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Nesse momento, cabe-me retomar o sentido atribuído à aquisição da capacidade de simbolização do Ego, em consonância com o processo simbólico do self. Do ponto de vista de Byington (2003), a psique sobrevive dos significados simbólicos estruturantes da identidade do Ego, a partir do drama existencial que vivenciamos. O Ego simbolizado é uma etapa do desenvolvimento, tendo como protagonista o self, que o antecede como atividade estruturante coordenada pelos padrões arquetípicos para formar e transformar o Ego, perdurando essa função por toda a vida.

A concepção de símbolo estruturante defendida pelo autor se amplia como a célula psíquica, que se liga ao Todo ao atribuir significados subjetivos e objetivos produzidos no processo de elaboração simbólica. Na concepção junguiana, o Ego é o centro da consciência e o Self abarca a personalidade como um todo, incluindo o Ego. Byington (2003) faz uma ampliação desses conceitos postulando o inter-relacionamento do Ego com a totalidade do Self, somando todos os conteúdos psíquicos. O Eu e o Outro se configuram no consciente e inconsciente (na Sombra).

O conceito de Self Individual proposto por Jung foi ampliado por Byington (2003) para outras dimensões no dinamismo de totalidade. Ou seja, numa visão sistêmica, o Self é transpessoal porque é individual, familiar, pedagógico, institucional, cultural, planetário, e cósmico, sendo que todos interagem dentro da totalidade funcionando como um todo sistêmico. Considero pertinente trazer aqui o pensamento de Macedo (2004) ao descrever sua visão de uma etnopesquisa crítica que, em um dado momento de sua obra, cunha seu pensamento na descrição fenomenológica social descrita por Schutz acerca do Self construído no seio das interações cotidianas, sendo a intersubjetividade condição necessária para a atribuição de sentidos e significados socialmente mediados.

percurso da vida humana que se consolida pela vivência sistêmica inscrita no entrelaçamento histórico individual, cultural, planetário e cósmico. Para tanto, é preciso exercitar o corpo e a psique humana numa educação de si mesmo inserida na produção social bio-físico-química do sistema planetário que opera dentro das forças cósmicas. Nossas emoções, desejos e ações ecoam pela dinâmica transferencial, mediante a interação do indivíduo com as dimensões da Totalidade do Self que abrangem o nível individual e coletivo.

Aqui, refiro-me à profissão como função estruturante da psique ressaltando o discurso de Byington (2000) através do seu artigo: “O trabalho simbólico e o self da empresa: introdução ao estudo do trabalho pela Psicologia Simbólica”. Ele toma como sentido primordial a imagem do trabalho numa abordagem simbólica e sistêmica, sendo “o trabalho na dimensão existencial como obra de vida e a própria vida como obra do trabalho” (p.2).

A profissão escolhida pelo indivíduo tem como função prática garantir o sustento material, quando seu serviço é oferecido ao outro. Entretanto, não é só isso que está em jogo. Além da dimensão mercantil pela troca de serviços entre o Eu e o Outro, tem ainda o elemento de significação que a profissão opera como função estruturante da psique, podendo ser motivo de satisfação ou não. A função estruturante da profissão exerce o papel de criar significados psicológicos que vão “formar e transformar a identidade do Eu e do Outro na Consciência e na Sombra” (BYINGTON, 2000, p.3), sendo, portanto, um processo de humanização como fenômeno existencial.

Assim, não é possível conceber a profissão escolhida pelo indivíduo dissociada do seu anelo de satisfação, pois isso acarretaria em forte carga de desgosto e frustração que possivelmente anularia sua capacidade criativa e construtiva no exercício da mesma. Essa posição tanto interfere na vida do indivíduo quanto no coletivo. Fazendo uma descrição dessa realidade, Byington (2000) chama atenção para o efeito que tem para a psique, quando o trabalho é tomado como distúrbios do processo de elaboração simbólica. Nesse caso, a função estruturante passa a ser defensiva e alienada, tendo como dominância o inconsciente e a inadequação da função formando a Sombra, como foi descrita por Jung.

Portanto, a realidade psíquica passa a ser a realidade do mundo, porque Psique e Natureza se intercomunicam com o próprio Cosmos. Essa visão outorga-nos a compreensão de nossa insignificância, quando apenas nos limitamos a uma observação unilateral de todas as coisas, pois é sabido que afetamos e somos afetados.

Assim, no caso da profissão, quando esta é tomada de forma unilateral, ou seja, apenas racionalizada pela via prática de subsistência material, ocorre uma inadequação na polaridade Ego-Outro e Outro-Outro na Consciência e na Sombra. Como isso é possível? A

partir do momento que a fase de preparação ou formação, com base nos saberes assimilados no percurso acadêmico é concluída, passa-se para a segunda etapa de lançar-se ao mercado de trabalho. Entra em jogo aí o estado de ânimo do indivíduo com empenho ou não no exercício da profissão, como também o local de trabalho, as pessoas, a atmosfera do ambiente; enfim, cada parte é formada por símbolos estruturantes que é um transformador de energia para produzir significados e formar a consciência de totalidade. (BYINGTON, 2000).

Pela visão sistêmica proposta pelo autor supracitado, todos os símbolos e funções estruturantes são de natureza arquetípica. Portanto, toda vivência humana ultrapassa a dimensão pessoal para pertencer à vida comum da espécie. Em cada símbolo há uma raiz arquetípica cujo significado é atribuído ao todo.

Tomando como exemplo concreto o profissional pedagogo que não quer ou não tem a menor identificação com a docência, os símbolos estruturantes do Self dessa pessoa são todos os acontecimentos de sua trajetória de vida, incluindo seu ingresso no curso de pedagogia. Na persona sobressai um corpo engessado e desencantado; não há um envolvimento nas discussões acerca da temática educacional; o olhar é distante como se aquilo tratado não fizesse parte do seu mundo. A persona reaciona ao ser convidada para a exposição de uma ideia, tomando como defesa o silêncio. A Sombra aí é vista como disfunção do processo de elaboração simbólica, fazendo com que os símbolos e função estruturante se tornem fixados e inadequados por meio de defesas circunstanciais ou cronificadas dependendo do grau de fixação. A defesa, quando é circunstancial, poderá ser modificada pelo Ego consciente, quando se faz o esforço de investigar essas defesas de expressão ainda recente e que não são totalmente fixas. Por outro lado, quando a defesa está cronificada é mais difícil porque o Ego consciente não tem alcance por conter símbolos, geralmente de longa duração, que são bloqueado pela resistência como defesa (BYINGTON, 2003).

Para esclarecer melhor, trago como exemplo a(o) estudante de pedagogia que a princípio está resistente em aceitar a docência em sua vida. Com o passar do tempo vai se envolvendo com os temas, se deixando encantar pelas propostas discursivas, abrindo-se para a possibilidade de contribuir na formação de outros indivíduos, com o compromisso social e político (sombra circunstancial). Por outro lado, o(a) estudante que carrega em sua psique experiências nada gratificantes de suas trajetória escolar, a situação é tão séria que ao passar pela experiência de falar em público, por exemplo, é um sofrimento a ponto de não querer atuar na profissão como docente, por acreditar que não será capaz de colaborar positivamente na educação do outro (sombra cronificada).

estruturantes da sombra a serviço da educação é de grande pertinência, por estarmos tratando de questões circunstanciais que geralmente aparecem no ato educativo, com possível condição de solucionar o problema. Se isso não é considerado, mas, igualmente, tomado com indiferença, o problema se agrava e o ato educativo se cronifica na prática do profissional alastrando-se para o sistema educacional como um todo.

Quando a função estruturante é operada de forma criativa pelo profissional, suas projeções serão de ânimo, de desafio, do fazer envolvendo o corpo e a psique como um todo. Mas, se por outro lado, a função estruturante se torna defensiva, nesse caso seus símbolos correspondentes ficarão fixados na sombra com defesas de resistência compulsiva, desencantando-se com o trabalho, o que leva à apatia e ao abandono do compromisso com o outro.

Assim, penso que a formação profissional do educador implica considerar a visão de mundo e a concepção de desenvolvimento humano que ultrapasse a ordem econômica para considerar também a dimensão psíquica, biológica, social, planetária e cósmica, com vistas a criar valores subjetivos que os conduzam a pensar no que são e no que farão a serviço da educação, sempre imbuídos a encarar com seriedade o seu potencial para formar o cidadão com atitude de responsabilidade criativa diante de si mesmo, da sociedade, da cultura e do planeta com condições de enfrentar material, psicológica e espiritualmente as questões que a crise global contemporânea coloca.

4.3 O PEDAGOGO E O AUTOCONHECIMENTO: DA EDUCAÇÃO DE SI PARA A