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ASSALARIADO E A PRECARIZAÇÃO DOS SERVIÇOS SOCIAIS

3.3 O assistente social como trabalhador assalariado e a precarização do seu exercício profissional no Brasil

Foi necessário desvendarmos anteriormente as atuais formas dinâmicas de produção e reprodução do capital no contexto de sua crise estrutural para compreendermos as novas tendências nas formas de manifestação da precarização do trabalho na contemporaneidade. Ficou evidente queas mudanças trazidas pela reestruturação produtiva do capital a partir dos anos 1970 forjaram diversas tendências da precarização do trabalho, que tendem a repercutir objetivamente e subjetivamente sobre os trabalhadores.

No caso brasileiro, a partir dos anos 1990, do século XX, vimos através de nossa pesquisa bibliográfica e documental que as mudanças se expressam no campo objetivo através de duas tendências mais gerais: a precarização dos vínculos empregatícios e a intensificação do trabalho, destrinchando-se em outros elementos que endossam essa precarização: flexibilização do trabalho, terceirização, ampliação do trabalho informal/autônomo e adoção de tecnologias para ampliar a exploração da força de trabalho. Já no campo subjetivo, no que

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diz respeito à precarização das condições de trabalho que se expressam na subjetividade do trabalhador, a duas tendências encontradas em nossa pesquisa bibliográfica e documental referem-se às novas formas de controle do trabalhador e à deterioração física e psíquica da força de trabalho, manifestada de modo mais imediato nas distintas formas de adoecimento dos trabalhadores.

Essa morfologia contemporânea da precarização do trabalho acontece em escala global, sem desconsiderarmos as particularidades de cada país, e, sem espaço para dúvidas, interconecta-se no universo do exercício profissional dos assistentes sociais. Seja através das demandas que chegam por meio dos usuários que trazem as mais distintas expressões da precarização do trabalho e da violação de seus direitos, seja diretamente por meio da incidência em suas condições de trabalho, uma vez que são profissionais assalariados não imunes à lógica que vilipendia a força de trabalho.

Portanto, o exercício profissional do assistente social é perpassado pela precarização do trabalho. Isso porque o assistente social é um profissional assalariado, e a determinação ontológica da precarização do seu trabalho reside na relação de assalariamento, ou seja, na mercantilização da sua força de trabalho. Dessa determinação, surgem as determinações secundárias da precarização do trabalho do assistente social, que são suas condições de trabalho, que tendem a repercutir objetivamente e subjetivamente em seu exercício profissional.

Não é demais lembrar que o Serviço Social é uma profissão que nasce no interior do capitalismo monopolista e sua legitimidade prática é reconhecida no desenvolvimento da sociedade capitalista e nas necessidades de respostas da classe dominante às expressões da questão social. A profissão é demandada pela necessidade de controle da força de trabalho para legitimar a ordem social burguesa, de tal modo, que o assistente social encontra no mercado de trabalho, no interior do capitalismo, as condições necessárias para vender sua força de trabalho. A depender das condições de assalariamento, atreladas à política social e à conjuntura política e econômica, as quais os assistentes sociais estão inseridos, tem-se uma ampliação da precarização das suas condições de trabalho. Sendo assim, quais as

particularidades do assistente social como trabalhador assalariado?Quais as tendências atuais que acentuam a precarização do exercício profissional dos assistentes sociais brasileiros?

Desde o processo de institucionalização da profissão no Brasil, na década de 1940 do século XX, a relação de assalariamento coloca-se como necessária para o exercício

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profissional do assistente social, pois são as instituições empregadoras que compram a força de trabalho do profissional146, oferecem-lhe um salário e dão as condições materiais para a

realização de seu trabalho a partir da inserção da profissão na divisão social e técnica do trabalho147. Essa relação de assalariamento está imbricada ao exercício profissional do

assistente social. Assim, “a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele participa” (IAMAMOTO, 2012a, p.63, grifos da autora). Portanto, a instituição empregadora é condição primordial para o assistente social exercer suas atividades profissionais, comprando sua força de trabalho e pagando-lhe um salário. Além disso, a condição de assalariamento não permite ao profissional a definição dos serviços, nem dos usuários aos quais irá atender. Neste sentido Raichelis afirma:

O “núcleo duro” dessa interpretação do Serviço Social na sociedade capitalista remete à relação tensa e contraditória entre projeto profissional e trabalho assalariado, entre lutas de resistência e imposições do poder institucional, que impõem limites cada vez mais estreitos à relativa autonomia profissional na implementação desse projeto, subordinando assistentes sociais aos constrangimentos da alienação e à reificação nas relações de trabalho (RAICHELIS, 2018, p. 29).

O vínculo de assalariamento se constituirá “numa das primeiras determinações objetivas das condições de realização da intervenção profissional” (GUERRA, 2011, p.154). Através da venda de sua força de trabalho, o assistente social se encontra vinculado a instituições sociais públicas e/ou privadas, tendo elas como condição essencial para que essa relação de compra e venda da força de trabalho seja materializada. Por meio da prestação dos serviços sociais nessas instituições, o profissional converte sua força de trabalho em mercadoria, tendo o vínculo entre sua força de trabalho e o capital sem uma relação direta. (idem, p. 155). Esse vínculo, na grande maioria das vezes, é mediatizado pelo Estado, maior empregador do assistente social na implementação das políticas públicas.

146 A criação de um mercado de trabalho nacional para o assistente social tem início nos anos 40, quando do

desenvolvimento e implantação das grandes instituições sociais durante o Estado Novo, em um período de exceção, autoritarismo e repressão política. Ver, a propósito, Iamamoto e Carvalho (2008). Este mercado se amplia e se expande entre as décadas de 50, 60 e 70. É ainda um mercado de trabalho emergente e em processo de consolidação, e com relações trabalhistas carentes de institucionalização. Ver, com maiores detalhes, Netto (2011a).

147 A inserção da profissão do serviço social na divisão social e técnica do trabalho tem suas determinações

construídas e engendradas no e pelo processo de produção e reprodução das relações sociais, organizado na era dos monopólios, que cria um espaço legal e legítimo para o assistente social. Ver, a propósito, Iamamoto e Carvalho (2008), Netto (2011a).

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Pesquisa publicada pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) em 2005, sobre o perfil dos assistentes sociais, verificou que no Brasil 78,16% dos profissionais estão inseridos em instituições públicas estatais, sendo 40,97% de âmbito municipal, 24% estaduais e 13,19% federais. A pesquisa comprova o traço que acompanha o desenvolvimento histórico da profissão que tem o Estado como seu maior empregador. Na especificidade do Serviço Social em Alagoas, pesquisa demonstrou que “na conjuntura do Governo Lula, o mercado de trabalho do Serviço Social continua sendo majoritariamente composto por instituições de natureza pública 82,44% (2003-2004) e 78,51% (2005-2006)” (TRINDADE, 2015, p.126). Com relação à abrangência das instituições, “no período 2003-2004 a maioria está no âmbito municipal com 77,27%, seguida pela estadual (13,63%) e federal com 3,03%” (idem, p.132).

Ocupando esses espaços sócio-ocupacionais, desde a institucionalização do Serviço Social como profissão que o assalariamento é parte inerente da condição profissional dos assistentes sociais. Contudo, ainda que o Serviço Social tenha o estatuto de profissão liberal, o assistente social “exerce seu trabalho majoritariamente como assalariado de instituições públicas ou privadas que operacionalizam políticas e serviços sociais” (RAICHELIS, 2018, p. 30). Embora a profissão tenha uma “relativa autonomia” profissional, visto que dispõe de um Código de Ética, de um exercício profissional com uma regulamentação legal que versa sobre competências e atribuições privativas aos assistentes sociais, o vínculo do assalariamento profissional subordina (parcialmente) os assistentes sociais às condições impostas pelo seu empregador.

Salvo situações atípicas, o assistente social só poderá exercer suas atividades se estiver vinculado a instituições públicas e/ou privadas, onde será inserido numa relação de assalariamento, as quais servem como mediações organizacionais para seu exercício profissional. Por esses motivos, não podemos pensar o Serviço Social “no processo de reprodução das relações sociais independente das organizações institucionais a que se vincula, como se a atividade profissional se encerrasse em si mesma e seus efeitos sociais derivassem, exclusivamente, da atuação do profissional” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p.79, grifos dos autores).

A profissão tem uma estreita relação com o setor público em decorrência da ampliação da ação do Estado adjacente à sociedade civil. Todavia, o Serviço Social também se vincula às organizações privadas de caráter empresarial na prestação de serviços sociais à população (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p.79). De tal modo, “a profissão se consolida, então, como parte integrante do aparato estatal e de empresas privadas, e o profissional, como

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assalariado a serviço das mesmas” (idem). Nessa situação se encontra a base do assalariamento dos assistentes sociais, a qual tem que, na grande maioria das vezes, ser vinculada a organizações institucionais, pois são essas instituições que fornecem as condições de trabalho para o exercício profissional.

Mesmo que o Serviço Social no Brasil tenha se regulamentado como profissão liberal, ela “não tem uma tradição de prática peculiar às profissões liberais na acepção corrente do termo” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p.80). Contudo, se historicamente na profissão esta não vem se constituindo “uma característica básica”, dela não são excluídas de forma integral alguns traços que apontam para uma “prática liberal”, dentre as quais poderíamos relacionar: “a reivindicação de uma deontologia (Código de Ética), o caráter não-rotineiro da intervenção, viabilizando aos agentes especializados uma certa margem de manobra e de liberdade no exercício de suas funções institucionais” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 80).

Tenhamos presente que a profissão não pode restritamente ser tratada como liberal porque o assistente social não dispõe das condições materiais e técnicas para exercer sua atividade profissional de forma autônoma, estabelecendo sua jornada de trabalho, remuneração e suas condições de trabalho em geral. Não obstante, o assistente social dispõe de uma autonomia relativa, pois pode reorientar sua ação profissional, dentro das condições objetivas dadas e conduzir seu exercício profissional, uma vez que o Serviço Social dispõe de estatutos legais que regulamentam a atividade profissional dos assistentes sociais. Contudo, “essa autonomia é tensionada pela compra e venda dessa força de trabalho especializada a diferentes empregadores”. São os empregadores que determinam quais as necessidades sociais transformadas em demandas e/ou requisições que o exercício profissional do assistente social irá responder, além de interferirem nas condições de trabalho e nas formas que se operam os atendimentos aos usuários (IAMAMOTO, 2012, p. 215).

Embora o Serviço Social seja reconhecido como profissão liberal, amparado por um estatuto legal e ético que assegura sua autonomia para conduzir seu exercício profissional, sua autonomia é relativa dada à condição de assalariamento dos assistentes sociais. Essa condição de trabalhador assalariado “faz com que os profissionais não disponham nem tenham controle sobre todas as condições e os meios de trabalho postos à sua disposição no espaço institucional”. Quem fornece os instrumentos e meios de trabalho é a instituição empregadora. São os empregadores que “têm o poder de definir as demandas e as condições em que deve

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ser exercida a atividade profissional: o contrato de trabalho, a jornada, o salário, a intensidade, as metas de produtividade” (RAICHELIS, 2011, 428).

Nesse sentido, as condições de trabalho do assistente social impactam diretamente na qualidade dos serviços prestados à população usuária, sendo possível perceber que, a condição de assalariado do assistente social - como funcionário público ou empregado de organizações empresariais ou privados da sociedade civil - abrange, essencialmente, “os parâmetros institucionais e trabalhistas” reguladores das relações de trabalho, os quais se acham consubstanciados em um contrato de trabalho, “que estabelecem as condições em que esse trabalho se realiza: intensidade, jornada, salário, controle do trabalho, índices de produtividade e metas a serem cumpridas” (IAMAMOTO, 2012, p.218).

Sendo a precarização indissociável do trabalho assalariado, sua dinâmica é acrescida por novas formas de flexibilização do trabalho, que na verdade consistem na retirada de direitos, alcançando diretamente o exercício profissional do assistente social, esteja ele na esfera privada ou pública, podendo ser traduzida em diversas expressões, tais como: precarização dos vínculos trabalhistas por meio do trabalho informal, autônomo e terceirizado, achatamento dos salários, intensificação do trabalho, ameaça ao desemprego, ausência de recursos materiais e humanos para execução do seu trabalho, novas formas de controle de seu trabalho, cobrança por produtividade, dentre outros. São expressões da precarização semelhantes às que encontramos em nossa pesquisa bibliográfica e documental, mostrada anteriormente, referente aos demais trabalhadores brasileiros.

O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) publicou em 2006 a Resolução nº 493 que dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional, prezando pela qualidade dos serviços prestados à população, além de reivindicar melhores condições de trabalho para os assistentes sociais nas diversas instituições, indo contra a precarização das condições de trabalho dos profissionais. Todavia, a realidade das pesquisas demonstra que parte das instituições empregadoras não asseguram as condições de trabalho que consta no escopo dessa Resolução. Tal situação de degradação das condições de trabalho não é exclusiva aos assistentes sociais, como bem demonstramos nas discussões realizadas anteriormente.

Pesquisas sobre o mercado de trabalho dos assistentes sociais realizadas no Espírito Santo (2007) e em Santa Catarina (2011) apontaram a existência de precarização do exercício profissional dos assistentes sociais entrevistados. Na pesquisa realizada em Santa Catarina, por exemplo, 73% dos assistentes sociais responderam que existiam problemas que

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dificultavam a realização de seu trabalho. Dentre as dificuldades apontadas pelos profissionais, estão: “a falta de estrutura física, de recursos humanos e materiais, de equipamentos e de veículos; equipe reduzida de profissionais; burocracia excessiva; problemas de gestão e financiamento; fragmentação da rede de proteção social”; além disso, os entrevistados citaram a “descontinuidade fragmentação e sobrecarga de trabalho; e desconhecimento das atribuições do assistente social por outros profissionais e gestores”. Na pesquisa do Espírito Santo foi constatado que 49% das respostas dos profissionais referem-se a dificuldades com falta de recursos e de estrutura físico (SANTOS; MANFROI, 2015, p.186).

Sintetizando, quando se fala de precarização em relação ao exercício profissional, é possível encontrar, em ambas as pesquisas, inúmeros dados convergentes, como, por exemplo, os baixos salários, as formas de vínculos precários, a focalização e a seletividade das políticas sociais, a falta de recursos financeiros e de infraestrutura para desenvolver o trabalho, a ingerência política dos gestores no trabalho do assistente social, a falta de autonomia e de reconhecimento do trabalho, a fragmentação das políticas sociais, o adoecimento, o excesso de demanda, o remanejamento em função de perseguição política e a falta de espaço de trabalho adequado (SANTOS; MANFROI, 2015, p.187-188).

A precarização, a redução dos direitos e a reformulação das condições gerais do contrato de trabalho não podem ser explicadas “senão com a flexibilização, que é sua forma de aparecer, mas que tem seu fundamento no desemprego estrutural que assola toda a sociedade” (GUERRA, 2010, p. 716). Nas últimas décadas, as profissões assalariadas, incluindo o Serviço Social, têm sido abarcadas por condições e relações de trabalho destituídas de direitos. O mercado de trabalho profissional, imerso na particularidade do capitalismo contemporâneo, encontra-se numa profunda perda de direitos “no qual se aprofunda a desvalorização e a superexploração da força de trabalho para a continuidade da reprodução ampliada do capital mediante altíssimos índices de desemprego” (idem, 717). O que implica num novo perfil de trabalhador que é obrigado a adaptar-se aos processos de precarização, manifestados em seu cotidiano, responsabilizando-o por sua própria empregabilidade. As teias que compõem o mercado de trabalho dos assistentes sociais na contemporaneidade podem ser expressas por:

[...] baixos salários comparados com os salários de outros profissionais vinculados às mesmas atividades; vínculos precários com a instituição empregadora, na medida em que permanecem restritas as oportunidades de inserção no mercado de trabalho via concursos públicos; jornadas de

164 trabalho tendem a uma sobrecarga de atividades, considerando, sobretudo, a redução de funcionários em atividades de apoio ao trabalho dos assistentes sociais (cujas atividades em muitos casos não são consideradas como atividades fim), principalmente após as iniciativas de informalização dos protocolos administrativos; limitadas e precárias condições materiais referentes a instalações físicas, equipamentos e recursos materiais, o que contribui para reforçar a subalternização da natureza dos serviços prestados pelo assistente social na hierarquia da divisão sócio-técnica do trabalho (LOPES; ABREU, 2010, p. 113).

As determinações do momento atual engendram novas condições de trabalho permeadas pela deterioração e precarização, acompanhadas pelo temor do desemprego. Os assistentes sociais são afetados pelo desemprego estrutural que permeia a lógica destrutiva do capital. Pesquisa realizada em 2006 com formandos da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) revelou que “apenas 52,2% dos jovens assistentes sociais estão empregados, 13% exercem outras atividades remuneradas nos setores de comércio ou serviços e 18,5% estão desempregados” (YACOUB; RIBEIRO, 2007, p.141).

O exercício profissional do assistente social é perpassado pela lógica da precarização do trabalho, visto sua condição de trabalhador assalariado atuante nos serviços e políticas sociais. A precarização alcança os assistentes sociais em graus diferenciados a depender das condições de inserção nos espaços sócio ocupacionais. Guerra, reforçando e reiterando as argumentações neste direcionamento, afirma:

A precarização do exercício profissional se expressa por meio de suas diferentes dimensões: desregulamentação do trabalho, mudanças na legislação trabalhista, subcontratação, diferentes formas de contrato e vínculos que se tornam cada vez mais precários e instáveis, terceirização, emprego temporário, informalidade, jornadas de trabalho e salários flexíveis, multifuncionalidade ou polivalência, desespecialização, precariedade dos espaços laborais e dos salários, frágil organização profissional, organização em cooperativas de trabalho e outras formas de assalariamento disfarçado, entre outras (GUERRA, 2010, p. 719).

Observem nas reflexões de Guerra e nas reflexões dos demais autores com quem estamos dialogando, como os assistentes sociais, enquanto trabalhadores assalariados estão submetidos aos processos de precarização do trabalho vivenciados pelos demais trabalhadores, embora haja particularidades nos níveis e intensidades desses processos. Uma expressão desse processo de precarização das condições de trabalho, semelhante a que encontramos em nossa pesquisa referente aos demais trabalhadores brasileiros, é a precarização dos vínculos trabalhistas que é expressa, nesse caso, pela terceirização do

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trabalho que permite a subcontratação dos serviços individuais dos assistentes sociais por empresas de assessoria e prestação de serviços. Neste sentido, Raichellis afirma que:

No âmbito do mercado de trabalho do Serviço Social ampliam-se os processos de subcontratação de serviços individuais de assistentes sociais (pejotização e uberização), por parte de empresas de serviços ou de assessoria, de organizações não governamentais, de (falsas) cooperativas de trabalhadores na prestação de serviços a governos, especialmente no âmbito local, configurando-se o exercício profissional privado autônomo, temporário, por projeto, por tarefa, decorrentes das novas formas de organização e operação das políticas sociais (RAICHELIS, 2018, p. 51).

A propósito desta informação de Raichellis, pesquisa realizada em Alagoas no período de 2003-2006 demonstrou que os vínculos empregatícios dos assistentes sociais já se encontravam precarizados, isto porque apesar de se ter constatado um aumento no número de instituições que contratavam os assistentes sociais com vínculo trabalhista efetivo, “passando de 33,70% (2003-2004) para 56,76% (2005-2006), devido à exigência e à realização de concurso público em Alagoas”, ainda continuava havendo formas instáveis de vínculos empregatícios (em 2003-2004 e 2005-2006): “celetista (20,22% e 18,83%), prestador de serviço (16,55% e 5,57%), contratado (11,23% e 10,34%), cargo comissionado (10,11% e 2,91%), voluntário (3,37% e 1,32%)” (TRINDADE, 2015, p.137).

A tendência da precarização dos vínculos trabalhistas permanece e também se expressa na subcontratação do assistente social por empresas de serviços ou até mesmo por cooperativas de profissionais. Os assistentes sociais ainda são contratados, com ausência de vínculo empregatício, para trabalharem por tempo temporário ou até mesmo por projeto ou por tarefa. Essa ampliação do trabalho terceirizado que está em curso no Brasil condiciona o assistente social à falta de perspectiva de ascensão profissional e progressão na carreira, uma vez que o vínculo de trabalho precário não possibilita a estabilidade do profissional. O trabalho terceirizado, autônomo, temporário, o pluriemprego e a volatilidade dos postos de trabalho são algumas das expressões dos processos em curso no Brasil, que impactam o mercado de trabalho dos assistentes sociais. Raichellis em seus estudos nos traz os efeitos profundos da terceirização para o trabalho social, pois ela:

a) Desconfigura o significado e a amplitude do trabalho técnico realizado pelos assistentes sociais e demais trabalhadores sociais; b) Desloca as