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5 O IDEB NA AVALIAÇÃO EXTERNA E O MERCADO DE TRABALHO

5.9 A Provinha Brasil ajuste da Educação Infantil

Mediante tantas medidas avaliativas, as professoras (diz-se assim pela predominância do gênero) da alfabetização viram-se avistadas pelo produto do seu trabalho. Agora seus depoimentos são de grande relevância e suas tarefas discutidas no campo pedagógico e nas pesquisas. Parece uma mudança de conceito em uma parte da avaliação da educação básica, que Saviani considera como importante juntamente com o Ideb.

As professoras de 4ª série estão surpresas pelo fato de a pobreza ter chegado até elas sem saber as disciplinas escolares. Têm razão de estar surpresas. Antes, os mais pobres eram expulsos mais cedo da escola, portanto não chegavam à quarta série. Essa surpresa é, ao mesmo tempo, um elemento de denúncia da precariedade com que eles percorrem o sistema educacional. Pusemos a pobreza na escola e não sabemos como ensiná-la. Nenhum processo de avaliação externo resolverá isso. A solução equivocada tem sido liberar o fluxo e deixar de reprovar para esconder o fracasso. Não que a reprovação tivesse sentido, mas pelo que foi substituída? (FREITAS, L. C., 2007, p. 979).

Com efeito, essa realidade significa uma mudança no foco do problema do analfabetismo, é uma realidade à qual nem sempre foi dada a devida importância. O que geralmente acontece é observar o problema quando os alunos já estão cursando os anos mais avançados. O que é de relevante importância, a ser considerado antes de tudo, é o contexto sociocultural em que estas crianças se encontram, a sua convivência familiar, no bairro, com vizinhos, entre outros que inevitavelmente influenciam a evolução do indivíduo na sua primeira fase de vida.

A Provinha Brasil expressa a redução do educacional ao campo estritamente técnico-pedagógico, rompendo os vínculos com as questões sociais e culturais presentes na vida escolar. Sobre essa redução opera–se outra, pois as questões da prova tratam de apenas uma parte das habilidades selecionadas como indispensável ao processo de alfabetização, conforme informação existente no kit Provinha Brasil (BRASIL, 2009, p.11- 12).

Ademais, a Provinha Brasil apresenta-se nesse primeiro momento como uma avaliação técnico-pedagógica que pode gerar um interesse nas dimensões das respostas, as quais podem gerar prejuízos na produção dos conhecimentos necessários para o desenvolvimento do indivíduo numa dimensão holística.

As provas standartizadas não realizam uma avaliação da aprendizagem, elas aferem o desempenho nas habilidades previamente selecionadas como fundamentais para a leitura e escrita, por meio de um teste objetivo. Os estreitos e rígidos limites do exame delimitam as habilidades que serão verificadas. Entre os cinco eixos considerados imprescindíveis para o desenvolvimento da alfabetização e do letramento no documento citado- apropriação do sistema de escrita; leitura, compreensão e valorização da cultura escrita; desenvolvimento da oralidade-, apenas os dois primeiros são efetivamente incorporado a Provinha (ESTEBAN, 2012, p. 578, grifo do autor).

Esta seria uma forma de condicionar os discentes alfabetizandos a um contexto que fará parte da vida de estudante dos primeiros anos de vida até o ensino superior, ou até a pós-graduação; é a lógica da produtividade em ação. O contexto do exame focaliza mais uma vez, como os demais exames, Prova Brasil, Enem e Encceja, a tipificação de pergunta-resposta que se encerra em uma média de concorrência individualizada.

As vertentes críticas ajudam-nos a compreender a articulação da Provinha Brasil com a produção de resultados que diferenciam, para hierarquizar: contextos, processos, resultados e sujeitos. Essa é uma nova versão de procedimento que pouco tem contribuído para o aprofundamento da dimensão democrática da escola (ESTEBAN, 2012, p. 580).

Parece que o governo, através do MEC, tenta reduzir tal problema de prestação de contas, que se aprofunda na cobrança de resultados, sendo esta política extensiva a toda a educação. Seria o caso de perceber as condições objetivas da escola na sua totalidade, verificando passo a passo as condições que estão sendo dadas para a objetivação da prática educativa das crianças.

Uma segunda constatação é de que, se a realização de diagnóstico é um saudável princípio para ajustar o ensino às necessidades dos alunos, a aplicação e o levantamento do rendimento dos aprendizes, com base na Provinha Brasil, não têm o poder miraculoso de mudar a cultura escolar historicamente construída, que nunca se voltou ao tratamento da heterogeneidade na sala de aula. Noutras palavras, não podemos querer garantir o direito à alfabetização efetiva e de qualidade apenas nos aprimorando na aplicação de exames diagnósticos. Sem políticas de formação continuada, de melhoria das condições de trabalho dos alfabetizadores e sem definição clara de bases curriculares, o discurso do respeito à diversidade, que marca e diferencia a organização escolar em ciclos, permanece um belo discurso a produzir distorções ideológicas que mascaram a realidade (MORAIS, 2012, p. 568, grifo do autor).

As ponderações citadas por Morais (2012) reportam as pautas das justas reivindicações da categoria, que se tornaram tão necessárias e que o governo

reconheceu implementando a Lei Piso Salarial da categoria. Mas não é somente o salário que está em pauta nas reivindicações; as condições materiais para a realização do grande projeto da alfabetização no país, Programa Brasil

Alfabetizado, implica antes de tudo um empenho de todo os segmentos da

educação, sejam políticos ou pedagógicos, para se alfabetizar na idade certa. No aspecto qualificação dos professores, é necessário um empenho no que se refere à solidificação dos conhecimentos de um sujeito que é protagonista desta fase, associado a um justo piso salarial garantido por lei, que possa garantir o sustento da sua família.

Nesse sentido, Morais (2012, p. 569) faz algumas recomendações:

Recomendamos que os professores sejam, ao lado dos gestores, definitivamente incluídos em todas as etapas de aplicação e de análise dos resultados da Provinha e que, com ajuda de coordenadores pedagógicos e gestores, possam dispor de mecanismos efetivos para planejar e realizar um ensino que considere as necessidades dos aprendizes. Interpretamos que, assim observou Oliveira (2010), a não realização desse ensino ajustado, infelizmente, seria uma marca da grande maioria das redes públicas que, atualmente, tem o ensino de alfabetização organizado em ciclos, que tem como princípio o respeito à diversidade dos ritmos de aprendizagem dos educandos, constitui não só questão de coerência pedagógica, mas também de responsabilidade política.

Portanto, parece que há recomendações de uma proposta de organização coletiva, no sentido de alcançar os resultados nessas condições adversas. E qualquer falha nessa etapa do ensino é bem provável que não haja recurso para a sua recuperação nos processos futuros.