrutural do capital chegam ao Brasil no final da década de 1980, acentuando-se e consolidando-se a partir da década de 1990, quando aconteceram com maior magnitude e intensidade as crises financeiras, que segundo Alves (2012) caracterizam a 2ª fase de crise do capitalismo global.

As variações nas formas em que se manifesta a precarização do trabalho devem-se à conjuntura política e econômica de cada país e, é claro, às formas de resistência dos trabalhadores. No campo político, a ofensiva ao trabalho ocorre por meio das políticas neoliberais. Partindo dessa constatação, para avançarmos no desvelamento do objeto de pesquisa aqui investigado, algumas questões precisam ser postas e respondidas: Quais as

características da crise do capital no Brasil? Quais as particularidades do neoliberalismo brasileiro, como resposta à crise do capital, e como elas amplificam a precarização do trabalho?

Nos países periféricos as inflexões do quadro de avanço da precarização do trabalho se impõem em maior medida. No Brasil, a crise estrutural incide em profundas alterações na produção e na gestão do trabalho diante das “exigências do mercado mundial sob o comando do capital financeiro, que alteram profundamente as relações entre o Estado e a sociedade, na cena contemporânea brasileira acompanhada de uma globalização da economia” (IAMAMOTO, 2007, p.142).

As transformações nas esferas econômica, política e social sucedidas no Brasil a partir da década de 1980, sob o comando das novas formas de dominação do capital, impactam nas formas de gestão da força de trabalho, culminando no aumento da precarização. As transformações nas relações de produção a partir da explosão da crise estrutural do capital foram bases sólidas para a ampliação da precarização do trabalho no Brasil.

A própria história do capitalismo no Brasil já tem a marca mais incisiva do trabalho precário em seu mercado de trabalho, porque, dada a condição de um “fordismo a brasileira78”, não houve a constituição de um Estado de Bem-Estar Social que garantisse

78 Enquanto no nível internacional o fim da década de 1960 era marcado pelo início de uma crise capitalista que

desencadeou no processo de reestruturação produtiva do capital, no Brasil estava-se instaurando o “fordismo à brasileira”. É um período onde no Brasil ocorre a produção em massa de automóveis e eletrodomésticos. Entretanto, diferente dos países de capitalismo central, isso ocorre sem o pacto social-democrata e sem os acordos dos anos de crescimento, como houve nos países da Europa e dos Estados Unidos. Vale ressaltar que a distribuição dos ganhos em torno da produtividade do trabalho foi muito restrita. “De outro lado expandia-se a cobertura da política social brasileira conduzida de forma tecnocrática e conservadora, reiterando uma dinâmica

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direitos sociais e trabalhistas a todos os trabalhadores. A especificidade histórica do Brasil, que conta com um mercado de trabalho historicamente precário, aponta um grau elevado de precarização desde a industrialização do país, que foi exponenciada em decorrência das transformações produtivas e da mundialização das medidas neoliberais. O trabalhador brasileiro sempre carregou nas costas um peso maior da precarização do trabalho, que pode ser compreendida nos dias atuais como:

[...] processo social constituído pela amplificação e institucionalização da instabilidade e da insegurança, expressa nas novas formas de organização do trabalho – onde a terceirização/subcontratação ocupa um lugar central – e no recuo do papel do Estado como regulador do mercado de trabalho e da proteção social através das inovações da legislação do trabalho e previdenciária. Um processo que atinge todos os trabalhadores, independente do seu estatuto, e que tem levado a crescente degradação das condições de trabalho, da saúde (e da vida) dos trabalhadores e da vitalidade da ação sindical (DRUCK; THÉBAUD-MONY, 2007, p. 29).

Marcado pelo desenvolvimento hipertardio, o capitalismo brasileiro tem a característica da industrialização atrasada, ocorrida a partir da década de 193079, consolidando-se na década de 1950 na vigência do governo de Juscelino Kubitschek. Posteriormente, pós-golpe de 1964, o processo de industrialização deslancha, conectado ao encadeamento da internacionalização do país.

O Estado autocrático burguês, instalado na ditadura brasileira pós-64, se faz representar através de um bloco hegemônico formado pelos elevados escalões da tecnocracia estatal, a oficialidade militar e a burguesia nacional monopolista, aliada às multinacionais. Sob a dominação autocracia burguesa, acontece na economia brasileira um aprofundamento do capital monopolista, em que uma das principais condições para este fim a estabilidade política. Medidas institucionais foram tomadas para fortalecer o esquema de repressão à ordem nacional, proporcionando aos grupos investidores, as mais sólidas garantias econômicas e políticas. Em face dessas garantias, presencia-se o arrocho salarial, a ampliação da jornada de trabalho, o esvaziamento dos sindicatos, a eliminação do direito de greve, a substituição da estabilidade de trabalho pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço –

singular de expansão dos direitos sociais em meio à restrição dos direitos civis e políticos” (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p.135).

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FGTS. Assiste-se uma convivência pacífica entre as classes empresariais e trabalhadoras, num clima de ordem, paz e segurança nacional80.

A dinâmica interna de acumulação industrial brasileira era estruturada “pela vigência de um processo de superexploração da força de trabalho, dado pela articulação entre baixos salários, jornada de trabalho prolongada e fortíssima intensidade em seus ritmos”, inserida no interior “de um patamar industrial significativo para um país que, apesar de sua inserção subordinada, chegou a alinhar-se, em dado momento, entre as oito grandes potências industriais” (ANTUNES, 2006, p.17). Ocorre, neste cenário, o que Florestan Fernandes chama de

(...) a defesa consciente, ativa e organizada (quando necessária), pelas classes burguesas, de uma forma especial de solidariedade de classe, que articula mecanicamente, no mesmo padrão de dominação econômica, social, cultural e política, interesses capitalistas ‘nacionais’ e ‘estrangeiros’, convergentes e divergentes, mais ou menos conservadores e mais ou menos liberais, variavelmente compartilhados pela ‘grande’, ‘média’ e ‘pequena’ burguesia e pela enorme massa de pessoal estrangeiro das filiais das corporações e outras empresas estrangeiras (FERNANDES, 1987, p.304-305).

A crise do capital e a reforma do Estado no Brasil deslancharam inicialmente no âmbito do colapso deste regime ditatorial, gerado também pelo esgotamento do que foi chamado de “milagre econômico”, que desembocou numa instabilidade política do comando ditatorial. Nos últimos anos da década de 1970 surgem os primeiros sinais de extenuação “do projeto tecnocrático e modernizador-conservador do regime, em função dos impactos da economia internacional que estava em crise, restringindo o fluxo de capitais”. Disto decorre que os anos que seguem o final da década de 1970 “serão marcados pela distensão, pela abertura lenta e gradual do regime81, num processo de transição que irá condicionar a adesão

80 Para Fernandes (1987, p.303), a dominação burguesa “(...) se impõe como ponto de partida e de chegada de

qualquer mudança social relevante; e se ergue como uma barreira diante da qual se destroçam (pelo menos por enquanto) todas as tentativas de oposição às concepções burguesas vigentes do que deve ser a “ordem legal” de uma sociedade competitiva, a “segurança nacional”, a “democracia”, a “educação democrática”, o “salário mínimo”, as “relações de classes”, a “liberdade sindical”, o “desenvolvimento econômico”, a “civilização” etc. Desse ângulo, dela provém a opção interna das classes burguesas por um tipo de capitalismo que imola a sociedade brasileira às iniquidades do desenvolvimento desigual interno e da dominação imperialista externa”.

81A concretização do processo de abertura e de redemocratização do país, a partir de 1979, coloca em prática,

entre outras medidas: a anistia política a todos os presos políticos; a extinção do bipartidarismo (ARENA e PMDB), possibilitando o surgimento do pluripartidarismo (PDS, PMDB, PTB e PT); a extinção do ‘senador biônico’ e a promessa de eleições diretas para governadores de Estados, em 1982, acompanhadas de um pacote eleitoral de vinculação de voto. Na concepção do poder político, a liberação dos partidos, exceto o Partido Comunista, assim como as outras medidas, deveriam refletir o início do processo de democratização, não obstante objetivasse, de forma implícita, dividir a oposição de modo a evitar que o governo sofresse derrota, tal como acontecera em 1974 e se repetiu em 1978. Tratava-se de uma liberação planejada e controlada, mantendo- se sob o jugo e os parâmetros do governo autocrático burguês.

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brasileira às orientações neoliberais, já em curso no mundo” (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p.137). Esse cenário favoreceu um intenso movimento de atividades políticas desenvolvidas pela classe trabalhadora na luta pelo regime democrático82.

O padrão de acumulação no Brasil durante o período da ditadura militar experimentou movimentos de expansão, “com altas taxas de acumulação, entre os quais a fase do ‘milagre econômico’ (1968-1973). O país vivia então, sob os binômios ditadura e acumulação, arrocho e expansão”. Com o fim da ditadura militar brasileira, nos anos 198083, o governo Sarney

experimenta as primeiras mudanças no padrão de acumulação anterior. Iniciaram-se as mudanças organizacionais e tecnológicas, tanto no processo produtivo como nos serviços, embora num ritmo inferior àquele que os países de capitalismo central vivenciavam.

Apesar de o Brasil na década de 1980 ainda encontrar-se relativamente afastado da reestruturação produtiva e do neoliberalismo, nos moldes que os países de capitalismo central vivenciavam, os primeiros efeitos da nova divisão internacional do trabalho já apareciam. Neste sentido, Antunes (2006) afirma:

Foi, então, durante a década de 1980, que ocorreram os primeiros impulsos do nosso processo de reestruturação produtiva, levando as empresas a adotar, no início de modo restrito, novos padrões organizacionais e tecnológicos, novas formas de organização social do trabalho. Iniciou-se a utilização da informatização produtiva e do sistema just-in-time; germinou a produção baseada em team work, alicerçada nos programas de qualidade total, ampliando também o processo de difusão da microeletrônica (ANTUNES, 2006, p.17)

Os primeiros anos do processo de reestruturação produtiva brasileira foram caracterizados pela redução dos custos do processo produtivo, através da diminuição da força de trabalho. Elevou-se a produtividade mediante a reorganização produtiva, a intensificação da jornada de trabalho, a redução de trabalhadores e a adoção dos sistemas de produção inspirados no modelo toyotista. Assim, o fordismo brasileiro começou a se retrair, dando espaço para os primeiros influxos do toyotismo (ANTUNES, 2006, p.18).

82 O processo de transição democrática resultou na eleição, de forma indireta via Colégio Eleitoral, de Tancredo

Neves para a Presidência da República em 1985. Entretanto, ele faleceu antes de sua posse, assumindo o cargo o seu vice-presidente, José Sarney.

83 A conjuntura da década de 1980 no Brasil foi conhecida popularmente como a década perdida, mas, por outro

lado, seus últimos anos foram marcados pela grande mobilização da camada popular, resultando na culminação da Constituição de 1988. Foi também um período conhecido como a década da redemocratização e luta em torno da afirmação dos direitos sociais. Convém salientar que nesse interim do processo de redemocratização, não obstante a crise econômica, com seu conteúdo que defende as reformas, foi factível esboçar na Constituição de 1988.

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Na particularidade brasileira, o esgotamento do seu peculiar padrão fordista periférico que aconteceu na década de 1980 desencadeou a recessão e a estagnação da economia e um acúmulo gigante de sua dívida externa84, em consequência da sua condição de dependência

aos países de capitalismo avançado, marcada pela demanda por produção de bens de consumo duráveis e pela alta exportação de produtos primários e industrializados direcionados aos países centrais. As consequências do endividamento dos países subdesenvolvidos foram diversas: “a crise dos serviços sociais públicos; o desemprego; a informalização da economia; o favorecimento da produção para exportação em detrimento das necessidades internas”, além do empobrecimento generalizado da América Latina e do o Brasil. Isto é, “características regionais preexistentes à crise da dívida foram exacerbadas no contexto dos anos 1980” (BEHRING, 2008, p.134).

Concomitantemente, a década de 1980 inaugura na América Latina85 a adoção dos princípios do neoliberalismo como uma estratégia de dominação burguesa que provocou um conjunto de mudanças econômicas, sociais e ideológicas em todo mundo. No entanto, a América Latina, e consequentemente o Brasil, apresentaram suas particularidades na implementação das medidas neoliberais propiciando, de forma específica, um novo reordenamento nas ações do Estado para garantir maior liberdade do mercado e os lucros do capital. Essas medidas foram efetivadas inicialmente nos anos 198086, com o surgimento do

conjunto de políticas macroeconômicas orientadas para executar reformas estruturais nos países periféricos.

A chamada neoliberalização operou significativas mudanças na esfera econômica, “envolvendo principalmente aspectos monetários e financeiros”, desencadeando a expansão da finança na economia mundial. Uma importante transformação que ocorreu nesse período foi em relação ao mundo do trabalho, com o crescimento do desemprego e a adoção do

84 A dívida externa brasileira no do ano de 1982, segundo dados do Banco Central, era de 83,3 bilhões de

dólares.

85 O primeiro país em que o neoliberalismo se desenvolveu na América Latina foi o Chile, através de um modelo

de caráter experimental ainda na década de 1970, orientado sob a influência dos Estados Unidos e materializado no governo Pinochet, por meio de repressão sindical e privatização dos bens públicos. O Brasil foi um dos últimos países a implementar o projeto neoliberal devido “à dificuldade de soldar os distintos interesses das diversas frações do capital”, como também pela “intensa atividade política desenvolvida pelas classes trabalhadoras na década de 1980” (FILGUEIRAS, p. 180-181, 2006). Nos demais países latino-americanos o ideário neoliberal foi efetivado de diferentes maneiras, mas todas elas direcionadas para reverter a crise do capital instalada nos anos 1970, por meio da abertura comercial e do ajuste fiscal.

86 No plano econômico, o início da década de 1980 é assinalado pelo “aprofundamento das dificuldades de

formulação de políticas econômicas de impacto nos investimentos e na redistribuição de renda, não só no Brasil, mas no conjunto da América Latina”. Com o esgotamento e crise do padrão de industrialização, ocorre o “estrangulamento da economia”, bem como um significativo aumento de dívida externa e elevados índices da taxa de inflação (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p.138).

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processo de reestruturação produtiva, no início nos países centrais, estendendo-se posteriormente aos países periféricos. Por um lado, assistia-se o declínio do operariado fabril clássico e por outro se tinha o crescimento do trabalho precarizado (FALLEIROS, PRONKO e OLIVEIRA, 2010, p. 66).

O neoliberalismo “é a forma de Estado político que se surge com a mundialização do capital”. O Estado neoliberal se constitui como elemento político intrínseco à lógica da precarização do trabalho, sendo não somente uma forma de governo, mas também “uma forma de Estado político”. É por este motivo que mesmo que haja alternância de governo, a dinâmica neoliberal continua prevalecendo. O “processo de precarização do trabalho é reflexo da nova estatalidade política neoliberal que surge com o capitalismo global” (ALVES, 2007, p. 149). Portanto, “O Estado neoliberal é o Estado político do capital nas condições de sua crise estrutural” (idem, grifos do autor).

Convém salientar que, na esfera ideológica, a doutrina neoliberal propõe a “desregulamentação dos mercados financeiros, de produtos e do trabalho”. Com isso, a esfera financeira conduz as deliberações das empresas, a partir dos países centrais do capitalismo, na medida em que os países periféricos “passam a depender cada vez mais de sua capacidade de pagamento de investimentos e de empréstimos externos absorvidos domesticamente”. Os países periféricos submetem-se aos ditames dos países centrais, os quais definem “a circulação do capital, sobretudo a partir das decisões das matrizes das empresas transnacionais” (SALVADOR, 2010, p. 104-105).

O neoliberalismo associa-se à restauração do poder das elites econômicas, ao aumento da concentração de renda em vários países e ao recrudescimento da desigualdade social a partir dos anos 1980, tendo como protagonistas desse processo os organismos multilaterais, divulgando e implantando o fundamentalismo do livre mercado e da ortodoxia neoliberal. Assim, “os países endividados tiveram de implementar reformas institucionais como cortes nos gastos sociais, leis dos mercados de trabalho mais flexíveis e privatização. Foi inventado o chamado ‘ajuste estrutural’” (HARVEY, 2008, p. 38).

Conferindo maior liberdade ao mercado, o ideário neoliberal foi expresso nos países da América Latina através de reformas e ajustes estruturais, respondendo às exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial87, financiadores de projetos que se constituíram como núcleos de propagação da ortodoxia neoliberal. Merece também ênfase a

87 “Os organismos internacionais lançam mão de novas estratégias de ação, tanto na condução da política

econômica quanto na conformação social dos países. As "novas funções do Estado" envolvem desde a gestão das pequenas reformas para implantar as grandes reformas (BANCO MUNDIAL, 1997) até a formulação de uma nova conformação social” (MELO, p.73, 2005)

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entrada em cena do Consenso de Washington, que institui medidas macroeconômicas para os países em desenvolvimento como o Brasil. As políticas de ajustes defendidas pelo Consenso de Washington tendiam colocar em prática medidas88 que implementassem o ajuste estrutural

da nova etapa do capitalismo global. Além disso, o Consenso de Washington tem papel decisivo neste cenário de desregulamentação no mundo do trabalho e da produção, juntamente com a reestruturação produtiva, na conjuntura de financeirização do capital.

É no decorrer da década de 1990 que a reestruturação produtiva brasileira se desenvolve profundamente, como uma das respostas à crise do capital, adotando os receituários toyotistas de produção e de acumulação flexível. Com a reorganização sóciotécnica da produção, para assim obter maior elevação da produtividade do capital, decorreram a intensificação da jornada de trabalho e a redução do número de trabalhadores na produção. É nesse quadro mais geral que se constata um claro aumento de modalidades de trabalho desregulamentadas.

Assim, inicia-se a implantação efetiva e intensa das formas de subcontratação da força de trabalho, rebaixando a remuneração dos trabalhadores e exponenciando a precarização do trabalho. Na vigência dos anos 1990 no Brasil, a reestruturação produtiva é combinada com a adoção do ideário neoliberal que intensifica a precarização do trabalho de formas diferenciadas. “Há uma mescla nítida entre elementos do fordismo, que ainda encontram vigência acentuada, e elementos oriundos das novas formas de acumulação flexível e/ou influxos toyotistas no Brasil, que também são por demais evidentes” (ANTUNES, 2006,