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A provar e escolher

No documento A Linguagem da Moral (diniz) - R. M. Hare.pdf (páginas 148-158)

8.1. É hora de investigar as razões das características lógi­ cas de “bom ” que estivemos descrevendo e de perguntar por que a-palavra tern esta combinação peculiar de significado ava­ liatório é descritivo. A razão será encontrada nos propósitos para os quais ela, como outras palavras de valor, é usada em nosso discurso. O exame desses propósitos revelará a relevân­ cia das questões discutidas na primeira parte deste livro para o estudo da linguagem avaliatória.

Disse que a função prim aria da palavra “bom " é aprovar. Temos, portanto, de investigar o que é aprovar. Quando aprova­ mos ou condenamos qualquer coisa, sempre o fazemos, ao m e­ nos indiretamente, para orientar escolhas, nossas ou de outras pessoas, agora ou no futuro. Suponha que eu diga “A Exposi­ ção do South Bank é muito boa”. Em que contexto eu diria isso apropriadam ente e qual seria m eu propósito ao fazê-lo? Para mim, seria natural dizê-lo a alguém que estivesse pensando se devia ir a Londres para ver a Exposição ou, caso estivesse em Londres, se devia visitá-la. Seria demais, porém , dizer que a referência a escolhas é sempre tão direta assim. Um americano retornando de Londres a Nova York e falando a algumas pes­ soas que não tem nenhuma intenção de ir a Londres no futuro próxim o, ainda assim pode fazer a m esm a observação. Por­ tanto, para demonstrar que os juízos de valor críticos são todos,

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em última análise, relacionados a escolhas e que não seriam fei7 tos se não fossem assim relacionados, precisam os pergunta^ para que propósito temos padrões. *

O Sr. Urmson salientou que geralmente não falamos de lar­ vas de besouro “boas”. Isso porque nunca temos ocasião de es­ colher larvas de besouro e, dessa forma, não necessitamos de nenhum a orientação para fazer isso. Portanto, não precisam os ter padrões para larvas de besouro. Porém é fácil imaginar cir­ cunstâncias em que essa situação pode se alterar. Suponha que larvas de besouro venham a ser usadas como um tipo especial de isca para pescadores. Então poderíamos falar que cavamos uma larva de besouro muito boa (uma, por exemplo, que seja excep­ cionalmente gorda e atraente para os peixes), da mesma forma que hoje, sem dúvida, pescadores de mar podem falar que cava­ ram um biscalongo muito bom. Só temos padrões para umiji classe de objetos, só falamos das virtudes de um espécime enj oposição a outro, só usamos palavras de valor, a seu respeitgp quando são conhecidas ou concebíveis ocasiões em que nós, òin outras pessoas, teríamos de escolher entre espécimes? Não deno­ minaríamos quadros bons ou ruins se ninguém tivesse a escolha de vê-los ou não vê-los (ou de estudá-los ou não estudá-los, como estudantes de arte estudam quadros, ou de comprá-los ou não comprá-los). A propósito, para não parecer que introduzi certa vagueza ao especificar tantos tipos alternativos de esco­ lhas, deve-se salientar que a questão, se assim for desejado, pode se tornar tão precisa quanto quisermos, pois podemos espe­ cificar, quando denominamos bom um quadro, dentro de qual classe dizemos que é bom; por exemplo, podemos dizer “Quis dizer um bom quadro para estudar, mas não para comprar”.

Alguns outros exemplos podem ser fornecidos. Não fala­ ríamos de bons pores-do-sol, a menos que às vezes tivéssemos de tom ar decisão de ir ou não à janela olhar o pôr-do-sol; não falaríamos de bons tacos de bilhar, a menos que às vezes tivés­ semos de preferir um taco de bilhar a outro; não falaríamos de homens bons a menos que tivéssemos de escolher que espécie

de hom em tentar ser. Leibniz, quando falou de “o m elhor de todos os mundos possíveis”, tinha em mente um criador esco­ lhendo entre as possibilidades. A escolha considerada não pre­ cisa ocorrer nunca, nem mesmo é necessário esperar que ocorra algum dia; é bastante que seja considerada como ocorrendo, ai fim.de que, sejamos, capazes desfazer um juízo de valor em refç-, rência a elai Deve-se admitir, porém , qug os juízos de valor/ m ais úteis são os que se referem a e.scolhas que, muito prova­ velm ente,poderíam os terd e fã z e r. 7

8.2. Deve-se salientar que mesm o juízos sobre escolhas passadas não se referem m eram ente ao passado. Como vere­ mos, todos os juízos de vaTõrTaõVeIadámente de caráter uni? versal,'íò~queéigmesmo quê'diz~er~que serefèrein a, e exprimem^ álfceifãçâo de um padrão aplicável a outrãs ocasiões similares. Se censuro alguém por ter feito algo, considero a possibilidade de ele, outra pessoa ou m esm o eu, ter de fazer um a escolha semelhante novamente; do contrário não faria sentido censurá- lo. Assim, se digo a um homem que estou ensinando a dirigir “Você fez mal aquela manobra”, essa é uma instrução de volan­ te bastante típica, e a instrução de volante consiste em ensinar, um hom em a dirigir não no passado, mas no futuro; para esse fim censuramos ou aprovamos manobras feitas no passado, para comunicar a ele o padrão que deve guiá-lo em sua conduta subseqüente.

Quando aprovamos um objeto, nosso juízo não é unicamen­ te sobre aquele objeto particular, mas, inevitavelmente, sobre objetos semelhantes a ele. Assim, se digo que determinado auto­ móvel é bom, não estou meramente dizendo algo sobre aquele automóvel particular. Dizer algo sobre aquele carro particular, meramente, não seria aprovar. Aprovar, como vimos, é orientar escolhas. Ora, para orientar uma escolha particular temos um instrumento lingüístico que não é o da aprovação, isto é, o impe­ rativo singular. Se desejo meramente dizer a alguém que escolha um carro particular, sem pensar no tipo de carro ao qual ele per­ tence, posso dizer “Leve aquele”. Se, em vez disso, digo “Aquele

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é bom”, estou di/cndo algo mais. Estou sugerindo que se algum

automóvel fosse exatamente como aquele, também seria bom, ao passo que ao dizer “Leve aquele” não estou sugerindo que, se meu ouvinte vir outro carro exatamente como aquele, deve levá- lo também, Mas, além disso, a sugestão do juízo “Aquele é um bom automóvel” não se estende meramente a automóveis exata-

menfe conxo aquele. Se fosse assim, a sugestão seria inútil para

propósitos práticos, pois nada é exatamente igual a qualquer oüíra coisa. E la se estende a todo automóvel que é igual àquele nas particularidades relevantes; e as particularidades relevantes são suas virtudes - as características pelas quais eu o aprovei ou que denominei boas. Sempre que aprovamos, temos em mente algo sobre o objeto aprovado que é a razão para nossa aprovação,^ Portanto, depois de alguém ter dito “Aquele é um bom automó­ vel”, sempre faz sentido perguntar “O que é bom nele?” ou “Por que você diz que ele é bom?” ou “Que características dele você está aprovando?” Pode não ser sempre fácil responder a essa questão de forma precisa, mas é sempre uma questão legítima. Se, não entendêssemos p o r que é sempre uma questão legitima, não entenderíamos o modo como a palavra “bom” funciona.

Podemos ilustrar esse ponto comparando dois diálogos (similares ao de 5.2):

(1) X. O automóvel de Jones é bom.

Y. O que o faz chamá-lo bom? X. Ah, ele simplesmente é bom.

Y. Mas deve haver alguma razão para que você o chame

bom, quero dizer, alguma propriedade que ele tenha em virtude da qual você o chama bom.

X. Não; a propriedade em virtude da qual o chamo bom é

simplesmente sua bondade e nada mais.

Y Então você quer dizer que sua forma, velocidade, peso,

dirigibilidade, etc., são irrelevantes para o fato de você chamá-lo bom ou não?

relevante é a bondade, da mesma forma que, se eu o cha­ masse amarelo, a única propriedade relevante seria sua “amarelidade” .

(2) O mesmo diálogo, mas com “amarelo” em lugar de “bom ” e “amarelidade” em lugar de “bondade”, e com a omissão da última oração (“da mesma forma que... cor amarela”).

A posição de X no prim eiro diálogo é excêntrica porque, como observam os anteriorm ente, já que “bom” é um epíteto “superveniente” ou “conseqüente”, sempre é legítimo pergun­ tar a um a pessoa que disse ser boa alguma coisa: “O que há de bom nela?” Ora, responder a essa pergunta é fornecer as pro­ priedades em virtude das quais a denominamos boa. Assim, se eu disser “Aquele é um bom autom óvel”, alguém perguntar “Por quê? O que há de bom nele?”, e eu responder “Alta veloci­ dade com binada com estabilidade na estrada”, indico que o denomino bom por ter essas propriedades ou virtudes. Então fazer isso é, eo ipso, dizer algo sobre outros automóveis que tenham essas propriedades. Se qualquer outro automóvel tives­ se essas propriedades, eu, para não ser incoerente, teria de con­ cordar que ele pro tanto, é um bom automóvel; embora, é claro, mesmo tendo essas propriedades a seu favor, pudesse ter des­ vantagens compensatórias e, assim, feitas todas as considera­ ções, não ser um bom automóvel.

Esta últim a dificuldade sempre pode ser superada especi­ ficando detalhadamente a razão por que denominei bom o pri­ m eiro automóvel. Suponha que um segundo automóvel fosse igual ao primeiro, em velocidade e estabilidade, mas não desse aos seus passageiros nenhuma proteção contra a chuva e permi­ tisse a entrada e saída de passageiros com dificuldade. Eu não diria que é um bom automóvel, apesar de ter as características que me levaram a denominar bom o primeiro. Isso m ostra que também não teria chamado bom o prim eiro se este também, tivesse as características ruins do segundo e, portanto, ao espe­ cificar o que era bom no primeiro, deveria ter acrescentado

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“. .. e a proteção que ele dá aos passageiros e a facilidade para entrar e sair”. Esse processo poderia ser repetido indefinida­ mente até que eu tivesse dado urna lista completa das caracte­ rísticas do primeiro automóvel que foram necessárias para que eu concordasse que era um bom carro. Isso, em si, não seria dizer tudo o que havia para ser dito sobre m eus padrões para julgar autom óveis - pois poderiam existir outros automóveis que, embora carecendo em certa medida dessas características, tivessem outras características boas compensatórias, por exem­ plo, estofam ento m acio, espaço amplo ou baixo consumo de gasolina. Mas seria ao menos de alguma ajuda para que o ou­ vinte form asse um a idéia de m eus padrões para automóveis; nisso reside a importância de tais perguntas e respostas e de reconhecéiTsua "relevância sempre que for feito um juízo He

váíor. Pois um dos propósitos de fazer tais juízos é tornar co­ nhecido o padrão.

Quando aprovo um automóvel estou orientando as esco­ lhas de m eu ouvinte não meramente em relação àquele automó­ vel particular, m as em relação a autom óveis em geral. O que disse a ele irá ajudá-lo sempre que, no futuro, tiver de escolher um automóvel ou aconselhar alguém na escolha de um automó­ vel, ou mesmo de projetar um automóvel (escolher que espécie de automóvel m andar produzir) ou escrever um tratado geral sobre o projeto de automóveis (que envolve escolher que tipo de automóveis aconselhar outras pessoas a m andar produzir). O m étodo por meio do qual lhe dou essa assistência é fazê-lo conhecer um padrão para o julgamento de automóveis.

Esse processo, como observamos, tem determ inadas características em comum com o processo de definir (tornar conhecido o significado ou aplicação de) um a palavra descriti­ va, embora existam diferenças importantes. Temos agora de observar outra semelhança entre demonstrar o uso de uma pala­ vra e como escolher entre automóveis. Em nenhum dos casos a instrução pode ser feita com sucesso a m enos que o instrutor seja coerente ao ensinar. Se usamos “vermelho” para objetos de

um a ampla variedade de cores, meu ouvinte nunca aprenderá comigo um padrão de uso consistente para a palavra. De manei­ ra semelhante, se aprovo automóveis de características muito diferentes ou mesm o contrárias, o que lhe digo não será útil subseqüentemente na escolha de automóveis porque não lhe estou ensinando nenhum padrão coerente - ou mesm o algum padrão, pois um padrão, por definição, é coerente. Ele dirá “Não vejo por que padrões você está julgando esses autom ó­ veis; por favor, me explique por que você denomina todos bons, embora sejam tão diferentes”. É claro, eu talvez pudesse lhe dar um a explicação satisfatória. Poderia dizer “Existem diferentes tipos de automóveis, cada um bom à sua maneira; existe o carro esporte, cujos principais requisitos são velocidade e dirigibili- dade, o carro de passeio, que deve antes ser espaçoso e econô­ mico, o táxi, e assim por diante. Portanto, quando digo que é bom um carro veloz e de boa dirigibilidade, embora não seja espaçoso nem econômico, você deve entender que o estou aprovando como carro esporte, não como carro de passeio”. Mas suponha que eu não reconhecesse a relevância de sua per­ gunta; suponha que eu estivesse simplesmente distribuindo o predicado “bom ” totalm ente a esmo. É evidente que, neste caso, eu não lhe ensinaria absolutamente nenhum padrão.

Temos, portanto, de distinguir duas questões que sempre podem ser feitas para elucidar um juízo que contenha a palavra “bom ” . Suponha que alguém diga “Aquele é bom ” . Podemos sempre perguntar (1) “Bom o quê - carro esporte, de passeio, táxi ou exemplo para citar num livro de lógica?” Ou podemos perguntar (2) “O que o faz chamá-lo bom?” Fazer a primeira per­ gunta é pedir a classe dentro da qual as comparações avaliató­ rias estão sendo feitas. Vamos chamá-la a classe cie com para­ ção. Fazer a segunda pergunta é perguntar pelas virtudes ou ‘'características que tom am bom ”. Estas duas perguntas, porém, não são independentes, pois o que distingue a classe de comparação “carro esporte” da classe “carro de passeio” é o conjunto de virtudes que deve ser procurado nas classes respec­

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tivas. Isso é assim em todos os casos em que a classe de compa­ ração é definida por meio de. um a palavra funcional - pois, obviamente, “carro esporte”, “carro de passeio”, e “táxi” são funcionais num grau muitíssimo mais alto que o simples “auto­ m óvel”. A lgum as vezes, contudo, uma classe de comparação pode receber especificações adicionais sem que isso a torne m ais funcional; por exemplo, ao explicar a expressão “bom vinho” poderíam os dizer “Quero dizer bom vinho para esta região, não bom vinho em comparação com todos os vinhos que existem”.

8.3. Ora, já que ser usada para ensinar padrões é o propósito da palavra “bom”, e de outras palavras de valor, sua lógica está de acordo com esse propósito. Estamos, portanto, em condições de finalmente explicar a característica da palavra “bom” que des­ taquei no início desta investigação. À razão por que não posso aplicar a palavra “bom” a um quadro se me recuso a aplicá-la a um outro quadro que concordo ser em todos os aspectos exata­ mente similar é que, ao fazê-lo, estaria anulando o propósito para o qual a palavra existe. Estaria aprovando um objeto e, assim, parecendo ensinar a meus ouvintes um padrão enquanto, ao mesmo tempo, estaria recusando-me a aprovar um objeto similar e, assim, anulando a lição que acabara de dar. Buscando transmi­ tir dois padrões incoerentes, não estaria transmitindo absoluta­ mente nenhum padrão. O efeito de uma tal declaração é similar ao de uma contradição, pois, numa contradição, digo duas coisas incoerentes e, portanto, o efeito é que o ouvinte não sabe o que estou tentando dizer. H

O que disse até aqui também pode ser colocado em outra term inologia, a_dos princípios, que estivemos usando na Pri­ meira Parte. Ensinar a uma pessoa - ou eleger para si mesmo - um padrão para julgar os méritos de objetos de um a determina­ da classe é ensinar ou eleger princípios para escolher entre' objetos dessa classe. Conhecer os princípios para escolher automóveis é ser capaz de decidir entre automóveis ou de dis­ cernir um bom automóvel de um ruim. Se digo “Aquele não é

um bom automóvel” e perguntam-me qual é a virtude cuja falta me faz dizer isso, e respondo em seguida “Ele não é estável na estrada”, estou recorrendo a um princípio. J

Em vista da estreita similaridade de propósito entre juízos de valor e princípios de escolha, é interessante notar que a característica dos juízos de valor que estamos discutindo (sua necessidade de coerência mútua) é compartilhada pelas senten­ ças imperativas universais, como, na verdade, por todas as sen­ tenças universais. Vimos que não posso dizer “Este é um bom automóvel, mas aquele a seu lado, embora exatamente igual em todos os outros aspectos, não é bom ” . Pela mesma razão, não podemos dizer “Se puder, sempre escolha um automóvel igual a este, mas não escolha sempre um automóvel igual àquele ao lado, que é exatamente igual a este”. Esta sentença é autocon- traditória, porque recom enda ao ouvinte escolher sempre um automóvel igual a este e não escolher sempre um automóvel igual a este. Uma contradição similar no modo indicativo seria “Animais iguais a este são sempre estéreis, mas animais iguais àquele ao lado, que é exatamente igual a este, nem sempre são estéreis” .

Essa conexão entre juízos de valor e princípios auxilia-nos a responder à pergunta proposta no início deste capítulo. O que disse no capítulo precedente sobre a relação do significado ava­ liatório e do significado descritivo de “bom ” e sobre a form a como os padrões são adotados e m odificados é prontam ente esclarecido quando nos damos conta de que o contexto no qual usamos essas palavras é o contexto das decisões de princípio „ tais como discutidas em 4.2. Um juízo de valor pode encontrar- se numa variedade de relações com o padrão, ao qual se refere. Em virtude de seu significado descritivo, ele informa ao ouvin­ te que o objeto conform a-se ao padrão. Isso é verdadeiro mesmo se o juízo for um juízo “entre aspas” ou convencional. A m aior parte da complexidade da relação deve-se, porém, ao significado avaliatório. Se o padrão é bem conhecido e geral­ mente aceito, o juízo de valor não pode fazer m ais do que

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expressar a aceitação do falante ou sua adesão a ele (embora nunca afirme que ele aceita ou adere a ele; para isto tem os outras expressões,6tais como “ Sou de opinião que, para ser bom, um morango deve ter consistência firm e”). Se o ouvinte é uma pessoa não familiarizada com o padrão (e.g., um a criança) a função do juízo de valor também pode ser familiarizá-la com ele ou ensiná-lo a ela. Se fazemos isso, não estamos meramente informando-lhe que o padrão é de vim tipo tal e tal; estamos ensinando-a a fazer suas escolhas futuras segundo um determi­ nado princípio. Fazemos isso apontando-lhe exemplos de obje­ tos que se conformam e não se conformam ao padrão, e dizen­ do “Aquele é um bom X ”, “Aquele é um m au X ”, etc. Se o padrão ao qual nos referimos é um padrão para objetos de um a classe que não tenham sido previamente colocados em ordem de m érito (tais como cactos) ou se estamos advogando cons­ cientemente ura padrão que diverge do recebido, então, nosso propósito é quase inteiramente prescritivo; estamos na realida­ de estabelecendo um novo padrão ou m odificando um padrão aceito. Suponha, por exemplo, que eu dissesse “O Código de

Trânsito diz que é dirigir bem dar um a multiplicidade de sinais;

mas, na verdade, é m elhor dar m enos sinais, prestar atenção para estar Certo de que não está obstruindo outros veículos e sempre dirigir de tal forma que suas intenções de manobra se­ jam evidentes sem sinais”; eu estaria prescrevendo, não infor­ m ando1. Posso, além disso, dizer esse tipo de coisa para m im mesm o enquanto estiver aprendendo a dirigir; é semelhante a autodidatismo. Vemos assim que a linguagem dos valores é

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