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O IDEB na política educacional como produto final de desempenho

5 O IDEB NA AVALIAÇÃO EXTERNA E O MERCADO DE TRABALHO

5.13 O IDEB na política educacional como produto final de desempenho

O ato de avaliar é um ato indispensável em qualquer relação humana, avalia-se a condição do dia, sabe-se dizer se está bom ou ruim em diversos aspectos, avalia-se um sapato na hora da compra, avalia-se uma comida na hora de degustar, enfim, essa avaliação é espontânea sem prejuízo de emitir nenhum valor numérico. Mas aferir através de uma escala determinados valores que estão em questão já é algo que requer normas para se atribuir a estes valores, que podem ser um valor numérico.

Segundo Belloni (2003, p. 14):

Avaliar é uma ação corriqueira e espontânea realizada por qualquer indivíduo acerca de qualquer atividade humana, é, assim, um instrumento fundamental para conhecer, compreender, aperfeiçoar e orientar as ações de indivíduos ou grupos. É uma forma de olhar o passado e o presente sempre com vistas no futuro.

Então, a operacionalização da educação acontece com vistas no futuro, especialmente no escopo do gerencialismo científico proposto pelo controle de qualidade na eficiência.

A adoção desse mecanismo de gerencialismo tem como finalidade melhorar a qualidade do ensino que a escola oferece. Para tanto, o PDE-Escola, coerente com o entendimento, elege alguns requisitos: a) suas ações devem ser localizadas na aprendizagem e no sucesso do aluno b) o

dirigente escolar deve liderar todo o processo da elaboração e implementação do PDE; c) para que as ações tenham sucesso, todas as pessoas nela envolvidas devem estar comprometidas com o processo (CABRAL NETO, 2009).

A partir deste entendimento, adequar a escola ao modelo gerencial que garante a intervenção estatal através do mecanismo da avaliação compete aos setores envolvidos. Compete, ainda, a condução dos processos para a base legal do governo e das entidades interessadas nos resultados. Dois princípios podem ser entendidos nesse embate: o projeto de Estado e o projeto de Governo. Os interesses da sociedade civil sempre se viram envoltos na luta para se tornarem direitos.

Weber (1982, p. 287):

[...] que toda dominação provém da força do dominador. ‘O líder carismático ganha e mantém a autoridade exclusivamente povoando sua força na vida’. O profeta precisa ter suas profecias realizadas e o senhor de guerra precisa realizar seus feitos heróicos. Da mesma forma , as camadas privilegiadas precisam usar a força para usufruírem os benefícios políticos, sociais e econômicos em detrimento das camadas não privilegiadas (dominadas). Mas, os heróicos e as camadas privilegiadas aspiram não precisar usar todo o momento a força: pretendem transformar a dominação em direito. Isso é conseguido ou, pelo menos, tentado, pela imposição da disciplina.

Então, se o Estado é o mantenedor da força do direito e a educação se formaliza como direito inalienável, é necessário, antes de tudo, se reparar pari passu as leis e normas que conduzem a educação. O poder Legal, ou estrutural, pode ser caracterizado pela sustentação das leis e normas, mas para ter o respaldo é necessária a chancela do Estado, especialmente no modelo capitalista em que prevalece o estado de democracia.

Por que são tão questionados os números do Ideb? Devido ao percurso das engrenagens que fazem parte desse índice. Percebe-se que há uma um problema envolvido por inúmeros outros que se entrelaçam na mesma direção. Tornar a escola pública visível e resolver parte dos problemas que a envolvem é uma tarefa política que envolve todos os segmentos. Quanto às de ordem técnicas, precisam-se entender fórmulas complexas, no caso:

IDEB Nji Pji; =ji

[...] em que, i = ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar; N ji = média da proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, padronizada para um indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade j, obtida em determinada edição do exame realizado ao final da etapa de ensino; P ji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de ensino dos alunos da unidade j (ALAGOAS, 2013, não paginado, grifo nosso).

A complexidade da fórmula dificulta os gestores na compreensão do aumento ou baixa do índice, quando o fluxo se estabiliza. A meta 6 do índice requer esforços na questão resposta ao item. Este, por sua vez, está inserido em outra lógica matemática complexa. Isto dificulta o grau de concorrência na proficiência.

Qual é a força legal que o Ideb acumula? Talvez a resposta esteja na força que ele representa para cada ente federado que concorre pelos melhores índices como se fosse uma medalha, a ponto de expor nas fachadas de outdor com os índices conquistados. A sociedade que vive na órbita desta escola não compreende sequer quais esforços estão envolvidos naqueles números. Podem até dizer, que não matriculam seus filhos naquela escola, mas não sabem responder quais são os fatores causadores dos baixos números.

O Ideb é um modelo de avaliação dos mais completos experimentados em nossa educação, visto na perspectiva operacional, sem a política de regulação gerencial em foco, pode funcionar como espectro avaliativo na perspectiva da gestão operacional de prevenção dos fatores causadores do fluxo negativo e da manutenção da educação de qualidade.

Em outra perspectiva, o Ideb enfrenta a política do fluxo, que é uma discussão que ultrapassa os muros da escola. É eminentemente um problema que envolve, em primeiro plano, a esfera social do aluno, pois este só abandona a escola se esta não corresponder às suas expectativas regionais objetivamente. Na perspectiva de uma educação universal do modelo neoliberal em curso, o indivíduo não consegue observar o seu projeto de vida no meio que está inserido, seja na sociedade de consumo ou escola.

Em entrevista, Miskalo (Instituto Airton Sena) diz:

O aumento do Ideb não está diretamente vinculado à aprendizagem. As crianças são mais aprovadas não exatamente porque sabem ou se desenvolveram mais, mas porque o sistema começa a garantir um fluxo escolar melhor. Essa é a avaliação da coordenadora da área de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna, Inês Miskalo, a respeito dos resultados do Ideb 2011, divulgados (14/08/13) pelo Ministério da Educação (AQUISTAPACE, 2012, não paginado).

O fluxo é um índice que na fórmula geral do Ideb é multiplicado pela proficiência, e a alteração das políticas sociais dos índices alteram o produto final. Não deve ser analisado como um erro, mas o qualitativo interfere no quantitativo, com a seguinte ponderação: não se deve atrelar a matrícula do aluno à obrigação da presença na escola. A escola deve oferecer condições de frequência-aprendizagem.

Miskalo (Instituto Airton Sena) diz:

Segundo ela, para poder dizer que o país avançou na qualidade da educação, seria necessário elevar os índices de aprendizagem medidos pela Prova Brasil e pelo Saeb, o que ainda não ocorre de forma satisfatória. Inês avalia que o aumento do Ideb deve-se às melhores taxas de aprovação dos estudantes. ‘O fluxo escolar pode estar melhorando, mas não necessariamente com bom desempenho’, pondera (AQUISTAPACE, 2012, não paginado).

A avaliação pautada em compostos matemáticos e interlocuções linguísticas da língua vernácula não opera a capacidade para elaborar e compreender textos e ideias, não avalia o espectro cognitivo para proficiência. Em outras palavras, não respeita suas tradições, tampouco os aspectos regionais da língua, tendo em vista a dimensão territorial do país, com culturas regionais e dimensões continentais bem demarcados por traços diferenciados.

Então, não haverá índice que possa representar a dimensão holística do estudante. Os testes padronizados analisam parcialmente e colocam em risco os saberes e práticas regionais. Mesmo que se defenda uma área comum de conhecimentos produzidos na escola, manter esses aspectos é importante para a unidade regional e, por fim, os interesses nacionais democráticos.