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Agora, claramente, sé estamos procurando pela dife u-nga essencial entre afirmações e comandos, temos de procu­

Imperativos e lógica

2.2. Agora, claramente, sé estamos procurando pela dife u-nga essencial entre afirmações e comandos, temos de procu­

rar na nêustíca, não na frástica. Porém* como o emprego da palavra “nêustíca” indica, há ainda algo em comum entre nêus- licas indicativas e imperativas. É a idéia comum, por assim tlizcr, de assentir a uma sentença “inclinando a cabeça”. É algo que é feito por alguém que usa a sentença com sinceridade e não que meramente a menciona ou cita entre aspas, algo essen- c ial ao ato de dizer (e querer dizer) algo. A ausência de aspas na luiguagem escrita simboliza o elemento de significado de que estou falando; escrever uma sentença sem aspas é como assinar um cheque; escrevê-la entre aspas é como preencher um che­ que sem assiná-lo, e. g., para mostrar a alguém como preencher cheques. Poderíamos ter uma convenção segundo a qual, em vez de colocar entre aspas sentenças que estivéssemos mencio­ nando e não usando, inclinaríamos a cabeça ou faríamos algum sinal especial na escrita quando estivéssemos usando a sentença a sério. O “símbolo de asserção” no sistema lógico de Frege e no de Russell e Whitehead tem, entre outras funções, esta, de significar o uso ou afirmação de uma sentença1. Ele poderia, nessa função, ser aplicado a comandos bem como a afirma­ ções. Podemos talvez forçar levemente a linguagem e empregar a palavra “afirmar” para ambos.

Estreitamente aparentado com tal sinal de afirmação esta­ ria um sinal de concordância ou assentimento para uso de um ouvinte. Empregar tal sinal de assentimento seria equivalente a repetir a sentença com os pronomes, etc., alterados onde neces­ sário. Assim, se eu dissesse “Você vai fechar a porta” e você respondesse “Sim”, este seria um sinal de assentimento e seria equivalente a “Vou fechar a porta”. E se eu dissesse “Feche a porta” e você respondesse “Sim, sim, senhor”, isto seria, da mesma forma, um sinal de assentimento; se desejássemos ex­ pressar a que isso eqüivale, poderíamos dizer “Deixe-me fechar a porta” ou “Fecharei a porta” (onde “ei” não é uma predição, mas a expressão de uma resolução ou uma promessa). Ora, isso

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deve nos dar urna pista para a diferença essencial entre afirm a­ ções e comandos; ela está no que implica assentir a eles; e o que implica assentir a eles está, como já disse, estreitamente ligado ao que implica afirm á-lo2.

Se assentimos a um a afirmação, somos considerados since­ ros em nosso assentimento se - e apenas se - acreditamos que ela é verdadeira (acreditamos no que disse o falante). Se, por outro lado, assentimos a um comando de segunda pessoa dirigi­ do a nós, somos considerados sinceros em nosso assentimento se - e apenas se - fazemos ou decidimos fazer o que o falante ordenou que fizéssemos; se não o fazemos, mas apenas decidi­ m os fazê-lo mais tarde, e, então, quando chega a ocasião de fazê-lo, não o fazemos, considera-se que mudamos de idéia; não estamos mais sendo fiéis ao assentimento que expressamos pre­ viamente. E uma tautología dizer que não podemos assentir sin­ ceramente a um comando de segunda pessoa dirigido a nós e ao

mesmo tempo não realizá-lo, se agora é a ocasião de realizá-lo e

está ao nosso alcance (físico e psicológico) fazê-lo. Similar­ mente, é uma tautología dizer que não podemos assentir sincera­ mente a um a afirmação e ao mesmo tempo não crer nela. Assim, podem os caracterizar provisoriam ente a diferença entre afir­ mações e comandos dizendo que, embora o assentimento since- rofao primeiro envolva acreditar em algo, o assentimento sincero ao segundo implica (na ocasião adequada e se estiver ao nosso alcance) fa ze r algos Mas essa formulação é excessivamente sim­ plificada e exigirá qualificação mais tarde (11.2).

No caso de comandos de terceira pessoa, assentir é aderir à afirm ação. No caso de comandos de prim eira pessoa (“Deixe- me fazer assim e assim ”) e decisões (“Farei assim e assim”), que são estreitamente similares, afirmação e assentimento são idênticos. É logicamente impossível para um homem dissentir do que ele mesmo está afirm ando (embora, claro, ele possa não ser sincero ao afirmá-lo).

2.3. Deve-se explicar que, já que estou empregando a pala­ vra “afirm ar”, ela não é o oposto de “negar” . É possível afirmar

uma sentença afirmativa ou uma negativa, O sinal de negação "não” é normalmente parte da frástica tanto de indicativos quanto de imperativos; portanto, em vez de “Você não vai lechar a porta” deveríamos escrever “Você não fechar a porta no futuro imediato, sim”, e, em vez de “Não feche a porta”, de­ veríamos escrever “Você não fechar a porta no futuro imediato, por favor”. Sentenças modais contendo a palavra “poder” pode­ riam, parece, ser representadas pela negação da nêustica; assim, “Você pode fechar a porta” (permissiva) poderia ser escrita “Não digo a você que não feche a porta” e esta, por sua vez, poderia ser transformada em “Você não fechar a porta no futuro imediato, não-por favor”; e, similarmente, a sentença “Pode ser que você vá fechar a porta” poderia ser traduzida como “Não digo que você não vai fechar a porta” ou “Você não fechar a porta no futuro imediato, não-sim”. Porém essas são complicações em que não precisamos nos aprofundar.

Indiquei no artigo já mencionado que, em seus usos comuns, os conectivos lógicos comuns “se”, “e” e “ou”, como o sinal de negação, são tratados da melhor forma como parte das frásticas das sentenças. I-sso significa que eles são comuns aos indicativos e imperativos. O mesmo é verdadeiro, com certa qualificação a ser mencionada mais adiante (11.5), dos quantificadores “todo(s)” e “algum(ns)”. Agora não tenho tanta certeza de que na linguagem comum essas palavras compor­ tam-se logicamente da mesma maneira nos imperativos e nos indicativos, mas, seja como for, as diferenças são puramente um acidente gramatical. Utilizando os conectivos lógicos comuns, tal como são usados no modo indicativo, nas frásticas de nossas sentenças imperativas remodeladas, poderíamos fazer com o modo imperativo revisado tudo o que agora faze­ mos com o natural. Isso é claro em vista do fato de que, por meio de um circunloquio, sempre podemos, em vez de um comando simples (e.g., “Feche a porta ou ponha o calço na porta”, dito a Jones), colocar em seu lugar o comando para tor­ nar verdadeira uma sentença indicativa ( e.g., “Torne verdadei­ ra a sentença ‘Jones vai fechar a porta ou colocar o calço na

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porta’ Isso, porém, nao deve ser interpretado como uma ad­ missão da “primazia” lógica do modo indicativo (seja lá o que isso possa significar); pois poderíamos fazer o mesmo no senti­ do contrario - e.g., dizendo, em vez de “Jones fechou a porta às 5 da tarde” , “O comando [real ou imaginário] ‘Que Jones feche a porta às 5 da tarde’ foi obedecido” . A única restrição a esse procedimento deve-se ao fato, mencionado m ais tarde (12.4), de que o modo imperativo é muito menos rico do que o indica­ tivo, especialmente no que se refere a tempos.

Os modos imperativo e indicativo também têm em comum, por conta de seu elemento frástico comum, tudo o que se refere a estados de coisas efetivos ou possíveis. H á um estado de coi­ sas possível a que se refere a frástica “Você fechar a porta no futuro im ediato” . Essa referência não é afetada pelo que vem depois. Tanto imperativos como indicativos têm de se referir ao estado de coisas a que dizem respeito. Isso significa que os imperativos, como os indicativos, podem sofrer da enfermidade para a qual chama a atenção a denominada teoria da verificação do significado; pois essa enfermidade, sendo uma enfermidade da frástica, nada tem que ver com as afirmações como tais; os que pensavam assim enganaram-se. Uma das maneiras em que um a sentença pode deixar de significar é não se referir a nenhum estado de coisas identificável. Assim, as sentenças “O Absoluto é verde” e “Que o Absoluto seja tom ado verde” não têm significado pela mesma razão, isto é, não sabermos a que se refere “O Absoluto ser verde”. As sentenças, por essa razão, também podem deixar de ser compreendidas por um a pessoa, embora sejam perfeitamente significantes para outra; assim, o comando “Ponha de ló” não tem significado para os que não sabem no que consiste pôr de ló. Seria lamentável considerar que o critério de verificação impugna a significância de todas as sentenças m enos das indicativas - como se “Feche a porta” fosse tão sem sentido quanto “Frumpe o bumpe” .

Há uma outra enfermidade à qual os imperativos, como os indicativos, estão sujeitos em virtude da presença de conectivos

lógicos nas frásticas de ambos. Isso se chama, no caso dos indi­ cativos, autocontradição, e o termo é igualmente aplicável aos ¡mperativos. Os comandos, bem como as afirm ações, podem contradizer-se. Mesmo que essa não fosse uma maneira normal de falar, poderíamos muito bem adotá-la pois a característica para a qual chama a atenção nos comandos é idêntica à que nor­ malmente se denomina contradição. Considere-se o seguinte exemplo, tomado da autobiografia do Lorde C u n n in gh am íO almirante e o capitão de um cruzador que é sua nau capitânia, para evitar um a colisão, gritam quase simultaneamente ao ti­ moneiro “Tudo a bom bordo” e “Tudo a estibordo” . Lorde Cunningham refere-se a essas duas ordens como “contrárias”, e elas o são, no sentido aristotélico próprio® Segue-se que as duas ordens contradizem um a à outra, no sentido de que sua conjunção é autocontraditória; a relação entre elas é a mesma que entre as duas previsões “Você vai virar tudo a bombordo” e “Você vai virar tudo a estibordo ”. Algumas ordens podem, é claro, ser contraditórias sem ser contrárias; a^contraditória sim­ ples de “Feche a porta” é “Não feche a porta” .

Poderia sustentar que a lei do terceiro excluído não se apli­ ca a comandos. Isso, contudo, se implica que os comandos são peculiares nesse aspecto, é um erro. É evidente que se não digo “Feche a porta” isso não me compele logicamente a dizer “Não fe­ che a porta” . Posso dizer “Você pode fechar a po rta ou não fechar a porta” ou posso simplesmente não dizer nada. Mas, si­ milarmente, se não digo “Você vai fechar ap o rta”, isso não me compele logicamente a dizer “Você não vai fechar a porta” . Posso dizer “Pode ser que você vá fechar a porta e pode ser que você não vá fechar a porta” ou posso simplesmente não dizer nada. Mas se perguntassem “Vou ou não fechar a porta?” tenho de responder, por causa dos term os da pergunta, “Você vai fechar a porta” ou “Você não vai fechar a porta”, a menos que me recuse a responder. “Pode ser que você vá” não é uma res­ posta a essa pergunta. E, de maneira semelhante, se me pergun­ tam “Devo ou não fechar a porta?” tenho de responder, se res-

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ponder, “Feche” ou “N ão feche”. A verdade é que nossa língua possui maneiras de falar de forma trivalente e maneiras de falar de form a bivalente; e essas duas formas são possíveis tanto no modo indicativo quanto no imperativo.

U m a outra maneira de mostrar que os imperativos simples são norm alm ente bivalentes é salientar que o conselho (a um jogador de xadrez) “N o próximo lance, mova a rainha ou não mova a rainha” é analítico (defino este termo abaixo (3.3)). Ele não dá ao jogador quaisquer instruções positivas sobre o que deve fazer, assim como a sentença “Está ou chovendo ou não chovendo” não me diz nada sobre o tem po5. Se a lógica dos imperativos simples fosse trivalente, a sentença citada não seria analítica; excluiria positivamente uma terceira possibilidade, a de não mover a rainha nem deixar de movê-la. Disjunções im­ perativas dessa espécie não são sempre analíticas; por exemplo, seria natural considerar que “Entre ou não entre” implica “Não fique bloqueando a porta”, mas isso nada tem a ver com o imperativo como tal; é um a característica da frástica da senten­ ça, como se demonstra por meio da comparação com a sentença indicativa análoga “Você vai entrar ou não entrar” (entenda-se você não vai ficar hesitando aí na porta).

2.4. Do fato de que os comandos podem contradizer um ao outro resulta que, para evitar a autocontradição, um comando, como um a afirmação, deve observar determinadas regras lógi­ cas. Essas regras são as regras para o uso de todas as expressões contidas nele. N o caso de algumas expressões - as chamadas palavras lógicas - essas regras são aquilo que dá às expressões todo o significado que elas têm. Assim, saber o significado da palavra “todos” é saber que não se pode, sem autocontradição, dizer certas coisas, como, por exemplo, “Todos os hom ens são m ortais e Sócrates é um hom em , mas Sócrates não é m ortal” . Se o leitor refletir sobre como saberia se um a pessoa conhece o significado da palavra “todos”, perceberá que a única maneira seria descobrindo quais sentenças mais simples a pessoa pensa que sentenças com a palavra “todos” “implicam”. “Implicar” é

¡¡li | í.i lavra forte, eos lógicos hoje não são propensos a empre- t ii palavras fortes; uma discussão completa de seu significado, ¡h\ i,ilmente em contextos matemáticos, ocuparia muitas ; mi-mas, mas, para meus propósitos presentes, ela pode ser .¡r¡ niida com exatidão satisfatória da seguinte forma: Uma sen- tctiv,a P implica uma sentença Q se e somente se o fato de uma |u sM>a asseníir a P mas dissentir de Q ser critério suficiente paia dizer que ela compreendeu mal uma ou outra das senten­ ças “Sentença”, aqui, é uma abreviação de “sentença tal como ■ -mpregada por um falante particular numa ocasião particular” ¡uns os falantes podem, em ocasiões diferentes, usar palavras mm significados diferentes, e isso significa que aquilo que é implicado pelo que dizem diferirá também. Extraímos seu sig­ nificado perguntando a eles o que consideram que seus comen- iarios implicam7.

Ora, a palavra “todos” e outras palavras lógicas são utiliza­ das em comandos, assim como em afirmações. Segue-se que deve haver também relações de implicação entre comandos, pois, do contrário, seria impossível dar algum significado a essas palavras tal como utilizadas neles. Se tivéssemos de des­ cobrir se uma pessoa sabe o significado da palavra “todas” em “Leve todas as caixas para a estação”, teríamos de descobrir se ela compreende que uma pessoa que assentiu a esse comando e também à afirmação “Esta é uma das caixas” e, não obstante, se negou a assentir ao comando “Leve esta à estação”, somente poderia fazê-lo se tivesse interpretado mal uma dessas três sen­ tenças. Se essa espécie de teste fosse inaplicável, a palavra “todos” (tanto em imperativos como em indicativos) seria intei­ ramente destituída de significado. Podemos, portanto, dizer que a existência em nossa linguagem de sentenças universais no modo imperativo é em si mesma prova suficiente de que nossa linguagem admite implicações das quais pelo menos um termo é um comando. Se a palavra “implicar” deve ser utilizada para essas relações é somente uma questão de conveniência ter­ minológica. Proponho empregá-la desse modo8.

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Dei, no artigo citado, muitos exemplos de implicações cujas conclusões são comandos. Parece possível, em princípio, já que as palavras lógicas comuns ocorrem nas frásticas dos imperati­ vos, reconstruir o cálculo sentenciai comum em termos de frás­ ticas apenas, e então aplicá-lo igualmente a indicativos e impe­ rativos, simplesmente adicionando as nêusticas apropriadas5. Ficaria por determinar até que ponto o cálculo, reconstruído dessa forma, corresponderia a nossa linguagem comum; esse é um problema familiar no caso da lógica indicativa e sua solução depende de investigar pacientemente se os sinais lógicos no cál­ culo são ligados pelas mesmas regras que determinam os signi­ ficados das palavras lógicas que usamos em nossa fala normal. Poderíamos descobrir que a fala comum tem muitas regras dife­ rentes para o emprego das palavras “se”, “ou”, etc., em contex­ tos diferentes, e, em particular, seu uso em contextos indicativos poderia diferir de seu uso em contextos imperativos. Tudo isso é uma questão de investigação, mas não afeta de forma alguma o princípio de que, desde que descubramos quais são as regras ou estabeleçamos quais devam ser, podemos estudar a lógica das sentenças imperativas com tanta segurança quanto a das indica­ tivas. Não pode haver, aqui como em outro lugar, nenhum a questão de “lógicas rivais”, mas somente de regras alternativas determinando o emprego (¿.e., as relações de implicação) de nossos sinais lógicos; é um a tautologia dizer que, contanto que continuemos a usar nossas palavras no m esm o sentido, suas relações de implicação permanecerão as m esm as10.

2.5. Aqui não precisamos entrar nessas complicações. N e­ cessitaremos, nesta investigação, de considerar somente a infe­ rência a partir de sentenças imperativas universais, juntamente com premissas menores indicativas, para conclusões imperativas singulares. Já dei um exemplo de uma tal inferência e sustentei que, se fosse impossível fazer inferências desse tipo, a palavra “todos” não teria significado em comandos. Mas esse tipo de inferência faz surgir uma dificuldade adicional, porque uma das premissas está no indicativo e uma no imperativo. A inferência é:

Leve todas as caixas para a estação. Esta é urna das caixas.

Leve esta para a estação.

I'ode-se perguntar como vamos saber, dadas duas premis­

sas em modos diferentes, em que modo deve estar a condu­ mio. O problema do efeito dos modos das premissas e da con­ clusão sobre as inferências tem sido ignorado por lógicos que

não examinaram além do modo indicativo, embora não haja i a/.ão para que o ignorassem - pois como demonstraríamos que a conclusão de um conjunto de premissas indicativas deve tam- hcm estar no indicativo? Mas se consideramos, como faço, as relações de implicação da lógica comum como relações entre as frásticas de sentenças, o problema toma-se premente. Adml- sindo que a razão da validade do silogismo acima é que as frás- ucas “Você levar todas as caixas para a estação e ser esta urna das caixas” e “Você não levar esta para a estação” são logica­ mente incoerentes entre si, por causa das regras lógicas que re­ gem o uso da palavra “todas”, como saber que não podemos adicionar nêusticas de uma forma diferente daquela acima? Poderíamos escrever, por exemplo:

Leve todas as caixas para a estação. Esta é uma das caixas.

Você vai levar esta para a estação.

e dizer que isso é um silogismo válido, o que evidentemente ele não é.

Permitam-me primeiramente expor duas das regras que parecem reger essa questão; podemos deixar para mais tarde o problema da sua justificação. As regras são:

(1) Nenhuma conclusão indicativa pode ser extraída valida­

mente de um conjunto de premissas que não possa ser ex­ traído validamente apenas dos indicativos dentre elas.

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(2) Nenhum a conclusão imperativa pode ser extraída valida­

mente de um conjunto de premissas que não contenha pelo menos um imperativo.

É somente a segunda regra que nos irá ocupar nesta pes­ quisa. H á um a exceção muito importante a essa regra, o chama­ do “imperativo hipotético”, do qual tratarei no próximo capítu­ lo. Para o momento, porém, tomemos a regra na forma em que se encontra. É da mais profunda importancia para a ética. Isso ficará claro se eu fornecer um a lista de alguns argumentos fam osos da ética que me parecem ter sido consciente ou in­ conscientemente baseados nela. Se admitimos, como mais tar­ de sustentarei, que deve ser parte da função de um juízo moral prescrever ou orientar escolhas, isto é, implicar uma resposta a algum a questão da forma “Que devo fazer?”, então fica claro, a p artir da segunda das regras apresentadas há pouco, que nenhum juízo m oral pode ser um a pura afirm ação de fato. Nesse fundamento baseia-se, indiretamente, a refutação socrá­ tica da definição de justiça de Céfalo, “falar a verdade e devol­ ver qualquer coisa que se tenha recebido de alguém”, e de todas as subseqüentes m odificações realizadas por Polemarco nessa definição11. Aristóteles estava apelando indiretamente a essa regra em seu mais decisivo rompimento com o platonismo, sua rejeição da Idéia do Bem; deu como razão, entre outras, que se houvesse tal Idéia, sentenças sobre esta não seriam guias da ação (“não seria um bem que você pudesse, por meio de sua ação, trazer à existência”)12. No lugar de um bem factual, exis­ tente, cognoscível por meio de um tipo de observação supra- sensível, Aristóteles coloca um “bem a ser alcançado pela ação” ou, como geralmente o chama, um “fim ”, isto é, ele reco­ nhece im plicitam ente que, se dizer que algo é bom é guiar a ação, então isso não pode ser meramente afirm ar um fato sobre o mundo. A m aioria de suas diferenças éticas em relação a Platão pode remontar a essa origem.

É nessa regra lógica, novamente, que se deve encontrar a