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Significado e critérios

No documento A Linguagem da Moral (diniz) - R. M. Hare.pdf (páginas 112-130)

6.1. 0 argumento do capítulo precedente estabelece que “born”, sendo um a palavra usada para aprovar, não deve ser definida em termos de um conjunto de características cujos nomes não sejam usados para aprovar. Isto não quer dizer que não haja nenhuma relação entre o que foi denominado caracte­ rísticas “que tornam bom” e “bom”; quer dizer apenas que essa relação não é uma relação de implicação. Qual é a relação, dis­ cutirei mais adiante. Mas, antes disso, é necessário prevenir-se contra um erro no qual é fácil incorrer, quando se demonstra que “bom ” não é analisável da forma que sugere o naturalismo. É o erro de supor que, como “bom ” não é o nome de uma pro­ priedade complexa (“bom morango”, por exemplo, significan­ do “morango que é doce, suculento, consistente, vermelho e grande”), deve, portanto, ser o nome de uma propriedade sim­ ples. E claro que, se tudo o que se pretende designar por “pro­ priedade” é “seja o que for que um adjetivo represente”, então é inofensivo dizer que “bom” é o nome de uma propriedade sim­ ples, exceto na medida em que sugere que há, para cada adjeti­ vo, algo que ele representa nesta relação superficialmente sim­ ples, mas filosoficamente desconcertante. Mas como “proprie­ dade” normalmente não é utilizada num sentido amplo como esse, o emprego da palavra nesse contexto tem causado grave

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confusão; tem levado a comparações entre “bom” e palavras de propriedade simples típicas, como “verm elho”. É esta compa­ ração que agora deve ser examinada. Na verdade, como é muito difícil estabelecer um critério lógico para distinguir proprieda­ des simples de propriedades complexas, não restringirei o argu­ mento tão estreitamente quanto essa comparação sugeriria; os argumentos que utilizarei depõem igualmente contra a teoria de que “bom ” é o nome de uma propriedade complexa, no sentido comumente aceito. São complementares a uma outra série de argumentos dispostos com grande habilidade pelo Sr. Toulmin contra uma teoria sim ilar1.

É característico da palavra “vermelho” podermos explicar seu significado de determinada forma. A sugestão de que o caráter lógico das palavras pode ser investigado perguntando como explicaríamos seu significado procede de Wittgenstein. O ponto principal do método é que ele revela como o aprendiz poderia compreender erradamente o significado e, assim, ajuda a mostrar o que é necessário para compreendê-lo corretamente. Suponha-se que estamos tentando ensinar inglês a um filósofo estrangeiro que, deliberada ou inadvertidamente, comete todos os erros que pode cometer logicamente (pois é irrelevante que erros uma pessoa efetivamente comete ou evita). Devemos assumir que, quando iniciamos, ele não sabe nada de inglês e não sabemos nada de sua língua. Num determinado estágio, chegaremos às palavras de propriedade simples. Se tivéssemos de explicar o significado da palavra “verm elho” para tal pes­ soa, poderíamos proceder do seguinte modo: poderíamos levá- lo para ver caixas de correio, tomates, trens do metrô, etc., e dizer, enquanto mostrássemos a ele cada objeto, “Isso é verme­ lho”. E então poderíamos levá-lo para ver alguns pares de coi­ sas que fossem iguais na m aioria dos aspectos, mas de cores diferentes (por exemplo, caixas de correio na Inglaterra e na Irlanda, tomates maduros e verdes, trens de transporte urbano de Londres e trens elétricos das linhas principais) e, em cada ocasião, dizer “ Isto é vermelho; aquilo não é vermelho, mas

verde” . Dessa form a ele aprenderia o uso da palavra “verm e­ lho”; ficaria versado em seu significado.

É tentadorxassumir que o signifeado^de.todas ;ás palavras' que são aplicadas a coisas*, etn q u alq u er sentido; .poderia ,ser? comunicatlo: (|direta ou indiretamente) da m esm a forma; mas não é assim, como bem se sabe. A palavra “isto” não pode ser tratada desse modo nem, talvez, a palavra “Quaxo” - se é que podemos dizer que o nome de um gato é uma palavra. É instru­ tivo perguntar se o significado de “bom” poderia ser explicado desse modo, e, se não, por que não.

6.2, É um a característica de “bom ” poder ser aplicado a qualquer número de diferentes classes de objetos. Temos bons tacos de ctfque|ef bons cronômetros, bons extintores de incên­ dio, bons quadros, bons pores-do-sol, bons homens. O mesmo é verdadeiro com a palavra “vermelho” ; todos os objetos que acabei de listar podem ser vermelhos. Temos de perguntar pri­ meiro se, ao explicar o significado da palavra “bom ”, seria pos­ sível explicar seu significado em todas essas expressões de uma só vez, ou se seria necessário explicar “bom taco de crí­ quete” em primeiro lugar, e depois continuar, explicando “bom cronômetro” na segunda lição, “bom extintor de incêndio” na terceira, e assim por diante; e, se fosse este o caso, se, a cada li­ ção, estallamos ensinando algo inteiramente novo - como ensi­ nar o significado de “lista negra” depois de termos ensinado numa lição anterior o significado de “automóvel negro” - ou se seria apenas a mesma lição novamente, com um exemplo dife­ rente - como ensinar “tinta vermelha” depois de termos ensina­ do “automóvel verm elho” . Ou poderia haver alguma terceira possibilidade.

O ponto de vista de que “bom cronômetro” seria uma lição completamente nova, m esm o que no dia anterior tivéssemos ensinado “bom taco de críquete”, leva imediatamente a dificul- dades^Fois significaria que a eada vez nosso aprendiz poderia üsaF^palavra “bom” apenas ao falar de classes de objetos que tivesse aprendido até então}. Nunca poderia ir diretamente a

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unia nova classe de objetos e usar a palavra “bom ” com um deles. Quando tivesse aprendido “bom taco de críquete” e “bom cronômetro”, não seria capaz de usar “bom extintor de incên­ dio”, e, quando tivesse aprendido este, ainda seria incapaz de usar “bom automóvel”. Mas, na realidade, uma das coisas mais notáveis sobre a forma como usamos “bom” é que podemos usá-lo com classes inteiramente novas de objetos que nunca denominamos “bons” antes. Suponha que alguém comece a colecionar cactos pela primeira vez e ponha um sobre o consolo da lareira - o único cacto no país. Suponha então que um amigo o veja e diga “Tenho de ter um desses” ; assim, ele manda bus­ car um, onde quer que cresçam, coloca-o sobre o consolo de sua lareira, e quando o amigo vai visitá-lo, ele diz “Tenho um cacto melhor que o seu” . Mas como ele sabe aplicar a palavra dessa forma? Ele nunca aprendeu a apMear “bom ” a cactos; não conhece .sequer critérios para distinguir um cacto bo;m de. um ruim (pais, àté então, não havia nenhum}; mas ele aprendeu à usar a palavra “ bom’ entendo aprendido isso, pode apli.eá~la a qualquer classe de objetos que tenha de pôr. em ordem de m éri­ to. Ele e o amigo podem debater os critérios de bons cactos; podem tentar estabelecer critérios rivais, mas não poderiam fazer sequer isso, a menos que não tivessem, desde o início, nenhuma dificuldade para utilizar a palavra “bom” . Já que, por­ tanto, é possível usar a palavra “bom ” para uma nova classe de objetos sem instrução adicional, aprender o emprego da palavra para uma classe de objetos não pode ser uma lição diferente de aprendê-la para uma outra classe de objetos - embora aprender os critérios de bondade numa nova classe de objetos possa ser uma nova lição a cada vez.

É estranho que o uso de “bons cactos” não deva ser uma nova lição, pois bons cactos parecem ter pouco em comum com bons cronômetros, e bons cronômetros, com bons tacos de crí­ quete. Não obstante, de alguma forma, parece que somos capa­ zes de aprender o uso da palavra sem que nos tenham ensinado

a um membro desta classe. Suponha que, ao ensinar o signifi­ cado de “bom ”, estejamos decididos a não nos deixar desviar pelas aparentes dissimilaridades de bons cronômetros, cactos e tacos de críquete; suponha que continuemos tentando a todo custo encontrar algo que possamos apontar em absolutamente qualquer classe de objetos, e dizer “Aí está, é o que torna boa uma coisa; quando tiver aprendido a identificar essa qualidade fugidia, você saberá o significado da palavra” . Issprparecey ià ?

primerea,\ds^únXpraeedíment<5‘M^

vra^bom ” é comum a todas as classesgie'obj,etos, d e v e S ;íüm significado comum, e. é natural

Tais esforços estão fadados ao fracasso. Mas, mesmo se não conseguirmos encontrar uma propriedade comum para

todas as classes de objetos cujos membros são chamados bons,

podemos tentar executar o programa de forma menos ambicio­ sa; podemos abandonar o esforço de encontrar uma proprieda­ de comum e contentar-nos com a divisão dos usos da palavra em alguns grupos, dentro dos quais a palavra refira-se a uma propriedade comum. Assim, podemos imaginar que, na primei­ ra lição, seremos capazes de ensinar o significado da palavra em seu uso “intrínseco”, e, na segunda lição, a ensinar o uso “instrumental”, e assim por diante.

Esse procedimento também leva a dificuldades. Pessoas que o sugeriram geralmente estavam mais interessadas

“intrínseco” e, portanto, separaram o bom “instrumental” ape­ nas para ignorá-lo. Isso significa que ignoraram também as imensas dificuldades de lidar com o bom “instrumental” dessa maneira. Proponho adotar o programa oposto; colocarei o bom “intrínseco” de lado por um momento e perguntarei se é possí­ vel tratar a bondade “instrum ental” como uma propriedade ostensiva comum.

6.3. Há duas variantes possíveis do procedimento sugeri­ do. Uma busca explicar o significado de “bom ”, tal como

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empregado “instrumentalmente”, com base na assunção de que a propriedade comum que estamos procurando é contribuir para o bem no sentido “intrínseco”. Não dará certo, pois dize­ mos “bom isso e bom aquilo”, de modo instrumental, a respeito de coisas que não contribuem para o bem “intrínseco”; por exemplo, boas pistolas (que são boas pistolas tanto nas mãos do assassino quanto nas mãos da polícia); aqui, admitida a assun­ ção de que há um uso “instrumental” da palavra, parece que a palavra “bom ” está sendo usada precisamente da mesma maneira que em “bom cronômetro” . Bons cronômetros, tam ­ bém, nem sempre contribuem para o bem intrínseco - não se são usados para conduzir aeronaves que vão jogar bombas atô­ micas sobre o povo escolhido (seja qual for).

A outra variante busca explicar o significado da palavra “bom” , tal como usada “instrumentalmente” , com base na assunção de que significa o mesmo que “eficiente”, isto é, “que # contribui-para o fim p ara ojqual é empregado”. Ora, é possível que “bom ” às vezes realmente signifique isso; no momento, não estou discutindo se significa isso ou não, mas se, caso sig­ nifique “contribuir para o fim para o qual é empregado” , é o tipo de propriedade que poderíamos ensinar nosso estrangeiro a identificar em um a lição. Suponha-se que tentemos. Nós o levamos a uma porção de pessoas que estão fazendo coisas com coisas, e dizemos a ele “Isto é um bom X”, “Isto não é um bom Y”, e assim por diante. Mas suponha que ele seja, ou finja ser, um tanto obtuso. Levamo-lo para ver tacos de críquete, cronô­ metros e extintores de incêndio, e indicamos, em cada caso, quais são bons e quais não são. Mas ele ainda se recusa a admi­ tir que pode reconhecer uma propriedade comum aos membros bons de todas essas três classes. Sua dificuldade é óbvia. Bons extintores de incêndio diferem de maus extintores de incêndio porque apagam chamas rapidamente, sem fumaça, etc.; bons cronômetros diferem de maus cronômetros porque dão a hora de Greenwich, são facilmente legíveis, etc.; bons tacos de crí­ quete diferem de maus tacos de críquete porque rebatem bolas

a grande distância, com velocidade, não machucam, etc.; mas parece haver pouco em comum entre esses três desempenhos que ele possa aprender a reconhecer. Chamamos todos eles “os fins para os quais os objetos são empregados”; mas essa desig­ nação comum apresenta a mesma dificuldade que está vamos tendo com a própria palavra “bom” . Pois, a menos que possa­ mos ensiná-lo, no caso de qualquer nova classe de objetos, a reconhecer sem auxílio para que fim estão sendo empregados, teremos ainda de continuar a dar-lhe uma nova lição a cada vez, embora não sobre a palavra “bom ”, mas sobre a palavra “fim ” . E o fato de que a palavra “fim ” apresenta os mesmos problemas que a palavra “bom” sugere que os problemas têm a mesma ori­ gem em ambos os casos. Lembramos que Aristóteles, que fez da palavra “fim?” um termo técnico em filosofia, definiu-a como “um :bemra servatingido, pelaação’/ 2.

uma determinada classe de palavras que podemos denominar, num sentido amplo, “palavras funcionais”. Uma palavra é uma palavra funcional se, para explicar seu significa­ do de forma completa, temos de dizer para que serve o objeto a que se refere, ou o que se espera que ele faça. As palavras fun­ cionais incluem não somente os nomes de instrumentos no sen­ tido estrito, mas também os nomes de técnicos e técnicas. Não sabemos o que é um carpinteiro até que saibamos o que se espera que um carpinteiro faça. O mesmo acontece com uma broca; não sabemos o que é um a broca até que saibamos, nas palavras do Shorter Oxford English Dictionary, não apenas que tem “um a haste longa e pontiaguda, etc.”, mas também que é “uma ferramenta de carpinteiro para abrir furos na madeira, etc.” Nâo poderíamos explicar ao nosso estrangeiro o significa­ do de “broca” , nesse sentido, mostrando a ele uma porção de brocas e ensinando-o a reconhecer uma broca quando visse uma, Ele poderia ser capaz de fazer isso infalivelmente e, ainda assim, não saber para que servem brocas e, portanto, não conhecer totalmente o significado da palavra da forma como o dicionário o fornece.

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Contribui mais para a clareza considerar as peculiaridades de sentenças como “esta não é uma boa broca”, que iremos con­ siderar, como resultantes desta característica da palavra “bro­ ca” (o fato de que é uma palavra funcional), do que dizer que a palavra “boa” tem um significado especial nessa sentença. Nes­ sa sentença, recebemos de mão beijada, em virtude do signifi­ cado das palavras empregadas, um dos critérios necessários para um a boa broca, m as recebemos isso da palavra “broca” , não da palavra “boa” . Vimos acima que é possível construir sentenças imperativas “hipotéticas” deriváveis somente de prem issas m enores indicativas, e que isso é feito incluindo a prem issa maior imperativa exigida como parte da conclusão dentro de uma oração condicional. Temos aqui uma operação, de certo modo, similar. Saber o que é uma broca é conhecer o fim que se espera que as brocas satisfaçam, é saber que ser capaz de abrir buracos é uma condição necessária para ser uma boa broca, ou que, se uma broca não abrir buracos, não é uma boa broca. Mas se definimos “broca” de tal forma que essa premis­ sa m aior seja analítica, incluindo então a palavra “broca” na conclusão “Esta não é uma boa broca”, tornamos esta conclu­ são derivável apenas da premissa menor indicativa, “Esta broca não abre buracos” .

Mas saber para que serve uma broca é ter não mais do que um conhecimento bastante rudimentar dos critérios de uma boa broca; é conhecer somente uma condição necessária. Pode-se abrir buracos com brocas muito ruins. Podemos até dizer que, se uma broca não abre buracos, então, certamente é uma broca ruim; mas é só até aí que a definição de “broca” nos conduz. Por essa razão, “boa broca” significa muito mais do que “broca que contribui para o fim para o qual as brocas são empregadas,

se., abrir buracos”; significa, pelo menos, “broca que contribui

para satisfazer bem o fim para o qual as brocas são empregadas,

se., abrir buracos bem”, E, portanto, mesmo se nosso estrangei­

ro soubesse o que é uma broca, haveria ainda muito a ensinar a ele sobre os critérios de uma boa broca. Teríamos de ensinar-

lhe, por exemplo, que um a boa broca não provoca bolhas nas mãos, não está enferrujada e abre buracos com bordas lisas.

Perguntemos, porém, o que envolveria ensinar a nosso estrangeiro esse mínimo, que uma broca serve para abrir bura­ cos. Teríamos de levá-lo para ver pessoas abrindo buracos com brocas. Ele teria de saber o que estavam tentando fazer. Se pen­ sasse que estavam simplesmente tentando exercitar os punhos, não seriamos capazes, por meio dessa demonstração, de expli­

car a ele para que serve uma broca. Ora, tentar produzir ura resultado é escolher, segundo as limitações de nosso conheci­ mento e poder, fazer as coisas que contribuem para esse resul­ tado. Assim, tentar fazer um buraco é escolher fazer as coisas (incluindo selecionar aqueles instrumentos) que contribuem para a abertura de um buraco.

Essa mesma palavra, “escolher”, interpõe-se quando bus­ camos explicar, não para que se utiliza uma broca, mas para que é projetada. Projetar um instrumento para abrir buracos é escolher que seja feito de tal forma que contribua para abrir buracos. O fato de a palavra “escolher” interpor-se dessa forma é de grande interesse. Escolher é responder a uma pergunta da forma “Que devo fazer?'’. O homem que está projetando uma ferramenta para abrir buracos pergunta a si mesmo “Com que formato devo produzir este instrum ento?” e responde “Com um formato tal que contribua para abrir buracos”; o homem que está tentando abrir buracos pergunta a si mesmo “Que tipo de instrumento devo usar?” e responde “O tipo de instrumento que contribua para abrir buracos” . Portanto, temos aqui uma importante conexão entre a presente discussão e a da primeira parte deste livro. Mas retornemos ao nosso estrangeiro. Já está estabelecido que, se podemos explicar a ele o que é escolher - ou se ele já sabe - então seremos capazes de explicar como des­ cobrir, no caso de qualquer instrumento, para que serve ele, e que, se podemos explicar isto, podemos também dar a ele algu­ ma explicação rudimentar de como distinguir um bom membro e um membro ruim de um a classe de instrumentos. Se, por

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outro lado, ele não entende o que é escolher, não entenderá nenhuma de nossas explicações.

E evidente, portanto, que temos aqui uma situação seme­ lhante à que observamos anteriormente. Ensinar o que torna um membro de uma classe um bom membro da classe é, na ver­ dade, uma nova lição para cada classe de objetos; mas, apesar disso, a palavra “bom ” tem um significado constante que, uma vez aprendido, pode ser compreendido, não importa que classe de objetos esteja sendo discutida, Temos, como já disse, de fazer uma distinção entre o significado da palavra “bom ” e os critérios para sua aplicação. Mesmo no caso da bondade instru­ mental, não há um critério comum para todas as classes de objetos. Ainda temos de ensinar a nosso aprendiz algo novo a cada vez. E verdade que as palavras “contribuir para” ocorrerão em todas as nossas explicações, mas após essas palavras ocor­ rerá alguma outra expressão, tal como “abrir buracos” ou “mar­ car o tempo exato”, que será diferente em cada caso. Se, em vez de todas essas expressões diferentes, escrevemos a expressão comum “ ...aquilo para que serve o instrum ento”, reintroduzi- mos uma expressão cujo significado não é explicável pela téc­ nica do “verm elho”. Ela requer uma compreensão do que é escolher, e essa compreensão é necessária, quer façamos a refe­ rência a ela ao explicar o significado de “broca” ou “cronôme­ tro”, quer expliquemos os significados dessas palavras (inade­ quadamente) simplesmente apresentando exemplos e deixemos a referência à escolha para quando tivermos de explicar “boa broca” ou “bom cronômetro” .

Assim, a noção de “bom instrumental”, que foi introduzida a fim de m itigar a dificuldade de “um a nova lição para cada classe de objetos”, falha nesse propósito. Resumindo: não há nenhuma propriedade comum reconhecível em todos os casos em que se diz que um membro de um a classe - não importa que classe - é “instrumentalmente bom ” . Mesmo que, portanto, dividamos os empregos da palavra “bom ” em determinadas classes amplas, “bom instrumental”, “bom intrínseco”, e assim

por diante, ainda assim não podemos aplicar a técnica de expli­ cação nas classes em que aplicamos com a palavra “vermelho”. Podemos ensinar os critérios para a aplicação da palavra “bom” em uma classe particular; mas isso não ensina o significado da palavra. Um homem poderia até mesmo aprender a distinguir brocas boas de brocas ruins sem ter a menor idéia do que signi­ fica “bom ”; poderia, por assim dizer, aprender a separar brocas

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