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5 O IDEB NA AVALIAÇÃO EXTERNA E O MERCADO DE TRABALHO

5.5 Exame Nacional do Ensino Médio e seus objetivos

Na sua criação em 1998, o Enem tinha como objetivo avaliar os alunos concludentes do Ensino Médio em escala nacional, a fim de observar o desempenho específico em Língua Portuguesa e Matemática.

Para Libâneo et al. (2012, p. 268):

As avaliações nacionais mencionadas pautam-se por critérios qualitativos, praticamente desconsiderando o modelo de avaliação que leva em conta fatores sociais, culturais e econômicos. No entanto, a crítica das avaliações de sistema, dos currículos, do desempenho profissional de professores ou rendimento escolar dos alunos. Na verdade considera-se insuficiente apenas a avaliação de aspectos quantitativos.

Então, nesse aspecto, a avaliação deveria considerar variáveis que poderiam dar sentido ao indivíduo na sua totalidade, na sua relação com o meio. Para Libâneo et al. (2012, p. 269)

As diretrizes e parâmetros para a avaliação educacional externa e/ou interna às instituições de educação básica não induzem nem apóiam um processo de autoavaliação da escola, o qual leve em conta dimensões mais amplas, tais como condições de oferta do ensino, ambiente educativo, prática pedagógica e avaliação, processo de ensino-aprendizagem, gestão escolar democrática, organização do trabalho escolar, formação e condições de trabalho dos profissionais da escola, espaço físico escolar e acesso, permanência e sucesso na escola.

Nesses aspectos, o Enem se insere em mais um esforço governamental de reforço à política de mundialização da educação e há uma transferência de responsabilidade do Estado para a família e para o jovem concludente do ensino médio.

Para Sousa (2002, p. 34):

Dentre as iniciativas da avaliação do MEC, tem-se o Exame Nacional do Ensino Médio, com uma especificidade a ser observada: se apresenta como

um exame em que o aluno é que decide sobre a conveniência de participar, após conclusão do ensino médio, sob a promessa de que ‘seu futuro passa por aqui’, frase utilizada em um material informativo do exame, divulgado pelo INEP. [...] fica evidenciada a visão individualizada com que é tratado o processo educacional, sendo atribuída, ao aluno, individualmente, a responsabilidade pelas eventuais competências que o exame vier a demonstrar.

Convém observar que o Enem se caracteriza como o final de uma etapa e deve conter todo o percurso dos métodos avaliativos que o estudante se submeteu na vida escolar básica. Nesse momento, verificam-se grandes falhas do sistema avaliativo, pois este deveria resolver as deficiências no processo, e não compor estatística prescrita para mais tarde somar-se mais um “indivíduo” vitima de um processo das estatísticas do analfabetismo funcional.

A superação está na condição dos sujeitos que chegam à escola, na classe social que este nasce, e é provável que deva prevalecer nesta até a sua morte.

Mesmo admitindo as diferenças sociais entre as crianças que chegam à escola elementar, sua função seria a de reduzir as diferenças devido à origem familiar, profissional, de classe social, até que elas desapareçam, realizando, assim, o ideal de unificar, no seio de uma cultura comum, aquilo que a política divide (CUNHA, 1980, p. 12).

O ensino básico tem sido foco de estudo de muitos pesquisadores, com um grau de intencionalidade de grande valia para resolver tais problemas. Porém, não causa muitos impactos na direção da transformação de uma sociedade com principio de igualdade sucumbido. Dessa forma, admite-se no máximo o discurso social-liberal, que incorpora a ideia de equidade como condição de classe. As recomendações dos estudiosos vão ao encontro da resolução das questões, inicialmente, no âmbito social enquanto a escola se nutriu de um ideal de preparação dos indivíduos para o trabalho no que prevalece o ideal de

[...] trabalhadores altamente qualificados, que agora disputam juntamente com os anteriormente desempregados os escassos – e cada vez mais raros – empregos disponíveis. [...] É por isso que é necessário romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente (MÉSZÀROS, 2008, p. 27, grifo do autor).

A reforma do Ensino Médio no século XX criou expectativas para o século XXI, com a política centrada nas recomendações de organismos multilaterais. Para isso, deveria apontar que rumo os estudantes secundaristas deveriam seguir.

Além dos documentos da [Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe] (CEPAL) e do [Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe] (PREAL), merece destaque o papel da

UNESCO. nesse processo, sobretudo do “Relatório da Comissão Internacional” para o Século XXI, por especialistas convocados por ela, sob a coordenação de Jaques Delors. Esse relatório se constitui num documento fundamental para compreendermos as reformas educacionais em curso em diversos países, tendo em vista que o mesmo apresenta as principais tensões e desafios a serem resolvidos neste século [...] O relatório propôs um novo conceito de educação: Educação ao longo de toda a vida e recomendou que fossem explorados outr os espaços educativos(meio de comunicação, cultura lazer,família, trabalho) para a constituição de uma sociedade educativa e ao mesmo tempo aprendente. Essa educação seria alcançada a partir de quatro premissas básicas: Aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver (CARDOZO, 2009, p.107, grifo da autora).

Então, precisa-se de um método avaliativo que possa observar tais critérios citados. O Enem entra em detalhes nesses recortes recomendados pelo relatório, que estão bem evidentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.

Dentre essas medidas, duas foram efetivadas no governo de Fernando Henrique Cardoso: a elaboração e aplicação do [...] ENEM e a elaboração e distribuição para as escolas dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (CARDOZO, 2009, p. 122).

Desta forma, o Enem perdeu o seu sentido de investigação da qualidade do ensino público. Este agora agrega valores intrínsecos à profissionalização dos sujeitos que “aderem” ao sistema.

Ressalta-se, ainda, que apesar do deslocamento do foco do debate sobre a qualidade do ensino do âmbito político-público para o âmbito técnico-individual, dos tipos de amostras e provas de um sistema de avaliação cujo indicador nuclear é o rendimento do aluno, os resultados das avaliações do [...] ENEM, do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) e do Saeb evidenciam deficits na aprendizagem dos alunos do Ensino Médio (CARDOZO, 2009, p. 123).

No início da sistematização do Enem, revelam-se grandes preocupações de ordem técnica para resolver os “déficits”. Não mais se trata de um estudante do Ensino Fundamental; os alunos já dispõem de uma autonomia física e intelectual relativa, e isto revela uma escola com preocupações ainda centradas no ensino.

Entretanto, melhorar o desempenho é antes de tudo mudar o foco para a aprendizagem; quem não aprende, não sabe! Entram nesse debate outros fatores de ordem prática que envolve este tão importante processo, como a qualificação e a valorização financeira efetiva dos educadores e educadoras, dos trabalhadores e trabalhadoras da escola, um espaço físico adequado para a composição da qualidade do trabalho a ser realizado, por fim financiamento público em ordem proximal de10% do PIB como recomenda o PNE.

Pode se observar também que o Enem é um instrumento de avaliação completo do ponto de vista técnico, que consegue analisar as referências no âmbito das competências adquiridas; porém, com a condição de fazer análise individual dos participantes. A partir deste as autoridades poderiam corrigir falhas muito visíveis de ordem prática em curto prazo dentro do Ensino Médio.

No Enem, por exemplo, os resultados revelam que o desempenho dos alunos nos anos de 2005 e 2006 foram considerados insuficientes e regulares, ou seja, que o ensino médio não está conseguindo desenvolver a contento as competências da parte objetiva e de redação desejadas e indicadas pela matriz de competências do Enem, que foram elaboradas com base na LDB nº 9.394/96, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) e na Matriz de referência para o Saeb.

O documento básico do Enem estabelece que o desempenho do aluno seja avaliado em duas partes (objetiva e redação), cada uma valendo 100 pontos, de acordo com as seguintes faixas de desempenho: insuficiente a regular para nota de 0 a 40 pontos; regular a bom, notas entre 40 a 70 e bom a excelente, de 70 a 100 pontos (CARDOZO, 2009, p. 202, grifo da autora).

Os indicativos de qualidade, que têm sido alvo de debates e as adequações do Enem o levaram a assumir então o posto de indicador de acesso às IES (IFES, algumas IEES, universidades privadas ou através do ProUni, ou meia-bolsa), com muitas contradições e problemas. É essa a realidade que o estudante secundarista vive no momento atual para sua caminhada profissional, em que a sua carreira nem sempre é a que planejou.