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2 AS ORIGENS DA GLOBALIZAÇÃO E O NEOLIBERALISMO

2.4 A reforma neoliberal na educação

A reforma do Estado é a adequação à reestruturação produtiva frente à nova realidade do mercado que tem como culminância o capital rentista, que se espalha pelo mundo com a égide da globalização, esse é o novo “trunfo” do capitalismo pós-moderno, é carta na manga para o enriquecimento rápido. Este modelo de capital se tornou o principal beneficiário dos bens públicos, pois ao assumir a frente das negociações direcionadas para o capital produtivo, este e desvia para o “mercado de capital”, só que ambos necessitam de amparos legais do Estado e condição para sua existência no mercado globalizado.

Nesse sentido, o Estado entra como um aparato importante na construção de leis que surgem com novas nomenclaturas, neologismos, principalmente nas reformas econômicas, que passam a fazer parte do corpo da comunicação global. O exemplo disto é a próprio termo “globalização”, e o “neoliberalismo”, alcunhas que vêm carregadas de poderes ideológicos e disposições midiáticas.

A velha estrutura promove, assim, uma nova reforma estatal, tida como imprescindível e preciosa nos encaminhamentos do trânsito livre do capital, com grande esmero à “democracia”, devendo ser preservada dentro de uma redoma de vidro. Acontece que, os capitalistas precisam desta, não como neologismo, mas como uma criação “dos gregos” para manter a calma dos bolsões de pobreza gerados nas periferias, que não têm acesso sequer a um emprego digno para garantir as necessidades mínimas nos centros urbanos. As cidades começam a ganhar um novo conceito.

Se nos ‘anos dourados’, as cidades se metropolizam – na resultante de um processo de urbanização geral que revelou com as forças produtivas comandadas pelo capital “produzem espaços (Lefevre, 1989: 177) -, no capitalismo contemporâneo elas passam por ‘reestruturações’ pilotadas pela ‘reestruturação produtiva’. Urbanizações e suburbanizações se mesclam, confundem e se invertem e são refuncionalizadas segundo lógicas que concretizam a apartação socioespacial (NETTO, 2006, p. 236).

Tal reforma do estado é metodicamente planejada dentro dos padrões que possam dar sustentação de espaços para a burguesia e quando um morador de rua entra em um desses espaços, a própria “polícia da burguesia”, representada tanto pela polícia do estado quanto pela segurança privada, tem sua sustentação legal para “impedimento” do cidadão nas referidas áreas. Isto é sinônimo de exclusão social.

Contudo, as aludidas reformas não surgiram do acaso, foram fundamentadas em obras clássicas, em teses com profundos estudos ideológicos, de inserção de métodos científicos na administração pública e de criação de novos paradigmas na educação para garantir a produção científica. Nesse caso, o grau de ideologismo se torna muito profundo, capaz de reificar uma sociedade em sua totalidade.

Nesse sentido argumenta Netto (2006, p. 226, grifo do autor) que:

Para se legitimar essa estratégia, o grande capital fomentou e patrocinou a divulgação maciça do conjunto ideológico que difundiu sob a designação de neoliberalismo – a disseminação das teses, profundamente conservadoras, originalmente defendidas desde os anos quarenta do século XX pelo economista austríaco F. Hayek (1899-1992), que dividiu em 1974 o prêmio Nobel de Economia com Gunar Myrdal. O que se pode denominar ideologia neoliberal compreende uma concepção de homem (considerado atomisticamente como possessivo, competitivo e calculista), uma concepção de sociedade (tomada como um agregado fortuito, meio de o indivíduo realizar seus propósitos privados) fundada na ideia da natural e necessária desigualdade entre os homens e uma noção rasteira da liberdade (vista como função da liberdade de mercado). Vulgarizando as formulações de Hayek, a ideologia neoliberal, maçiçamente generalizadas pelos meios de comunicação social a partir dos anos oitenta do século passado, conformou uma espécie de senso comum entre os serviços do capital (entre os quais se contam engenheiros, economistas, administradores, gerentes, jornalistas etc.) e mesmo entre significativos setores da população dos países centrais e periféricos.

O debate sobre a esfera ontológica que assim se dissemina nos processos ideológicos que envolvem o processo de dominação do mercado sobre o ser social, será retomado no próximo capítulo.

Assim, o caminho das reformas seguiu o corpo de recomendações em uma gama de ações que penetraram no âmago do sistema econômico mundial. Entram em cena no protagonismo das reformas os organismos multilaterais fundados em Bretton Woods; o Banco Mundial, e o FMI. O financiamento para a realização dos projetos estatais são colocados em ordenações e prioridades seguidos de altas taxações de juros, amortizações e rolagem de dívida, que sugam as riquezas de todos os setores do capital produtivo.

Estes organismos multilaterais ditam as regras das reformas, com forças que implementam as ações planejadas cujos financiamentos obedecem a um cronograma de metas para cumprimento dos acordos financeiros.

Os impactos desses acordos dentro das camadas médias da população são por demais infringentes, mas a população mergulhada em um estado de insolvência provocada pela facilidade de acesso ao crédito fica impedida de

qualquer reação, pois quem por demasia se encontra inadimplente fica imobilizado pelo poder de ameaça do credor, que aplica altos juros e correções monetárias.

Para que estes entes credores possam ter livre arbítrio de aplicação de altas taxas é necessário antes de tudo um pilar de sustentação legal para que seus embargos estejam garantidos por lei. E não há um setor neste planeta que tenha crescido tanto quanto setor bancário, visto que a tomada da inflação, o endividamento da população, e fluido comércio do capital financeiro abriram as portas para o crescimento deste setor.

Para Harvey (2004 apud NETTO, 2006, p. 230)

Foi em tudo espetacular por seu estilo especulativo e predatório. Valorizações fraudulentas de ações, falsos esquemas de enriquecimento imediato a destruição estruturada de ativos por meios da inflação, a dilapidação de ativos mediante fusões e aquisições e a promoção de níveis de encargos de dívidas que reduzem populações inteiras, mesmo nos países capitalistas avançados, a prisioneiros da dívida, para não dizer nada de fraude coorporativa e do desvio de fundos [...] decorrente de manipulações do crédito e das ações tudo isso são características centrais da face do capitalismo contemporâneo.

Nesse mesmo lapso, cresceu o número de agentes especuladores e rede bancárias num contingente que resultou na crise que abalou mais uma vez o capitalismo em 2008, com a bolha imobiliária, Mais uma vez o capitalismo enfrenta uma crise de superprodução, cujos resultados foi a falência de algumas agências e fusão econômica de outras pelos bancos estatais, como é o caso do Brasil, cujo desfecho é o alto risco de inflação provocado pelo esvaziamento das reservas cambiais.