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Em agosto de 2011, o CFM publicou a Resolução nº 1974 que revisou suas regras sobre publicidade médica56. A partir daí todos os

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O CFM e os Conselhos Regionais de Medicina formam uma autarquia que disciplinam todas as sociedades médicas no Brasil. O CFM foi criado em 1951 pelo governo federal com o propósito de cuidar do registro profissional dos médicos no Brasil e fiscalizar a obediência ao Código de Ética Médica. O CFM

147 selos de aprovação concedidos por sociedades médicas foram proibidos – incluindo aí o selo da SBC. Uma leitura da Resolução mostra que esta é um documento bastante geral sobre como deveria ser a divulgação de assuntos médicos no Brasil. Entre as proibições estabelecidas não consta nenhuma menção direta a selos de sociedades médicas. Segundo o CFM, a proibição aos selos estaria no Artigo 3º que afirma: “É vedado ao médico participar de anúncios de empresas ou produtos ligados à Medicina, dispositivo este que alcança, inclusive, as entidades sindicais ou associativas médicas.” (CFM, 2011).

Nossos entrevistados nos contaram que, ainda que o documento não trouxesse uma menção direta aos selos, durante a apresentação da nova Resolução pelo CFM no dia anterior à publicação, os selos de sociedades médicas foram mencionados. Na época o CFM estabeleceu um prazo de cento e oitenta dias para que os selos de fossem retirados de circulação. A proibição incluía não apenas o selo da SBC, mas também o da Sociedade de Pediatria, Gastroentorologia e de Medicina do Exercício e do Esporte. A SBC, assim como as outras sociedades médicas, pediu que o CFM reconsiderasse a decisão. Inicialmente, a SBC parecia acreditar que poderia reaver o selo. Em carta aberta aos cardiologistas, o SBC declarou que a suspensão o CFM serviria para revisar os processo de outorga destes selos médicos e estabelecer “critérios éticos rigorosos” 57

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Conforme narram nossos entrevistados, a SBC foi pega de surpresa. Entrevistados que participavam da equipe do selo nesta época nos disseram que ficaram sabendo da proibição apenas no dia em que a Resolução do CFM foi publicada. Logo após, as empresas certificadas com o selo começaram a entrar em contato, mas não havia uma resposta clara por parte da SBC. Segundo o jornal Folha de São Paulo, o presidente da SBC na época, Jorge Ilha Guimarães, encontrou-se com o presidente do CFM, Roberto Dávila para discutir o veto. No encontro, Dávila orientou a SBC a enviar um pedido de revisão do veto ao CFM (MISMETI, 2011). Conforme divulgado em jornais e segundo nossos entrevistados, a SBC entregou um pedido de reconsideração do veto com a descrição dos procedimentos do seu processo de certificação em também representa os interesses corporativos dos médicos junto ao Estado. Atualmente o CFM também conta com os Conselhos Regionais de Medicina para a extensão das suas atividades.

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A carta está disponível

em:http://sociedades.cardiol.br/co/revista_arco/2011/Revista05/04-msg-pres- sbc.pdf

abril de 2012 (Folha de São Paulo, 2012). A justificativa apresentada pela SBC era a de que os recursos do selo eram destinados às campanhas de prevenção, programas na televisão (“TV do coração”) e bolsas de estudos do Funcor 58.

O veto aos selos entrou em vigor em fevereiro de 2012, mas produtos com o selo ainda circulavam em supermercados. Segundo Gabriela*, que trabalhou na equipe do selo até 2012, as reuniões do comitê científico do selo só aconteceram até este período. A partir de 2011 a orientação da SBC foi a de que novos produtos não fossem aprovados e que apenas os contratos existentes fossem mantidos.

No final de 2013, o CFM publicou a sua resposta ao pedido das sociedades médicas. Neste parecer encontramos a réplica do CFM, assim como trechos das defesas entregues pela SBC. Por conta disso, vamos seguir algumas partes deste documento. A defesa da SBC mobilizou os standards nutricionais do selo para aprovação dos produtos, e comparou o selo da SBC ao selo americano da AHA, como parte das suas atividades de prevenção.

“(...) [O selo] foi criado após comprovação de que, prática semelhante adotada pelas entidades cardiológicas norte-americanas, ajuda a evitar o agravamento das doenças cardíacas e a prevenir o seu surgimento em pessoas saudáveis. O nosso objetivo é atestar para o consumidor produtos que apresentam características como baixo nível de colesterol, de gorduras totais, de gorduras trans, de cloreto de sódio, de açúcares ou, então, a presença de fibras benéficas” (CFM, 2013, p.2). Além disso, a argumentação da SBC destacou a importância dos recursos para a sociedade médica. Seguindo à defesa do selo, este seria uma fonte de recursos que permitiria à SBC não depender tanto do financiamento da indústria farmacêutica, assim como financiar campanhas nacionais de prevenção na área de hipertensão, fumo e alimentação e reduzir a anuidade dos cardiologistas associados (CFM, 2013, p.2).

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Felipe*, um cardiologista que atuou no selo no início dos anos de 2000, também nos contou que os recursos do selo eram revertidos em bolsas do Funcor, campanhas de prevenção, e ajudavam a custear os Arquivos Brasileiros de Cardiologia, o periódico científico da SBC (Felipe*, entrevista 10, 06/05/2015).

149 Contudo, o parecer final do CFM foi o de continuar com a proibição aos selos das sociedades médicas. Segundo o relator, em retrospectiva os selos estariam proibidos desde 2010 quando o novo Código de Ética Médica entrou em vigor. Neste Código de Ética os médicos estariam proibidos de “participar de anúncios de empresas comerciais qualquer que seja sua natureza, valendo-se de sua profissão” (CFM, 2013, p.7). Segundo o CFM, o motivo para a proibição dos selos, sobretudo a dos selos para alimentos, foi o de que estes reivindicavam para si garantias de que o consumidor não adoeceria se consumisse um produto específico 59.

Para o CFM, os selos de sociedades médicas eram artefatos que geravam vulnerabilidades para as práticas médicas, práticas de mercado e para o consumidor (ver Quadro 5). Seguindo ao parecer do Conselho, os selos fragilizavam práticas de mercado tendo em vista que produziriam uma falsa diferença. Os selos de sociedades médicas criavam uma distinção no mercado entre produtos similares, o que levava práticas médicas a serem exercidas como comércio. Já o consumidor foi traduzido pelo parecer como um ator que atentaria apenas para o selo das sociedades médicas e perderia de vista que produtos não certificados poderiam ter propriedades físico-químicas similares aos certificados. Isto é, o consumidor não saberia reconhecer as similaridades entre produtos certificados e não-certificados. Com isso, o consumidor preferiria um produto com um selo porque acreditaria que é melhor que seu concorrente. Por fim, os selos fragilizariam as práticas médica por conta das promessas de saúde que não poderiam ser cumpridas por um produto singular. Ao contrário de práticas publicitárias, práticas médicas não podem prometer garantias de resultados ou do sucesso das intervenções.

Quadro 5: Resumo do parecer final do CFM (2013)

Tipo de práticas Trechos da resposta do CFM sobre as vulnerabilidades que os selos produzem

Sobre as práticas de mercado:

“A vinculação das sociedades de especialidades com a garantia por meio de seus

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O texto afirma: “A razão para a construção deste dispositivo decorreu do entendimento do pleno, após assistir algumas dessas propagandas, de que elas garantem resultados ou, especificamente para os alimentos, uma garantia de que dotado daquelas propriedades o cidadão estaria isento de riscos de adoecimento para aquelas doenças que hipoteticamente aqueles produtos estariam aptas a prevenir.” (CFM, 2013, p.7).

selos de qualidade nada atestam, obrigação da Anvisa e Inmetro, são na realidade uma forma de, comercialmente, colocar em distinção produtos com perfis semelhantes, com a diferença de que um tem um selo de respeitável sociedade médica, enquanto o outro que não o detém perderia em credibilidade porque, mesmo em crise, os médicos e a medicina são extremamente respeitados pela sociedade. (...)

(...) [o] uso comercial da chancela de uma sociedade de especialidade para garantir a venda de produtos que, colocados diante da livre concorrência, como deve ser em qualquer mercado, passam a representar um desnível comercial (...).” (p.8-9)

Sobre o

consumidor:

“Em adoecendo, este consumidor, bem esclarecido, futuramente irá se sentir ludibriado porque, ao comprar o produto chancelado, não vai entender que aquele selo era mera informação das propriedades físicas, físico-químicas ou de resistência do material, que não garantiam nada para sua saúde. Ele compra porque acredita que aquele produto é melhor que o vizinho, que também tem as mesmas propriedades, e o consumidor não os lê. Ele vê o selo e o escolhe como garantia de que não sofrerá danos futuros à saúde.” (p.9)

Sobre as práticas médicas:

“Todo o cuidado na elaboração dessa norma buscou alcançar o espectro do que poderia levar a sociedade a interpretar como garantia de resultado. O entendimento de que a medicina é uma ciência de meios, não de fim, precisa de um largo cobertor para garantir que nem médicos, nem seus estabelecimentos, nem também seus entes sindicais e associativos, vinculem qualquer propaganda ou publicidade que induza o cidadão, paciente ou consumidor, de que tem garantia de um dado resultado. (...)

151 Esta situação coloca por terra nossa preocupação em não nos envolvermos com os aspectos comerciais do entorno da medicina (a medicina é uma ilha cercada de comércio por todos os lados), tanto quanto vulnerabiliza nossa preocupação em não garantir resultados, o antes e o depois, ou aquela promessa de que nossa intervenção será sempre bem-sucedida.” (p.9) Fonte: CFM (2013)

Com a decisão do CFM de proibir todos os selos concedidos por sociedades médicas a SBC foi obrigada a acabar com o seu processo de certificação em 2013. Os entrevistados que trabalharam nos últimos dois anos do selo nos contaram que enquanto a maioria das empresas decidiu permanecer em 2011, período da publicação da Resolução do CFM que proibiu os selos, em 2012 as desistências foram maiores. Com isso, o selo foi descontinuado e o comitê científico do selo desfeito.

Uma comparação relevante pode ser feita aqui. Enquanto que durante a década de 1990 e dos anos de 2000, as sociedades cardiológicas no Brasil e nos EUA assumiam posições similares no mercado como certificadoras de terceira-parte de produtos industrializados, a proibição do CFM encerra isto. O CFM força a SBC a se afastar desta posição de certificadora e a assumir uma posição mais convencional de sociedade médica. Enquanto que a SBC classificou a certificação de alimentos como parte de suas atividades de prevenção o que, portanto, seria uma prática médica legítima, o CFM recusou esta classificação e a definiu como uma prática publicitária dos produtos. Em outra comparação, se pensarmos no que acontece na União Européia (UE), esta proibição obrigou a SBC a se comportar mais como as sociedades médicas da UE. Contrariando o que acontece nos EUA, a proibição do CFM sugere que este se aproxima das sociedades médicas da UE que não certificam alimentos industrializados como saudáveis.

Em 2016, uma nova diretoria assumirá o comando da SBC e o presidente eleito para o período 2016-2017 foi o cardiologista Marcus Vinícius Malachias. Malachias foi coordenador do selo na gestão de 2002, que como vimos foi um período de reformulação do selo e da equipe que trabalhava com ele. Quando perguntamos sobre a

possibilidade da volta do selo a Felipe*, um de nossos entrevistados que vai participar da nova gestão, ele nos disse:

“Nós discutimos isso em uma reunião recente (...). [Mas] a memória das pessoas é muito curta. A gente fez todo esse trabalho, mas dentro da Sociedade muito pouca gente vai lembrar o que a gente fez lá trás. Eu tomei conhecimento muito recentemente como foi todo o processo. Sabia que isso tinha sido embargado, tinha sido um parecer muito contundente de um dos conselheiros, um parecer muito embasado, principalmente na falha do processo como a SBC entrou. Eu preciso conhecer mais isso, tomei conhecimento muito recentemente (...). Mas a gente tem um grupo que estuda Nutrição forte dentro da Cardiologia, há linhas de pesquisa muito interessantes nisso. (...) A vontade existe de que a gente possa retomar esse selo. Talvez em outra visão, talvez até discutindo junto ao CFM formas que essa certificação possa contribuir para a população. Obviamente esse valor que foi adquirido com o selo e tal, deu mais trabalho e talvez tenha sido mais caro do que nós recebemos. De certa forma ele nos ajudou. (...) Eu acredito que existe um papel social desse selo, existe um papel da Sociedade também em colaborar com a população que possa ser resgatado. Mas eu não saberia dizer nesse momento se há volta desse parecer do Conselho.” (Felipe*, entrevista 10, 06/05/2015) Como indica a fala de Felipe*, ainda temos atores dentro da SBC que pensam que o selo pode voltar a circular. Em 2014, a SBC noticiou um encontro entre os comitês do Funcor que debateram uma possível volta do selo – os planos seriam o de trazer representantes da AHA para testemunhar ao CFM a favor do selo (SBC, 2014, p.12).

Vimos até aqui o esforço necessário para que o selo da SBC pudesse funcionar entre 1991 e 2013. Enfatizamos, sobretudo, o período entre 2002 e 2013 que foi aquele de maior atividade da certificação. Era preciso convencer as empresas a submeter seus produtos para avaliação, assim como convencer a SBC e os cardiologistas de que valia a pena divulgar o selo. Da mesma maneira, era preciso criar standards (e revisá-los) para manter a certificação funcionando de modo mais ou

153 menos estável, e prestar atenção aos laboratórios que produziam os laudos dos alimentos utilizados pela SBC. Ainda, foi preciso atentar para o que as empresas fariam com o selo depois de certificadas. Enfim, o selo deu trabalho. Depois da decisão final do CFM em 2013, proibindo todos os selos de sociedades médicas, a certificação da SBC foi forçada a encerrar as suas atividades. A trajetória do selo é um exemplo não apenas dos desafios que um processo de certificação enfrenta para funcionar e gerar uma qualidade mais ou menos estável, mas também do quão transitório são os objetos científicos. Apesar dos esforços dos atores que o selo reuniu para mantê-lo funcionando, este não pôde resistir à decisão do CFM, um ator mais forte que disciplina todas as sociedades médicas no Brasil.

155 Capítulo 3: O mundo do saudável: seguindo o universo social do Selo da SBC

Introdução

A ideia de que um “contexto social” é capaz de explicar o surgimento e a trajetória de objetos científicos é bastante criticada nos estudos sociais da ciência (LATOUR, 1994, 2000; HARAWAY, 1992)60. O argumento segue mais ou menos assim: o contexto social não explica o sucesso ou a falha de uma tecnologia ou fato científico – o contexto social é aquilo que precisa ser explicado. Latour (2000) traduziu esta recusa do contexto social como fator explicativo em uma regra metodológica para estudar as práticas científicas. A terceira regra metodológica de Latour (2000, p.164) afirma o seguinte: Sociedade e Natureza não compõem o background nos quais surgem os objetos técnicos. Ao contrário, Sociedade e Natureza são produzidas a partir da associação entre humanos e não-humanos que compõem uma tecnologia ou fato científico. Isto é, o processo de constituição de um objeto científico é, simultaneamente, um processo de definição do social e do natural. Com isso, as explicações que os atores oferecem sobre o que acontece(u) não podem se tornar as nossas próprias explicações sociológicas.

Autores de diferentes tradições intelectuais convergem nesta recusa do contexto social quando questionam o caráter de obviedade dos problemas sociais e apontam que estes não surgem espontaneamente (BOURDIEU, 1998; CALLON, 1986). Bourdieu (1998, p.37) defende a necessidade das ciências sociais estudarem a emergência de problemas sociais, isto é, como estes problemas se tornam problemas legítimos. Na tradição da ANT, Callon (1986) argumenta que um problema social é resultado de esforços bem sucedidos de atores humanos e não-humanos que, em associação, definiram uma situação como controversa ou discutível. Estes autores convergem ao indicar que tanto definições do que seria o contexto social quanto os problemas sociais são resultados de esforços coletivos. Portanto, as definições do contexto social e os

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Para uma discussão mais recente sobre a relação entre contexto social e explicação o periódico Science, Technology and Human Values publicou uma edição especial sobre o assunto em julho de 2012.

problemas sociais devem ser questionados em lugar de serem tomados como evidentes.

Metodologicamente, esta “desconstrução” do contexto social modifica o status das fontes. Isto implica que, diante das fontes reunidas por esta pesquisa, não podemos tratá-las como recursos que revelam uma realidade social que existe de modo latente, a espera para ser descoberta. Por isso, as fontes não nos dizem o que é a realidade social em que o selo da SBC está situado. O que nos coloca a seguinte questão: o que fazer com nossas fontes?

Vamos relembrá-las. Neste capítulo nos servem como fontes: artigos relacionados ao selo publicados no jornal da SBC (2007-2012), artigos de jornais e de revistas de circulação nacional, assim como da literatura médica (Circulation – American Heart Association), entrevistas com nutricionistas e cardiologistas que trabalharam com a equipe do selo da SBC, a ata da consulta pública realizada pela ANVISA em 2006 sobre publicidade de alimentos, o material promocional do selo disponível em sua página oficial na internet, um “Guia para Dietas Saudáveis” produzido pela Bunge em parceria com a SBC em 2009, a publicidade online de alimentos certificados pelo selo, fotos do nosso arquivo pessoal de embalagens de produtos, a legislação brasileira no setor de alimentos e os relatórios de atividades da ANVISA entre 2004-2005.

Como afirmamos inicialmente, este material não será analisado como um reflexo fiel do contexto social brasileiro. Nosso caminho é outro. Nossa estratégia de pesquisa, seguindo à literatura (LATOUR, 2005, ASDAL, 2012) é a de atentar para estas fontes enquanto contextualizações. Isto é, em lugar de pensar que este material reunido serve para acessarmos “o” contexto social do selo, analisamos nossas fontes enquanto práticas de contextualização. O que faremos é uma análise de como o selo da SBC e seus aliados contextualizam o mundo ao seu redor. Desse modo, podemos examinar como as práticas em que o selo da SBC está situado trazem a efeito panoramas sobre alimentação, saúde, mercado, etc.

Além disso, estas maneiras de contextualizar o mundo são indissociáveis das relações que o selo da SBC promove. Isto quer dizer que o selo carrega todo um mundo social consigo. As práticas relacionadas ao selo atribuem identidades e objetivos, configuram os alimentos e os corpos, organizam como consumidores e empresas deveriam se relacionar, definem problemas e apontam soluções. Contextualizar também é promover um universo específico em que a tecnologia deseja funcionar (CALLON, 1986; BIJKER, 2010). No que

157 se segue, analisamos alguns aspectos deste mundo social que o selo da SBC contextualiza e promove.

1. Os mediadores: ou como traduzir corpo(s), alimento(s) e práticas